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    — Que seja, então. — Jodrick correu na direção de Dante, seus pés deslizando sobre o chão como se estivessem sobre gelo. Debaixo dele, uma poça de água se formou, e o espadachim começou a deslizar velozmente, sua espada brilhando sob a luz do sol. Quando se aproximou, cortou o ar com um golpe rápido e preciso.

    — Lento — comentou Dante, abaixando-se com facilidade e recuando em um passo. Ele usou a esquiva para sair do segundo golpe, depois do terceiro e do quarto. Seus movimentos eram fluidos, quase dançantes, como se estivesse brincando com Jodrick. Ele ergueu os punhos, mantendo a base firme, enquanto usava os pés para se mover com agilidade. Cada golpe de Jodrick era uma estocada poderosa, mas errava por alguns centímetros, lacunas que Dante deixava de propósito, como se estivesse testando o guerreiro.

    Jodrick saltou por cima de Dante, atacando de cima com um movimento rápido. Ele esperava que o velho recuasse, mas, em vez disso, Dante se aproximou ainda mais, ficando colado nele. A espada de Jodrick subiu, mas não foi só isso — a água que se acumulava em seus pés cresceu rapidamente, formando um escudo temporário ao redor dele.

    — Foco de Hidro — anunciou Jodrick, sua voz ecoando dentro do corredor de água que se formou ao redor dos dois, prendendo-os dentro de uma espécie de cápsula líquida. Ele esperou que Dante recuasse, mas o velho permaneceu firme.

    Os pés de Jodrick tocaram o chão, e a espada se ergueu, protegida pela água ao redor. Ele abaixou o braço, e a água se esticou, pesada como um machado de guerra, pronta para esmagar Dante.

    — Eu disse… — Dante manteve a postura e avançou em alta velocidade, seu corpo parecendo elástico, quase impossível de acompanhar. Ele rolou por baixo do golpe, saltou no ar e, enquanto caía, soltou uma risada. Assim que tocou o solo, seu punho direito esticou com extrema violência. O escudo de água de Jodrick se quebrou instantaneamente, e o estômago do espadachim foi atingido com força brutal.

    O soco enviou Jodrick cerca de dois metros para trás. Ele caiu de joelhos, uma mão pressionando o ferimento, enquanto fitava Dante com olhos arregalados. O velho deu um aceno casual, como se estivesse se despedindo.

    — Até mais.

    A pressão do ar se moveu com imensa velocidade e força, empurrando Jodrick diretamente contra sua própria parede de água. O guerreiro saiu voando, batendo contra alguns escombros e parando apenas ao colidir com uma das vigas de ferro no meio do pátio. Ele caiu praticamente no mesmo lugar que Fred, os dois agora amontoados, derrotados.

    As paredes de água se desfizeram, revelando o rosto impassível, mas visivelmente surpreso, de Kalish. Dante esperava que ele ficasse chocado, mas não se importava de ferir homens arrogantes ou soberbos demais. Ele não perderia para pessoas que dependiam de espadas, não quando tinha seu pai como o único capaz de vencê-lo nessa arte.

    — Satisfeito? — provocou Dante, sua voz carregada de ironia. — Maethe faria qualquer um de vocês em pedaços. E eu nem usei o que realmente sei. Inimigos de verdade são assim, eles lutam até a morte. Seus soldados podem ser treinados dentro da sua Zona, mas não podem ser comparados ao que existe do lado de fora.

    Kalish não respondeu de imediato, apenas assentiu lentamente, como se estivesse processando cada palavra.

    — Eu vejo um homem capaz de duelar até mesmo contra as grandes bestas — comentou Kalish, sua voz calma, mas impressionada. — Não julgo. Todos vocês foram forjados do pior que este mundo tem a oferecer, mas estão mudando a forma como ele existe aqui fora. Meus garotos caíram por erros deles, mas vão se levantar mais fortes. Tenho total certeza disso.

    — Se eles aprenderem com os erros, com certeza vão melhorar — respondeu Dante, sua voz agora mais suave, quase encorajadora.

    — Espero que, no final, eles possam ver que existem homens não só melhores fisicamente, mas mentalmente também — continuou Kalish, guardando as mãos atrás das costas. — Você se segurou desde o começo. Eu vejo um futuro para todos vocês. Não na Zona Cega, como podem pensar, mas aqui fora.

    Ele então voltou seu olhar para Clara, sua expressão serena, quase contemplativa.

    — A Cuba foi forjada por pessoas fortes — disse Kalish, sua voz carregada de respeito. — E não vejo forma melhor de dizer que até mesmo os outros Soberanos ficariam impressionados. Por esse motivo, também quero expandir meu contato com a Cuba.

