Capítulo 31 - O Poder Descontrolado
Haivor apontou o dedo indicado e o céu vermelho desceu em um tornado. Era uma visão apocalíptica, mas era necessária para que sua inimiga entendesse o seu nível. Os ataques que fariam dali para frente estavam completamente fora de todo o padrão que os Adesir tinham estabelecido para si.
Claramente, se sentia uma aberração.
– ‘Criação’ – ele disse apontando a outra mão para Agnes.
O solo rachou e as raízes de centenas de árvores se elevaram juntas, como se estivessem vivas. Fizeram uma volta ao redor da Normadie e a encontraram pelas costas. A criatura gargalhava a cada segundo, fazendo do cenário ainda mais caótico.
Os braços delas bateram contra o ar na direção das duas magias. O tufão de fogo foi engolido por chamas negras e as raízes vaporizadas completamente de uma ponta a outra. Ela permanecia com seus olhos em Haivor.
– Eu vejo o raso, mas vejo aquilo que é conveniente. Essas magias, as que você diz ser além dos outros, estão todas em minha mente. Observe. – Juntou as duas palmas a frente do peito. – ‘Fragmentos do Desconhecido’.
O som de estalidos ecoou de cima. O céu avermelhado ganhou um risco negro gigante, ramificações nasceram dele, se alastrando por incontáveis metros. No comando de mão de Agnes, uma explosão.
O céu vermelho foi destruído em pedaços, em fragmentos e poeira.
– ‘Uivo Negro’.
Cada fragmento vermelho se deformou, liberando um urro interno. Haivor se preparou esticando uma perna para trás. Lobos feitos da própria escuridão saltitaram para fora, correndo pelo céu, em caminhos que sequer deveriam existir.
– Essa é a minha criação, Haivor.
Ele lançou pedras velozes que chocaram contra a cabeça dos lobos. A escuridão se desfez, mas voltou a rapidamente a compor o corpo. A mana de Agnes alimentava as criaturas sombrias, como esperava.
Quando os primeiros cinco lobos saltaram para levar sua vida embora, ele transpassou um braço sobre o outro.
– ‘Deflexão Parasita’.
Os lobos bateram contra um espelho invisível, sendo mandados de volta, mas não conseguiram permanecer de pé. Do jeito que caíram, eles ficaram.
A ponta do dedo de Haivor foi centrado em uma imensa carga de raios. Uma matilha inteira ainda estava pulando no céu. Ele liberou o raio na direção do céu, urrando mais alto que os lobos. As nuvens brilharam em resposta e, novamente, estava mirando em Agnes.
– ‘Disparo’.
A face dela foi uma tediosa. A gosma negra que a protegia absorvia todos os tipos de golpes elementares. Haivor sabia desse fato. Uma composição como aquela era capaz de proteger contra muitas outras coisas, ele queria saber até onde ia.
Qual era a extensão da capacidade de Agnes. Pra saber isso, ela não poderia ter o comando da batalha.
– ‘Muralha de Fogo’.
Um círculo de chamas azuis uniu os dois e subiu por quase quinze metros. Disparos flamejantes saíram da muralha na direção da mulher ao mesmo tempo que as descargas de raio decaíram. Haivor apontou sua palma para os lobos paralisados ao seu entorno, ‘Controle Mental’ tinha sido tingido em suas cabeças e eles desapareceram em sequência.
Agnes nem se moveu. A gosma parecia fazer o trabalho sozinho, absorvendo cada golpe sem nenhuma preocupação. Então, um golem de pedra saiu do solo, o corpo pedregoso e braços enormes. A Normadie o encarou, com certo pesar, e usou a mão.
O golem foi engolido em chamas negras.
Ataques elementares, a gosma faz o efeito de absorção. Golpes físicos, as chamas negras. Nenhum dos outros inimigos dela conseguiu fazê-la usar ambas ao mesmo tempo, então, enquanto eu não me preocupar com as duas sendo usadas ao mesmo tempo.
Outro golem foi criado duas vezes mais rápido, e fez o mesmo movimento. Haivor usou as chamas e os raios para distrair a gosma. Agnes mordeu o lábio, e esticou a mão para a criação. A chama negra subiu pelos braços do homem de pedra, mas não o destruiu.
