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    — Eu decreto: aqueles que não forem humanos e tiverem consumido uma Pedra Lunar brilharão como se o próprio sol os tocasse.

    As palavras de Gerhman carregaram um peso incomum, e o ar ao redor pareceu congelar em antecipação. A Energia Cósmica que pulsava de seu braço cessou abruptamente, como se tivesse sido sugada pelo próprio vazio. Acima deles, o céu se tornava ainda mais sombrio, as nuvens girando e colidindo com uma raiva contida, relâmpagos ameaçando despontar a qualquer momento.

    O brilho dourado do Felroz desapareceu, engolido pela escuridão. Cerberus, ainda com os olhos fixos na criatura, sentiu sua própria habilidade ser desfeita. Ele desviou o olhar para Gerhman, que mantinha os olhos fechados e o braço estendido, como se comandasse o próprio céu.

    O silêncio que seguiu era pesado, quase palpável.

    — Achei… que fosse ser mais fácil. — Gerhman deixou escapar, o tom entre o cansaço e a frustração.

    Então, como se o universo atendesse ao comando, o Felroz explodiu em um clarão dourado, rasgando a escuridão. O brilho era intenso, quase ofuscante, e iluminava o céu com uma força descomunal. A criatura disparou para cima, cortando o ar em um movimento frenético. Atrás dela, um enxame de Felroz menores a perseguia, mordendo e arranhando na tentativa de alcançá-la.

    Dante observava, fascinado. Era algo que ele nunca havia testemunhado antes. Cada pessoa que encontrava parecia trazer algo único para o mundo, algo que tornava o caos ainda mais fascinante.

    — Pronto. — Gerhman abriu os olhos, ofegante, o suor escorrendo mesmo sob o frio intenso. — Ele está longe, mas deu certo.

    Dante acompanhou com os olhos o Felroz marcado. A criatura subia, depois mergulhava, usando as asas enormes para afastar os perseguidores. Com golpes rápidos e precisos, ela abria espaço para continuar sua fuga desesperada.

    Ele ponderou sobre a cena. A Pedra Lunar já havia mostrado sua capacidade de transformar humanos, como no caso de Degol Jones. Não era difícil imaginar que o mesmo princípio pudesse se aplicar aos Felroz. Ele lembrava bem do dia em que enfrentou um deles no caminho para o Centro de Pesquisa. Aquela luta mudara sua percepção sobre os Felroz: eles não eram mais bestas irracionais. Eram algo além, algo novo.

    — Cerberus, tome cuidado ao se aproximar. — Dante avisou, mas não pôde conter o sorriso. — O último que enfrentei… bem, precisei apelar um pouco para sair vivo.

    Cerberus ergueu o queixo, os olhos brilhando sob a máscara.

    — Vou assistir como você faz.

    Dante assentiu, preferindo assim. Cerberus era valioso demais para arriscar agora. Se algo acontecesse com ele, chegar a GreamHachi seria ainda mais complicado. A tensão no ar era quase eletrizante.

    O grito do Felroz ecoou novamente, reverberando como um trovão. A criatura subia mais alto, cada vez mais rápido. Dante apertou os punhos, o frio da adrenalina tomando conta de seu corpo.

    — Vamos!

    Com um movimento explosivo, ele disparou em direção ao céu, deixando um rastro de energia em sua esteira. Atrás dele, Cerberus e Gerhman o seguiam, o brilho dourado do Felroz marcado guiando o caminho para o desconhecido.

    O rastro dourado deixado pela criatura cintilava cada vez mais forte à medida que se aproximavam. Dante fixou os olhos no brilho e começou a distinguir os contornos da cauda. Estavam quase lá. Apenas vinte metros os separavam do Felroz quando, de repente, a cabeça da criatura se contorceu em um movimento rápido e anormal, fitando-os como uma predadora acuada.

    Dante reagiu no mesmo instante, mergulhando para baixo, sentindo o ar cortar sua pele. Um estalido ecoou no ar, seguido por um disparo de Energia Cósmica vermelha que passou exatamente onde ele estivera.

    — Ela sabe que não está segura. — Dante murmurou para si mesmo, um sorriso frio se formando em seu rosto.

    Se havia medo, havia fraqueza. E se havia fraqueza, era o momento perfeito para atacar.

