Índice de Capítulo

    O veleiro celeste cortava os céus como uma flecha de luz, suas velas abertas capturavam as correntes de ar, e o propulsava a velocidade rumo à cidade celestial. No convés, as valquírias se preparavam, com suas pesadas armaduras e as afiadas lâminas, seus semblantes refletiam a tensão no ar.

    Na proa, duas delas observavam o horizonte dourado em silêncio, até que uma quebrou a monotonia.

    — O que você acha que aconteceu? — perguntou, inquieta com a espada em sua mão.

    Era jovem, talvez em seus vinte e poucos anos. Seus cabelos negros, presos em tranças meticulosamente feitas, caíam sobre a armadura ornamentada com detalhes em ouro que brilhavam sob a luz do sol.

    A outra, sentada ao lado, levou alguns instantes antes de responder. Seus olhos estavam fixos em um ponto distante no céu, como se buscassem respostas nas nuvens que resplandeciam ao redor.

    — Não sei… — murmurou, ao desviar o olhar para o horizonte com um suspiro pesado. — Só espero que minhas irmãs estejam bem.

    A segunda valquíria aparentava ser um pouco mais velha, com cabelos loiros soltos, e uma pequena franja que cobria o olho esquerdo.

    — Essa não! — disse, com a voz trêmula, antes de cravar os joelhos no chão. — Eles estão aqui!

    A jovem ao seu lado arregalou os olhos, e a segurou pelos ombros, enquanto gritava para o restante da tripulação:

    — Inimigos à vista! Preparem as armas!

    No entanto, sua atenção voltou rapidamente para a amiga ajoelhada, que gemia de dor. A preocupação era evidente em sua voz enquanto tentava acalmá-la.

    — Nissandra, aguente firme. A Deusa está conosco, tudo vai ficar bem.

    Mas Nissandra mal conseguia respirar. Seu corpo estava tomado por uma aura sufocante, uma força opressora estivesse esmagando sua alma e a consumia de dentro para fora. Seus olhos se tornaram vidrados, cheios de agonia.

    — Quantos são? Precisamos nos preparar para a batalha — disse uma terceira valquíria, ao se aproximar para ajudar. Ela olhou para Nissandra, que se contorcia no chão, e franziu o cenho. — Ela está bem?

    — Não sei… nunca a vi assim antes — respondeu a companheira, a voz carregada de preocupação.

    Nissandra, com um último esforço, conseguiu murmurar:

    — Dois… eles são dois… — E então desmaiou.

    — Realmente, acertei no meu alvo primário. — Revelei minha presença, eu estava apoiado em um dos mastros do veleiro. 

    As valquírias se viraram em minha direção, algumas com suas armas em punhos, prontas para me atacar. A companheira de Nissandra deu um passo à frente, os olhos cheios de desconfiança.

    — Quem é você? — questionou, ao apontar sua lâmina para mim.

    Eu sorri, ao inclinar levemente a cabeça para observá-la mais atentamente.

    — Permitam-me que me apresente… — respondi e saltei do mastro em um pulo ágil, em um pouso suave no centro do convés. — Podem me chamar de Escriba.

    Todas ficaram mudas, até que uma porta se abrir. Uma mulher emergiu da cabine do capitão, ela caminhava com a postura de quem dominava o ambiente, em uma mistura de graça, delicadeza e autoridade.

    Ela era deslumbrante. Seus traços maduros a destacavam das demais valquírias, e irradiavam uma beleza que combinava poder e serenidade. A pele escura parecia brilhar sob a luz, enquanto seus longos cabelos cacheados, negros como a própria noite, caíam livremente sobre os ombros. Seus olhos cor de mel pousaram sobre mim, não com medo ou hostilidade, mas com uma curiosidade analítica.

    — Ora, ora… vejamos quem temos aqui — disse, com a mão na cintura ao me encarar. 

    Inclinei-me em uma reverência teatral, carregada de sarcasmo.

    — Deusa, é sempre um prazer reencontrá-la.

    Ela apenas sorriu, e se aproximou mais de mim. Seu longo vestido branco deslizava pela madeira do convés.

    — Também é para mim um prazer encontrar meu cunhado favorito — rebateu ela de volta. Um sorriso de satisfação em seu rosto.

    — Infelizmente, você tem algo que preciso — declarei. E o tênue tom de respeito que tínhamos até então foi quebrado. — E terei de tomar isso à força.

    Ela soltou um longo suspiro, mas algo em sua postura mudou. A doçura em sua voz desapareceu, substituída por uma raiva sombria e visceral.

    — Então foi por isso… — murmurou. Seus olhos brilhavam como brasas vivas, a intensidade de sua fúria se refletia em cada palavra. — Vocês nunca mudam… Sempre gananciosos, sempre querendo mais. Na sua busca insaciável, condenam tudo e todos, e sentem orgulho do grande mal que causam. Quantos inocentes morreram hoje para que você obtenha o que deseja? É esse o preço que considera justo?

