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    Herman caminhava solitário pela floresta, e a sensação inquietante de estar sendo observado continuava. A trilha de folhas secas se estendia como um belo tapete, a brisa suave balançava as folhas e os galhos. 

    — Muito bem — gritou ao olhar para trás e procurar quem o seguia na folhagem das árvores. — Isso já está ficando chato…

    Nada aconteceu, ninguém se pronunciou. Apenas o habitual som pacífico da floresta.

    “Eles têm que ser ótimos para ocultar sua presença da minha sensibilidade psíquica.”

    Ele assobiou para Mávros, e a águia desceu do ar e pousou em seu braço.

    — Já achou eles?

    — Nas árvores, fica difícil achar… — murmurou Mávros, os olhos afiados também em busca dos inimigos.

    — São heróis? Goblins? — Herman sentia os prováveis inimigos se aproximarem, ainda ocultos nas copas das árvores.

    — Selvagens — afirmou a águia.

    — Selvagens? — Ele deslizou a mão até o coldre e sacou o revólver, movendo-se para uma posição defensiva. Sua voz permanecia calma, mas a tensão em seu corpo denunciava o estado de alerta. — E por que diabos eles estão nos seguindo?

    — Pergunta pra eles.

    Um par de olhos amarelos brilhou entre os arbustos. Herman girou na mesma hora, apontando sua arma para o alvo.

    — Quem é você? — indagou, o dedo firme no gatilho, pronto para reagir.

    A figura emergiu das sombras, revelando sua forma imponente. Era um híbrido entre felino e humano, com pelo prateado cobrindo seu corpo musculoso. Tinha pelo menos dois metros de altura e segurava um machado pesado com ambas as mãos.

    — Presas de Prata — respondeu o guerreiro, sua voz grave e carregada de desprezo. — E você? Um servo de Erobern tão longe de casa…

    — Não tenho hostilidade contra você ou seu povo. Faça como quiser — afirmou Herman, sem abaixar a arma.

    Presas de Prata soltou um riso seco.

    — Curioso, vindo de um membro do Exército de Libertação. Primeiro, você conversa com um herói… e depois simplesmente vai embora, como se nada tivesse acontecido. — Ele avançou um passo, encurtando a distância.

    Herman endureceu a expressão, sabia que estava diante de um inimigo poderoso, e abaixar a guarda significava se expor ao inimigo.

    — Mais um passo, e eu atiro.

    Mávros, bateu as asas e pousou em um galho próximo. Seus anos de experiência já conheciam quando uma luta era iminente.

    O felino não recuou, mesmo sob a ameaça.

    — Meu povo foi caçado por humanos. Mortos até a beira da extinção. Mesmo no Continente Leste, onde as raças mágicas deveriam coexistir em harmonia, encontramos apenas mais ódio e morte. Os elfos nos tratam como párias, os orcs nos escravizam, e os goblins… — Ele cuspiu no chão, com desdém. — Os goblins são patéticos demais para vivermos entre eles. Mas pelo menos têm sua utilidade.

    Herman inclinou a cabeça, visivelmente impaciente.

    — Não perguntei nada disso. Onde quer chegar?

    A raiva faiscou nos olhos do guerreiro.

    — Onde estava Erobern? Diga-me! — sua voz saiu num rosnado feroz. — Vocês se dizem superiores aos deuses deste mundo, prometem uma paz eterna… mas quando tomaram o poder, também massacraram nossos povos sem hesitação. Dois anos. Dois malditos anos do seu suposto império eterno, e tudo o que trouxeram foi sangue e desespero.

    Herman suspirou, abaixando levemente o revólver.

    — Já disse… não tenho hostilidade contra você ou seu povo.

    Ele virou-se de costas e começou a caminhar.

    — Essa conversa não vai levar a lugar nenhum.

    — Eu exijo vingança pelos caídos!

    Presas de Prata avançou num salto, o machado cortou o ar em um belo arco brutal.

    O golpe era impetuoso, carregado de raiva, e totalmente descontrolado. No instante em que a lâmina descia, Herman desapareceu, e fundiu-se à sombra projetada por uma árvore próxima. O machado atingiu a árvore, e a despedaçou ao meio com tamanha força.

