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    — Duas liberações extremas de energia… — pontuou Zemynder, assistindo de braços cruzados.

    — Ele tem energia para mais uns cinco desses. Isto é, caso ele consiga refinar mais ainda — comentou Sara sentada no limite do que poderia ser considerado seguro. — Para ser sincera, estou me irritando com ele.

    — Por quê?

    — Ele é inconveniente.

    “Theo… Você não está tentando isso, está?” ponderou Selina entendendo o quanto Theo estava tentando se aproximar da lua naquele momento.

    Outrora, enquanto viajavam até os Pilares do Renascimento, Theo contou a Selina sobre o encontro que teve com Alunne no plano espiritual. Além disso, contou sobre os três presentes deixados pela Celestial da Lua.

    — Rod, cobertura! — exclamou Islan.

    Arrancando contra os defensores, Theo ameaçou utilizar novamente a primeira configuração. Conjurando um escudo de energia, Rod forçou a hesitação do jovem.

    “O primeiro presente foi de Araav… O segundo, de Boreas.” pensou Selina, lembrando do que Theo falou. “E um último presente da deusa Alunne. O de Araav foi o manto, então posso presumir que o da minha deusa será o absolutismo.”

    A forma de alcançar o absoluto da própria identidade, entender, através de outro ser, como funciona o próprio. Alcançar o seu eu absoluto. Na realidade, manifestada como uma alinhada e perfeita representação de quem são. 

    Aos seguidores de Surya, a iluminação perfeita do sol.

    Para os seguidores de Ciel, a superioridade do céu.

    Para os mensageiros de Alunne, a forma de mascarar o falso eu — assim com a lua esconde Ciel com a noite.

    Normalmente, Alunne desceria e daria sua benção a Theo, embora ele já tivesse recebido a permissão. Entretanto, a forma de ativação desse presente depende unicamente da deusa. Interferir neste ritual e avançar sozinho era imprudente, pois o corpo poderia não estar preparado para receber tamanho poder.

    Ainda assim, aquela foi a maneira que Theo escolheu para mascarar sua vida e trilhar uma nova ruína. Sozinho, ele tentou.

    Igualmente ao Ser que auto criou-se, ele renasceu sozinho…

    — Oh, meu precioso dom da força… — recitou Theo, lembrando-se de um poema relacionado a lua de sangue. — Que o uivo do primordial assalte de vossos ouvidos com a tormenta diante a morte, traga a mim o poder que abdiquei e como o sangue do dragão, banhe esta lua com teu fervor. Exalte, oh, esta alcateia de um homem só.

    “Um poema?” ponderou Islan, posicionando-se frente a Theo.

    — Ilumine essa mente turbulenta assim como se reflete a noite aos olhos. Mascare meu destino e force o expurgo…

    Uma onda de energia vazou por todos os pilares. A presença de Theo deu-se o luxo de atacar cada partícula no ar, comprimir cada véu de mana num único ponto.

    — Liberação: Nove! — conjurou Islan.

    Aglomerando a mana do próprio núcleo, o defensor emitiu um feitiço sem encantamento: os feitiços de liberação numeram-se do nove ao zero, onde, quanto menor o número, mais puro é a energia utilizada. Dito isso, quanto mais próximo do zero, mais forte será o ataque. 

    Enquanto conjurado apenas o número nove, o único ataque liberado por Islan foi um único e simples feixe de energia desordenado.

    Antes que fosse atingido, Theo liberou a energia de forma que serviu para absorver o feitiço de liberação. Um tecido de éter se manteve intacto enquanto uma névoa de poeira e mana cobriu sua visão.

    — Ártemis: Sagitta Lunae divinae Cervo.

    — Outro?! — Rod exclamou numa indagação surpresa vendo a flecha de Ártemis avançar contra si.

    Entretanto, o que roubou sua atenção segundos depois foi a movimentação repentina de Theo; o rapaz avançou pela esquerda, contornando os dois defensores enquanto os circulava.

    “Uma máscara…” os olhos de ambos, tanto Islan quanto Rod, arregalaram-se ao verem a nova feição do Jovem Mestre Lawrence.

    Diante do belo rosto estruturou-se, a partir de éter, uma máscara branca e adotiva de uma lua crescente na lateral esquerda — tingindo pelo vermelho carmesim. Dois chifres saiam da testa, denotando os olhos vazios similares aos de um lobo.

    — Segunda configuração: Garras Triluna!

    Invés de conjurar três cortes de energia, Theo os desferiu pessoalmente em uma destreza invejável. Distorcidamente, Theo desapareceu do campo de visão dos defensores.

    “Essa sensação…” ponderou Islan.

    Rod anulou a flecha de Ártemis com sua barreira enquanto Islan barrou os cortes da segunda configuração. 

    “Já que vocês querem partir sem remorsos, não tenho muita escolha. Não irei ficar me desculpando comigo enquanto estou atacando para matar, nem fingirei piedade…” 

    Theo circulou pelos defensores velozmente.

