Capítulo 126 – Rotina
“Eu… Eu quero ficar em primeiro lugar nas provas!”, disse um garoto de cabelos escuros e semblante nervoso. Uma gota de suor escorria por seu rosto.
A sensação fria da noite acariciava sua pele, causando-lhe arrepios, mas não mais do que o que estava à sua frente.
Sentado, na escuridão de uma sala, com um silêncio fantasmagórico, uma figura mostrou um sorriso malicioso. Seus olhos brilhando como chamas vermelhas olhavam para o garoto com expectativa.
Ele soltou uma risada abafada, sua voz ressoando como um sussurro do além.
“Em primeiro lugar, hein… Eu vou conceder isso a você.”
<—Da·Si—>
Com a aproximação das provas antes das férias de inverno, a escola se tornou quase uma corrida por conhecimento. Alunos se reunindo em grupos para estudar na biblioteca e no refeitório se tornaram comuns, embora boa parte estivesse confiante e outros que apenas não ligavam mesmo.
“Olha… mesmo que você diga que está tudo bem, eu acho que você deveria estudar um pouco”, disse Haruna, lançando um olhar feroz.
“Você me pede ajuda para estudar e quer que eu estude também? Isso sim é audácia”, respondeu Mayck.
Como dito, a garota pediu sua ajuda para estudar, apesar de ser contra a sua vontade. Ela fez isso apenas porque Rika precisava. Além do mais, não havia outras opções.
“Chika-san não se dá bem com estudos, Akari-san está ocupada e Yukimura-kun…” Ela fez uma breve pausa,. “Bem, ele deve ter seus motivos.”
“Você deve achar que ele é inútil quando o assunto é estudar, certo?”
Mayck fitou a garota, mas ela apenas o cortou. Talvez devesse considerar isso como um ‘sim’.
“De qualquer forma, eu só pedi sua ajuda porque Hana-san não está aqui. Você deveria se esforçar um pouco mais também.” Ela apontou a caneta na direção dele, como se o ameaçasse.
Mayck, porém, deu de ombros. Ele sabia que era necessário, mas era tão entediante que ele só estudava se fosse realmente urgente, o que não era o caso ali. Então, sim, poderia dizer que estava confiante em seu desempenho natural.
“Haruna-san, você está atrapalhando Rika-san. Por favor, faça silêncio”, disse, voltando seus olhos para a garota, que estava concentrada até então, mas ao ouvir a conversa dos dois, acabou rindo um pouco.
Haruna bufou. Quanta ousadia o garoto tinha para dizer isso, mas ela resolveu não lutar e apenas voltou à sua tarefa de matemática.
Eles continuaram com os estudos de álgebra. Estavam na biblioteca, assim como outras dezenas de alunos. O silêncio seria total se não fossem os murmurinhos das pessoas conversando entre si.
“Aliás, vocês ouviram falar do realizador de desejos?” Haruna trouxe o assunto à tona.
“Ah! Eu ouvi os boatos. Ouvi umas garotas conversando sobre hoje de manhã.”
“Realizador de desejos?”
Mayck percebeu que era o único por fora ali.
Então Haruna explicou:
“Uhum. Parece que tem uma pessoa misteriosa que aparece na escola durante a noite e concede um desejo seu. O problema é que não dá pra encontrá-lo só por querer, dizem que é ele quem escolhe pra quem vai aparecer.”
“Mm… É a primeira vez que ouço isso.”
“Talvez nós devêssemos pedir alguma coisa, não é Rika?” Haruna brincou.
“É verdade, né? Haha!”
Algo como os mistérios da escola parecia ter surgido bem ali, mas Mayck acabou não dando tanta importância. No melhor dos casos, era apenas um portador fazendo uso de seus poderes de forma imprudente — ele sabia disso porque já tinha passado por isso.
Bom… se ele causar problemas, Chika e Haruki devem dar um jeito.
Por algum motivo, se envolver nisso parecia um trabalho desnecessário. Ele ignorou tudo isso e voltou aos estudos.
Estavam na pausa do almoço, então também podiam ouvir o barulho distante dos outros no refeitório e no pátio.
Vários minutos passaram. Quando Mayck olhou o relógio marcando 12:30, percebeu que já estavam estudando ali há uma hora. Restavam apenas trinta minutos para que pudessem comer alguma coisa, então decidiram encerrar ali e se separaram na saída da biblioteca.
Mayck decidiu ir à cantina. Passou por alguns alunos, mas seguiu em silêncio.
Refletindo sobre os eventos anteriores, ninguém sabia, mas Hana estava faltando às aulas por conta de seu mal estado de espírito e físico devido ao incidente na organização; ela tirou uma licença especial para se afastar por alguns dias até se recuperar.