    Presas de Prata arregalou os olhos, não esperava aquele movimento ou poder de Herman.

    Um instante depois, Herman emergiu silenciosamente de outra sombra logo atrás do inimigo.

    — Não estou aqui para lutar — disse ele, com desinteresse. — Volte para casa e poupe-me do seu desejo de vingança.

    — Sabia que não seria tão fácil!

    Ignorando as palavras adversárias, Presas de Prata girou o corpo e atacou novamente. Desta vez, foi mais rápido, rápido o suficiente para que um oponente comum não tivesse chance de reagir.

    Herman não era um oponente comum.

    No momento em que a lâmina do machado duplo deveria encontrá-lo, ele mais uma vez se desfez em sombras, tornando-se intangível. O golpe encontrou outra árvore, e a derrubou no chão como a anterior.

    Presas de Prata rugiu de frustração.

    — Enfrente-me, seu covarde!

    — Poupe-me disso — replicou Herman, ao reaparecer a alguns metros de distância, encostado casualmente no tronco de uma árvore. — Tenho prioridades, não vou desperdiçar meu tempo na futilidade da sua vingança.

    Os olhos dourados do felino o fitaram com cautela.

    — Quem é você? Qual a sua patente?

    Herman apenas sorriu de canto, sem pressa para responder.

    Kingslayer, ou regicida, como preferir me chamar… — disse, e o oponente sentiu sua espinha gelar. — Talvez você conheça esse título que carrego…

    — Talvez você conheça esse título.

    — Um slayer, minha vingança seria ainda melhor! — esbravejou, numa tentativa de exalar confiança e afastar os pensamentos de medo.

    — Nossa reputação nos precede… — Herman ergueu o revólver, mirando-o sem pressa. — Quer vingança? Prove-se digno do meu tempo. Caso contrário, é apenas um desperdício.

    — Eu não preciso me provar para ninguém!

    O rugido de Presas de Prata ecoou pela floresta, fazendo as folhas estremecerem nos galhos.

    Herman permaneceu imóvel. Seus olhos, frios e calculistas, jamais desviaram.

    — Você conhece meu grupo, os Slayers, correto? — perguntou, ignorando por completo o ódio que emanava do oponente. — Somos nove… esperando apenas pelo nosso décimo integrante. Especialistas em eliminar alvos específicos, eu sou aquele que mata os reis e tiranos, você não faz o meu tipo de alvo. Então gostaria de fazer-lhe uma pergunta…

    Ele fez uma breve pausa, deixando as palavras pairarem no ar.

    — Mas diga-me… já ouviu falar de um Slayer especializado em matar selvagens?

    O felino não respondeu, apenas manteve sua postura tensa.

    — Não, porque sua raça nunca foi nossa inimiga. O Império não tem interesse em vocês. Eu não tenho motivos para lutar contra você. Se deseja vingança, vá atrás da civilização humana.

    — Sem interesse em nós? Então somos irrelevantes para vocês? Ainda ousa nos diminuir? — Sua voz transbordava fúria contida. — Provarei o valor do meu povo! Somos piores que os heróis… e chegará o dia em que nossa raça governará toda Testfeld, e não vocês!

    Herman deixou escapar um sorriso enviesado. Ele apreciava aquele tipo de inimigo: orgulhoso, impetuoso, intoxicado pela própria confiança. Sabia reconhecer um guerreiro que não conhecia o próprio limite, e adorava ver o momento exato em que a arrogância deles se transformava em medo.

    Ele nunca esquecia do olhar daqueles que, nos instantes finais, percebiam a inevitabilidade da morte. Reis, nobres, generais, todos iguais no fim.

    — Então vamos tornar isso interessante — disse, erguendo o revólver com calma meticulosa. — Vou lhe propor um desafio. Se vencer, lutarei com você.

    O felino levantou seu machado, e preparou-se para a luta. 

    — Mas se perder… — suspirou. – Ele fez uma breve pausa, e deixou a expectativa pairar no ar. — Bem… estará morto de qualquer jeito.

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