    Ele avançou com um impulso, alcançando a pata da criatura. As garras eram grotescas, longas e deformadas, cada unha parecendo uma lâmina irregular. Antes que o Felroz pudesse reagir, Dante segurou firmemente sua pata. O rugido que se seguiu era um misto de fúria e dor, e a criatura se contorceu em protesto. Dante não hesitou. Enroscou os braços em uma das asas e puxou com força, forçando a articulação a um limite insuportável.

    A criatura tentou girar para derrubá-lo, mas Dante respondeu com um chute preciso na coluna, arrancando um grito que ecoou como trovão. Gerhman, agarrado às costas de Dante, gritou junto, lutando para não ser lançado ao vazio.

    Num movimento rápido, Dante soltou o Felroz, permitindo que girasse no ar. A criatura virou-se em busca de seu atacante, mas foi recebida por um chute direto no peito, que a fez girar descontroladamente em direção ao céu.

    Lá em cima, a tempestade rugia, os ventos chicoteando sem piedade. O Felroz conseguiu estabilizar-se, batendo as asas deformadas com força. Parecia encontrar algum alívio na altitude, longe dos outros predadores que o perseguiam.

    Até que Dante apareceu novamente.

    Ele emergiu das nuvens como uma bala, acertando o rosto da criatura com força suficiente para fazê-la recuar, liberando um grito gutural. Mas isso não era suficiente. Dante apareceu mais uma vez, vindo de outro ângulo, acertando golpes rápidos no abdômen, nos braços, e finalmente agarrando-a pelas costas em um mata-leão firme.

    As asas do Felroz bateram freneticamente, tentando escapar, mas Dante não deu espaço. Com um chute em cada lado, ele as manteve imóveis.

    — Se segura! — gritou para Gerhman, sentindo o aperto do homem aumentar enquanto começavam a cair em rotação. — Cerberus, consegue agora?

    Cerberus surgiu pelo lado, um vulto esbranquiçado contra o céu tempestuoso. A Energia Cósmica dourada da criatura começou a pulsar de forma errática, como um coração prestes a explodir. Cerberus ergueu a mão, liberando fios de energia que pareciam dançar no ar antes de se cravarem na pele da criatura.

    O céu se iluminou em um brilho surreal, uma mistura de verde e dourado que se espalhava como fogo em papel. O Felroz soltou um grito agudo, quase humano, que ecoou por toda GreamHachi. Lá embaixo, os habitantes levantaram os olhos para o espetáculo, assistindo ao clarão descer em espiral.

    — Continua! — gritou Dante, apertando o mata-leão enquanto a criatura tentava soltar-se.

    Ela abriu a boca, mesmo com a garganta comprimida, e começou a acumular Energia Cósmica. Dante reagiu com um soco forte na lateral do rosto, o impacto ecoando como um estalo de ossos. Ele segurou o queixo pontudo da criatura e forçou-o para cima, tentando desviar o disparo que estava por vir.

    Cerberus parecia exausto, o rosto contorcido de esforço enquanto seus fios penetravam na carne da criatura.

    — Estou quase… — ele murmurou, a voz tensa.

    Gerhman gritou por cima do som do vento.

    — Estamos chegando perto da barreira! Acelera isso!

    Dante soltou um chute no peito da criatura, empurrando-se para trás enquanto ela se debatia. Ele sabia que ela tinha uma última carta na manga. Sempre tinham.

    — Gerhman, use o decreto! — gritou Dante, a voz carregada de urgência.

    Gerhman, com a manga do casaco já puxada, estendeu a mão para frente.

    — Eu decreto: a Pedra Lunar precisa vir até mim por vontade própria.

    O Felroz soltou um grito de puro desespero. O peito da criatura começou a inchar, bolhas vermelhas se formando na pele. Dante sentiu o calor irradiar, a tensão no ar ficando quase insuportável. Ele não tinha tempo a perder.

    Com um movimento final, Dante pisou no peito da criatura, forçando-a a cair em direção ao solo. Seus olhos encontraram os do Felroz, e por um breve momento, ele jurou ver um lampejo de inteligência e desafio naqueles olhos bestiais.

    — Você acha que consegue voar? — murmurou Dante, com um sorriso frio. — Acho que não.

    As asas da criatura estavam quebradas, inúteis, e ela sabia disso. Mas ainda lutava, debatendo-se como um animal selvagem.

    O decreto de Gerhman brilhou como fogo na mão dele, e Dante soube que o fim estava próximo.

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