Apenas Mayck, Haruki, Chika e Akari sabiam sobre isso, mas nenhum deles esperava sua volta antes das férias de inverno. Afinal de contas, o que aconteceu tinha sido terrível. O que a garota mais precisava naquele momento era apoio e espaço.
Airi-san me disse que foram mais de sessenta horas de tratamento de choque… Isso explica as queimaduras. Mas o que eles queriam afinal?
Com o que a vice-líder da equipe falou, não dava para afirmar que só estavam atrás de eliminá-los. Com certeza tinha algo por trás e pensar nisso fazia seu sangue ferver.
Além do mais, Mayck não podia se esquecer do que quase rolou entre os dois naquela manhã. Ele ainda conseguia sentir o calor dos lábios de Hana bem próximos; isso o deixava constrangido. Sem que percebesse, seu rosto estava completamente vermelho.
Ele balançou a cabeça para afastar os pensamentos.
Não posso ficar pensando nisso… Se concentre aqui.
Apesar dos esforços, seus pensamentos sempre voltavam a isso. Mas algo o tirou deles de vez.
“Err… Mayck-kun!”
Ele se virou e encontrou Rika se aproximando.
“Hm? O que foi?”
“Ah, bem… err…”
Ela parou diante dele. Sem conseguir encará-lo. Os dedos entrelaçados pareciam inquietos.
“Eu quero te agradecer por ter me ajudado hoje… E se não for pedir demais… você poderia me ensinar de novo? Tem algumas coisas que eu ainda não entendo…”
Para um pedido até simples ela parecia nervosa demais, Mayck pensou, mas era compreensível.
Ele pôs a mão sobre a cabeça dela e sorriu gentilmente.
“Não precisa se preocupar com isso. Sempre que precisar, pode vir falar comigo.”
“O-obrigada”, respondeu, sorrindo e com um rosto corado.
Ela não sabia porquê, mas Mayck estava sendo estranhamente próximo e gentil com ela, algo que até mesmo Haruna tinha notado.
Ele sempre tinha sido alguém tranquilo em relação aos amigos, bom em todos os aspectos, apesar de parecer se importar pouco com tudo. Porém, há alguns dias, essa gentileza estava dobrada. Especialmente em relação à Rika — isso poderia acabar dando falsas esperanças para a inocente garota.
Mas para a surpresa de todos, Mayck também não sabia responder o porquê. Era certo que ele tinha motivos para se aproximar dela, mas não era do seu feitio se aproximar tanto de alguém.
Entretanto, diferente do que ele pensava, o que ele sentia, mais do que carinho por ela, era medo. Sendo o único que sabia da morte dos pais de Rika, era pesado demais para ignorar.
Ele não sabia como olhar para ela de outra forma, então o único meio que encontrou — de forma inconsciente, talvez — foi cuidar dela como uma irmã mais nova, dando a atenção que merecia, mas que, muito provavelmente, não teria tão cedo.
Acho que isso vai doer mais em mim do que em você.
Era como se estivesse preparando-a para o momento em que seu chão desabaria por completo.
Até aquele dia, ele não foi capaz de contar para ela sobre a morte dos pais. Apenas pensar em como ela reagiria… era assustador. Uma aflição sobrenatural invadia seu peito ao imaginar esse cenário.
No dia seguinte, terça-feira, Mayck foi à escola, como sempre, mas percebeu algo estranho enquanto passava pelos corredores cheios de alunos.
Segundo o que os ouvia dizer, aparentemente um aluno havia sofrido um grave acidente na noite anterior e foi levado para um hospital às pressas.
“Algumas pessoas da outra turma disseram que foi um acidente de carro. Ele estava voltando de uma loja de conveniência, quando um motorista maluco cortou o semáforo”, disse Chika.
“Esse tipo de coisa acontece sempre, né?”, comentou Haruki.
Enquanto eles discutiam sobre isso, Mayck só conseguia lembrar de seu passado; um ‘acidente’ de carro que começou tudo. Se não fosse isso, que tipo de vida estaria tendo agora? A questão acabou invadindo sua mente, mas permaneceria sem resposta.
De qualquer forma, no dia seguinte, outro aluno foi dado como acidentado. Dessa vez, reagiu a um assalto e foi baleado, mas ainda estava vivo, embora suas condições não o permitissem sair do hospital por um bom tempo.
E então no dia seguinte, e no próximo.
Mais alunos foram deixando a escola por motivos críticos, o que intrigou toda a escola. Os incidentes eram tão estranhos e bizarros que a escola foi posta sob vigilância policial e investigada.
Isso tudo faltando apenas alguns dias até as provas.
Mayck também ficou curioso e foi tentado a investigar isso por conta própria, assim como seus amigos.
