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    Não sabia o que estava acontecendo, Gaia nunca havia feito nada como aquilo até hoje. Em um momento estava no quarto da pousada mas com um piscar de olhos me sentia como se eu tivesse sido teleportada para algum lugar longe da pousada.

    Caí ao chão sem entender realmente o que havia acontecido, era diferente de outras coisas que já havia experimentado até agora. Minha barriga estava borbulhando como se quisesse me avisar de algo que estava vindo.

    ― Como foi? Foi bom? Está surpresa? ― Não conseguia ver seu rosto, mas tinha certeza que havia dito isso bastante animada pelo seu tom de voz.

    ― Foi bem legal… ― disse enquanto me levantava.

    Ao me erguer completamente, tudo que eu podia sentir era náusea, tudo girava. Senti rapidamente uma pontada em minha barriga e meu subconsciente já sabia o que estava por vir. 

    Corri em meio a tontura até me apoiar em algum lugar e vomitar quase todo o almoço que havia comido. Acho que eu não deveria ter comido aquilo se eu soubesse que isso iria acontecer.

    Após um momento de fraqueza de minha parte comecei a prestar atenção ao meu redor. Sentia como se tivesse tocando em uma árvore, e meus pés tocavam algo como grama coberta pela neve. A corrente de vento era forte, atrapalhando minha visão com o cabelo voando em meus olhos.

    ― Espera, árvores? ― Minha mente não havia se tocado onde estava, tirei os cabelos do rosto e olhei rapidamente para o meu arredor.

    Era uma floresta, parecia o local mais profundo que eu poderia imaginar, não havia sons de pássaros e nem animais. Gaia me olhava como se esperasse alguma coisa de mim mas, só era confuso mesmo. 

    ― Ta-dã! O que achou? Depois de muitos anos eles liberaram o uso da minha habilidade, só precisei de um pouco mais de apelo. ― Se ela fosse um desenho, seria desenhada com um nariz empinado agora pois parecia muito orgulhosa com seu feito.

    ― Por favor, não faça mais isso sem me avisar. 

    ― Isso é tudo que tem a dizer sobre minha benção? Séeeerio? Vamos, faça alguma pergunta, vai, vai. ― Ela estava se soltando mais diferente do nosso primeiro encontro, algo que não ocorreu a tanto tempo atrás. Definitivamente alguma coisa havia acontecido com essa coelha no momento em que estava fora. A sua habilidade não poderia ser algo que a deixasse tão eufórica.

    ― Então me explique o que é essa habi-… ― Minha barriga havia começado a borbulhar novamente, eu nunca mais vou pedir para ela fazer isso de novo.

    ― Você não tá nada bem… Mas uma hora melhora. ― Ela tava me olhando de perto, era assustador para alguém que tinha acabado de jogar todo o almoço fora.

    ― Eu sou uma marionetista, consigo criar bonecos de qualquer coisa e trocar de lugar com ele, também posso levar pessoas junto comigo além de ter outras funções como […] ― Vomitei mais uma vez.

    Após tanta comida sendo jogada fora, ela finalmente parou de falar após longos dez minutos, e eu tinha me acalmado de tanto desperdiçar alimento. A floresta durante o dia não era muito diferente do que durante a noite, apenas tendo neve para todos os lados. Mas eu tava me perguntando uma coisa nessa situação…

    ― Então, como vai ser esse treinamento?

    ― Não é óbvio? Eu quem vou lutar com você.

    ― Acho que meu ouvido está falhando, poderia repetir como iria ser o meu treinamento? 

    ― Já se esqueceu do que posso fazer? Vou apenas possuir uma de minhas marionetes para te ajudar nessa parte. ―  Definitivamente perdi algo em sua explicação. Estava perplexa com esse tipo de uso, sinceramente o quão fundo essa habilidade vai? Deveria mesmo ter escutado um pouco mais.

    Uma espécie de grande portal apareceu à sua esquerda, ela não parecia ter se assustado com isso, mas fiz questão de olhar o que havia dentro e o que eu vi foi nada, era vazio. Até duas luzes vermelhas surgirem daquele portal e estavam andando para fora, podia dizer isso porque conseguia ouvir seus passos.

