Oito anos haviam se passado desde aquele fatídico dia em que Haldan me salvou em uma caverna distante da capital do reino de Barton. Agora, com 18 anos, sentia que finalmente estava pronto para seguir em frente. Enquanto organizava minhas coisas, vesti meu manto verde escuro e as luvas pretas. O sol despontava no horizonte, anunciando o amanhecer. O ar estava frio e úmido, e Haldan permanecia ao meu lado, segurando um copo de chá quente entre as mãos. 

    — Você realmente gostou do seu cabelo assim, comprido até os ombros, já que não o cortou mais — comentou Haldan, aproximando-se de mim com um sorriso no rosto. 

    — Na verdade, eu me acostumei com ele assim. 

    — Não sei como aguentou ficar comigo por todo esse tempo. 

    — Você sabe que isso foi necessário. Eu precisava esperar meu corpo crescer pra ajustar as próteses ao tamanho certo. Além disso, se não fosse por você, eu não estaria mais vivo. 

    — Não precisa me agradecer. Eu faria tudo de novo pra te salvar. 

    Haldan caminhou até a entrada da caverna enquanto eu ajustava a mochila nas costas, preparando-me para a partida. 

    — Não se culpe, mestre. — Coloquei a mão em seu ombro para tranquilizá-lo. — Haldan, eu aprendi muito com você nesses anos. Agradeço por tudo o que fez por mim. 

    — Finalmente vai partir deste reino? 

    — Antes de partir, preciso ir a um lugar. 

    — Vai ver aquela garota? Parece que voltaram pra aquela casa. Você poderia ter pelo menos enviado uma carta dizendo que tava vivo. Todos devem ter ficado muito preocupados, especialmente seu pai. 

    Ao ouvir sobre meu pai, desviei o olhar para o chão, sentindo uma onda de emoções conflitantes. 

     — Eu queria evitar qualquer atenção; aquelas pessoas poderiam acabar nos encontrando. Foi melhor assim. 

    — Eu sei que você não gosta dele, mas se lembre ele é seu pai. Mesmo depois de tudo o que me contou sobre ele, acredito que ele te ama. Afinal, ele tá te procurando. 

    — Mestre, o que pretende fazer? 

    — Vou fazer o que sempre fiz de melhor: me esconder. HAHAHA. 

    — Entendo… Espero que possamos nos encontrar novamente no futuro. Adeus! — Apertamos as mãos com firmeza, como se selássemos um pacto silencioso. 

    Após isso, ergui o capuz sobre minha cabeça e iniciei minha caminhada rumo à Valoria, determinado a começar uma nova etapa da minha jornada. 

    Após horas de caminhada, alcancei minha casa. A fachada, marcada pelo tempo, estava coberta de folhas e sinais de abandono. Ao abrir a porta, uma enxurrada de memórias me envolveu, trazendo à tona lembranças de dias distantes. O interior estava completamente desolado, um reflexo das ausências que marcaram aqueles anos. Subi as escadas lentamente, cada passo ecoando no silêncio, até alcançar meu quarto. 

    Ao entrar, fui direto ao local onde costumava guardar meu dinheiro, uma pequena caixa cuidadosamente escondida atrás de alguns livros. Para minha frustração, ela estava vazia. Alguém, em algum momento, havia invadido e levado tudo. Soltei um suspiro pesado, ciente de que aquele dinheiro teria sido bastante útil. 

    Com o olhar atento, vasculhei o ambiente, pois não estava ali apenas pelo dinheiro. Depois de algum tempo de busca, meus olhos finalmente encontraram o que procurava: As Viagens de Sylvain. Quem diria, o que antes parecia apenas uma simples história inventada revelou-se totalmente real. Guardei o livro com cuidado na minha mochila, certo de que ele desempenharia um papel crucial no futuro. 

    Após isso, deixei minha casa e comecei meu caminho em direção à capital. Contudo, antes de partir, havia mais um lugar onde precisava ir. Assim, segui até a casa de Nissa e, ao chegar, bati suavemente na porta. 

    Toc, toc! 

    Nissa abriu a porta, seu olhar revelando uma mistura de surpresa e cautela. 

    — Quem é você? 