    As palavras não tinham efeito sobre mim, eu sabia o que era certo, e faria de tudo pela minha visão de mundo.

    — Qualquer preço é justo pela eternidade de glória que iluminará o mundo quando tudo isso acabar.

    Ela cerrou os dentes, e a fina aura branca que a cercava começava a tomar uma cor avermelhada, esta, aumentava mais e mais.

    — Vocês tiram tudo… Não apenas de mim, mas de todos nós.

    Dei um passo à frente, e gargalhei zombeteiro, para tentar desestabilizá-la ainda mais.

    — Minha sobrinha veio conosco porque quis. Os olhos dela foram abertos para a verdade. Erobern é o futuro. O panteão está morto. Só resta você, a sombra patética de uma mulher que se perdeu em suas próprias mentiras.

    O rosto dela ficava cada vez mais tomado pela raiva e pelo ódio, e suas companheiras, nos observavam com o rosto empalidecido e temeroso. Sorri, satisfeito por ter conseguido ganhar algum tempo, e continuei a falar:

    — A Deusa com quem lutei lado a lado, anos atrás, está morta. Agora, vejo apenas uma casca vazia, consumida pelo ressentimento e cega pela própria arrogância. Você poderia nos ajudar, poderia acabar com esta guerra, mas em vez disso, joga toda a humanidade contra nós e os condena à morte. Se alguém aqui precisa se arrepender, não sou eu… é você!

    — Calado! É muita coragem sua vir aqui, ainda mais após atacar os inocentes cidadãos da minha amada cidade. — Os olhos delas se tornaram vermelhos como o fogo, e a aura dela mudou totalmente para um tom de sangue.

    As valquírias, que observavam tudo, em espera a ordem de me atacar, sussurravam murmúrios sobre mim, e sobre o que realmente acontecia. Consegui escutar uma delas, falar:

    — Não eram dois inimigos?

    — Fala do meu amigo? — Apontei para ela, ao escutar a conversa. — Não se preocupem. Será uma honra para todas vocês presenciar a calamidade perfeita, também chamada de “A Colecionadora de Cabeças”, “A Vingadora de Erobern”…

    — Calamidade? — rebateu a Deusa, seu tom carregado de desdém. — Você acha que as criações monstruosas de Erobern, que só conhecem o caos e a destruição, podem realmente derrotar a justiça que eu represento?

    — Não é qualquer calamidade… — respondi, o sorriso em meu rosto mais uma vez. — O nome dela é…

    Antes que pudesse terminar, um rugido primal ecoou pelos céus, como se a própria terra gritasse em agonia.

    — Izanamou! — A voz selvagem de Vítor, elevado pela calamidade, reverberou pelo céu por uma eternidade, em um eco profundo e longo.

    As valquírias olharam ao redor, em busca a fonte daquele grito avassalador, mas nada encontraram.

    — Tenham uma boa queda… — sussurrei, enquanto meu corpo se desfez em milhares de papéis, que se espalharam pelo vento como folhas de outono.

    No instante seguinte, o barco celeste estremeceu violentamente, e rachou-se ao meio com um estrondo ensurdecedor. Pedaços de madeira e metal voaram em todas as direções, enquanto uma figura colossal emergia do caos.

    No meio dos destroços, a silhueta de Izanamou finalmente se revelou. Seus olhos brilhavam com uma energia ancestral e destrutiva, e sua presença dominava o campo de batalha. Seus seis braços, giravam com as lâminas, cortavam a madeira, enquanto o seu dono se aproximava da Deusa com uma postura ameaçadora.

    Vítor, ascendido como Izanamou, havia seguido exatamente o plano: atacar de surpresa o barco e tentar pegar a Deusa despreparada. Agora, ele pairava entre os destroços, pronto para enfrentá-la com uma vantagem que só o inesperado poderia trazer.

    Apesar de ser surpreendida, a Deusa logo se recuperou, e colocou-se e em postura de combate, apoiada em uma das tábuas voadoras que haviam se partido durante o impacto.

    — Achei que tivesse matado você em Bluntinsel — A aura vermelha dela se transformou em uma aura azul, menos raivosa, controlada, que a rodeava como uma fina camada de água em um lago solitário. — Isso não vai durar muito, venha até mim e eu te mandarei de novo para o exílio.

    — Izanamou… — Vítor sorriu atrás daquela carapaça, ele estava pronto para a luta.

    Agora era tudo ou nada, ou Vítor conseguia uma gota do sangue da Deusa para ativar a ampulheta de cronos, ou todo o nosso esforço nos últimos seis mil anos estaria condenado.

    Vítor Ascendido
    AfiliaçãoExército de LibertaçãoRaçaHumano-Calamidade Ascendido
    AlcunhaIzanamouTécnica Especial‘Pela espada na minha mão’
    Pela espada na minha mão
    Capacidade OfensivaACapacidade DefensivaA
    AlcanceIrrelevanteResistênciaS
    VersatilidadeCVelocidadeC

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