Ivar voltou sua atenção para o livro, passando as páginas com cuidado.

    A cada folha virada, símbolos antigos e textos enigmáticos surgiam, acompanhados de ilustrações detalhadas que mostravam o artefato em diferentes contextos.

    Ele parou ao encontrar um parágrafo que chamou sua atenção.

    — Aqui… — ele murmurou, apontando para uma página arrancada e um aviso com uma tinta vermelha já desbotada. — “O conhecimento sobre o artefato e o ritual para ativá-lo foi retirado e guardado em local protegido, sob o temor de que caísse em mãos erradas. Parte desse conhecimento foi selada no Nível Restrito, no décimo segundo andar da Grande Biblioteca de Thirel.”

    Elara se inclinou para ler, franzindo a testa.

    — O Nível Restrito… Já ouvi falar disso. Dizem que apenas aqueles com permissão especial podem acessar essa área. É onde guardam os manuscritos mais antigos e perigosos.

    Ivar cerrou os punhos, a frustração evidente em seu rosto.

    — Não podemos parar agora. Se as respostas que precisamos estão lá, encontraremos uma forma de entrar.

    Elara cruzou os braços, ponderando.

    — Não é tão simples assim. Para acessar o décimo segundo nível, precisamos de uma autorização oficial da Arquivista Superior ou… — ela parou, hesitando.

    Ivar arqueou uma sobrancelha.

    — Ou o quê?

    Ela suspirou, um tanto desconfortável com o que estava prestes a dizer.

    — Ou tentarmos entrar sem sermos vistos, mas precisaríamos conseguir a chave de acesso, além de desarmar possíveis selos mágicos.

    Ivar fechou o livro com força, sua determinação mais clara do que nunca.

    — Seja qual for o caminho, eu vou entrar. Se isso significa enfrentar guardas, espiritos ou até mesmo os próprios deuses, que assim seja.

    Elara o observou por um momento, seu coração dividido entre a preocupação e a admiração por sua determinação.

    — Vamos fazer isso da maneira certa primeiro. Tentarei observar se as chaves estão com ela ou guardadas em algum lugar.

    Ivar assentiu, pegando o livro e guardando-o cuidadosamente em sua bolsa.

    — Certo. Não sei se isso irá funcionar, mas seja rápida. Não temos tempo a perder.

    Elara deu-lhe um olhar firme.

    — E você, seja discreto. Não quero ouvir sobre um “tiefling invadindo a biblioteca” amanhã.

    Ele permitiu-se um sorriso irônico.

    — Discrição sempre foi meu ponto forte, pode deixar.

    Ambos se levantaram, seus olhares se encontrando em um momento de entendimento silencioso.

    Eles sabiam que estavam prestes a pisar em território perigoso, mas a promessa de respostas valia qualquer risco.

    Elara se afastou em direção aos andares superiores, movendo-se com a elegância e o cuidado de alguém acostumada a lidar com situações delicadas.

    Ivar ficou para trás, ainda analisando os livros, com seu olhar atento a cada detalhe.

    Enquanto isso, Elara subia os degraus que levavam aos escritórios administrativos.

    A Arquivista Superior era uma figura de respeito e autoridade, conhecida por sua personalidade rígida.

    Ao chegar no décimo andar, onde se enco trava a sala da ArquivistaSuperior, Elara respirou fundo.

    A entrada para a sala da Arquivista estava guardada por dois sentinelas reais, de armadura brilhante, com armas encantadas cruzadas à porta.

    Elara se aproximou, medindo cada palavra.

    — Preciso falar com a Arquivista Superior, é urgente.

    Os guardas se entreolharam, analisando-a cuidadosamente antes de responder.

    — A Arquivista está ocupada. Você tem uma autorização?

    Elara quase se desespera, mas seu pensamento rápido a fez obter uma respostano mesmo segundo.

    — Uma das funcionárias da biblioteca se acidentou enquanto carregava uma nova remessa de livros que chegou essa manhã, ela pediu minha ajuda e me disse para chamar Arquivista Superior.

    Os guardas trocaram olhares, ainda hesitantes. Um deles estreitou os olhos, avaliando Elara.

    — E por que não chamaram os curandeiros ou os magos?

    Elara respirou fundo, fingindo irritação.

    — Porque a funcionária acredita que o incidente envolveu algum tipo de selo mágico nos livros. Eu não sou especialista nisso, mas os efeitos podem se espalhar se não forem contidos. Agora, por favor, avisem a Arquivista antes que algo pior aconteça.

    O guarda ponderou, claramente desconfortável com a possibilidade de negligenciar algo importante. Ele assentiu.