    Ela parecia um pouco assustada, mas, ao tirar o capuz, sua expressão rapidamente se transformou em um misto de choque e alívio. 

    — Sou eu, Saito. 

    — Saito, é realmente você? Você tá vivo! Seu pai tá te procurando por todo canto. 

    — Yuri ainda tá aqui? 

    — Sim, entre. Ela tá no quintal. 

    Agradeci a Nissa antes de entrar na casa, dirigindo-me diretamente ao quintal. Lá, encontrei Yuri sentada de costas para mim em um banco simples, cercada por uma profusão de flores que pareciam realçar sua presença serena. 

    — Posso falar com ela? 

    — Não precisa nem perguntar, vá. — Antes que eu pudesse ir em direção a ela, Nissa colocou a mão no meu ombro. — Espere um pouco. Preciso te dizer uma coisa antes. 

    — O que aconteceu? 

    Nissa respirou fundo antes de continuar. 

    — Após aquele incidente, a ferida nas costas de Yuri cicatrizou bem… Mas, a pancada nas costas foi muito forte. Por causa disso, ela perdeu quase toda a mobilidade nas pernas. 

    Lembrei do momento em que Yuri compartilhou comigo seu maior sonho: viajar pelo mundo para conhecer todas as flores. Seus olhos brilhavam com uma empolgação contagiante, e um sorriso determinado iluminava seu rosto, como se nenhuma barreira fosse capaz de impedi-la de alcançar esse desejo. Agora, porém, tudo parece tão distante, tão diferente, como se aquele sonho tivesse ficado preso em um passado inalcançável. 

    Aproximei-me de Yuri, notando, um pouco à frente, uma cadeira de rodas. Ela usava um delicado vestido amarelo adornado com detalhes brancos e segurava uma flor azul entre os dedos. Apesar de sua aparência frágil e vulnerável, havia nela uma força inegável, moldada por tudo o que enfrentou. Yuri havia amadurecido muito, e sua beleza era ainda mais realçada pelos longos cabelos brancos que caíam sobre seus ombros. 

    Yuri virou a cabeça, observando-me por alguns instantes, como se tentasse desvendar minha identidade. Seus olhos expressaram uma mistura de curiosidade e dúvida, até que, por fim, se arregalaram de surpresa ao me reconhecer. 

    — Saito, é você!? 

    — Sim, vejo que ainda ama as flores. 

    — Eu nunca vou abandonar elas. —  Ela deu um leve sorriso enquanto cheira a flor azul em suas mãos. — Você cresceu tanto, e ainda bem que tá vivo! Onde você tava esse tempo todo? 

    — Tava resolvendo algumas coisas fora da capital, e por isso não consegui vir. 

    — Podia pelo menos ter mandado uma carta pra dizer que tava bem! 

    — Desculpa… 

    — Venha, senta aqui. — Ela bateu suavemente no banco ao seu lado, convidando-me com um gesto acolhedor a me juntar a ela. 

    Dei um passo à frente e sentei-me ao lado esquerdo dela. 

    — Depois daquele dia, fiquei com muito medo de nunca mais te ver. 

    Ao ouvir isso, senti um aperto no peito. Nunca quis preocupá-la, mas não tive outra escolha. 

    — Como você já deve ter percebido, desde aquele dia, só consigo me mover usando essa cadeira de rodas. — Yuri abaixou a cabeça enquanto segurava a cadeira a sua frente com uma das mãos, os olhos marejados de lágrimas. 

    — Sinto muito por não ter conseguido te proteger naquele dia. 

    — Você não tem culpa, não tinha como enfrentar aqueles bandidos sozinho. 

    — Eu vou fazer eles pagarem por tudo o que fizeram com você! 

    Ao ouvir minhas palavras, Yuri soltou um suspiro profundo e me observou em silêncio por alguns instantes. 

    — Sabe, você mudou bastante nesses anos. 

    — Acho que isso é normal, afinal eu era apenas uma criança antes. 

    — Não é isso. Seus olhos… tão diferentes. Eles perderam o brilho de quando nos conhecemos. Parece que a felicidade não tá mais aí. — Yuri abaixou a cabeça e cerrou os dois punhos sobre suas pernas — Você vai atrás dos bandidos? Mesmo sabendo que a vingança só atrai mais dor e sofrimento! 

