Índice de Capítulo

    O vento uivava constantemente desde o amanhecer — talvez antes disso. Pequenos flocos de neve vagavam livremente, cortando os rostos como pequenas lâminas naquela manhã pálida que se erguia sobre aquele deserto branco e sufocantemente silencioso. 

    Mayck esfregou as mãos. Mesmo com luvas, ele ainda sentia o frio penetrando sua pele quase como um aviso. Além disso, seus pés estavam atolados na neve de novo. Se não fossem botas altas, já estariam cheias de pó de gelo derretendo ali. 

    Será que elas derretem nesse frio?

    Talvez não… mas era algo a se questionar. Será que deveria fazer um teste depois?

    Enquanto ele se perdia ali em seu próprio silêncio, três soldados, vestidos com roupas militares pretas especiais para o clima gelado, operavam um aparelho eletrônico posicionado sobre uma haste metálica. 

    Ele parecia uma espécie de cápsula redonda, do tamanho de uma câmera pequena, com sensores ao redor, projetados para filmar tudo em um ângulo de 360°. Era tecnologia demais para Mayck compreender. 

    Mas se as cores são azul, branco e preto, então parece ser algo legal. 

    Ele mantinha um olhar curioso sobre o dispositivo. 

    “Estamos prontos”, disse um dos soldados segundos depois. 

    Seguindo orientação, todos se afastaram da do dispositivo, sabendo o processo que ocorreria — diferente de Mayck. 

    A vista de todas as vinte pessoas, uma luz brilhou nos sensores, um feixe luminoso girava cada vez mais rápido ali dentro, ao mesmo tempo que um som eletrônico ficava mais intenso. 

    E então eles sentiram um pulso eletromagnético passar rapidamente, depois um sinal sonoro. 

    Então o mesmo homem falou:

    “Nenhum sinal de vida num raio de duzentos metros. Segundo pulso.”

    O mesmo processo novamente, porém, com mais intensidade.

    “Nenhum sinal num raio de quinhentos metros.”

    O terceiro processo. 

    “Sem sinal num raio de um quilômetro.”

    Parecia seguro. 

    Mayck estava observando atentamente. Ao que parecia, aquele procedimento era necessário sempre que visitavam uma terra longe das áreas habitadas. 

    O dispositivo, chamado de ‘OmniPulse’, emitia um pulso eletromagnético capaz de reagir com os sinais bioelétricos dos seres vivos, fazendo uma varredura dos corpos próximos dele. Era um tipo de radar biológico. 

    “Muito bem. Vamos em frente”, disse um homem que também vestia roupas militares, mas com um sobretudo preto por cima, por onde, curiosamente, ele não passava os braços. 

    Ele era o capitão Takeda Ryoji. Um homem alto, com um porte físico robusto, mesmo com seus 47 anos. Tinha cabelos pretos com alguns fios grisalhos que por pouco não chegavam nos ombros. Sua barba era bem aparada e ele possuía um olhar afiado. 

    Bastava apenas olhar para ele que dava para ver seus longos anos de experiência como ex-militar transbordando em seu porte confiante e disciplinado, assim como em sua cicatriz que cortava o olho esquerdo e a sobrancelha. 

    Depois de tudo pronto, eles guardaram o dispositivo e seguiram caminho. 

    Os passos atolando no tapete branco e congelante deixaram centenas de pegadas para trás, os quais a neve tentava preencher. Os montes de gelo se erguiam numa vasta solidão em todo o horizonte e apenas o vento soava como vozes distantes. 

    Já fazia mais de uma hora que pousaram numa pista improvisada e oficialmente deram início à operação de busca. 

    Mayck ficou chocado quando deitou seus olhos sobre aquela parte quase isolada do resto do mundo. Era como os livros retratavam, mas a sensação de ver por si mesmo era ainda mais emocionante. 

    Parece que eu estou em casa… Isso é um pouco assustador. 

    A sensação confortável de pertencer àquele lugar preenchia seu corpo. 

    Talvez Haruna estivesse certa e ele fosse um semelhante aos pinguins?

    Até parece… né?

    Ele estava com um novo conjunto de inverno preparado por Michio. Era um sobretudo parecido com o que usava normalmente, porém, com camadas extras de lã, um novo tecido e um cachecol do mesmo material, assim como as calças, que ajudaram-no a ficar bem aquecido naquele lugar. 

    “Do jeito que você é, é capaz de virar parte da paisagem se for vestido de qualquer jeito”, foi o que Nikkie disse antes dele partir. 

