Índice de Capítulo

    “A moeda de todas as coisas é o sangue.”

    Izandi, a Oniromante


    O frisco de coral projetava estrelas que eram espalhadas por todo o escritório, criando figuras luminosas que seguiam o oscilar da fraca chama da vela de incenso recifano. Havia outras luzes em castiçais bem espalhados em sua estante, mas suas luzes vacilavam tano quanto. A chuva forte e estrondos deixavam as orelhas de Ezekel em desconserto. “Trovões e chuva enquanto há neve”, pensou. Era quase como se os Deuses estivessem brigando com seus domínios. Todavia tinha algo melhor para apreciar. 

    Chuva leva mar

    Mar brande o céu

    E como bradas tu, meu amar!

    Que tira’meu véu

    Singelos filhos a’me dar

    Em amor, brilho a carcel!

    — Uh, chutou-me! Será menino, tenho mil certezas!

    — Pode ter certeza disso com um chute? — indagou Ezekel, soltando a caneta de prata e meneando o pescoço, dolorido. 

    — Se fosses tu quem o carregasse, saberias! 

    Não conseguiu manter o rosto sério e cobriu a boca com a mão direita; não o suficiente para deixar de vê-la e sentir o coração esquentando junto do sorriso nas bochechas. Mesmo depois de casarem-se, ainda não cria que era sua. Sua Ofina, que carregava no ventre um filho seu. 

    Trajava-se no cetim azul mais luxuoso do seu guarda-roupa, esticado pelo inchaço dos cinco meses de gravidez, que só a deixou mais bela aos olhos do marido. Ela jazia meio deitada num sofá longo de veludo vermelho, dando olhadelas ao marido como se esperasse algo. Ainda não cria. “Se não fosse por Den, não estaríamos juntos. Serei eternamente grato, amigo. Que os Deuses permitam que esteja bem.”

    Pondo os pés cansados no chão, moveu-se com dificuldade até Ezekel.

    — O que está a fazer? — Descansou a cabeça no ombro do marido. — Trabalhando nesta hora?

    — Labutando sobre muita coisa. Os filhos de minha prima Sesje chegaram ao seu primeiro batismo com muita saúde, meia dezena de ladrões invadiram uma casa nobre e fizeram um nobre e sua filha de refém, os preços do ferro tem aumentado e agora meu irmão quer uma linha dupla para… seu projeto e suas armas… — ele respondeu; o bálsamo de flores fluía do corpo da esposa. Tirava sua concentração de um jeito diabólico. — E teve o terremoto.

    — Nunca houve tanta murmúria na Cidade de Diamante, dizem minhas aias — afastou o magro e afeminado marido, tentando sentar-se no ombro do cadeirão de madeira, veludo e ouro. — Soube que uma torre, próxima da Proa de Cristal, despencou sobre vendedores. É verdade?

    — Não foi só ela… A torre de vigia na rua dos Caminhantes, um casebre na Colina da Virgília, uma mansão inteira na rua das Virgens e bordéis de luxo no Caminho da Seda. Os mortos, feridos e desaparecidos eram tão relatados que os escudiamantes têm trabalho para desmaiar de exaustão. 

    “É como se montanhas inteiras quisessem sair do chão.” Tudo nisso deixava Ezekel com um tremor na barriga. Quando assumiu a Coroa dos Acenos, não sabia que teria que governar uma cidade; esperava agir como o id Baene, e só isso. Ser o meio de união entre os Cinco Reinos, resolver seus problemas internos… Não comprar ferro para seu irmão, um rei… Ser um rei, mesmo que só de uma cidade. Havia trabalho a ser lidado. 

    “Rikard deveria cuidar mais das suas coisas”, pensara. Não tinha coragem de dizer aquilo em voz alta. O rei de Greanalg foi embora poucos dias depois de que Ezekel conseguiu forçá-lo a jantar consigo, Natharel e Ofina. Imaginou que aconteceriam problemas e teve esperanças de que seria uma refeição amorosa. A realidade foram três pessoas conversando e o irmão mais velho calado até todos se retirarem.

    Estranhamente, não conseguia ter maus sentimentos para com ele. “É meu irmão e o amo”, concluiu. Lidaria com isso melhor com o tempo.