    Ao ouvir isso, um turbilhão de emoções tomou conta de mim. Parte de mim reconhecia que ela tinha razão, mas outra parte, mais intensa e irredutível, se recusava a deixar os responsáveis impunes. Além disso, havia algo maior em jogo, algo que eu não podia mais ignorar. Esforcei-me para manter uma expressão neutra, mas o conflito interno era impossível de disfarçar. 

    Ela me encarou por um momento, seu olhar suplicante buscando desesperadamente alguma esperança nos meus olhos. 

    — Posso te fazer uma pergunta? 

    — Sim. 

    Yuri abaixou a cabeça mais uma vez, unindo as mãos enquanto respirava fundo, como se buscasse coragem para continuar. 

    — Se eu pedisse pra você ficar, você ficaria? 

    Permaneci em silêncio por alguns instantes, tentando encontrar as palavras certas para responder. 

    — Não posso fazer isso. Ainda tenho coisas importantes pra resolver. 

    Os ombros de Yuri começaram a tremer levemente enquanto ela lutava para conter as lágrimas. Sua respiração tornou-se irregular, e uma expressão de profunda tristeza tomou conta de seu rosto. 

    — Preciso ir. Foi bom te ver novamente. —  Levantei-me, decidido a caminhar em direção à saída da casa de Nissa. 

    Notei que Yuri estendeu o braço em uma tentativa de me deter, mas seus dedos apenas tocaram de leve minha manga antes de desistir. 

    — Por que não pode ficar? Você simplesmente aparece do nada, como se nada tivesse acontecido, e já vai embora! Tudo isso é por vingança? VOCÊ VAI ACABAR MORRENDO! 

    — Não é só vingança — murmurei para mim mesmo enquanto puxava o capuz, tentando ocultar as emoções conflitantes que transbordavam em meu interior. 

    Eu sabia que Yuri estava preocupada comigo, mas precisava seguir com meu propósito. Eu não podia compartilhar com ela naquele momento, pois só serviria para aumentar suas preocupações. 

    Ao me aproximar de Nissa, ela rapidamente se posicionou na minha frente, com uma expressão firme e decidida. 

    — Onde você vai? Seu pai tem procurado por você por muito tempo. Pelo menos espere ele voltar. 

    — Não tenho tempo pra isso. Agora ele vai saber que tou vivo, isso já não é o suficiente? 

    — Você é teimoso igual a ele. — Ela suspirou passando por mim e se aproximou de Yuri, envolvendo-a em um abraço reconfortante. Seus olhos se fixaram em mim enquanto eu me afastava lentamente. 

    Deixei a casa de Nissa e segui em direção à capital. Logo avistei uma jovem caminhando na minha direção, carregando algumas sacolas. Ela vestia um traje simples, e seus cabelos curtos dançavam suavemente com a brisa. À medida que me aproximei, reconheci-a como a mesma garota daquele dia, quando trouxe Yuri ferida. Embora tivesse mudado e crescido, seus traços permaneciam inconfundíveis. 

    Provavelmente, era a filha de Nissa, reconhecível pelos cabelos vermelhos. Contudo, aqueles olhos negros carregavam uma familiaridade inquietante, embora eu não conseguisse identificar de onde vinha. Ela passou ao meu lado e me observou em silêncio enquanto eu me afastava. Continuei minha caminhada sem olhar para trás. 

    Agora, não havia mais nada a fazer neste reino. Meu principal objetivo era alcançar a capital central do Norte, chamada Arkanis. Segundo meu mestre, era o melhor lugar para obter informações sobre os corrompidos. Seria uma jornada longa: primeiro, precisaria atravessar o mar para chegar ao reino de Oastein; depois, seguir até a capital Namark, onde conseguiria transporte até a vila mais próxima da Floresta da Noite Eterna. Esse era o único caminho para alcançar as terras do norte. Meu mestre havia me dado um mapa grande, o que tornaria mais fácil encontrar a rota certa. 