    E ela não estava errada…

    No segundo em que tirou a máscara para respirar, o ar quase colocou seus pulmões em um sono criogênico. 

    Além disso, mal dá pra diferenciar céu e terra aqui…

    Eles tinham tons tão parecidos que pareciam se unir no horizonte, sendo uma passagem para outra dimensão. 

    Enquanto se maravilhava com aquele lugar, que facilmente tornaria sua casa, alguém se aproximou. 

    Era um garoto alto, de cabelos dourados e olhos verdes que pareciam pedras brilhantes. 

    “Você é M-san, não é? Não tivemos tempo de nos apresentar ainda. Fiquei sabendo de você pelo Zero”, disse ele com um sorriso amigável. 

    O que Mayck podia dizer desse cara era que ele facilmente seria um herói de uma história de fantasia. 

    “Rider…-san, certo? Também ouvi falar de você. É o líder da equipe Beta.”

    “Hahaha! Fico feliz que tenha me reconhecido. Eu soube que você não faz parte de nenhuma equipe especial, mas que tem ajudado muito a organização. É um prazer trabalhar com você.”

    “Não, não. Eu só faço o que eu posso.”

    “Ehh~? Mas eu ouvi de Ruby-san que você foi muito importante no incidente dos institutos no final do verão.”

    Outra pessoa se aproximou, e esta era Sky, que deu leves cotoveladas no garoto, como se já fossem amigos bem próximos.

    “Nós já nos vimos antes, então não precisamos de apresentações, né? Eu vou te apresentar os outros. Estes são Yoshiro, Gunner e Sora, que você viu fazendo barraco na sala do líder”, disse ela apontando para os amigos, que acenaram de volta.

    “Eu não estava fazendo barraco! Não me apresente de forma tão grosseira.”

    “Então eu não sei o que era aquilo.” Sky deu de ombros com um sorriso irônico, enquanto sua amiga inflou as bochechas. 

    “Bom, mas não podemos ignorar que é por conta disso que estamos aqui.” Rider tentou acalmar a situação. 

    “Mesmo assim, ainda é imprudente você ter vindo, Sora. Se continuar com isso, Zero vai acabar ficando irritado”, foi Yoshiro quem falou dessa vez com um ar apático.

    Ele tinha cabelos acinzentados e parecia um pouco com Rider. Dava para ver pelo seu físico que ele parecia um lutador muito ágil, embora carregasse um arco nas costas, assim como uma bolsa de flechas. 

    “Se é que ele já não está. Sendo chata do jeito que é, até Nikkie-san já deve estar pensando em te dar um pouco de juízo.”

    Este era Gunner. Seus cabelos tinham um tom profundo de vermelho, os olhos eram escuros e sua expressão era carrancuda. Ele dava um ar de ser o tipo que seguia o caminho mais fácil para vencer uma luta. Parecia saber usar os punhos muito bem, embora carregasse uma espada longa na cintura. 

    “Se falar de mim nesse tom outra vez, não vão ser apenas suas armas que vão quebrar. O que você tem no meio das pernas também.”

    “Ei, pessoal, se acalmem… Vocês estão deixando o M-san constrangido.”

    Na verdade não, mas Rider disse isso como forma de parar uma briga iminente. 

    “Desculpe por isso… Eles são sempre assim. Espero que você não tenha tido uma má impressão deles.”

    O líder da equipe se preocupava com os laços forjados entre os companheiros. Se houvesse alguém que não se desse bem com os demais, seria um problema terrível. 

    “Tá tudo bem. Isso não me incomoda.”

    Personalidades fortes, hein… 

    O que Zero lhe disse uma vez veio à sua mente. 

    Depois dessa introdução acalorada, Mayck continuou caminhando ao lado do grupo, ao mesmo tempo em que ainda analisava os montes nevados e as dunas de neve que encontravam vez ou outra. 

    Eles também viram alguns animais como focas e petreis-gigantes, embora Mayck estivesse mais interessado nas baleias azuis. No entanto, para isso, teria que seguir para alto mar ou esperar que alguma fosse até a praia… mas não havia tempo para isso. 

    Afinal de contas, não estavam numa excursão, como foi dito para Takashi. 

    De um jeito ou de outro, todo o grupo tinha apenas uma dúvida: como proceder para encontrar o objetivo. 