    — Há um ditado nos Corais — segurou a mão do marido —, muito falado pelas Esposas de Deus: a chuva chora o que o sangue esquece. Triste, não?

    — Pensava que havia se convertido aos Quinze — terminou um penúltimo papel; uma carta de benevolências aos três sobrinhos, os trigêmeos de sua prima Sesje Godwill, a rainha consorte de Flassam. 

    — E eu que nunca me casaria com um rapaz-menina que vivia com os olhos enfurnados em lupas e insetos, que não é um grande marinheiro e mal consegue ferir alguém com palavras. 

    — …Ofina! — Corou, mordendo o lábio.

    — Está tudo bem, tudo bem! — Ela ergueu as mãos e deu um beijo na testa de Ezekel, marcada pelo aro da Coroa. — No momento de agora, tua esposa deseja muitos mimos, mas deixemos para depois… Só mais um papelzinho eu tolero. Qual o último conto de terror da noite, meu inocente homem-moça?

    “Alguma carta absurda de compra de ferro?”

    Subitamente lembrou-se dos Goldwey. Queriam, literalmente, fornecer dezenas de mercenários — os quais eles chamaram de homens de armas — e que Lawwell Goldwey fosse mais uma vez promovido como Magistério-Mór da Cidade de Diamante. Não parecia uma proposta ruim — a última parte. Todavia não queria decidir algo tão sério somente com uma carta. Enviara pássaros-de-voz para a Casa, os convidando para uma conversa séria. Ainda faltavam cargos a serem decididos: Guardião-Mór, Magistério-Mór, Confessor-Mór… Esperava uma resposta, porém ela não chegara.

    Retomando à realidade, pôs a carta de congratulações à prima ao lado e acabou por reparar um livreto velho: Dos de Várias Pernas, por Rall Rarnk. 

    — Não era aquele livro mórbido e chato que tu carregavas entre os braços em Ocas Ciled?

    Ezekel acenou com a cabeça, estranhado. Parecia uma versão muito resumida e magra do livro que o deu dores nos braços fracos e brilho nos olhos. Não sabia quem haveria mandado-o até ele. As pessoas que conheceram o caçula dos Godwill e seu ânimo por estudos dos pequenos podiam ser contados com uma mão. Den, Ofina, Natharel e Sasje Godwill e seu tutor, que já fora ascendido pós-morte de velhice.

    Tateou entre as margens, sorrindo até se dar conta de que estava fino até demais e, virando-o, fez uma carta de um papel verde e leve, tão leve que passou a ser levado pelo vento, escapando de suas mãos e por sua mesa. Ofina subiu e saltou felinamente da cadeira e pegou a carta por um triz antes que entrasse na vela do frisco coral.

    — Um papel de seda? — ela disse, furiosa e terrivelmente grávida. — Está por ter amásias, Ezekel? 

    — Não sei qual a relação entre as coisas — levantou-se. Ofina segurava a carta entre dois dedos e ameaçava jogar no fogo, mas foi então que passaram a sentir o odor horrível de um incenso afrodisíaco que circundava a carta. Ofina o deu um olhar de morte. — Olhe para mim — disse, cabisbaixo e um pouco irritado — e me responda se tenho aparência de quem trairia a mulher que amo.

    Ofina achava o rosto redondo e sem espinhas, de queixo pontiagudo e cílios longos do marido muito atraentes; vendo como suas bochechas contorciam quando aproximava a carta do fogo, não pôde se conter. Sentou-se na mesa e beijou-o.

    — Sei que meu rapaz-menina não faria esse tipo de coisa. Não tem coragem de falar com outras mulheres além de mim — gargalhou, com a veia saltada na testa aliviando.

    “E de outros homens… também”, Ezekel cerrou os punhos e franziu o cenho. As palavras do irmão ainda lhe traziam desconforto. “Se formos, de fato, inimigos, o que será de nós?” Temia na possibilidade de que o Helino de Eira, pai de Ofina, ordenasse seu retorno as Ilhas Coral, ou até pior. A Cidade de Diamante não cederia com facilidade, mas já fora cercada uma vez. O Helino não permitiria que Ofina ficasse sob um cerco. “E muito menos eu.” 

     Ofina desfez as dobras do papel.