    Clara se aproximou dele, mantendo Marcus ao seu lado. Dante e os demais também se reuniram ao redor, formando um semicírculo ao redor de Kalish.

    — Eu posso oferecer o que precisarem — continuou Kalish, sua voz agora mais firme, decidida. — Desde mapas até informações. Quero agilizar esse processo que vocês acham que vai demorar meses. A Cuba vai representar algo grande, e isso depende de quem a comanda. Meus homens não teriam chance aqui, mas vocês têm.

    — E o que você ganha em troca? — questionou Clara, seus olhos fixos em Kalish, buscando a verdade por trás de suas palavras. — Não temos o que oferecer.

    Kalish inclinou-se levemente para o lado, observando seus homens ainda tentando se levantar após a surra que levaram.

    — Acredito que vocês possuem — respondeu ele, sua voz agora mais baixa, quase conspiratória. —Força política e força física são completamente opostas, creio que sabe disso. Mas aqui dentro, a dualidade não se restringe. Vocês juntaram os dois para se tornarem fortes. A Zona Cega saberá de vocês, mas eu darei meu nome, meu contrato, minhas forças, para manter qualquer um afastado. O que eu quero de vocês? Aquilo que nem eles podem ter.

    Dante coçou a cabeça, um pouco perdido, enquanto os outros se entreolharam, tentando decifrar as intenções de Kalish. Foi Gerhman, afastado do grupo, quem respondeu:

    — Lealdade — disse ele, sua voz firme e clara. — Ele quer nossa lealdade e força.

    Kalish sorriu, um brilho de aprovação em seus olhos.

    — Sempre foi um rapaz esperto, garoto. Não posso negar isso.

    — Lealdade, se é isso que você quer, por que pedir de forma tão aberta? — Clara franziu a testa, sua voz carregada de desconfiança. — Sabe quantos homens decidiram correr depois de ver que a cidade não representava nada além de um negócio falho?

    Kalish não hesitou, sua resposta saindo com uma convicção que parecia brotar de suas entranhas.

    — Homens cegos, eu acredito bem nisso — disse, forçando as palavras com mais vontade. — A cidade de Kappz hoje é representada pela Zona Cega. Nem mesmo GreamHachi ou Rapier estão nos olhos dos vilarejos ou dos maiores compradores. Por enquanto, a Cuba precisa de gente e material para crescer, e eu farei o necessário…

    — Não é necessário — a voz de Dante o cortou, firme e decidida. — Não precisamos de material. Não agora. Precisamos de comida. Precisamos forjar uma forma de montar uma estufa, uma pequena fazenda. Ainda não temos como continuar procurando por comida enlatada.

    Kalish tocou o queixo, pensativo. Seus olhos se perderam por um momento, como se estivesse revirando memórias em busca de uma solução. De repente, ele pareceu se lembrar de algo, e um brilho de reconhecimento surgiu em seu olhar.

    — Se é isso que precisam — começou ele, sua voz agora mais suave, quase calculista —, então farei isso acontecer. Em troca, quero que saibam: vou precisar de um de vocês daqui a um mês. A Zona Cega é sempre cheia de pequenos conflitos, e haverá uma demonstração de poder entre os Três Soberanos. Quero um de vocês comigo, como meu subordinado por alguns dias.

    Dante concordou com um aceno casual, mas não percebeu que todos os outros estavam olhando diretamente para ele.

    — Eu? — ele apontou para si mesmo, surpreso. — Por que eu? Gosto de ficar aqui na Cuba.

    Foi Marcus quem respondeu, sua voz saindo baixa, mas firme, depois de tanto tempo em silêncio.

    — Precisa conhecer mais de Kappz — disse ele, seus olhos fixos em Dante. — E também, duvido que alguém iria encostar em Kalish se você estiver lá. O nível da Zona Cega é alto, mas eles são humanos.

    — Eu também sou — respondeu Dante, quase como um lembrete para si mesmo.

    Os outros não responderam, e o silêncio que se seguiu foi suficiente para Kalish entender bem o que acontecia ali. A Cuba podia ser comandada por Clara, mas o punho de ferro era de Dante. E, ao ver o atirador que havia salvado Silas manter uma postura fechada e vigilante, Kalish percebeu que ele também era uma peça-chave ao lado de Clara.

    Um lugar governado por três pessoas. Ironicamente, não era parecido em nada com a Zona Cega.

    Kalish sorriu, um brilho de satisfação em seus olhos. Ele sabia que havia encontrado algo único na Cuba. Um povo que ainda tinha a esperança no meio do caos. Um rumo diferente. Talvez… até melhor do que o conhecia.

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