    Se fosse prosseguir daquela maneira, apenas vagariam sem rumo até encontrar uma pista, mas eles estavam apostando na possibilidade de encontrar alguma instalação abandonada ou coisa do tipo. Por isso que era tão decepcionante enxergar apenas mais e mais neve a cada passo. 

    “Isso parece não ter fim”, comentou Sky depois de mais uma hora andando. 

    Se desse para ver o sol ele já devia estar no ápice.

    “Acho que deveríamos fazer uma pausa. Todo mundo deve estar faminto…”

    Afinal, foi uma viagem de mais de cinco horas desde Tóquio até ali e só tiveram meia hora de descanso quando chegaram. 

    Ciente disso, e ouvindo os dois jovens, o capitão Takeda decidiu tomar uma atitude. Ele parou, e então se voltou para o restante do grupo que estava atrás. 

    “Pessoal, vamos fazer uma pausa. Aproveitem para repor as energias. Assim que terminarmos, vamos procurar um lugar para nos abrigar. Os sensores mostram que vamos encontrar uma tempestade de neve em pouco tempo.”

    Os suspiros aliviados foram incontáveis. 

    Com isso, todos puderam sentar sob as pedras que encontraram por perto e descansar as pernas. Os alimentos preparados em porções simples, mas pensadas para extrair o máximo dos portadores foi distribuído entre eles. 

    “Ah~. Isso sim é vida”, disse Sky depois de beber toda a água de uma garrafa. 

    “Você realmente deveria economizar”, recomendou Yoshiro, mas a garota parecia não se importar. 

    “Não adianta. Ela não vai te dar ouvidos.” Sora pegou uma das marmitas que foram entregues e se preparou para abrir. Já dava para sentir o cheiro apetitoso dos alimentos 

    Eles estavam ansiosos pela refeição, mas antes que pudessem terminar o processo de abrir as embalagens, foram chamados por Takeda. 

    ****

    “Ah!! Porcaria!” A voz de Sky ecoou pelo vasto deserto de gelo. 

    “Aquele Takeda… Certeza que ele tem algo contra a gente”, resmungou Sora. 

    “Há! Só se for de você e dessa sua chatice”, respondeu Gunner. 

    “Fala isso mais uma vez, seu idiota!”

    E novamente Sora e Gunner entraram em uma disputa, desta vez, ambos correram pelo extenso corredor de neve, como duas crianças. 

    “Esses dois…” Yoshiro parecia ter desistido. 

    “Be-bem… eles devem parar logo.” Rider também. 

    Eles foram enviados para fazer o reconhecimento nas proximidades e tentar encontrar abrigo ou um lugar que pudessem ficar em segurança, já que a viagem prometia ser bem longa. 

    “O que você acha que deveríamos fazer primeiro, M-san?”

    “Hm? Ah… Não tenho certeza.”

    Mayck estava pensando em diferentes formas de se vingar de Takeda por tê-lo enviado junto, quando foi chamado por Yoshiro. 

    “Que tal a gente explorar rapidinho e voltar? Eu só quero comer…”

    “Entendo o sentimento, mas temos que fazer isso direito. Relaxa, não deve demorar muito.”

    Sky ainda tinha uma expressão chorosa no rosto, mas compreendeu a situação. 

    Eles seguiram atrás de Sora e Gunner e rodaram toda a área que julgaram ser necessária. No caminho, viram grutas, pequenas cavernas e algumas pequenas concentrações de água congelada, mas nada tão alarmante ou digno de nota. 

    Depois de uma hora, eles decidiram que era o suficiente. 

    “Certo! Vamos voltar e almoçar! Eu já não estou aguentando mais!” Sky se animou.

    “Sim, sim. Vamos indo, pessoal. Não sabemos quanto tempo ela ainda aguenta.”

    Para estar reclamando daquele jeito, ela parecia já estar no limite, mas seria recompensada por isso. 

    Porém, por ironia do destino, ou puro azar, algo aconteceu. 

    “O quê?! Não!!”

    “Que droga é essa?!”

    Um leve tremor e depois uma cortina de neve se ergueu nas costas deles. Eles entraram em alerta e se posicionaram juntos, em posição de ataque. Então, uma sombra emergiu quando a neve caiu e revelou a forma de um monstro serpentinoso, de escamas brancas, olhos vermelhos e presas de tamanho inigualável, sem contar o par de chifres na cabeça, que lembravam um demônio.

    Aquela criatura parecia ter ao menos cinco metros de altura. Sua bocarra aberta emitiu um som estridente que ressoou dolorosamente pela cabeça deles. 