    — “Meu belo senhor dos cabelos de aveia, sinto saudades do seu grande você dentro de mim. Quero-o e desejo-o tanto que não aguento mais esperar. Venha, venha sozinho e com toda sua força, venha me ver na Mansão de Jal…” Está a caçoar de mim, Ezekel?

    Sua alma abandonou seu corpo, ficando mais alvo do que papel chariçano. 

    — Alguém que caçoa de mim!

    Enquanto Ezekel tentava tomar a carta dela, Ofina estirava o papel para o alto e empurrava-o pelo ombro contra o chão, abusando da diferença de altura.

    — Eu juro pelos Quinze que nunca te traí! — agarrou o colar de quinalfero-âmbar, de joelhos. — Juro!

    Ofina gostou do que viu.

    — Tá, tá, acredito em você, mas se levante logo! Sua posição, confesso que seria muito boa se não fosse pelo momento, mas não combina com seu car…

    Ezekel, corado, saltou e tomou a carta, quase a rasgando.

    Ignorou a libido da esposa e centrou-se em ler a carta que o humilhava. Passara pelos cavaleiros, pela Guarda Real e por meia dezena de servos leais. Uma ofensa de tamanho grau não deveria chegar até si, ainda mais quando não reconhecia aquela letra. “Bonita demais para ser de uma rameira das vielas.” Era um convite.

    “O Palácio dos Cinco não é como os castelos nas Ilhas Coral para que qualquer prostituta entre e faça o que quer!” Amassou a carta e a jogou no fogo. “Alguém trama minha vida? Mas o que fiz? Desisti dos meus direitos reais por uma posição que só será minha por dez anos…” Engoliu em seco e semicerrou os olhos. Observou a carta queimar, então deu atenção à janela: a chuva estava mais pesada. “Somos inimigos”, “Tolo… Tolo e inocente.”

    — O que vai fazer? — perguntou Ofina, tomando a mão que era mais feminina do que as suas.

    — Seja quem seja, sua humilhação chegou no Palácio dos Cinco — suspirou, pondo a mão no peito tamborilante. Levantou-se com um semblante austero, então retribuiu o ósculo dela. — Chegou a mim, logo a você. Não deixarei que chegue uma humilhação a ti, minha Ofina.

    — Por que você sempre toma a pior decisão? — Agarrou sua mão; seu coração parecia explodir de felicidade. — Vem cá, eu sei que você não fez nada. Vamos para nosso quarto — o beijou. — Posso por o vestido que usei durante a coroação. — O beijou mais uma vez. — Sei que não conseguiu tirar o olho.

    — Era no mínimo estranho…

    — É a tradição do meu povo, e ninguém além de você viu — o puxou mais uma vez e beijou. — Me certifiquei de que ninguém além de você me veria.

    Ezekel lembrava-se com perfeição. Jamais esqueceria de tanto barulho, do quão pesada a Coroa dos Acenos foi ao primeiro uso, dos gritos do populacho que os jogavam flores e grãos de trigo, das artes que faziam o céu relampejar sem nuvens, dos vinhos doces que lhe serviam e dos sussurros da nobreza, de como Ofina estava vestida no palanquim, carregado por vinte alazões, trajada em azul e lilás de marilã num vestido recifano…

    Ela o beijou novamente.

    — Não quero que saia mostrando sua intimidade assim. — Ele cruzou os braços. Desistira de ir ao encontro com qualquer coisa que fosse o convite. — Vou ficar. Amanhã chamarei a Guarda Real para averiguar este problema. Me acompanha, minha bela Dama Ofina?

    Ezekel tomou-a pela mão e, com um movimento rápido e simples, a pôs nos seus braços.

    — Mas que homem forte esse o meu!

    — Fui bem treinado nas artes da espada, mulher minha. — Ignorou as pernas e braços tremendo…

    — Eu vejo — disse, e levando-se até as orelhas do marido, continuou: —, e gosto principalmente das artes com a que não é de ferro.

    Sentiu o sangue correndo por seu corpo. 

    Ia sorridente para o quarto real do Palácio, andando a um passo e um beijo e carícia. “Como a amo!”, pensou. Nem reparou a força da chuva diminuindo, mas pôde recuperar sua concentração quando ouviu um grito e viu sangue borrifado pelo vão da porta. Como se a morte batesse à porta, ouviu clangor de metais.