O punho afundou no corpo dela, a lançando direto para o chão.
As chamas do círculo foram fortalecidas e os trovões soavam com mais intensidade.
– Eu sei que você não está morta só com isso – Haivor manteve a calma e indiferença. – Seria tão deprimente ter falado tanto e ter sido derrotada com um soco.
– É verdade.
A poeira abaixou. O punho do golem não tinha atingido ela diretamente. A palma da Normadie segurava o soco, mas ela estava curvada, com o chão trincado pela pressão.
– As minhas chamas não funcionaram dessa vez. – Ela sorriu. – Você está se adaptando de acordo com nossa luta.
– Você não deveria estar prestando atenção com as coisas ao seu redor?
As chamas vieram pelo solo. Ela repeliu o golem e pulou. Ali, ela não tinha uma saída além das que já tinha mostrado. Haivor fez uma faísca se estender pela sua palma enquanto a via repelir os raios e o fogo com a gosma.
Encurralada entre golpes físicos e elementares, a Normadie respirava mais pesado do que antes. Começou a dar passos para trás e recuar bastante. Aos poucos, suas duas defesas mais fortes estavam sendo pressionadas ao limite.
Observe, estude, aja.
Os três pilares do conhecimento eram instintivamente postos em uma luta na mente de Haivor.
Usou seus comandos no golem, nas chamas e nos raios ao mesmo tempo. Eles travaram no ar por um curto segundo de tempo. Agnes foi pega de surpresa e travou, e quando os golpes retornaram, ela foi empurrada ainda mais.
A faísca nas mãos de Haivor se condensavam ainda mais. Os fragmentos de eletricidade que pulsavam já não mais estavam sendo vistos, e sua energia tinha sido fortalecida em duas vezes.
Quando Agnes ergueu a mão direita para empurrar o golem com seus fios negros, a gosma também tinha se esticado absorvendo os elementos. A chance estava lá, naquela pequena abertura.
Haivor dividiu sua mente em duas.
– ‘Solidificação’, ‘Pressão em Dobro’, ‘Velocidade Duplicada’.
A outra mente soprava comandos a faísca.
– ‘Petrificação’, ‘Explosão’, ‘Atração em Duas Pontas’.
Se seis comandos eram impossíveis de serem feitos por uma só mente. Então, dividi-la em duas seria o jeito ideal para chegar a tal feito. Julios Maximos era um gênio em ter criado tal ciência mágica, e Haivor deveria agradecê-lo.
Nem mesmo um segundo de ter solto a faísca, ela já tinha cruzado o espaço entre os dois. A reação da Normadie foi lenta comparada ao arremesso. Ela foi perfurada no meio do peito, sendo lançada para trás.
Seu corpo inteiro sofreu uma imensa condensação de mana. A primeira mente concedeu efeitos melhores para a faísca, mas a segunda tinha sido criada para destruir o alvo.
Agnes foi presa no mesmo lugar, petrificada por uma imensa quantidade de mana liberada. E então, uma explosão a rodeou liberando um grito responsivo. No final, ‘Atração de Duas Pontas’ era um comando para dividir a mana dela em duas partes, retirando-a do núcleo interno do corpo.
Ela não poderia mais usar mana enquanto Haivor não ordenasse.
– Eu achava que encontraria alguém que me entreteria – Haivor falou. – Desde que enfrentei meu primeiro inimigo, sei muito bem o quanto os outros são pequenos comparadas a minha própria força. Você não é diferente, Agnes.
Os cabelos antes perfeitos foram todos surrados pela explosão e o rosto foi sujo pela poeira levantada. Ela estava na mesma posição, mas seu corpo não era mais o mesmo.
– Metade das pessoas focam em um ataque massivo e esquecem de uma defesa básica. – Ela acendeu uma dezena de chamas ao seu redor. – Sendo sincero, eu não esperava uma luta decente.