    “Ninkai?! Logo aqui?!” Rider olhou atônito. 

    Se fosse parar pra pensar, não deveria ser tão surpreendente. Afinal de contas, no Incidente da Luz Vermelha, o que deixava a maioria dos monstros presos no Japão se quebrou, então eles facilmente teriam se espalhado pelo globo — por terra, mar e céu.

    “Ahahaha! Eu tava me perguntando quando a ação começaria.” Gunner parecia animado. “Eu cuido dele!”

    “Espera, não—”

    Rider tentou impedi-lo, mas Gunner já tinha disparado em direção do monstro, brandindo a espada longa de cor metálica. Quando chegou perto o suficiente, saltou ficando na altura da cabeça da serpente. 

    Slash!

    Ele desferiu um corte ganancioso na vertical, porém, apesar de sua confiança, não conseguiu fazer um arranhão na cabeça do monstro, em vez disso, sua lâmina sofreu um recuo elástico, como se tivesse batido em algo mais resistente que ela. 

    Que dureza—!

    Aquele golpe deveria tê-la rasgado de cima para baixo como uma cortina. 

    Ele percebeu que não conseguiria cortá-la tão facilmente. Porém, o recuo foi tão forte que ele não podia se recompor estando em queda livre, e a serpente se preparou para atacar. 

    “Gunner!!”

    Os demais se moveram para ajudá-lo, mas seria tarde demais quando pudessem fazer algo. 

    Shhhh! 

    A cauda da serpente rasgou o ar como um tiro e perfurou o abdômen de Gunner, fazendo-o cuspir sangue. 

    “Gah—!”

    Ainda não tinha acabado. Em seguida, o monstro abriu sua bocarra, exibindo suas presas escorrendo veneno, e se preparou para tragar a refeição que acabara de encontrar. 

    Merda…! 

    Se ele tivesse sido um pouco mais paciente, não estaria de frente com a morte. Até que alguém pudesse salvá-lo, ele já estaria no estômago do monstro. 

    Eu vou morrer aqui? Na frente de todo mundo?

    Parecia que sim. Todos os fatos convenciam-nos disso. 

    Entretanto…

    Zzzt—!

    Um raio azul disparou na frente de todos eles. E então a cabeça da serpente estava no chão, deixando seu sangue arroxeado escorrer pela neve. 

    Mayck voltou segurando Gunner e o deitou no chão, perto dos outros, que estavam atônitos. 

    “Você… o que foi que… Não, espera! Isso não é hora para isso!”

    Eles voltaram sua atenção ao outro garoto gravemente ferido. 

    Sora caiu de joelhos, segurando a camisa dele com força. 

    “Seu idiota! Quantas vezes eu tenho que falar pra você não agir dessa forma tão impulsiva?!”

    Sua voz ressoou pelos arredores, sendo mais fraca apenas que o uivo do vento. Seus olhos tremiam em um desespero visível. Afinal de contas, havia um buraco no peito de Gunner, e se não fosse tratado, ele morreria ali mesmo. 

    Tinha sangue por todos os lados e as mãos de Mayck também ficaram sujas. 

    “Nós… devíamos voltar pro acampamento—”

    “Idiota! Acha que vai dar tempo?!”

    Foi apenas uma sugestão, mas o garoto foi respondido com muita agressividade. Era compreensível, mas precisava disso?

    “Seu imbecil…”

    O clima estava tenso.

    Os olhos de Sora já estavam encharcados, suas lágrimas caíram sobre o rosto de Gunner, que não conseguia se mover ou sequer falar. Provavelmente, seus pulmões tinham sido destruídos, assim como o seu coração. 

    Ele já não tinha salvação, Mayck pensou. 

    Entretanto, os demais apenas olhavam em silêncio e o garoto ficava cada vez mais confuso. 

    Eles estão preocupados… né?

    Não era o que parecia. Seu companheiro estava se encaminhando para a morte e eles não se moviam? O que se passava na cabeça deles?

    O vento frio soprou fortemente sobre eles. Aos olhos de Mayck, as mãos de Sora projetaram uma luz azul celeste e se estendeu em um círculo por baixo de todos. 

    “!”

    A luz fluiu das mãos dela para o ferimento de Gunner e feixes como pequenos peixes ‘nadaram’ naquela luz, passando por toda a área afetada. Mayck podia ver claramente tecidos se formando no local onde os feixes passavam. 

