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    O Reino Griffon era comumente chamado de Reino Original, pois há mais de um milênio foi o primeiro grande país a emergir do período dos estados em guerra no continente Garlen.

    Não era o maior, a primazia pertenciam às tribos das Blood Sands, mas devido às condições de vida muito mais duras do deserto, somadas à falta de terras férteis, era sem dúvida o mais rico.

    Ao norte e oeste, fazia fronteira com o império Gorgon, e ao sul e leste com o deserto Blood Sands. O governo central estava localizado na capital, Valeron, nomeada em homenagem ao Rei Original, Valeron Griffon.

    O governante do Reino também era o comandante-chefe do exército real.

    Era proibido a cidadãos particulares ou mesmo a nobres terem um exército. Aqueles que podiam pagar, só podiam ter uma guarda pessoal, de até cem soldados.

    A simples tentativa de recrutar ou formar um, era alta traição contra a Coroa, e a linhagem do perpetrador seria executada até a terceira geração. Os nobres eram considerados apenas administradores de suas terras em nome do Rei/Rainha.

    Eles não tinham permissão para fazer leis, apenas para aplicá-las conforme fossem promulgadas pela Corte. Em caso de dúvida sobre sua interpretação, uma simples chamada via amuleto de comunicação para um escriba real a esclareceria.

    Para renunciar às leis eram necessárias circunstâncias especiais e a aprovação direta do rei, caso contrário seria considerado um ato de rebelião.

    Uma das razões pelas quais o Reino Griffon floresceu ao longo dos séculos em comparação com seus vizinhos foi o processo de seleção do governante. O título não era hereditário, assim como a competência, habilidade e talento que o papel exigia.

    Após a morte do governante atual, o cônjuge seguraria as rédeas de todo o Reino até que o próximo fosse encontrado. Para ter acesso à seleção, havia três requisitos essenciais.

    O candidato tinha que compartilhar, não importa quão diluído, o sangue do Rei Original, também tinha que possuir talento mágico excepcional e habilidade administrativa comprovada. A razão para o primeiro requisito ainda era um mistério para todos, exceto para o governante.

    O segundo e o terceiro, em vez disso, eram bem óbvios. Sem magia, o governante seria um prisioneiro de seus próprios guardas, já que até mesmo um servo de nível mágico poderia matá-lo sem deixar rastros em apenas um segundo.

    Por fim, um bom governante era, antes de tudo, um bom administrador. Sem um senso adequado de justiça e equilíbrio, ele seria um tirano ou, pior ainda, um espantalho perdulário nas mãos de quem fosse capaz de permitir seus vícios.

    Aqueles que satisfizessem esses requisitos seriam levados para a parte mais profunda do castelo real, em frente a um portão místico feito de ouro e prata, que seria aberto apenas para aqueles que carregassem sangue real.

    Os que eram considerados dignos, emergiam chocados, mas ilesos, enquanto os outros nunca mais retornavam. Era a principal razão pela qual o título de Rei/Rainha não era cobiçado, exceto por aqueles que sinceramente acreditavam merecê-lo.

    A qualquer momento, alguém que atendesse aos requisitos poderia desafiar o governante atual e realizar o julgamento, mas, novamente, muito poucos retornaram.

    Em sua história de mil anos, a Corte nunca elegeu um governante sem seguir a tradição, e mesmo assim era um mistério.

    Muitos pensavam que atrás do portão havia uma série de artefatos mágicos, que colocariam o candidato à prova e matariam aqueles que não estavam aptos para liderar o país.

    Outros dizem que o fantasma do Rei Original ainda morava no castelo, passando sua sabedoria através das gerações, graças ao vínculo de sangue que compartilhavam.

    Todos eles estavam errados.

    Atrás do portão de ouro e prata, depois de um pequeno túnel, ficava o covil do Divino Griffon Tyris, uma das três únicas bestas Divinas que viviam no continente, que a história conhecia apenas como a Rainha Original, desde a época em que ela ajudou Valeron a construir seu Reino, que ele nomeou em sua homenagem.

    (NOTA: Usarei “ela” em vez de “isso” porque, como ele pode mudar para a forma humana, a fronteira entre animal e humano é bem tênue e confusa.)