    “É. Vocês me fizeram concluir que a vida tem seu valor e, nem por isso, anula os valores da morte. Às vezes ela é só uma forma de encontrar a verdadeira paz, se livrar de um fardo. Vocês não me pediram para matá-los, mas para encontrar a paz. E demonstrando minha força é a forma que ajudarei vocês a alcançar…”

    — Obrigado. — Theo agradeceu surgindo diante a barreira de Islan. — Eu gostaria de presenciar mais do poder de vocês, mas, com esse estado… Não tivemos a dança almejada.

    Depois de acertar duas flechas de Ártemis nos escudos dos defensores, Theo entendeu como uma barreira de pura energia era formada e, após perceber que resquícios de energia passavam por brechas atômicas, ele achou uma forma de superar as defesas.

    Um defensor sem sua defesa, assim como um arqueiro sem flecha ou paladino sem sua espada, é igual a uma planta num incêndio… 

    Seca e frágil.

    Visualizando a brecha da barreira pelo túnel vetorial, Theo pôde entender a falha na criação e atravessar a imperfeição. Islan paralisou ao ver o rapaz quase teleportar para dentro dos escudos, observando atentamente um brilho âmbar se afogar na escuridão dos olhos daquela máscara.

    “É a sensação de ser caçado por um lobo…” concluiu Islan, vendo Theo imbuir todo o braço esquerdo com a ressonância elemental e atribuir as propriedades anemo ao próprio corpo.

    — Inerentia: Lunae cervi…

    Adotando brevemente o semblante de uma lâmina, o braço de Theo enfincou-se lentamente e perfurou o coração de Islan onde, segundo Aidna, estaria a infecção do fungo de Zethíer. 

    Theo sentiu sua palma rasgar os músculos de Islan e fraturar a caixa torácica para, somente então, atingir o coração. Por estar imbuído por atributo elementar, Theo não sentiu tanto nojo quanto pensou que sentiria. 

    Por querer dar um enterro digno aos defensores, Theo abdicou de utilizar algum poder diretamente destrutivo e desfigurar completamente os corpos de seus colegas. Então, ele preferiu usar ataques limpos e diretos visando uma morte rápida e indolor.

    Islan morreu subitamente após ter seu coração esmagado por Theo, tendo os restos mortais despencando nos braços do rapaz. 

    Durante segundos, Theo ofegou e tentou controlar a ansiedade, dando controle da mente aos pensamentos intrusivos e decisivos de Liam. 

    Retirando o braço do cadáver de Islan, ele permitiu que o corpo sem vida do defensor despencasse no chão.

    — Vamos concluir logo — disse cabisbaixo enquanto sentia o sangue escorrer pelo braço esquerdo. — Ro… d…?

    Deslizando gradualmente os olhos em direção ao segundo defensor, Theo o encontrou três metros acima empalado por uma alabarda. A visão do rapaz turvou repentinamente, processando a cena.

    — Eu lidei com esse aqui — disse uma terceira voz com um timbre similar ao de Theo, no entanto, ainda mais juvenil.

    Correndo rapidamente a visão para baixo, Theo se deparou com um adolescente segurando a arma que empalava Rod. 

    Tinha, em média, a altura de Theo — próximo dos 175 cm — e uma postura descontraída. 

    Seus cabelos eram brancos, soltos e ressecados, longos para além da cabeça. Por detrás das orelhas, entretanto, jaziam um par de asas angelicais às quais tampava seu rosto pálido e escondiam os olhos. 

    Trajado com um peitoral de placa mesclado com uma túnica branca, carecia de um calçado.

    — Eu pedi pro meu irmão mais velho deixar que eu brincasse com você, então ele deixou. Você tem uma presença muito boa, sim, com certeza. Muito mesmo, ainda mais para alguém que aparenta ser alguns anos mais velho que eu.

    — Quem é você? — inquiriu Theo.

    — Quer me mostrar do que realmente pode ser capaz? Esses caras eram fracos para você, sim, tenho total certeza. Mas relaxa, comigo não vai ter que se segurar. Pode atacar pra matar.

    — Quem é você?!

    — Pode me mostrar. Estava de longe, então apenas senti a energia. Gostaria de lutar comigo e mostrar-me do que você é capaz?

    Theo explodiu em elevação de energia.

    [Segunda configuração: Corte Triluna.]

    Os três cortes expandiram-se até o oponente, tal qual jogou o cadáver de Rod e desviou dos cortes de Theo. Este, portanto, agarrou o corpo de Rod à medida que o inimigo se distanciava.

    — Rod…

    Ele já estava sem vida.

    — Você…

    — Isso, isso, isso. Mostre-me o anjo que você esconde por detrás desta máscara… A tua verdadeira essência.

    Apontando a alabarda para o rosto de Theo, seus cabelos balançavam apenas pela leve brisa que permanecia no ar. Os olhares de ambos se chocaram na atmosfera, traçando uma linha futura imprevisível.

    E, para Theo, assim como para Liam Mason… Aquele era seu maior medo.

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