    Uma mão de madeira parecia segurar a borda do portal, se puxando a força para fora, era possível ver suas articulações pois eram marcadas na madeira. Seu corpo era acompanhado pela névoa que surgia e finalmente colocando sua perna esquerda para fora do portal.

    ― Essa é a minha parte favorita! ― Não percebi sua presença ao meu lado, mas estava batendo palmas para o show em sua frente. Gaia parecia ofegante com aquilo, então tinha certeza que era a benção perfeita para ela, então de alguma forma me animei com aquilo também. 

    Foi épico o que estava acontecendo, meus cabelos balançavam juntamente com a névoa saindo daquele portal, pelo menos até todo o seu corpo sair dali de dentro. O que acontece agora? Tinha uma marionete de dois metros parada em minha frente, mas só isso mesmo.

    ― Gostou?

    ― …

    ― Seveeen, gostoou? Como foi criado por mim ele não poderia ser nada mais e nem nada menos do que um Brotinho.

    ― Ah! ― Estava processando o que havia de acontecer. ― Sim, sim, você sempre me impressiona. ― A peguei em minha mão para fazer carinho em sua cabeça.

    Espera um momento…

    ― Brotinho? Que nome fofo para se dar. ― Dei um pouco de risada desse nome, eu confesso.

    ― Não ria assim de mim! Ainda não acabou meu show, então eu vou cobrar isso mais tarde de você. Mas para ficar ainda mais legal eu vou deixar você fazer essa parte. ― Enquanto falava, seu corpo de coelho parecia estar cada vez mais se encolhendo para a forma de uma bolinha de gude.

    Olhei para todos os lados pensando no que havia acontecido mas parecia que minhas respostas estavam à minha frente. Um pequeno compartimento abriu no peito daquele fantoche, um local de difícil acesso até para mim que não podia enxergar o que havia ali dentro. 

    Aquele autômato parecia entender o meu problema, pois logo se abaixou para mim. Olhei dentro do compartimento e havia um pequeno espaço circular da qual entendi que era para colocar essa pequena bolinha naquele espaço, ação que eu fiz após pensar um pouco.

    O espaço fechou instantaneamente após colocar aquela bolinha e o corpo se levantou novamente. Mas, nada acontecia, estava um silêncio ensurdecedor naquele pedaço da tarde.

    ― Gaia? Está tudo bem aí? ― disse enquanto colocava minhas mãos sobre o autômato.

    Mas antes que pudesse reagir completamente, meu corpo foi jogado para trás por uma cortina que surgiu do acima da cabeça da marionete. Um vestiário, que engraçado eu diria.

    ― E aí, o que achou? ― A cortina estava se abrindo, mostrando como ela estava agora.

    Ela estava em forma humanoide agora, mas por conta de ainda ser uma marionete as suas articulações eram bem definidas naquele corpo de madeira. Tinha cabelos roxos que eram tão grandes que quase chegavam aos seus pés, mas a sua lateral estava raspada. Seus olhos brilhavam naquela tarde na mesma cor de seu cabelo. Gaia, por incrível que pareça, ainda continuava com seu óculos em seu em seu olho direito tinha uma grande cicatriz.

    Suas roupas pareciam… formal demais? Utilizava uma camisa branca com alguns botões que era evidentemente colocada por baixo de sua calça preta. Tinha um grande casaco preto em suas costas, como se fosse colocada por cima de seus ombros, e o que mais me chamou atenção em suas vestimentas foi o acessório desconhecido em seu pescoço, era tão único que não conseguia descrever. Além disso, tinha outra parte que chamava atenção logo de cara, eram grandes.

    Parece até meio repetitivo dizer que apenas gostei de tudo o que Gaia fazia, mas simplesmente não havia outras coisas que poderia dizer, era lindo e por conta de minhas memórias era a minha primeira vez vendo algo assim, então podia apenas admirar suas conquistas. 

    ― Hahaha! Faz muito tempo que não usava essa belezinha aqui. ― Sua risada ecoava por dentro da floresta, mostrando seus dentes afiados como os de um tubarão.


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