    Sempre que necessário, ela examinava os candidatos, certificando-se de que o legado de seu único e verdadeiro amor não seria perdido, usando seus poderes para sondar suas mentes e espíritos.

    Se algum deles a agradasse, o Reino teria um novo governante. Caso contrário, ela não teria necessidade de preparar nada para o jantar. Tyris não acreditava em intervenção direta, nem se importava tanto com assuntos humanos.

    Ela continuou realizando o último desejo do Rei Valeron, escolhendo seus sucessores e assustando a Corte de vez em quando, quando alguém achava que a tradição estava ultrapassada.

    Foi de seu covil que Arjîn Rênas partiu para sua nova missão.

    Ele era o recruta mais jovem do Corpo da Rainha, e tinha acabado de aprender o básico da magia real com Tyris.

    (NOTA: é apenas magia verdadeira, mas com outro nome, todos os outros cânones serão mantidos para evitar confusão.)

    A existência do corpo da Rainha era um fato conhecido, algo que todo cidadão cumpridor da lei se lembraria e respeitaria. Ao contrário, o Corpo da Rainha era para ser apenas um boato, o bicho-papão do submundo.

    Era uma unidade secreta, composta apenas pelo membro mais leal do corpo, que, uma vez dominando a magia real, removeria sozinho qualquer ameaça ao Reino.

    Se uma família nobre inteira morresse em um acidente, se um cartel criminoso desaparecesse da noite para o dia, a culpa era do Corpo.

    Ninguém nunca tinha visto um membro do Corpo em ação e vivido para contar a história, era um daqueles rumores do tipo “O amigo do meu primo conhece um cara que…”. No entanto, eles eram muito reais.

    Quando se conheceram, Tyris acolheu Arjîn em sua forma humana, fazendo-o se apaixonar perdidamente por ela, e desperdiçou a semana seguinte rejeitando suas propostas de casamento e tentando argumentar com ele.

    Ela manteve sua forma Griffon por muito tempo, esquecendo que acalmar um convidado assustado era muito mais fácil do que encarar seus sentimentos irracionais. A aparência humana de Tyris tinha um rosto oval delicado, com características perfeitas que inúmeros artistas passaram a vida inteira em vão, tentando reproduzi-las.

    Ela tinha cabelos dourados brilhantes, longos o suficiente para quase tocar o chão, e olhos prateados que brilhavam como estrelas à luz mais fraca. Sua pele rosa-perolada era impecável, não mostrando nenhum sinal de ter sido afetada por viver no frio covil subterrâneo por tanto tempo.

    Tyris geralmente usava um vestido simples de cetim azul, usado séculos atrás por viúvas enlutadas, que, apesar do corte antigo e largo, não conseguia esconder suas curvas suaves e encantadoras mais do que um pássaro voando poderia tapar o sol.

    A primeira vez que Arjîn a viu sorrir, ele acreditou que ela já estivesse morta há muito tempo, porque aquela simples expressão trouxe de volta à vida todos os sentimentos que longos anos no esquadrão de operações secretas da Rainha o fizeram esquecer.

    — Lembre-se de não abusar de seus novos poderes. — Foram suas palavras de despedida.

    — As impurezas em seu corpo não são suas inimigas, pelo contrário, são a única razão pela qual você e todos os magos talentosos ainda estão vivos, apesar de seus corpos serem inadequados para exercer o poder de seus núcleos.

    — Leva tempo para um corpo se adaptar, e não há como apressar o processo. Qualquer passo em falso, e você se transformará em uma Abominação, e outra pessoa do Corpo terá que se livrar de você. Adeus, criança. Não nos encontraremos novamente.

    Com o coração pesado, ele partiu sem olhar para trás.

    De acordo com as ordens da Rainha, algo estava errado com o Reino, ainda pior do que o normal, exigindo que todos trabalhassem no convés, e forçando Arjîn a abandonar seu treinamento mais cedo.

    Parecia haver algo estranho em muitos laboratórios de Alquimia perto da academia Grifo Branco, e nos materiais que eles estavam comprando em estoque, junto com muitas caixas dimensionais para que seu propósito fosse bom.

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