    Imediatamente deu passos para trás e deixou Ofina de pé detrás de si e engoliu em seco. Procurou pela adaga que fora ensinado a guardar no manto desde que era criança, porém não a encontrou. Imediatamente vasculhou pelas gavetas do escritório. Encontrou carta atrás de carta, papéis e recibos e um pequeno cantil com uma bebida, mas nada que fosse uma lâmina.

    “Não tem nada…”

    — Ez…? O que foi?

    Tateou as paredes em busca de qualquer passagem secreta que existisse ali. Sabia de sua existência. O Palácio dos Seis não fora erguido por qualquer um, e a própria Cidade de Diamante não fora feita para ser um simples símbolo de união entre as seis nações. Bateu nas paredes e ouviu Ofina dar um grito. Não achou mais nada.

    — Amor, o que foi isso?

    — Foi um trovão!

    — Parou de… Sangue!

    Ezekel voltou à esposa e segurou suas mãos. “Tudo ficará bem”, ele disse, todavia não conseguia ter certeza e com certeza não acreditava no que ele falava. “A Guarda é o melhor que os Cinco Reinos tem a oferecer!” Os gritos não paravam e cada vez mais sangue entrava pelo vão. Procurou por baixo das mesas; por dentro das estantes, que derrubou livro por livro e até tentou empurrá-la. 

    — Amor…

    — Estou bem — arfou ele, caindo de traseiro no chão. — Nós ficaremos bem! A Guarda dos Cinco Reinos está aqui, e meu irmão Natharel também. — “Mas o grito de mais cedo definitivamente era de Kennyr.” Cerrou os dentes e apertou o chão com suas mãos finas. “Não acho na… Achei.”

    Correu o mais rápido que pôde para a cadeira onde antes estava sentado, então a derrubou. “Uma cota de malha e uma adaga.” A cota jazia um pouco enferrujada, mas quando desembainhou a adaga, notou que estava em perfeito estado e seu rosto até refletia na lâmina adamascada.

    — Serve! Ofina, meu amor, fique atrás de mim!

    — Si-sim!

    Ergueu a lâmina e deu um passo mais devagar do que o outro. “De onde vem tanta coragem?”, ele pensou. “Que seja, isso não importa agora!” Um passo, o segundo. A porta de súbito foi aberta e um homem coberto de sangue e neve se revelou, com o até metal de sua armadura fedendo a suor.

    — Cei Lessard!

    — Vossa Graça, id Baene! 

    — O que está acontecendo aqui?! 

    — Estamos sendo atacados! 

    — Quem?

    — Não sabemos! E dane-se isso, venha logo! — Deu as costas para os dois e posicionou sua guarda em alto.

    Ezekel voltou para a esposa, cujos olhos jorravam como cachoeiras.

    — … — Virou o rosto. Vê-la chorando destruiu seu peito; sentiu toda coragem que existia antes ir embora como o sol antes da chuva, então retornar como uma multidão enfurecida. Deu um beijo na sua testa, a cobriu com a cota. Focou nos escuros olhos da esposa. — Vai ficar tudo bem, meu amor. Lessard, nos proteja!

    — Sou pago para isso, Vossa Graça! — chalreou, batendo no ombro como sinal de confiança pura.

    Os dois chegaram ao cavaleiro em passos rápidos, e pouco andaram antes que alguma rizada diabólica zunisse pelo corredor e suas grandes janelas. “Há um diabo aqui!” Atravessaram a porta com dificuldade. Não havia nenhuma luz; rapidamente notou que as veletetos estavam quebradas como um copo. Sob seus pés poças de sangue gelado emanavam um fedor horroroso e férrido, que remexia o estômago e feria a alma.

    — Fiquem detrás de mim — ordenou o cavaleiro. Avançaram devagar e detrás dele, Ezekel segurando a mão da esposa e com a outra, a adaga apontada para o todas as direções que conseguia. Sua cabeça já doía de tanto se virar, mas parou no momento certo para ver algo invisível cortar o cavaleiro Lessard da pelve até o ápice da garganta.

    — Cei… Lessard…!

    Ezekel não conseguia respirar, não vendo o Cei que pouco conheceu, um cavaleiro honrado e de bom humor, agonizar agourentamente, com seu sangue sendo empurrado para fora da garganta pelo coração. Ofina empalideceu, cobrindo a boca como se para impedir de vomitar; o mundo dos dois pareceu se desfazer…

    “Não tenho tempo para isso!”