– O que você fez comigo? – Ela tentou se libertar com diversos gritos, mas nenhum deles funcionou. – O que é isso? Meus braços…
– Petrificação não é um comando fácil. – As chamas se elevaram até o centro do círculo de fogo criado antes. – Paralisia é um efeito que só prende pessoas mais fracas do que eu, mas você tem uma mente fortificada. Tive que achar uma maneira diferente.
Ela gritou novamente, mais irritada. Era perfeitamente comparada a uma besta demoníaca vendo-a daquela maneira.
– Vamos ver o quanto você consegue suportar.
O golem ergueu o punho novamente, e dele, uma camada de gelo. O punho não encontrou defesa e enviou Agnes para o solo, esmagada. Ela ainda estava viva. Por quase dez minutos inteiros, Haivor assistiu os punhos do imenso homem de pedra descerem, cada um deles mais poderoso do que o outro, liberando de Agnes umas lástima enegrecida.
– É suficiente. – Haivor ordenou mais uma vez. Uma descarga elétrica desceu pulsando, ela foi estagnada onde as chamas azuladas tinham sido estacionadas. Um aro com os dois elementos tinha sido recriada, ficando ainda mais forte. E desceu. O trovão soou no choque.
Agnes liberou um ruído de fúria e dor, uma lamentação do fundo de sua alma. Haivor sentiu a dor dela. Uma dor que ela não sentia em anos de vida. Ao se aproximar, a Normadie continuava na mesma posição de antes, respirando com tanta dificuldade que poderia morrer em minutos.
– Pessoas inocentes foram mortas porque você tinha um propósito maior – disse Haivor. – Vim aqui para destruir um mal, não um menor, não um maior, mas um mal. Agora, sou obrigado a te matar.
No meio da dor, das feridas e queimaduras, Agnes sorriu.
– Não. – Os olhos dela ainda eram vivos, completamente lúcidos. – Ainda não chegou a minha hora. Eu sou uma Normadie, sem regras, sem prioridades, mas amo minha vida tanto quanto desejo permanecer nela.
Uma imensa quantidade de mana surtiu do corpo dela, mesmo que os dois pontos de atração estivessem ativos. Haivor foi pego de surpresa, não esperava uma reação tão veloz dela. Saltou para trás, e a escuridão mostrou sua face deformada.
A explosão escura, de chamas negras, como um pilar direto para o céu. Um déjà-vu, a sensação familiar de algo querendo possuí-lo. Algo dentro da mente de Haivor o alertou do eminente perigo, o mandando correr para longe. Uma outra parte ordenava que ficasse e enfrentasse, como prova de suas palavras.
Fique e morra. Fuja e se envergonhe.
– Eu nunca disse que morreria pelas suas mãos, Haivor – a voz soou do pilar negro. – Você ainda não sabe nem metade do mundo que o cerca. Ora essa, Observe, Estude e Aja, não é isso que passa em sua cabeça?
– Ainda está tentando me ler?
– Faço isso desde o momento que você me encontrou. – O pilar se abriu e Agnes flutuava. A armadura sombria que rodeava seu corpo era perfeitamente simétrica a de uma rainha das trevas, com uma coroa cheia de espinhos deformados. Ela tocou a mancha negra de sua bochecha. – Você teve uma grande vontade de me acertar com aquele ataque combinado, mas foi o mais longe que conseguiu chegar com seus seis comandos. Agora, seu jogo acabou.
Com um simples movimento de mão, o pilar se estendeu para o lado, em uma imensa parede negra.
– Hoje, minha refeição era somente uma única pessoa, mas meu humor acabou de piorar. Por sua causa, eu acabarei com aquele lugar nojento que chamam de Algorisha. O que vai fazer para me impedir, Haivor?
A parede caiu em sua direção, mas ele saltou ainda mais. As sombras criadas por Agnes absorveram toda a terra rapidamente puxando os nutrientes e os efeitos da mana. Estava se fortalecendo sugando tudo o que era vida ao seu redor.
– Você me chamou de Absolver antes, mas eu sou pior do que isso. Eu não preciso das pessoas, esse lugar é recheado de vidas diferentes, mas farei questão de matar cada pessoa daquele desprezível vilarejo.