    — Espere aqui.

    Enquanto um dos guardas entrava na sala para relatar o ocorrido, Elara aproveitou o momento para observar os arredores.

    A entrada da sala da Arquivista era adornada com runas de proteção e um discreto brilho mágico indicava barreiras ativas.

    Era evidente que qualquer tentativa de invadir a sala sem permissão seria detectada imediatamente.

    O guarda que permaneceu do lado de fora a observava, mas Elara manteve uma postura confiante, mesmo enquanto seu coração batia acelerado.

    Precisaria de algo mais do que inteligência para conseguir o que precisava ali.

    Pouco depois, o guarda retornou, seguido por uma elfa alta e austera.

    A Arquivista Superior tinha cabelos loiros presos em um coque apertado, e seus olhos azuis pareciam penetrar na alma de quem ousasse mentir para ela.

    Ela carregava uma longa túnica azul-escura decorada com símbolos de conhecimento e magia.

    — Quem é você? — perguntou a Arquivista, sua voz firme.

    Elara inclinou a cabeça em respeito.

    — Meu nome é Elara, estou ajudando nos andares inferiores. Uma funcionária se feriu enquanto carregava livros recém-chegados, e ela me pediu para informá-la imediatamente.

    A Arquivista ergueu uma sobrancelha, claramente cética.

    — Que tipo de ferimento?

    Elara hesitou apenas por um instante antes de responder.

    — Ela disse que foi algo relacionado a selos mágicos, mas eu mesma não vi. Apenas fiz o que me foi pedido.

    A Arquivista cruzou os braços, ponderando.

    — Hum. Muito bem. Onde exatamente está essa funcionária?

    Elara engoliu em seco, sabendo que precisava afastar a Arquivista dali por tempo suficiente para executar o plano.

    — Na seção de Artefatos Históricos, no terceiro andar. Os livros caíram no chão e ela disse que não queria movê-los sem sua orientação.

    A Arquivista estreitou os olhos, mas assentiu lentamente.

    — Certo. Eu irei pessoalmente. Avise a ela que já irei até lá.

    Elara fez uma reverência curta.

    — Entendido, senhora.

    Ela respirou aliviada.

    Agora, com apenas um guarda restante e a sala aparentemente desprotegida, ela precisava agir rápido e tentar avisar ivar.

    Elara desceu os degraus rapidamente, mantendo a postura calma para não levantar suspeitas do guarda que permanecia na entrada da sala da Arquivista.

    Assim que estava fora de vista, apressou o passo em direção aos andares inferiores, onde sabia que Ivar ainda estaria.

    Seu coração batia acelerado, mas ela sabia que não podia perder tempo.

    Ao chegar ao local onde havia deixado Ivar, o encontrou ainda folheando um dos livros antigos, seus olhos atentos vasculhando cada página.

    Ele ergueu o olhar assim que ouviu os passos dela.

    — Conseguiu? — perguntou ele, direto.

    Elara assentiu, os olhos brilhando com determinação.

    — A Arquivista está descendo as escadas até aqui, um dos guardas está acompanhando e o outro ficou na porta da sala dela. Mas não consigo pensar mais em nada, logo ela descobrirá que é uma armação.

    — Se acalme, deixe isso comigo. Usarei uma magia de ilusão em você, te deixarei igual a uma das funcionárias. Espero que você consiga atuar bem. Eu precisarei tocar nela, assim vou poder me transmutar e ter a aparência dela, mas já tenho um plano em mente.

    Elara olhou para Ivar, um pouco surpresa com a calma dele diante da situação. A tensão que ela sentia parecia ser completamente absorvida por ele.

    Ela assentiu, tentando controlar a ansiedade que começava a crescer dentro dela.

    — Se você diz… — disse Elara, forçando um sorriso nervoso.

    Ivar se aproximou dela, seus olhos focados de forma intensa. Ele levantou a mão com destreza, sussurrando palavras suaves enquanto desenhava símbolos invisíveis no ar com os dedos.

    Um leve brilho azul começou a emanar de suas mãos, envolvendo Elara em um manto de energia.

    Ela sentiu um arrepio percorrer sua espinha à medida que a ilusão se formava ao redor dela.

    Em um instante, a figura de Elara foi transformada. Suas roupas se ajustaram para imitar a aparência de uma das funcionárias da biblioteca.

    Seus traços faciais também foram suavemente alterados, tornando-se quase idênticos aos da mulher que ela representaria.

    Ela olhou para seu reflexo rápido em uma superfície de vidro próxima e não conseguiu deixar de se impressionar com a precisão da magia.