    Assim que o brilho se dissipou, Gunner estava inteiro, como se não houvesse ferimento nenhum. O sangue ao redor também desapareceu. 

    O que aconteceu…?

    Parecia irreal. Aquilo era mesmo sério? Sora acabara de curar totalmente o Gunner, isso deveria ser considerado um milagre. Apesar disso, ninguém se alegrou; pelo contrário, seus rostos estavam sombrios e o silêncio persistiu até o próprio Gunner abrir a boca. 

    “Desculpa”, disse ele, num tom quase inaudível. 

    Ninguém respondeu, eles apenas levantaram. Sky ajudou Sora, que parecia ter ficado inconsciente. 

    “Vamos voltar.”

    Rider seguiu na frente enquanto os outros foram atrás dele. 

    Mayck, porém, estava perplexo. Ainda não estava acreditando e a cena se desdobrava em sua cabeça várias e várias vezes. 

    Um poder… capaz de curar?

    ****

    Eles voltaram rapidamente, mas quando avistaram o acampamento, viram que a situação não estava nada boa. 

    A serpente que enfrentaram não era a única. Havia duas, três… quatro delas e mais três derrubadas. Parecia que o capitão Takeda estava fazendo um bom trabalho em coordenar os demais portadores ali. 

    As explosões aconteciam com ondas de choque poderosas, que lançavam cortinas de neve em todas as direções e abriram crateras que deixaram o lugar irreconhecível. 

    Uma serpente caiu, outra se ergueu em seu lugar a atacou pelas costas. Os que estavam abaixo dela não conseguiriam evitar aquela cauda incrivelmente afiada. 

    Mayck se preparou para disparar um <Canhão Elétrico>, mas alguém fez algo primeiro. 

    Rider se atirou na frente deles, carregando uma espada longa, digna de um herói de fantasia, a qual estava imbuída com uma energia cintilante, enquanto Yoshiro preparava seu arco e carregava suas flechas com uma espécie de energia eólica. 

    Swish!

    Ele disparou. A flecha veloz cortou os flocos de neve e acertou em cheio no olho da serpente. Rider chegou logo atrás, como se tivesse feito um teleporte. Ele ergueu sua espada e então a fincou no pescoço da serpente, que já estava atordoada por conta da flecha. 

    Shhhhh!

    A serpente sibilou. Rider mudou a forma como segurava a espada e a puxou, fazendo um corte ainda maior no monstro, que caiu enquanto seu sangue jorrava como uma fonte gigante. 

    “Capitão!”

    Takeda olhou para os que acabaram de chegar e não hesitou em dar as ordens.

    “Vocês! Ajudem os que se feriram e dêem apoio. Não sabemos quantas mais podem aparecer.”

    “Sim, senhor!”

    A equipe Beta não se conteve. Mayck também decidiu apenas seguir o que lhe fora mandado e atravessou o campo, tentando resgatar o maior número de pessoas que podia. Ele manejava sua espada, cortando pedregulhos que vinha daqui e dali. 

    Os que estavam lutando eram fortes. Muito fortes. O problema era que as serpentes tinham escamas muito duras e ataques comuns não pareciam fazer efeito — na realidade, nem mesmo os ataques mais destrutivos estavam sendo úteis.

    Mas Mayck havia conseguido derrotar uma tão facilmente e a resposta para isso era simples, dava pra ver de longe. 

    Além disso, uma nevasca começou a ganhar força. 

    Alguns portadores se dispuseram a segurar os monstros enquanto os feridos saíam de cena. Mas, naquele ritmo, acabariam sendo devorados.

    Eu não queria chamar essa atenção toda, pensou Mayck. 

    O ponto fraco das serpentes era bem simples. Bastava aplicar bastante força e atacar os espaços entre as escamas, algo que o garoto percebeu quando derrubou a primeira. Porém, explicar isso para todo mundo, principalmente quando estavam tão acelerados, seria trabalhoso. 

    “Procure um lugar perto dos outros”, ele instruiu um colega que tinha machucado a perna direita, enquanto o colocava numa área mais segura.

    “Valeu cara…”

    Mayck voltou seus olhos para as serpentes, depois procurou a equipe Beta; eles estavam dando apoio aos demais. Àquela altura, pareciam estar ganhando vantagem sobre elas. 

    Seus olhos acabaram recaindo sobre Sky, que manejava uma adaga com uma lâmina incomum, como se fosse mestre nisso. Ela era tão habilidosa quanto Haruki. 