As sombras se transformaram em sombras e Agnes surfava por cima delas. Haivor recuava em saltos continuos, observando a floresta ser devorada velozmente. Agnes continuava gargalhando ao vê-lo fugir.
– Para onde está indo? Onde estava sua tranquilidade e calmaria de antes?
Haivor já sentia as pessoas de Algorisha. As luzes da cidade estavam mais próximas. Deixar que ela chegasse, as crianças, as mulheres, os homens… cada um deles seria morto.
Se deixou escorregar pela grama e abriu os dois braços, pulsando completamente toda a sua mana para fora.
– Elas ainda estão aqui, ambas. – Ele uniu as mãos e mirou para a onda negra. – ‘Pressão Quadruplicada em Cinco Pontas’.
A onda subiu e desceu. O ar direcionado para cima conseguiu interceptar a magia. Cinco pilares diferentes suportando um imenso teto negro prestes a desabar e levar consigo toda a vida. Haivor tinha os braços trêmulos, a força necessária para segurar Agnes estava além da sua força atual.
Se permanecesse dessa forma, ele não poderia fazer mais nada. Se usasse as pessoas da vila… talvez… Não, ele se negava a usar a vida das pessoas para simplesmente vencer um inimigo. Não seria melhor do que a própria Normadie.
– Aquela garotinha que você salvou – Agnes disse. – Eu sei que você está tentando salvá-la. Não se preocupe, ela vai ser a última a morrer. Vou fazer com que nunca se esqueça do homem que mandou matar todos os moradores. Você será o pesadelo dela, o próprio Absolver.
Haivor fechou a mão, furioso. Errou um disparo de faísca em Agnes que flutuou para suas costas, na direção de Algorisha. A onda negra ainda estava nas suas costas, Haivor libertou-a, e esticou a mão.
– ‘Absorção Dupla’.
A imensa quantidade de escuridão foi posta em duas pequenas esferas, mas não conseguiu estabilizá-las perfeitamente. Era suficiente para que voltasse. Sua reserva de mana do Colar de Poko estava chegando ao final, teria que usar sua própria mana dali pra frente.
Se não conseguisse derrotar a Normadie antes, ele seria despedaçado.
Usou ‘Velocidade’ em si e atirou-se de volta para a cidade. Sua Zona de Mana expeliu por quase cem metros. Achou Agnes saltando para a praça principal. Se não conseguisse pará-la antes de começar a absorver os outros…
Eram muitas invariáveis para um conflito.
Concentre-se em uma única coisa.
Uma luta entre magias só a fortaleceria, a gosma estaria ativa, ela se tornaria ainda mais forte. Se a magia não funcionava, então sobrava uma única forma de duelar contra ela.
Viu Agnes entrar na praça usando aquela armadura negra. O rosto assustado dos moradores era divertido para ela. Haivor estava no ar quando mergulhou para o chão. Fortificou o próprio braço direito com comandos.
– Está vendo, Haivor? – Ela berrou já o vendo. – Eles são todos comida para pessoas como eu. Nada além de aperitivos.
Haivor se aproximou e socou. Agnes sorriu ao encontro. Desviou com facilidade e usou os fios negros. A dor preencheu seu corpo instantaneamente. Sua carne tinha sido atravessada em três pontos diferentes.
Ele ainda se virou, olhando para ela com imenso foco. Seu outro braço se moveu e pegou direto em sua face. Agnes foi lançada para trás e bateu contra uma casa destruindo-a completamente. Teve tempo pra ver o ferimento.
Três pontos no antebraço. Usar a mana para estabilizar os ferimentos no momento só o deixaria mais propenso a perder a batalha. Agnes ainda estava viva.
– Olhe que coisa interessante – a mulher saiu de dentro dos escombros. Em sua posse, o pescoço de uma velha mulher, choramingando. – A primeira vítima do Adesir Enigma. Que humilde essa senhora se oferecer gentilmente para você, não acha?
Haivor não teve tempo de responder.
A pele foi sendo absorvida enquanto a massa da mulher sumia. Antes de qualquer pessoa ter uma reação, apenas uma massa com ossos foi deixada caída no chão. Agnes respirava em êxtase, satisfeita.