    — Não chore pelo morto, homenzinho! Engula seu vômito! — gritara uma voz feminina. Ezekel agarrou a esposa e recuou pouco menos do que um passo, todavia a luz das luas mostrou que a assassina sequer moveu o braço. “Como o cortou?! Não vejo arma nas suas mãos!” — É pequeno, bonito e leve demais para a idade, mas ainda consegue fazer alguém se sentir mulher! — gritou ela. — Os homens do oeste são realmente diferentes!

    — Quem é você?! — Apontou a adaga na sua direção. — O-O que quer?!

    — O homem tem coragem! — balançou o braço direito como se segurasse alguma coisa invisível. Ela deu um passo à frente, com a luz incidindo melhor. A assassina coberta somente por uma pele de lobo parecia ser feita de leite e dificilmente teria mais do que vinte anos, alva dos cabelos até os mamilos expostos como um demônio, mesmo com a face de fada. Ezekel notou que sua adaga tremia. Seu braço não conseguia ficar parado; sentiu uma mão congelada apertar seu coração e como se neve saísse da sua pele: congelada. 

    — O que você quer?! — Apertou com ainda mais força e fitou os lados. “Não há mais nada aqui além de corpos e de sangue!” — Dinheiro?! Deixe minha esposa viver e terá quantos lírios quiser pelo resto da vida!

    — Mas já sou rica! — gargalhou, balançando os braços e seios fatos. — Não há dinheiro no mundo que me compre… Agora… — Apontou a mão direita como segurando uma espada para Ezekel. — Existem coisas que me compram sim… — Sorriu e apontou para Ofina. — É que gosto muito do meu trabalho!

    — Khemno! — gritou uma voz vinda do corredor. O coração de Ezekel sentiu um alívio que Ofina não compreendia. 

    Uma luz dourada fez seu caminho, atravessando o chão como uma parede de setas flamejantes saídas do chão. A assassina desviou por muito pouco, porém Natharel fora ainda mais rápido e chutou-a na barriga. Foi disparada contra a parede no final do corredor e o impacto derrubou dezenas de quadros velhos e caros. No entanto, o Draconeiro não parou.

    Cobriu sua espada com ahvit e as chamas que ele próprio ergueu, que vieram para a lâmina como um redemoinho, e desapareceu como um raio em direção da assassina. Ezekel não conseguiu nada além de sorrir, pois a assassina mais uma vez fora disparada, com sangue voando pelo céu a acompanhando. Colidiu com o chão ensanguentado com a mesma força que Natharel carregou sua Eclipse com mais fogo.

    Ainda assim, ela se levantou. Um corte cauterizado ardia do seu braço, e da sua barriga ao seio direito, abriu-se um novo corte quando urrou de dor; Ezekel se admirou de como ela conseguia se levantar. Não se deu tempo para ver qualquer outra coisa e agarrou Ofina, pálida de tanto medo, e começou a correr em direção do Draconeiro. 

    — Não! Vá para os estábulos! — gritou Natharel, que habilmente girou sua espada para bloquear um ataque da lâmina inexistente da assassina. Fazendo a lâmina arder, emitiu uma luz feérica contra a mulher e a deu um chute no pescoço, a mandando para longe. — Vá! Biee!

    De súbito ouviu um grito, um disparo e o som de um mar de fogo. 

    Ouviu o som de algo se fincar no chão e do vidro sendo quebrado. Sua atenção foi chamada com o poder que atraia todos os Godwill. Ezekel fitou o caminho de chamas que seu irmão criou por uma fração de segundo antes de notar Ofina soltando sua mão, correndo cansada e com dificuldade na única direção que não havia sido tomada por brasas.

    Engoliu em seco e agarrou a adaga com uma força ainda maior; correu na direção dela; um súbito vulto em forma de homem apareceu, com uma espada na mão e couraça de lobo sobre a cabeça.

    — Ofina!

    — AHH! — ela gritou, pálida e assustada. O invasor levantou sua espada para parti-la em duas.

    Porém Ezekel reagiu mais rápido.

    Disparou a adaga, que furou a cabeça mal protegida e careca. Fora um simples impacto no chão antes de Natharel aparecer e proteger os dois.

    “Eu… matei alguém.”

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