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    E o que acontece depois disso?

    Naquele momento, os pensamentos de Shang começaram a se tornar cada vez mais abstratos.

    Ele tentava pensar em algo, mas, de alguma forma, todos os seus pensamentos deixavam de fazer sentido.

    Ele pensava em alguma coisa, mas não fazia ideia do que estava pensando.

    Era apenas uma confusão estranha e indiscernível.

    Shang simplesmente estava sentado ali, sem se mover.

    Apenas pensando.

    Espera, no que ele estava pensando?

    Ele não se lembrava.

    “Não pode ser tão importante se eu esqueci”, pensou Shang. “De qualquer forma, é interessante saber o que me levou ao meu Caminho atual.”

    “Matar o Deus, hein?”

    “Claro, eu posso fazer isso.”

    “Depois, me livrarei das Abominações, desde que isso não exija que eu me sacrifique ou algo assim. E, por fim, encontrarei um meio de me tornar ainda mais poderoso.”

    “Recuso-me a acreditar que me tornar um Deus seja o fim.”

    — Você ainda não respondeu minha pergunta — disse o Imperador Relâmpago de repente.

    Shang foi arrancado de seus pensamentos e voltou à realidade.

    Ele havia se esquecido completamente de que estava sentado diante do Imperador Relâmpago.

    — Qual era a pergunta? — perguntou Shang.

    — Por que você quer se tornar um Deus? — perguntou o Imperador Relâmpago.

    Shang não respondeu imediatamente, pois percebeu que agora estava em uma situação complicada.

    Antes, ele poderia ter respondido essa pergunta sem problemas.

    Porque queria se tornar mais poderoso.

    Mas agora, Shang se lembrava da razão original para querer se tornar tão poderoso.

    Shang sabia que o Imperador Relâmpago conseguia distinguir a verdade da mentira e também sabia que, muito provavelmente, não conseguiria enganá-lo com palavras ambíguas.

    Então, o que ele deveria responder?

    — Houve um motivo específico pelo qual eu quis me tornar um Deus no passado, mas esse motivo já não é mais importante — disse Shang.

    — Oh? — murmurou o Imperador Relâmpago com certo interesse. — Por favor, diga-me o motivo.

    — Não é importante, já que não é mais a minha razão — disse Shang. — Quero me tornar um Deus porque quero me tornar ainda mais poderoso. Quero ir o mais longe que puder.

    Tudo o que Shang disse era verdade.

    — Entendo — disse o Imperador Relâmpago com um aceno de cabeça. — No entanto, ainda quero ouvir sua razão original.

    — Não quero contar — disse Shang.

    O sorriso amigável do Imperador Relâmpago desapareceu lentamente, sendo substituído por uma expressão educada, porém severa.

    — Estou decidindo agora o que fazer com você — ele disse. — Você é livre para se recusar a responder, mas, nesse caso, assumirei o pior possível e basearei meu julgamento nisso. E, nesse caso, assumirei que você quer subjugar o mundo inteiro e governá-lo.

    — Se você se tornar um Deus, já terá matado quase todos os Imperadores de qualquer forma.

    — Deixe-me ser honesto com você, Shang Espada — disse o Imperador Relâmpago. — Quase todos os outros Imperadores são meus amigos pessoais há muito tempo. Viajamos juntos, treinamos juntos, lutamos juntos e vivemos juntos.

    — Eles são meus amigos de uma vida inteira.

    — Ao dizer que quer se tornar um Deus, você basicamente me disse que quer matar todos os meus amigos.

    — Posso aceitar a ideia de que todos merecem uma chance de se tornarem poderosos e realizarem seu destino, mas isso ainda é válido quando alguém declara diretamente que pretende matar todos os seus amigos?

    Silêncio.

    — Agora, você tem a liberdade de me responder — disse o Imperador Relâmpago — ou posso simplesmente eliminá-lo agora. Você não está aqui porque eu quero encontrar um motivo para matá-lo. Esta é sua chance de se defender e me convencer a não matá-lo.

    — Faça bom uso dela — disse o Imperador Relâmpago.

    Silêncio.

    Shang sentiu uma forte sensação de déjà vu.

    Era como se já tivesse passado por aquilo antes.

    E então, ele se lembrou de sua última conversa com Jerald.

    A situação era basicamente idêntica.

    No entanto, havia algumas diferenças.

    Primeiro, o Imperador Relâmpago não era amigo de Shang.

    Segundo, Shang não tinha poder para matar o Imperador Relâmpago.

    Terceiro, o Imperador Relâmpago não sabia que Shang era o Filho da Calamidade.

    — Então, qual foi sua razão original para querer se tornar um Deus? — perguntou o Imperador Relâmpago novamente.

    Silêncio.

    — Eu queria matar alguém — disse Shang.

    — Uma pessoa ou várias? — perguntou o Imperador Relâmpago.

    — Apenas uma — respondeu Shang.

    O Imperador Relâmpago assentiu.

    Querer matar apenas uma pessoa não era tão ruim.

    — Quem é essa pessoa? — perguntou o Imperador Relâmpago.

    — Você não conhece ele. Tenho certeza disso — disse Shang.

    O Imperador Relâmpago ergueu uma sobrancelha enquanto olhava para Shang.

    Ele tinha certeza disso?

    Como esse guerreiro poderia ter certeza de quem o Imperador Relâmpago conhecia ou não?

    — O que o faz ter tanta certeza? — perguntou o Imperador Relâmpago.

    — Porque essa pessoa não quer ser conhecida, e se ela não se revelar, ninguém saberá que ela existe — respondeu Shang.

    — Oh? — murmurou o Imperador Relâmpago, inclinando-se um pouco para frente. — E quem é essa pessoa?

    Silêncio.

    — O Deus.

    As sobrancelhas do Imperador Relâmpago se ergueram em surpresa.

    Ele quase não conseguia acreditar que aquilo realmente havia criado uma ressonância com o mundo.

    Isso significava que Shang honestamente acreditava que estava dizendo a verdade.

    Agora, era importante entender que saber que algo era verdadeiro não significava necessariamente que fosse realmente verdadeiro.

    Se uma pessoa visse outra entrar em um prédio, teria certeza de que viu aquela pessoa entrar naquele prédio.

    Ao contar aos outros que viu essa pessoa entrar, ela não estaria mentindo.

    Mesmo que, na verdade, fosse uma terceira pessoa disfarçada, isso não importava.

    Desde que a primeira pessoa não soubesse disso, ela ainda estaria dizendo a verdade de sua perspectiva.

    A ressonância do mundo só acontecia quando alguém acreditava que estava dizendo a verdade. Não importava se aquilo era objetivamente verdadeiro ou não.

    E, naquele momento, Shang acreditava que estava falando a verdade.

    O Imperador Relâmpago acreditava nele?

    Não muito.

    Havia uma chance maior de Shang ter sido vítima de uma ilusão ou delírio extremamente poderoso do que de realmente existir algum tipo de Deus.

    A menos que…

    — Você está se referindo ao Deus Mago? — ele perguntou.

    — Não — respondeu Shang.

    Isso tornou as alegações de Shang ainda menos críveis.

    Se houvesse um Deus, esse Deus seria Lucius.

    Muito provavelmente, Shang estava sofrendo de delírios.

    Mas isso era realmente melhor?

    Uma pessoa sã podia ser prevista, mas prever uma insana era quase impossível.

    Então, se Shang fosse insano, fazia alguma diferença o que ele dissesse?

    Suas palavras não seriam confiáveis de qualquer forma.

    Um pequeno gesto, um grande impacto.

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