A mana que transbordava ao seu redor era da mulher. Mesmo sendo pouca, era o suficiente para abastecer uma magia. Haivor se afundava em problemas cada vez maiores.
– Não ache que aquele pequeno comando que criou é suficiente para me parar. – A energia negra expelida dela forçou Haivor a quase cair de joelhos. Autoritária. – Eu farei com que sinta o inferno. Verá essas pessoas sendo mortas, uma por uma.
Uma quebra, Haivor sentiu a onda negra se libertando do seu comando e seguindo na direção da cidade. Era impossível parar as duas coisas ao mesmo tempo. Era impossível até mesmo para ele.
A onda começou a penetrar a fronteira da cidade. Os gritos soaram com ferocidade, gritos de pessoas com sonhos e objetivos diários, de vidas e histórias. Cada uma delas tinha algo que as fazia ser diferente, e estavam morrendo.
– Você não pode fazer nada, Haivor – disse Agnes. – Me derrotar é impossível. Você será meu antes do amanhecer.
Os ataques de longa distância de Haivor nada surtiam efeito. Agnes defletia tudo com as costas da mão. Estava chegando no limite. A onda já tinha tomado metade da cidade e estava chegando ao centro.
– Ah, você não sente o peso da morte dos outros. Eles não são nada além de carne para você. Por isso, não queria se relacionar a eles, para que a culpa de suas mortes não caísse em seu colo. Mas, você fez isso com alguém.
Os fios negros correram pela praça, entrando em um bar e retirando três pessoas de dentro. Um casal e uma criança. Era Kalik, sua esposa e Amanda. Ambos de cabeça para baixo, aterrorizados.
– Não se intromete em política, não se intromete na vida alheia, não gosta de se envolver porque sabe o que acontece a todos que entram na sua vida. Talvez, eu deva fazer uma visita ao Lorde Gruu, ao ferreiro Krill ou a bela moça de nome Cristine. O que acha?
Haivor encarava Amanda e seus olhos azulados. O medo estampado, um pedido de socorro silencioso.
– Não se preocupe, ela será a última. Depois disso, só restará você, meu amado Adesir.
– Senhor Mar – Amanda gaguejava. – Me… salve.
Agnes gargalhou ao ouvi-la.
– Está vendo, salve essa pequena criança, Haivor. Salve da tormenta de uma Normadie. Oh, céus, você não pode? Que pena. Nem mesmo um Adesir completo ele é. Sua mente agora está sendo um livro aberto para mim, Haivor. O que houve? Seu mestre Grison não está aqui para te ajudar, não é? O que ele falaria se você deixasse isso aqui acontecer.
Kalik desapareceu em pó em instantes. Sua carcaça caiu e sua esposa soltou um grito tão profundo de dor que doeu no próprio Haivor. Amanda, entretanto, não tirava os olhos de Haivor.
– Está vendo o terror que é perder um marido, Haivor? Você deixou isso acontecer.
– Kalik…
Agnes não perdeu tempo e a esposa sumiu ao vento. Sua mana sendo drenada como o resto da cidade. A energia brilhante vinha de diversos lugares, todas para o mesmo ponto que era a Normadie.
– Eu disse, não foi? A morte deles é sua culpa. Agora observe sua pequena amiga sendo morta cruelmente pelas minhas mãos. Ela, no entanto, não terá uma morte rápida. Farei com que sinta seus sentidos pararem, o desespero penetrar fundo na mente, sentir cada órgão falhando e o coração ser o último a morrer com um grito desesperado de esperança para você. Porque é isso que você quer, certo? Diga pra mim, Haivor. Diga que quer a morte dela.
Haivor manteve-se estático, seus olhos vidrados nos de Amanda.
– Senhor Mar – a calma dela era infindável. – Me desculpe.
Amanda tirou algo de dentro de seu casaco, uma esfera azulada, que apertou com imensa força. Era a primeira vez que Haivor sentiu tanta dor desde a morte de seu irmão. Uma parte de sua alma já estava morta, mas agora, outra estava prestes a morrer.
