Capítulo 60: O Despertar em um Mundo Desconhecido.

O silêncio dominava. Nenhum som de batalha, nenhum grito de dor ou vibração de mana. Apenas um vazio quieto, onde o tempo parecia suspenso. Yuki abriu os olhos lentamente, sentindo o corpo pesado e os pensamentos nebulosos. A última coisa que lembrava era a intensa batalha contra o demônio e Marco, o poder de Apolo correndo por suas veias, a barreira erguida… e então, escuridão.

Agora, ele estava deitado em algo macio, mas o lugar ao seu redor não era familiar. Não havia teto, paredes ou janelas — apenas uma vastidão que se estendia para todos os lados, como um campo infinito de luz suave e etérea. Ele tentou se levantar, mas sentiu suas pernas pesadas, como se tivessem sido privadas de energia por um longo tempo. A cada movimento, uma dor profunda percorria seu corpo, como se tivesse sido espremido até o limite. 

Yuki respirou fundo, sua mente ainda confusa. “Onde estou?” Ele pensou, observando ao redor. O ar estava calmo, quase parado, e não havia nada além da luz difusa que preenchia o ambiente, como se ele estivesse em uma espécie de limbo.

Ele tentou reunir suas memórias. A batalha… O poder de Apolo… Sofhia ferida… Mark, possuído pelo demônio… Cada cena vinha à sua mente em flashes confusos e fragmentados. A última coisa que lembrava claramente era o momento em que Marco e o demônio desapareceram pelo portal, deixando o campo de batalha devastado. Ele havia dado tudo de si para erguer a barreira uma última vez, mas então, a exaustão o havia tomado.

Enquanto ele tentava se recompor, uma voz suave e familiar ecoou em sua mente.

— Yuki.

Ele virou a cabeça rapidamente, tentando localizar a origem da voz, mas não havia ninguém visível. Ainda assim, aquela voz reverberava em sua mente, cheia de calma e serenidade.

— Quem está aí? — perguntou ele, levantando-se com dificuldade. Sua voz ecoou naquele espaço vazio, mas ninguém respondeu de imediato.

De repente, uma figura começou a se formar à sua frente, emergindo da luz como se fosse feita dela. Aos poucos, a silhueta tomou forma, revelando uma mulher alta e de feições serenas, vestida com uma túnica fluida que parecia ser feita da própria luz. Seus olhos brilhavam como estrelas, e sua presença emanava uma tranquilidade profunda. Yuki a reconheceu imediatamente.

— Rayka? — murmurou, com surpresa e confusão. — O que está acontecendo? Onde estou?

Rayka, a Rainha dos Espíritos de Vento, sorriu suavemente e deu um passo à frente, sua figura movendo-se com graça etérea.

— Você está em um lugar entre os mundos, Yuki. Um espaço de transição. — Sua voz era como o vento sussurrante, cheia de mistério e sabedoria. — Após a batalha, seu corpo e sua mente precisavam de descanso. E aqui, entre a vida e o que está além, você tem tempo para refletir e se preparar.

Yuki franziu o cenho, tentando processar suas palavras. “Entre os mundos?” Ele olhou ao redor, percebendo que, embora o ambiente fosse sereno, havia uma estranheza nele, uma sensação de que aquilo não era completamente real.

— Então… estou morto? — perguntou ele, sua voz carregando um tom de hesitação. Parte de si temia a resposta, mas outra parte sabia que precisava ouvi-la.

Rayka balançou a cabeça lentamente.

— Não. Você não está morto, Yuki. Mas está à beira. Sua batalha drenou muito de sua energia vital, e você chegou ao limite do que seu corpo podia suportar. No entanto, seu espírito ainda está forte, e por isso, você foi trazido até aqui.

Yuki respirou fundo, tentando processar a situação. Ele estava em algum tipo de limbo, preso entre a vida e a morte, mas isso não era permanente. Ele ainda tinha uma chance de voltar.

— E o que devo fazer? — perguntou ele, olhando para Rayka em busca de orientação.

A Rainha dos Espíritos de Vento deu um passo mais perto, seus olhos brilhando intensamente.

— Antes de você retornar, há algo que precisa entender, Yuki. Você sentiu fragmentos de suas memórias passadas durante a batalha. Elas são parte de quem você é, mas há muito mais que ainda não foi revelado. — Ela fez uma pausa, como se ponderasse o quanto deveria revelar. — Apolo já lhe deu parte do poder que você carrega em sua essência, mas o caminho que você deve trilhar ainda está se desdobrando.

— Então, sou eu… ou sou Apolo? — A confusão de Yuki aumentava. Ele sentia as memórias distantes e a conexão com algo antigo, mas também sabia que era Yuki, com suas próprias experiências e identidade.

— Você é ambos, e nenhum ao mesmo tempo — respondeu Rayka, enigmática. — Você é Yuki, um jovem que cresceu na academia, forjado por suas batalhas e pelas pessoas ao seu redor. Mas dentro de você habita uma centelha da Primeira Luz, aquela que trouxe a vida ao mundo. Agora, você precisa decidir quem você será daqui em diante.

Yuki ficou em silêncio, com as palavras de Rayka ressoando em sua mente. Ele sentia o peso de suas responsabilidades crescendo, mas também a clareza de sua missão começando a se formar. Ele sabia que o demônio que enfrentara era apenas o começo. Algo muito maior estava em jogo, e ele teria que estar preparado para enfrentar isso.

— Eu… vou voltar — disse Yuki, com determinação. — Não sou apenas Apolo. Sou Yuki, e essa é a minha luta. Tenho que proteger meus amigos, minha academia… e o mundo que construímos.

Rayka sorriu, uma expressão de aprovação em seu rosto.

— Então, o caminho está claro. Quando você despertar, o mundo à sua volta estará mudado. As trevas recuaram, mas não foram derrotadas. E você terá que enfrentar muitos desafios ainda. Mas saiba disso, Yuki: você não está sozinho.

Com essas palavras, a luz ao redor de Yuki começou a se intensificar. Ele sentiu seu corpo ficando mais leve, e seu espírito sendo puxado de volta para a realidade. O espaço etéreo ao seu redor começou a se desvanecer, enquanto a sensação familiar de seu corpo físico retornava lentamente.

A última coisa que ele viu foi o sorriso sereno de Rayka, antes que tudo desaparecesse em uma explosão de luz branca.

Quando Yuki abriu os olhos novamente, sentiu o toque de lençóis macios contra sua pele e o ar fresco da manhã. Ele estava deitado em uma cama na enfermaria da academia. A luz do sol entrava suavemente pela janela, e o som distante de conversas indicava que a academia estava começando a se recuperar.

Ele olhou ao redor, confuso, mas aliviado. Ele havia voltado. Agora, porém, sabia que a verdadeira luta estava apenas começando.

Yuki respirou fundo, sentindo a energia renovada percorrendo seu corpo. Ele estava pronto para o que viesse a seguir. **Estava pronto para enfrentar as trevas novamente.**

O arco havia se fechado, mas um novo caminho se abriu diante dele.