    Fui até as docas de Valoria e comprei uma passagem para o reino de Oastein. Após muita negociação com o capitão, consegui um bom preço em troca de ajudar a carregar as cargas do barco. O mestre havia me dado apenas um pouco de dinheiro, e eu estava contando com o dinheiro que tinha em casa, mas como ele não estava lá, agora precisava economizar ao máximo. 

    ✧༺⚔༻✧

    Após dez dias de navegação, finalmente cheguei ao reino de Oastein. Por sorte, não enfrentamos nenhuma tempestade que pudesse nos atrasar. Cumpri minha parte do acordo, ajudando a descarregar a carga em troca do desconto na passagem. Enquanto terminava de organizar as caixas em um canto, dois homens conversavam próximo. 

    — To falando a verdade. Ouvi rumores em Namark sobre algo que aconteceu em uma taberna no sul. Dizem que apareceu uma pessoa por lá, que disse ter visto com seus próprios olhos alguém com um poder diferente de tudo o que já viu, uma coisa que não devia existir. 

    — Haha. E você acredita nisso? A parte sul é o lugar mais fudido da capital, só tem malucos por lá. Pode olhar que era só mais um desses. 

    Ao ouvir isso, fiquei levemente surpreso, perguntando-me se essa pessoa havia visto um elementalista ou um místico. Movido por essa curiosidade, aproximei-me dos dois homens, estendendo minha mão com dois cruzeiros. 

    — Poderiam me dizer onde exatamente fica essa taberna? 

    Os dois trocaram olhares, e um deles deixou escapar um sorriso ao pegar as moedas. 

    — Eu não recomendaria que você fosse até lá, mas não é difícil de encontrar. Tem apenas uma taberna na parte sul da capital, próximo das muralhas. 

    — Entendi, obrigado. 

    Aproveitando o transporte de carga disponível, consegui uma carona em uma carroça. Cerca de uma hora depois, cheguei a Namark. Apesar de ser maior que Valoria, a pobreza aqui era muito mais evidente, resultado da escassez de terras férteis. Meu mestre havia mencionado que, ao sudeste do reino, a maioria das terras era seca, e as poucas vilas que existiam sobreviviam graças aos suprimentos fornecidos pela capital e à pesca, no caso daquelas próximas ao mar. 

    Enquanto caminhava pelos becos escuros da cidade, na região mais degradada e violenta, habitada pelos rejeitados da sociedade, segui em direção a uma pequena taberna. Sua fachada, surpreendentemente bem conservada e limpa, destacava-se em meio ao ambiente decadente ao redor. 

    Ao adentrar a taberna, fui imediatamente envolvido pelo ambiente de meia-luz, iluminado por lamparinas estrategicamente espalhadas. O chão de madeira rangeu sob meus pés, e o ar estava impregnado pelo forte cheiro de tabaco e cerveja envelhecida. Senti os olhares curiosos e ouvi os sussurros dos frequentadores. Caminhei até o balcão, onde um senhor de cabelos pretos com alguns fios brancos estava de costas, limpando garrafas com movimentos calmos e meticulosos. 

    — O que gostaria de pedir? 

    Retirei o capuz que cobria meu rosto, acomodei-me em um dos bancos do balcão e fixei meu olhar diretamente nele. 

    — Ouvi dizer que você tem informações sobre alguém que disse ter visto coisas estranhas. Isso é verdade? 

    — Isso depende de quanto você tá disposto a pagar. 

    Coloquei minha mão dentro do manto e retirei uma bolsa contendo dez cruzeiros, depositando-a sobre o balcão com firmeza. Ao fazê-lo, percebi três homens em uma mesa próxima trocando murmúrios enquanto lançavam olhares furtivos na minha direção. 

    — Isso é o suficiente pra pagar pela informação? 

    O balconista virou-se, pegou a bolsa de moedas e a balançou para sentir o peso. Em seguida, fixou seus olhos diretamente em mim, com um olhar avaliador e cauteloso. 

    — Em um vilarejo não muito distante daqui, chamado Hasol, que tem uma igreja enorme no meio, tem rumores sobre uma pessoa que é diferente. Dizem que ele é capaz de usar algo que não deveria existir. 

    Fiquei intrigado com suas palavras, sentindo minha curiosidade crescer enquanto apoiava um dos braços sobre o balcão. 