    Eles realmente não são fracos, mas… 

    As serpentes estavam tão bem coordenadas que sequer pareciam monstros que apareceram aleatoriamente. Era como se algo as tivesse ordenado a eliminar os intrusos. 

    Mayck empunhou sua lâmina e arrancou contra a serpente. Ela tentou usar a ponta de sua cauda para atacar, mas sua ofensiva foi impedida sem muitos problemas, embora Mayck tenha sentido a força esmagadora que ela possuía. 

    “M-san!”

    “Ataquem entre as escamas. Vocês vão ter mais sucesso lá. E também tomem cuidado com a ponta da cauda”, ele instruiu. 

    Os demais assentiram. Eles não pensaram muito sobre a fonte da informação, mas aceitaram-na sem poréns, visto que Mayck eliminou uma delas em questão de segundos. 

    Mas enquanto aumentavam sua confiança, a serpente que Rider derrubou ao chegar se ergueu novamente. O corte na base do pescoço havia desaparecido.

    Ela se regenerou?

    Agora estavam novamente rodeados por quatro delas. 

    “Ah! Que merda!”, gritou Gunner, claramente cansado da luta. Ele ainda não tinha recuperado sua energia do ataque anterior. 

    “Segurem firme! Temos alguns minutos até uma tempestade de neve. Vamos usar ela para sair”, disse o capitão Takeda. 

    Não adiantava se esconder, pois as serpentes possuíam sensores térmicos. A chance que Takeda estava esperando era que com a força da tempestade, eles pudessem recuar para o mais longe possível com os corpos temporariamente resfriados. 

    Em outras palavras, bastava segurar as serpentes mais um pouco até que isso acontecesse, porém…

    Shhhhhh!

    Uma serpente abriu a bocarra e disparou uma luz. Mayck e os outros evitaram, mas apareceu uma grotesca escultura de gelo onde eles estavam. 

    “É sério?!”

    Uma arma secreta. Assim como uma fez, as outras copiaram e dispararam um poderoso raio congelante contra as pessoas que estavam no centro. Era rápido demais para eles efetuarem um contra ataque. 

    Droga!

    Mayck viu que era inevitável. Se fossem atingidos, morreriam quase instantaneamente devido à baixa temperatura que devia ser equiparável ao zero absoluto. 

    O garoto estalou a língua. Quatro <Canhões Elétricos> surgiram acima deles e confrontaram os raios congelantes, que despencaram do alto, gélidos e afiados. 

    Eles rasgaram o ar em um uivo cortante e colidiram com os feixes de energia crepitante como trovões furiosos. O impacto gerou uma explosão brutal de energia e gelo, lançando faíscas e fragmentos congelados para todos os lados. 

    Mesmo assim, os raios congelantes ganharam vantagem e os círculos azuis foram destruídos.

    Mayck sabia que isso poderia acontecer. Ele não poderia manter quatro canhões daquela potência por mais de três segundos, então era basicamente uma batalha de tempo. 

    Foi por isso que, ao ativar a habilidade, ele correu e tirou todo mundo da área de impacto. 

    E agora só restava uma cratera enorme com uma gigantesca escultura de gelo no centro das serpentes.

    Assim que elas perceberam a fuga, prepararam outro ataque. 

    “Elas estão vindo!”

    Mayck já não poderia fazer nada dessa vez. Usar <Celeritas> já tinha acabado com mais de cinquenta por cento de sua energia, então ele estava exausto. 

    Ele deveria ter usado outro método, então. Mas o problema dos canhões não era só o tempo. A potência também era essencial. Em um ambiente vantajoso para os raios congelantes, o frio extremo causou uma redução na condutividade elétrica. Além disso, ela impediu a ionização completa do ar. 

    E pensar que eu tenho um ponto fraco desses… Que besteira. 

    Eles se prepararam para receber o novo ataque, porém, Takeda elevou sua voz. 

    “Vocês já ganharam tempo suficiente! Fiquem todos abaixados e evitem se mover!”

    Quando ele disse isso, ninguém questionou, apenas fizeram. 

    Então, segundos depois, foram engolidos por uma ventania sobrenatural e violenta, que carregava uma imensa muralha de neve. O mundo parecia ter sido coberto por um cobertor branco, enquanto o vento uivava furioso. 

    Nem mesmo as serpentes puderam lutar contra aquela tempestade que caiu do céu como uma punição divina. 

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 0% (0 votos)

    Nota