Em um único dia, eles já tinham pontos a apresentar.
“Foram cinco vítimas consecutivas, um dia atrás do outro. Isso definitivamente não é coincidência.”
“Seria assustador se fosse…” Haruki sentiu um arrepio na espinha.
“Eu vi os nomes dos alunos da Kuruhashi-sensei. Takamiya-san, Mahiru-san, Saito-san, Shimizu-san e Fujimoto-san.”
Mayck nomeou cada um deles.
“São todos do segundo ano…”
“Não só isso”, Akari observou. “Esses nomes não foram dos cinco primeiros nas últimas provas antes das férias de verão?”
“Você se lembra disso?”
“Um pouco…” ela sorriu levemente. “Eu me lembro de ter decorado todos os que estavam no topo das listas dos três anos, haha… Eu queria garantir que meu nome ficasse acima do deles na classificação geral.”
Haruki quis soltar uma piada do tipo “agora você consegue, já que eles não vão estar aqui” mas não era o momento para isso e ele certamente seria condenado por fazê-la.
“Mas que tipo de maldição faria esses cinco ficarem incapacitados logo agora? Eu não consigo pensar em nada…”
Haruki apertou os olhos, como se pensar numa resposta custasse muito.
Mas ele não era o único. Um silêncio pairou sobre eles, e ninguém tinha nada a dizer. Nem mesmo uma solução maravilhosa, que poderia tirá-los da enrascada.
“Coisa bizarra…”
****
Então eles finalizaram o dia sem uma conclusão. Mas durante o jantar, Mayck ficou absorto em pensamentos, o mistério martelando em sua mente.
Suzune ainda não havia chegado em casa, então ele se prontificou a preparar a refeição da noite.
“Ei, isso ainda vai demorar?”
Pela terceira vez, Haruna apareceu, carregando o gato em seu colo e perturbando a paz do garoto.
“Já tá quase pronto! Você perguntou isso não faz nem três minutos.”
“As atividades de hoje do clube foram muito intensas. Eu não tive tempo pra comprar nada. Vamos logo, se apresse com isso”, ela reclamou com certa birra. “Além do mais, Yoru-san também está com fome. Não é, Yoru-san?~”
Ela abraçou o gato, demonstrando todo o seu afeto pelo felino, que também parecia adorar isso.
No dia em que Mayck o trouxe para casa, Haruna quase teve um ataque, hipnotizada por tamanha fofura. Ela até monopolizou os cuidados ao animal, batizando-o de Yoru, devido aos pêlos escuros e olhos que lembravam um céu estrelado.
“Eu já fiz a tarefa de comprar a ração. O mínimo que você deveria fazer é dar pra ele”, respondeu.
“Eu já fiz isso.” A garota tinha um ar confiante, e ao mesmo tempo arrogante, como se dissesse que ele não precisava lembrá-la.
O gato miou, parecia estar lembrando do sabor da ração que recebeu mais cedo.
“De qualquer forma, se quiser jantar, devia pelo menos preparar a mesa. Suzune-san vai chegar logo. Você está pensando em deixar a tarefa pra ela?”
“Ouvir isso de você me irrita…” Apesar de bufar por conta disso, ela colou Yoru no chão e começou a organizar os pratos e talheres na mesa.
Yoru, por sua vez, caminhou até Mayck e escalou suas roupas como um habilidoso alpinista e se deitou em sua cabeça enquanto miava, esperando alguma coisa.
“Se cair pêlos na comida você vai dormir fora de casa”, avisou.
Mais tarde, quando a cidade já estava adormecendo, Mayck saiu outra vez. Porém, diferente de outras vezes, ele tinha um objetivo claro; algo que ficou em sua mente o dia inteiro.
O que ele tinha conversado com Haruki e os outros na escola se conectavam de certa forma e ele acabou fisgado por isso.
Os cinco melhores incapazes de ir para a escola na época de provas… um realizador de desejos…
E se alguém tivesse desejado tirar aquelas pessoas do caminho para que pudesse obter o primeiro lugar nas provas? Isso fazia sentido. Não podia-se subestimar o egoísmo existente dentro de cada um.
Além do mais, se esse portador começar a causar problemas maiores vai ser um saco… é melhor lidar com ele antes que as coisas piorem.
Se ele apenas deixasse rolar, as coisas caminhariam para um rumo bem diferente e realmente perigoso, não que alguém não fosse intervir, eventualmente. Mas não dava pra saber quanto tempo levaria. Até que isso acontecesse, era possível que o caos já tivesse chegado a um nível bem elevado.
Aliás, não tinha um Ninkai de classe pesadelo rodando por aqui? Se tiver azar, vai acabar me encontrando… Mas isso também depende da minha sorte de hoje.