    — O que essa pessoa pode de usar? 

    O balconista se aproximou, sua expressão tornando-se mais séria. 

    — Magia! 

    Magia? Será um elementalista? Meu coração acelerou diante da possibilidade. 

    — Alguns dias atrás, um cara apareceu aqui falando sobre essa pessoa. Disse que a viu usar magia com seus próprios olhos. Quando contou isso, todos riram e até agrediram ele, chamando de louco. Mas eu sei dizer quando alguém fala a verdade. tinha confiança em cada palavra, e isso estava claro nos olhos dele.  

    Retirei meu diário de um dos bolsos do meu colete de tecido ajustado e anotei cuidadosamente as informações fornecidas pelo balconista. 

    — Agradeço pela informação. — Levantei-me para sair da taberna. 

    Ao me virar, o som de um copo batendo no balcão fez com que eu parasse. Voltei meu olhar para o balconista, atento ao que ele tinha a dizer. 

    — É melhor você tomar cuidado! você é um viajante, não é? Esses becos são muito perigosos à noite; coisas que você jamais poderia imaginar acontecem por aqui. Recomendo que vá até a pousada, que fica perto daqui. Quando o sol nascer, poderá partir em segurança. 

    — Tá bem, obrigado. 

    Logo ao sair, deparei-me com uma cena terrível: um homem alto expulsava outro de um estabelecimento próximo, jogando-o ao chão e gritando furiosamente com ele. 

    — Se não tem dinheiro, não venha aqui! Vá embora! 

    Passei ao lado do homem caído no chão, tentando evitar me envolver, mas ele agarrou meu manto com firmeza. Quando me virei para encará-lo, percebi que seus olhos estavam cortados, deixando-o completamente cego. Ele me encarou por um momento antes de falar, como se pudesse me enxergar mesmo com os olhos mutilados. 

    — Não acredite nas mentiras dele! Por que eu acreditei nele? — Por alguns segundos, o homem ficou em silêncio. — Nada é o que parece. — Ele pegou sua bengala, levantou-se e afastou-se na escuridão da noite. 

    Embora eu não entendesse completamente o significado por trás das palavras daquele homem, decidi anotá-las em meu diário. Não sabia explicar exatamente por quê, mas algo em seu tom e em sua expressão me impulsionou a fazer. 

    Poucos passos depois, percebi que estava sendo seguido. Enquanto caminhava por um beco escuro, ouvi passos ecoando tanto de trás quanto da minha frente. Parei imediatamente, alerta e avaliando cuidadosamente a situação. 

    — Tá perdido? Aqui é nossa área. Se quiser passar em segurança, vai ter que entregar tudo o que tem — disse um homem com uma voz rouca e ameaçadora, enquanto se aproximava lentamente por trás de mim. 

    Os dois bandidos à minha frente começaram a rir e se aproximaram. Quando a luz da lua iluminou seus rostos, percebi que eram as mesmas pessoas que havia encontrado na taberna anteriormente. 

    Com a mão esquerda, fiz um movimento ágil com os dedos e retirei meu capuz, encarando-os com uma calma imperturbável. 

    — Se quiserem ver o sol nascer, recomendo que não deem mais um passo à frente e vão embora. 

    Minhas palavras inflamaram ainda mais os ânimos dos bandidos, deixando-os visivelmente enfurecidos. 

    — Você fala muito pra quem tá prestes a morrer. 

    Permaneci em silêncio, imóvel. O bandido às minhas costas puxou uma faca da cintura, girando-a em sua mão. No instante seguinte, ele a apontou em minha direção, mas caiu no chão, soltando um grito de dor agonizante. 

    — AAAAHHH, meus dedos! 

    Ao olhar para sua mão, ele percebeu que três de seus dedos, que seguravam a faca, haviam sido cortados. 

    — Desgraçado! O que você fez? 

    Os bandidos à frente ficaram visivelmente aterrorizados ao testemunhar a cena, enquanto permaneci imóvel, sem mover um único músculo. 

    Um dos bandidos à frente apontou uma faca para mim, o brilho do metal refletindo a luz da lua. Mantive minha expressão serena e imperturbável. 

