Capítulo 4 - Despertar Em Um Novo Mundo

1° de março de 5997 d.E, Ilha Central, Cidade Celestial.

Alice despertou com a mente turva, a cabeça latejava e havia um formigamento estranho nas pernas dela. Quando conseguiu se levantar, foi tomada por uma tosse severa, como se algo tivesse preso em sua garganta e pulmões.

Ainda um pouco atordoada, abriu os olhos e foi imediatamente atingida por uma luz branca intensa vinda de cima. Precisou de alguns instantes para ajustar a visão, enquanto ao seu redor ouvia um burburinho crescente. Quando finalmente enxergou com clareza, percebeu estar no centro de um vasto salão branco, adornado com imponentes colunas de mármore. O espaço estava repleto de pessoas, formando uma multidão, que também parecia dispersa e alheia ao que acontecia, com muitos murmúrios.

No alto de um palco elevado à frente, destacava-se uma mulher de cabelos loiros com algumas mechas roxas. Sua presença dominava o ambiente. Ao seu lado direito, estava um homem, e à esquerda, outra mulher. A anfitriã trajava um vestido púrpura escuro de tamanho curto, de mangas longas e gola alta, acompanhado por luvas negras que reforçavam sua postura imponente. Ela se apoiava em um parapeito, observando calmamente a multidão que, aos poucos, se recompunha.

O homem à sua direita era ligeiramente mais alto e exibia longos cabelos brancos que contrastavam com sua aparência juvenil. Sua vestimenta era uma túnica púrpura claro, que se estendia até os joelhos. Apesar da presença e imponência que demonstrava, ele parecia alheio ao ambiente ao redor; seus olhos vagavam dispersos, e ele parecia preso em seus próprios pensamentos.

Já a mulher à esquerda vestia-se com outro tipo de uniforme, e lembrava uma integrante de uma ordem religiosa. Usava um manto branco adornado com o símbolo de uma estrela e lua vermelhas no centro. Seus longos cabelos castanhos estavam cuidadosamente presos em uma trança que descia pelas costas. Usava óculos ornamentados com detalhes de ouro na armação. Embora fosse a menor dos três em estatura, compensava a diferença com sapatos de salto que a colocavam na mesma altura de seus companheiros.

Após um pequeno período de silêncio, a mulher de cabelos loiros se pronunciou, sua voz se espalhou por todo o salão.

— Sejam todos muito bem vindos a Testfeld, é um prazer recepcioná-los aqui…

— E quem é você? — gritaram vozes no meio da multidão.

— Meu nome é Angeline, todos vocês morreram nas suas vidas passadas, então receberam uma segunda chance de se tornarem algo maior, algo grandioso! — Ela levantou a mão direita para o céu, para dar peso ao discurso.

Um silêncio estarrecedor surgiu após aquela revelação. A mente de Alice permanecia confusa, sua memória estava meio confusa, lembrava-se de estar na escola, no último período de aula, e então tudo se tornava uma grande incógnita em sua mente. Olhou para seu corpo, e percebeu que ela ainda mantinha o uniforme de aula.

As palavras da mulher pareciam fazer um pouco de sentido na sua mente confusa. Todavia, ao mesmo tempo, ela queria acreditar que tudo era apenas um sonho, talvez ela apenas tinha dormido na aula de química.

— Que tipo de piada é essa? Eu estava bem vivo! — declarou alguém mais emocionado na multidão.

Angeline esboçou um sorriso suave ao jovem, e retomou a palavra:

— Eu também sou como vocês… Todos nós já enfrentamos a morte e fomos trazidos para esta terra desconhecida. Não tenham medo. Assim como nós, vocês também podem sobreviver e, quem sabe… — Angeline pausou, e soltou um suspiro longo, como se estivesse perdida em pensamentos distantes. Quando retomou, sua voz tinha um tom mais hesitante, quase como uma prece: — Quem sabe até voltar para casa.

Ela deu um passo para trás, e enxugou discretamente uma lágrima que escorreu por sua face. A emoção em sua expressão era genuína, mas efêmera, logo ela retomou sua expressão séria de antes. Antes que alguém pudesse reagir, o rapaz de cabelos brancos se aproximou, e assumiu o papel de porta-voz.

— Muito bem, reitero as boas-vindas a Testfeld. Pensem neste mundo como um grande jogo, um MMO RPG, se isso deixar as coisas mais simples. Agora, prestem atenção: preciso que todos se posicionem em filas. As mulheres devem se dirigir às filas à minha direita, e os homens, às filas à minha esquerda. Assim poderemos iniciar as explicações gerais.

A multidão reagiu imediatamente, com pessoas se empurrando e disputando posições nas filas. O caos começou a se formar, mas Alice permaneceu imóvel, observando os três no palco com olhos atentos. Algo naquelas palavras não a convencia completamente. Seria verdade o que diziam, ou tudo aquilo não passava de uma armadilha?

No meio da movimentação, o homem de cabelos brancos levou a mão à testa, como se lembrasse de algo importante.

— Droga, quase esqueci… — disse ele em voz alta, e chamou novamente a atenção de todos. — Existem duas regras absolutas e invioláveis neste mundo. A primeira: “Não revelem nenhuma informação pessoal além do seu nome e idade”. A segunda: “Os moderadores de Testfeld não interferirão, exceto em casos de violação da primeira regra”.

Os murmúrios na multidão cessaram, enquanto todos absorviam o peso das palavras. Ele prosseguiu, com um tom mais firme:

— As demais regras foram redigidas e aprovadas pelo conselho das vinte guildas. Qualquer infração será julgada por uma junta independente, sob a supervisão da guilda ‘Falcão de Seis Olhos’. Isso inclui as regras básicas de convivência, como: roubar, matar ou, qualquer outra coisa que seria um crime em nossas antigas vidas.

Antes que ele pudesse continuar, a mulher de cabelos castanhos soltou uma risada discreta, o tom levemente sarcástico.

— Mais alguma coisa, Magnus? — perguntou ela, ao cruzar os braços.

Magnus lançou-lhe um olhar de advertência, mas permaneceu calado. Ela, então, virou-se para a multidão e, com um tom firme e autoritário, deu a instrução final:

— Pois bem, todos sigam para as filas. Os testes começarão em breve.

Alice continuou hesitante, mas, ao ver a movimentação crescente ao seu redor, decidiu se juntar à fila das mulheres. Suas perguntas e dúvidas poderiam esperar, pelo menos por enquanto.