No fundo de sua mente, ele só esperava não ter que lidar com mais problemas do que já tinha.
Após alguns minutos, ele chegou aos portões da escola. Diferente de quando chegava pela manhã, ela estava vazia, escura e um ar misterioso rodeava seus átrios.
“Ugh…!”
Era como estar diante do maior centro de lendas urbanas; se ele se concentrasse um pouco, poderia ver uma figura fantasmagórica acenando da janela do segundo andar.
De qualquer forma, não tinha ido até ali para ficar parado no frio, então habilmente pulou os portões e foi para o fundos, dando a volta no prédio principal. Ele sabia que em uma das janelas que dava para o corredor onde ficava o laboratório, a tranca estava quebrada; muitos alunos usavam ela para fugir da escola.
Assim que fez todo o ritual para entrar na parte interna, ele checou o corredor. Estava tão sombrio quanto o pátio externo, não dava para ouvir nada. O barulho de seus pés no chão correram livremente pela escola.
Eu nunca pensei sobre isso, mas… é bem empolgante.
Talvez as desventuras dele até aquele dia precisavam dessa pitada de terror psicológico onde ele não sabia o que viria a seguir. Um fantasma? Talvez um serial killer escondido ali?
No fim, era apenas uma fantasia idiota e ele sequer sabia porque estava imaginando isso.
“Certo”, ele disse enquanto se alongava. “Vamos encontrar esse realizador de desejos.”
Ele estava certo de que se tratava de um portador. O porquê de não ter dado as caras antes permanecia um mistério, mas o garoto iria garantir que não fosse mais naquela noite.
O silêncio perturbador pairando nos corredores e salas que ele era acostumado a ver sempre movimentados e barulhentos lhe causavam estranheza.
Parece que os boatos são reais…
Depois de algum tempo caminhando sem nenhum resultado, Mayck estava começando a se cansar.
Talvez ele só apareça para quem quer.
E infelizmente ele não era o sorteado.
Mas não era hora de desanimar. Ele ainda não havia checado nem cinquenta por cento da escola — ainda havia esperança.
Provavelmente, as duas figuras que também estavam ali pensavam a mesma coisa.
Assim que Mayck dobrou o corredor, deu de cara com Haruna e Rika. As duas garotas não o reconheceram imediatamente e foi tão repentino que elas gritaram com toda a alma.
“Duas alunas exemplares invadindo a escola durante a noite… Isso seria uma grande notícia para o conselho estudantil”, disse Mayck, depois que os ânimos foram acalmados.
Rika e Haruna respiravam lentamente agora. Elas ainda não tinham se recuperado totalmente do choque.
“E o que você tá fazendo aqui, afinal?! Não me parece muito certo falar isso da gente”, Haruna afirmou com um tom severo.
“Err… não brigue com ela, Mayck-kun. Foi ideia minha.”
“Rika!”
Ela já parecia ter desistido de ir contra.
“Runa-chan, nós já estamos aqui a mais de uma hora e nada de encontrarmos… Deve ser só um boato mesmo.”
“Os rumores também dizem que ele só aparece pra quem quer. A gente ainda tem chance. Se anima, vai.”
“Então vocês vieram pelo realizador de desejos?”
“Não é óbvio? E você estar aqui deve significar a mesma coisa, não? Está tão desesperado assim para realizar algo?”
Amarga como sempre. Mayck nunca conseguia dizer qual Haruna ela se tornaria de uma hora para outra.
“Na verdade, não. Só tô um pouco curioso.”
“Hm… Sei. Nesse caso, nos ajude a procurar ele. Você não tem mais nada pra fazer além disso, certo?”
A acidez de sua irmã mais nova era corrosiva em seus ouvidos, mas ele escolheu não lutar.
“E-eu também ficaria mais segura se você estivesse com a gente”, disse Rika, um tanto quanto envergonhada.
Diante disso, Mayck não pôde recuar. Ele topou ir com elas, até porque seria bem conveniente ter Rika por perto.
Então os três seguiram com a busca. Passaram por salas de aulas, salas de clube e até mesmo verificaram o pátio, mas não encontraram nada. Apesar disso, Rika aproveitou a oportunidade para ficar mais próxima de Mayck, e embora Haruna ficasse relutante quanto a isso, ela fez o possível para dar espaço a eles.
“É… Parece que não vamos encontrá-lo”, concluiu Mayck depois de um tempo.
“É uma pena, mas não tem o que fazer. Vamos embora? Já está muito tarde…”
Haruna verificou o celular. Já eram quase duas horas da manhã. Mesmo que não fossem ter aulas por ser sábado, não seria bom dormir muito mais tarde. Eles concordaram em sair, mas algo os fez mudar de ideia, ou melhor, alguém.