Salve aquela garotinha. Salve agora. Salve antes que seja tarde. Faça o que for necessário. Lute até a morte, faça o que você não fez pelo seu irmão. Faça, agora, sua vida ter valido a pena. Vá até onde ninguém mais foi.
Por que eu deveria? Morrer pelos outros?
Veja os olhos daquela criança. Ela busca salvação como Cross buscava. Eles estão esperando alguém que nunca vai chegar? Que patético. Ridículo. Grison nunca deveria ter te tirado de Senbom se é para viver assim.
Faça com que ela pague pelo seu sofrimento, Haivor. Faça ela pagar. Apague ela desse mundo. Tire dela tudo o que mais ama. Faça com que ela peça perdão por ter encostado nessas pessoas.
Salve Amanda, Haivor.
– E aqui terminamos.
– Não mesmo.
Haivor esticou a mão esquerda para Amanda com uma pedra roxa em sua mão direita. A pressão sobre a criança fez com que Agnes torcesse o braço. Ela foi agarrada por Haivor que despejou o pó sobre ela.
A criança olhava para ela com aquelas pérolas azuis reluzindo.
– Eu nunca vou me perdoar por ter deixado você sofrer – disse ele. – Mas, farei de tudo para que você nunca mais passe por isso.
Ele pegou a esfera azulada da mão de Amanda e a deixou partir para um lugar seguro. Quando a criança desapareceu, a linha de medo dos seus olhos tinha sido corrompida. A vida de Amanda não valeria as das centenas que se perderam ali, mas era melhor uma vida salva do que nenhuma.
– Você queria que eu te mostrasse algo que você nunca viu em vida, não é? – Ele quebrou a esfera azul no chão. A água se espalhou sob ele e continuou por mais de dez metros. – Farei com que se arrependa disso amargamente. De tudo o que acabou de fazer, de ter ameaçado essas pessoas e ter matado tantas.
– O limiar entre o poder e a loucura não pode ser ultrapasso com facilidade. Se entregue a mim, então. Me leve ao limite do desejo de querer matá-lo.
Haivor retirou a luva da mão e tocou o solo molhado.
– Minha habilidade vai muito além de ler as pessoas, Agnes.
A onda negra se aproximou do centro onde estavam e decaiu para cima de ambos. Haivor leu tudo o que tinha para ler sobre o solo, e por mais vezes do que podia contar, ouviu seu irmão gritando em sua mente:
– Agora. Agora. Agora. Agora. Agora.
O azul da água se misturou com o marrom da terra. As chamas elétricas e um vento frio. Do chão, ele puxou um oceano de quase cem metros quadrados. A onda negra foi empurrada para fora se dissolvendo ao seu impacto.
– Eu posso dividir minha mente em quatro partes, cada parte tem a capacidade de fazer quatro comandos. – Ele segurou uma faísca mais longa do que o normal. – Minha maior culpa é uma morte, Agnes, essas pessoas só são um adicional.
Pela primeira vez se tornando um aprendiz de Adesir, Haivor criou um círculo mágico ao redor de si. Seus símbolos eram refinados, com letras Ligarianas e figuras geométricas detalhadas por uma pena feita de mana.
Era tão poderosa que o ar vibrava junto.
– Isso, é isso – Agnes gritava com tesão. – Entregue-se a loucura, Haivor.
Um círculo mágico também foi criado por Agnes. Era tão negro e sombrio que a própria noite se rendia a ele. Os dois lados vibravam como tempestades barulhentas. Para ambos, seus sons eram ínfimos, mas se espalhavam com tanta força que o som de suas lutas geravam tremores em lugares afastados.
A sede dos Magos CBK, a cidade de Patrono, o Vilarejo Imperial. O teor de mana usados naquele curto espaço de tempo chamava atenção. Era como se duas criaturas invocadas do inferno estivessem prontas para trazer calamidade.
Haivor sentia a dor rasgar seu peito ao meio, mas segurava a faísca com tanta força que se ousasse amenizar o aperto somente um pouco, perderia.
– ‘Absorção’.