    — Está perfeito. — Elara respirou fundo, tentando se convencer de que estava pronta para o papel.

    Ivar sorriu, seus olhos cintilando com confiança.

    — Agora, deite-seno chão. Jogarei alguns livros perto de você, para acentuar o que você disse a ela. Precisamos fazer parecer que realmente teve um acidente.

    — E o que você irá fazer, Ivar?

    — Primeiro usarei em mim uma magia de invisibilidade e tocarei nela assim que ela chegar aqui, depois irei rapidamente subir até a sala dela e me transformarei nela para adentrar na sala. Você precisa mantê-la aqui por tempo suficiente para que eu consiga encontrar as chaves.

    Elara assentiu, a tensão renovada, mas agora com um novo senso de propósito. Ivar parecia ter um plano meticulosamente elaborado, e ela sabia que não havia mais espaço para falhas.

    Ela se deitou cuidadosamente no chão, jogando alguns livros ao redor de si, criando uma cena de desordem convincente.

    O leve cheiro de poeira e papel antigo subia dos tomos espalhados ao seu redor, enquanto ela aguardava o próximo passo.

    Ivar, com a concentração escrita em seu rosto, começou a murmurar mais uma série de palavras mágicas.

    Um campo de energia sutil se formou ao redor dele, e, em questão de segundos, seu corpo se desfez, se tornando uma leve névoa que se dissipava pelo ar, tornando-se invisível. Ele estava agora preparado para agir.

    Elara fechou os olhos por um momento, tentando controlar a respiração e manter a calma. O som dos passos dela ecoava pela sala vazia.

    Ela sabia que, quando a Arquivista chegasse, tudo aconteceria rapidamente.

    A porta do terceiro andar se abriu com um rangido suave. Elara imediatamente ouviu os passos firmes da Arquivista e de um dos guardas.

    Ela posicionou a cabeça em um ângulo desconfortável para garantir que sua expressão parecesse de dor, e tentou fazer sua respiração parecer agitada, como se tivesse se machucado de verdade.

    A Arquivista entrou com um olhar de desaprovação.

    Ela se abaixou rapidamente ao ver Elara no chão, com a funcionária aparentemente incapaz de se levantar.

    — O que aconteceu? — A voz da Arquivista era cortante, sem a menor pitada de empatia, mas com a urgência que a situação pedia.

    Elara fez o melhor que podia para parecer assustada e fraca, levantando uma mão trêmula e apontando para os livros.

    — Eu… eu tentei… mover os livros… mas… — Ela deixou a frase morrer, deixando um suspiro de dor escapar de seus lábios. — Eu… não sei o que aconteceu… Acho que um dos livros… abriu algo… e… eu não consigo… respirar direito… — ela se interrompeu, aguardando uma reação.

    A Arquivista ficou de joelhos ao lado dela, estudando a cena com olhos críticos. O guarda atrás dela olhou nervoso para a situação.

    — Foi o selo, não foi? — A Arquivista indagou com mais suavidade, aparentemente compreendendo que o perigo era real. — A magia dos livros é instável. Preciso ver se você está bem.

    Ela se levantou e começou a fazer um gesto rápido no ar, encantando uma magia para investigar os efeitos do que havia acontecido.

    Elara permaneceu imóvel, respirando com dificuldades para tornar a cena ainda mais convincente. O que mais a deixava nervosa era o silêncio absoluto de Ivar.

    Ele tinha que agir rápido. Ela não poderia ficar ali por muito tempo sem levantar suspeitas.

    A Arquivista se aproximou, seu olhar mais atento que nunca. Ela parecia estar quase convencida da história, mas Elara sabia que o perigo era iminente.

    Apenas mais alguns minutos e Ivar teria que tomar sua posição.

    O guarda, observando a Arquivista, parecia mais calmo agora, sem notar as sutis alterações no ambiente feitas pela magia de Ivar.

    Elara sentiu o peso de cada segundo passar lentamente, até que, finalmente, ela viu uma leve distorção no ar perto da Arquivista. Ivar estava ali, invisível, pronto para agir.

    Ele esperou até o momento exato em que a Arquivista se abaixou ainda mais para examinar o estado de Elara.

    Foi nesse instante que Ivar, tocou a Arquivista suavemente no ombro e se dirigiu rapidamente aos andares superiores ainda invisível.

    Enquanto subia as escadas, ele se transmutava na Arquivista Superior, usou uma ilusão para deixar suas roupas iguais as dela, e então se dirigiu até a sala, onde havia um guarda barrando a porta.

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