A figura os esperou pacientemente no final do corredor.
“Quem é aquela pessoa?” Rika piscou, confusa. Por outro lado, Mayck levantou sua guarda e Haruna sentiu algo estranho.
Afinal, eles tinham acabado de encontrar o alvo.
“Você é o tal realizador de desejos?” Ele tomou a frente das garotas.
Que estranho…
“Talvez eu seja, sim. Estão aqui para me pedir algo, suponho? Se sim, então devem ficar cientes que não são os únicos. Eu só posso realizar um desejo, então vão ter que disputar quem fica com o ele.”
Então havia outros ali? Mas, mais importante, Mayck não conseguiu evitar de se irritar com a forma que aquela pessoa falava. Parecia forçado demais.
Eu não sinto nenhuma energia dele.
Antes que ele pudesse dizer alguma coisa, o realizador de desejos desapareceu como um fantasma depois de entrar em uma sala aleatória. E logo após isso, um trio se aproximou, ofegante.
“?!”
“O que vocês tão fazendo aqui?!”
Já não bastava Rika e Haruna. Agora, Chika, Akari e Haruki estavam presentes.
“Eu que deveria perguntar isso!”, respondeu Chika. “Mas agora não é importante. Atrás dele.”
Não precisou muito para perceber que eles estavam perseguindo o realizador de desejos.
Mas quando Mayck ia se perguntar para onde ele tinha ido, um estrondo veio de uma sala próxima. Aparentemente, na tentativa de fugir, ele acabou caindo e empurrando as carteiras.
Assim iniciou-se uma perseguição frenética por toda a escola. O realizador de desejos não queria ser pego de forma alguma, o que até deixava dúvidas se ele era a pessoa certa.
Então, depois de rodarem a escola três vezes, eles pararam na sala de artes, encurralando o alvo.
“Já chega de fugir…, seu idiota.” Akari estava ofegante, assim como os outros.
“Meus parabéns… Conseguiram me alcançar. Mas eu realizarei apenas um desejo. Vocês terão que lutar por ele.”
“Isso lá foi uma disputa?! Você apenas saiu correndo feito um animal!”
“Se não conhece a natureza de uma provação, fique em silêncio, seu tolo!”
Haruki estava com os nervos à flor da pele. Se deixasse mais um pouco, ele iria atacar o realizador de desejos sem hesitar. Mas Chika interviu.
“Tá, tá. Que seja. Você é mesmo alguém que concede desejos? Eu estava esperando algo mais místico…”
A confusão da garota era justificável. Quem imaginaria que um rumor seria algo criado a partir de um estudante comum? Isso mesmo, ele era apenas um estudante comum. Seus traços faciais não tinham nada de incomum, assim como não dava para sentir nada anormal vindo dele.
Além do mais…
“Kanzaki-kun?”
“Por que você tá aqui?”
Depois que olharam mais atentamente, Rika e Haruna reconheceram o garoto. Era alguém da mesma classe.
“Tsk. Como conseguiram ver através de minha magnificência?”
“Magnificência… Eu posso bater nesse cara?”
“Aguenta um pouco.”
Enfim, não importava como olhassem, não havia chance de Kanzaki ser o tal realizador de desejos. Ele estava mais para um fã maluco que queria ser igual ao seu ídolo.
“Ah… Que merda…” Mayck suspirou de repente. “Parece que viemos à toa mesmo. Que maneira de perder a noite.”
“Ei, ei. Se anima. Pelo menos descobrimos que não passa de um rumor idiota e que é apenas um engraçadinho se passando por paranormal.”
“Talvez…”
A decepção estava estampada no rosto de todos. E eles deram as costas para sair. Entretanto, Kanzaki levantou a voz.
“Bando de tolos insignificantes. Seus olhos estão escamados para não conseguirem enxergar o que está além de suas mãos.”
Eles tentaram ignorar.
“Vocês devem acreditar se querem ter seus sonhos ao seu alcance!”
“Não volte, Haruki.”
Mayck segurou seu amigo, que estava prestes a ir até Kanzaki e lhe desferir um único soco.
Mas quando estavam a alguns metros do garoto, que continuava com suas palavras de sabedoria, uma outra voz se juntou a ele, fazendo todos cessarem os passos.
“Não confiam no meu seguidor? E ainda querem ter seus desejos concedidos?”
“Shun-sama!”
Diferente de Kanzaki, a voz dessa nova pessoa soava mais imponente, mais confiante. A aura era totalmente diferente. Eles finalmente encontraram o verdadeiro em pessoa.
“Então é você…”
“Vamos. Aproximem-se. Vou ouvir o que vocês têm a dizer”, aconselhou.