O solo abaixo de seus pés enegreceu. Os nutrientes e mana foram puxados para cima com tanta velocidade que assustou Agnes. Não somente do solo, mas a própria onda negra feita pela Normadie estava sendo absorvida.
O Filho das Raízes possuía uma habilidade de absorver aquilo que estava vivo ao seu redor. Haivor havia lido aquela habilidade e entendia o que ele fazia. Não era diferente de Agnes. Ele se alimentava de uma imensa quantidade de mana para se sustentar.
Quanto mais mana chegava para Haivor, mais a faísca engrossava em sua mão e o círculo mágico rangia. O pulso elétrico chegou a golpear ao redor, tentando se libertar do aperto tirânico do Adesir.
– Essa é minha primeira magia. – Ele puxou o braço para trás. – ‘Faísca de 16 Comandos’.
Agnes não viu a locomoção de Haivor acontecer, mas seus sentidos apurados a levaram a dar um passo para trás. O Adesir surgiu como um relâmpago em dias tempestuosos, saindo do meio de uma nuvem e desaparecendo em sequência.
Ele apareceu em suas costas, urrando feito um lunático.
Nesse curto segundo, entre o choque da faísca e seu corpo, Agnes sentiu um prazer nunca antes sentido. Em seu coração, a chama fria tinha sido repleta de calor vinda de fora. Ela, que nunca teve um amor verdadeiro, sentiu pela primeira vez a chama do querer.
Amor e ódio eram uma mesma faca com lâminas contrárias, mas ainda eram a mesma faca. E nos olhos de Haivor, ela quis para sempre memorizar aquele instante; onde seu coração tinha se rendido a loucura de um homem dolorido.
Alguém semelhante a ela e alguém que a tinha aceitado.
Ela fechou os olhos, se deixando levar.
Dizem que uma explosão de grande magnitude rende tremores sequências na terra, levando a cidades e vilarejos a destruição. O impacto entre Haivor e Agnes gerou muito além de pequenos tremores. A terra e o ar, testemunhas da própria destruição, vibraram criando rachaduras e tufões de ar espalhados por todo o Sul do Grande Continente.
Uma proporção de tal magnitude, alguns acionaram como uma possível volta do Rei Louco Jutet ou o próprio proclamado Destruidor, Osan. A memória dos mais velhos era atormentada por colisões desse tipo, porém, somente alguns sobreviventes tiveram a oportunidade de ver a destruição de Algorisha.
Quando o imenso furação tormenta de raio, fogo, terra, gelo e dor cessou, horas mais tarde, a cidade que um dia tinha sido chamada de Algorisha se transformou em um buraco tão largo que alguns poderiam dizer que era um feito de meteoros vindo do espaço.
E nenhuma alma viva estava presente naquele lugar. Nem Agnes, a Normadie, ou Haivor, o Adesir Enigma. Ambos, como relatado por uma pequena garotinha chamado Amanda, eram quem estavam se enfrentando. E a morte dos dois, por alguma razão, tinha sido dada como um benefício para a Torre Mágica.
– O que ele estava fazendo lá? – foi a pergunta que Grison fez a si mesmo quando recebeu a pergunta. Estava ao lado do aposentado Mestre Arcano Piey e Foton, seu aprendiz. – Agnes era uma criatura que nem mesmo os Mestres Arcanos tinham confiança em enfrentar, por que… alguém diria para ele seguir para lá?
Um dia tinha se passado desde o incidente, mas o Grande Continente sabia sobre a batalha de um Adesir e uma Normadie que rendeu a destruição da cidade.
– Suas emoções estão afloradas, Grison – Piey respondeu. – Se acalme. Enigma ainda não foi encontrado, então não se preocupe, o acharemos pelo rastro de mana deixado.
Os ombros de Grison estavam tensionados ao ponto de Foton não se aproximar para falar com ele. O Mestre Adesir era um dos poucos pilares indiferentes que a Torre Mágica possuía. Sempre sério e centrado, mas na notícia da suposta morte de seu aprendiz, ele não conteve a face caída.
– Por que ele foi para lá? – era o que se perguntava mesmo sua mente não conseguindo ter as respostas. – Por que?

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