    — O-o que você fez? — Sua voz tremia de medo, carregada de pavor e incerteza. 

    Comecei a caminhar lentamente, passando pelos bandidos à frente, paralisados pelo medo. Seus olhos estavam arregalados, as mãos trêmulas, e o suor escorria por seus rostos, evidenciando a tensão que os dominava. 

    — Se não quiserem morrer, é melhor não se moverem um centímetro. 

    O primeiro, que estava atrás, deu as costas e fugiu tomado pelo medo. 

    — Ei, seu desgraçado, não fuja! — Ao tentar se mover após gritar, ele fez um movimento sutil, mas imediatamente sentiu um corte em seu rosto. O medo o dominou, incapaz de entender o que estava acontecendo, enquanto o outro, ao seu lado, observava a cena, igualmente aterrorizado. 

    ✧༺⚔༻✧

    Cinco anos antes, numa manhã ensolarada, Haldan saiu da caverna e me encontrou treinando artes marciais. Eu estava sem camisa, suado e com a respiração pesada. 

    — É incrível como você se adaptou tão rapidamente a essas próteses. 

    Sorri enquanto olhava para meu braço e minha perna mecânicos. Haldan havia criado essas próteses para mim, e elas eram tão confortáveis e naturais que eu mal percebia que não faziam parte do meu corpo. 

    — Isso tudo é graças a você. São incríveis, parecem que sempre fizeram parte de mim. Suas habilidades em criação não têm comparação, Haldan. 

    — Fico feliz que o procedimento tenha dado certo. Você passou por muita dor durante o processo, mas quando eu terminar as próteses permanentes, elas serão muito melhores do que essas aí. 

    — Não tenho nem como agradecer. 

    — Já te falei pra parar com isso, a culpa foi minha também. Deixando isso de lado, pra enfrentar aqueles corrompidos, você vai precisar de uma arma. Você mencionou que já treinou esgrima, então acredito que uma espada seja a escolha ideal. 

    — Na verdade, eu já tava pensando em uma arma tem um tempo e queria te perguntar se você seria capaz de criar ela para mim. 

    Descrevi para Haldan minha ideia de arma enquanto recordava o momento em que havia pego um fio de cabelo de Yuri na casa dela. 

    — Interessante… muito interessante. Talvez funcione se eu fizer alguns ajustes. Não, com certeza vai funcionar com essas mudanças. Você vai poder usar ela com eficácia! — Ele alisou a barba com um sorriso, pensativo. 

    ✧༺⚔༻✧

    De volta ao presente, dei alguns passos à frente dos bandidos, ficando de costas para eles. Cerrei o punho do meu braço esquerdo e o ergui rapidamente à minha frente. 

    — Minha arma são os fios de aço! 

    O som ensurdecedor de fios de aço sendo puxados ecoou pelo beco, reverberando como um aviso inescapável. Ao mesmo tempo, os fios ao redor dos bandidos realizaram cortes precisos em seus corpos, infligindo apenas ferimentos superficiais, mas o suficiente para intimidá-los profundamente. Imóveis, tremendo de medo, seus olhos arregalados revelavam o terror que os consumia. 

    Após isso, coloquei meu capuz e disse: — Se não quiserem morrer, fiquem parados até o amanhecer. 

    Afastei-me do local, ciente de que não poderia permanecer ali por muito tempo, pois isso certamente atrairia a atenção de outros inimigos. Para evitar mais problemas, fiquei hospedado em uma pousada próxima, que oferecia uma refeição gratuita como parte da hospedagem. Isso me permitiu economizar um pouco. 

    Com os primeiros raios de luz do dia, levantei-me sob o clima frio e a leve neblina que cobria a cidade. Hasol ficava a poucos quilômetros de Namark, então optei por seguir a pé. Apesar de desviar-me um pouco do percurso original, considerei mais prudente verificar pessoalmente. 

    Uma obra de: Matheus Andrade. 

    Mapa do mundo.

    Abra este link se quiser dar zoom: https://ibb.co/gbWg02Wn

    A escala não é exata, já que fui eu quem fez e não sou bom nisso kkk. É apenas para termos uma ideia de onde estamos. Ele vai se revelando ao decorrer da história.

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