Embora um pouco receoso, o grupo refez os passos e se aproximaram um pouco mais.
O verdadeiro realizador de desejos, chamado de Shun, os encarou e sorriu maliciosamente, como se tivesse dado uma espiada no que se passava na mente de cada um deles.
“Eu não deveria ter vindo aqui hoje, muito menos abrir uma exceção a vocês. Amor, respostas, receios… Tem tudo isso e mais um pouco apertando o coração de cada um de vocês.”
“Eh… Você consegue dizer tudo isso?”
“É claro que sim. Inclusive, sei exatamente o que vocês vieram buscar. Cinco alunos incapazes de vir à escola numa época de provas… Estranho, não é?”
“Fala de uma vez”, disse Chika, mostrando certa impaciência. “Você tem algo a ver com isso, não tem?”
Haviam dúvidas anteriormente, mas eles podiam ver claramente a energia emanando do corpo daquela pessoa. Se ele se dizia capaz de realizar desejos, então certamente era verdade.
“Alguém foi até você e pediu para eliminar os cinco primeiros alunos?”
“Uhh… Quase lá…! Na verdade, é justamente por isso que eu estou aqui hoje. Para dar o próximo passo rumo a realização do desejo de alguém. Mas e se eu te dissesse que o desejo foi mais simples que isso?”
“O que isso quer dizer?”
O sorriso não saia do rosto de Shun. Ele soltou uma risadinha irritante, enquanto preparava o suspense.
“O pedido foi: Me deixe ficar em primeiro lugar nas provas. Um pedido incrivelmente simples, não acham? Ah, sim, eu sei o que vocês estão pensando. Por que eliminar cinco alunos ao invés de ajudar ele a estudar ou então deixá-lo inteligente num passe de mágica”, explicou, enquanto fazia uma pose arrogante.
O grupo de Mayck escutava atentamente, eles já sabiam onde isso ia dar.
“Eu lamento informar que as coisas não são tão simples assim. Além do mais, os pedidos são realizados de forma literal.”
O que ele queria dizer era basicamente que não dava para deixar uma pessoa mais inteligente do nada, então no caso, a forma mais fácil de fazer alguém ficar em primeiro nas provas, era eliminando a concorrência.
O poder do realizador de desejos funcionava dessa forma. Ele ouvia o desejo e buscava a forma mais fácil de chegar até aquilo, então manipulava os eventos para que isso acontecesse.
“Entendi. Então você usa suas habilidades pra esse tipo de coisa… Entendo, entendo. Não existe uma fórmula milagrosa para algo acontecer, mas algo realista. Ou seja, o que você pedir pode até ser realizado, desde que seja o caminho mais fácil.”
“Exatamente. Como esperado de você, Mayck Mizuki. Eu não queria perder tempo ensinando ele ou coisas do tipo. Por isso, tirar os alunos do topo era bem mais fácil. As provas serão na semana que vem, então essa noite o desejo do garoto será entregue em suas mãos.”
Ele revelou quem tinha feito o pedido. Nesse momento, a mente de Akari se iluminou.
“Espera! Se não me engano, Kanzaki ficou em sétimo lugar na classificação das provas de verão.”
“Parando pra lembrar, foi isso mesmo”, concordou Haruna, após procurar em sua mente.
Rika também assentiu, embora estivesse perplexa com toda a situação. Habilidades? Do que eles estavam falando?
“Já foram cinco. Se seguir nessa linha, então o próximo alvo é a pessoa que ficou em sexto lugar…”
Akari sentiu seus batimentos acelerarem. Haruna também entendeu isso, sendo assombrada pela verdade que estava pairando sobre eles.
“Ei… O que aconteceu com vocês duas?”
“Quem ficou em sexto lugar?”
Ambas estavam genuinamente assustadas. Seus olhos se voltaram para tal pessoa. E todos perceberam imediatamente.
Rika era essa pessoa.
Como se fosse tudo calculado, sombras pulsantes destruíram as janelas ao lado deles, atirando estilhaços para todos os lados.
Mayck reagiu rapidamente e tirou Rika de lá, enquanto Chika cuidava de Haruna. Eles tomaram distância daquela coisa grotesca que entrou pela janela fazendo o maior estrago que podia.
“Ah! Agora eu entendi. Então o poder dele pode, de certa forma, prever eventos e levar para um caminho definitivo, onde os tais desejos se cumprem”, analisou Haruki, enquanto olhava o Ninkai se posicionando no corredor e revelando uma forma quadrúpede de mais de dois metros de largura.
Ele tinha um formato robusto, como se estivesse equipado com uma jaqueta grossa. No fim de suas mãos, garras brilhantes como metal e sua boca em formato de círculo estava recheada de dentes afiados.
“Então não tem nada a ver com realizar desejos”, afirmou Chika. “Ele só encaminha os eventos até o objetivo. Que habilidade mais irritante.”
De acordo com a forma que tudo correu até ali e o fato de que Rika era um alvo, não era difícil chegar a essa conclusão. Além do mais, não parecia que o realizador tinha atraído o Ninkai até ali, afinal de contas, ele fugiu imediatamente ao ver o monstro chegar.
Talvez Kanzaki tivesse sido orientado a correr até ali, onde o Ninkais apareceria em tal momento.
“Bom, ele já machucou cinco pessoas, até onde a gente sabe. É melhor parar ele agora. Chika, por favor.”
Mayck olhou para a garota que imediatamente entendeu o recado.
Rika e Haruna estavam em choque. Haruna nem tanto. Mas sendo apenas uma pessoa normal, Rika podia sentir os efeitos da presença de um Ninkai classe pesadelo em sua forma mais pura. O terror estava estampado em seu rosto.
“O-o que é isso…?!”
Essa era a reação que todos tiveram desde que se envolveram naquele mundo, então era completamente normal.
“Não se preocupe, Rika-chan. Isso vai acabar quando você menos esperar”, disse Chika.
Ela colocou as mãos na frente do rosto da garota e soprou uma espécie de pó brilhante. Rika imediatamente desligou com aquela espécie de pó sonífero.
Ela ia fazer o mesmo com Haruna, mas Mayck interviu.
“Ah, não precisa. Haruna já presenciou isso antes.”
E da outra vez era um monstro bem pior. Isso explicava o porquê de ela não estar tão atordoada.
“Okay.” Assentiu a garota. “Nós vamos cuidar de tudo por aqui, então, por favor, Mayck-kun. Dê um jeito naquele idiota”, Akari se pronunciou.
“Pode deixar”, respondeu e colocou Rika aos cuidados de Haruna, deixando um último recado para sua irmã. “Ah, se você conseguir, que tal dar uma mão pra eles? Dá pra evitar muita coisa ruim.”
“A-ah, claro…”
“Eu vou indo, então. Só não morram.”
Depois do consentimento de todos, Mayck saiu lentamente, sem se preocupar com nada. Afinal de contas, ele estava deixando para trás um dos melhores grupos de Tóquio. Ele sabia que seus amigos dariam conta de um monstro daquele nível.
Embora a parte de não morrer tenha sido dita com bastante sinceridade.
****
Então Mayck saiu em busca do realizador de desejos. Poderia ter levado Rika junto para garantir sua segurança, mas o que ele faria seria tão rápido que ele nem precisava se preocupar.
Depois de passar pelo refeitório e pelos corredores principais, ele seguiu pelas escadas para o telhado da escola. Assim que abriu a porta, foi recebido por uma pequena ventania, que cortava seu rosto saudosamente, balançando gentilmente seus cabelos e espalhando os fios.
Ele caminhou para fora da cobertura.
Aquele lugar lhe trazia várias memórias diferentes. Foi ali que ele usou seus poderes como antes pela primeira vez desde que voltou a ser quem era de verdade.
Mas a nostalgia teria de ser deixada para outra hora.
“Você tem algo que quer tanto assim? Abandonou seus amigos com aquele monstro terrível só para realizar um desejo?”
A figura estava sentada em cima da cobertura que dava acesso às escadas e se revelou de forma dramática, mas Mayck já tinha sentido sua presença antes mesmo de passar pelas portas metálicas.
“Você ficou mais alto. Eu ainda me lembro de você. Shun, não é? Foi você quem me abandonou com uns delinquentes no começo da webnovel.”
“Hahaha! Isso me lisonjeia.” Ele riu nervosamente. “Eu realmente sou alguém que pode decidir a sua vida. Você não tem medo dos meus poderes?”
“Deveria?”
Foi nesse momento que Mayck o desconcertou. Ele definitivamente não estava esperando uma resposta daquelas. Até aquele dia, todos que fizeram contato com ele tremiam diante dele e temiam seus poderes.
Então porquê ele está tão calmo?!
Seu coração estava tão acelerado que ele estava prestes a perder a compostura.
“Você parece não ter entendido ainda, então deixa eu te contar um segredinho”, alegou, Mayck, em uma pose relaxada.
Ele encarou com um olhar indiferente, fazendo um arrepio correr pelo corpo de Shun.
“Olha, você até tem um poder interessante. Prever um evento que pode acontecer em breve é realmente incrível. Porém… Você cometeu o mesmo erro de todos os novatos: deixou o poder subir à cabeça.”
“Do-do que diabos você tá falando?!”
“Não é óbvio? Ou você pensou que só você tinha poderes? Bom, você deve ter despertado recentemente, então eu vou perdoar essa ignorância aí.”
“Você perdeu a noção?! Viu o que eu posso fazer, não viu? Que audácia é essa?! Se eu quiser, posso te esfarelar completamente…”
“Você machucou cinco alunos por um motivo ridículo, acha que está certo?”
“O que isso tem a ver?! Eu posso conceder o que as pessoas querem. Mesmo que tenha que tirar algo do caminho. São sacrifícios necessários—”
“Cala a boca, vai. Você não sabe nada sobre sacrifícios. Não passa de um portador novato achando que está com todo o poder do mundo. E isso só é ridículo!”
Mayck sabia como era aquela sensação. Afinal de contas, também já foi como ele. Quando despertou, pensou que estava com tudo e usou os poderes da forma que lhe parecia bem…
… Mas descobrir a verdade lhe custou caro.
É melhor acordar esse imbecil antes que seja tarde.
Nesse momento, o sangue de Shun já estava fervendo. Ele se levantou raivosamente e bateu o pé no chão.
“Vai se fuder! Eu vou usar os meus poderes do jeito que eu quiser e ninguém vai conseguir me parar. Eu vou começar acabando com você, então trema de medo, seu lixo—!”
Enquanto falava, Mayck simplesmente desapareceu do seu campo de visão.
“Olha, eu não me orgulho disso, mas eu já matei centenas de portadores muito fortes e tão arrogantes quanto você.”
Shun se virou rapidamente, se perguntando como Mayck fez aquilo. No entanto, sua visão se escureceu e ele se viu caindo de cima da cobertura, ou melhor, sendo arremessado dela por um soco de Mayck que atingiu seu rosto em cheio.
Ele bateu nas grades de proteção. Seus sentidos falharam, ele ficou atordoado. Um sentimento de impotência pairou sobre ele.
A realidade bateu forte. Então essa era a verdade sobre o mundo que ele se envolveu?
Droga …
“Não se preocupe. Sendo um portador, isso não é o suficiente pra te matar. Mas vai ficar um aviso: Se voltar a fazer o que você fez de novo, eu garanto que você vai se arrepender de não ter parado hoje.”
Os olhos luminescentes de Mayck foram a única coisa que Shun viu antes de perder a consciência completamente.
<—Da·Si—>
Então, como as coisas terminaram?
Do lado de Chika e os outros, eles enfrentaram o Ninkai até que de forma fácil. Ele não era lá tão poderoso sozinho contra eles quatro.
Exatamente. Haruna também lutou.
Haruki e Akari se concentraram e ter a atenção do monstro, que usava as sombras para aumentar o alcance de seus ataques fantasmagóricos, ou seja, se as sombras os tocassem seriam afetados por danos físicos em todas as escalas.
Por si só, isso não seria um problema, mas a escuridão mandava as sombras por todos os lados, o que tornava os ataques imprevisíveis.
Chika estava focada na contenção, criando brechas para Akari e Haruki. Só que tinha mais um probleminha, a pele daquele Ninkai era tão espessa que um corte simples e congelante não causava danos severos — eles teriam que recorrer à habilidades de escalas maiores.
Mas não queriam destruir mais do que já tinham feito. Atrair a atenção de outros portadores e de alguma organização seria incômodo.
Foi aí que Haruna viu que era sua hora de ser útil, já que não podia lutar como os outros.
Secretamente, ela havia estudado um pouco sua habilidade, embora não tivesse se envolvido em perigo real. Ele entendeu que a forma mais simples para ativar seu poder, era visualizando uma forma de vencer e quais condições necessárias para obter um resultado satisfatório.
Ela contou a Chika, a qual ficou surpresa, mas não hesitou em tentar a ideia da garota.
Então, depois de se concentrar, ela foi envolvida por uma aura azulada que brilhou intensamente e se espalhou pelos arredores. Num piscar de olhos, eles se viram em um campo aberto, sob a luz de um sol que não existia, em um mundo totalmente diferente em suas percepções.
Todos se surpreenderam e ficaram maravilhados, mas agora era a chance de derrotar o monstro sem hesitar.
Chika fez erguer enormes vinhas espinhosas com atributos paralisantes e prendeu o monstro. Haruki projetou um enorme sincelo e Akari um cristal vermelho. Ambos dispararam em sintonia e os objetos rasgaram o ar até o Ninkai, perfurando-o facilmente.
O Ninkai rugiu, a dor o corroendo sem piedade e seu sangue arroxeado jorrando para o alto. Segundos depois já não havia mais vida nele, o mundo, então, se desfez como uma vela que acabara de ser soprada, levando-os de volta para o silencioso corredor da escola.
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