Capítulo 949: Rostos no Escuro

Shang não fazia ideia de onde estava ou do que era.

Uma escuridão eterna o envolvia.

A escuridão infiltrava-se em seu corpo e causava uma dor inimaginável.

As sombras distorcidas e em constante movimento ao redor de Shang continuavam entrando e saindo de seu corpo. Era quase como se Shang não fosse corpóreo.

Rostos surgiam na escuridão.

Sorrisos, lágrimas, ódio, amor, e todas as emoções concebíveis estampavam suas faces.

Eles gritavam e riam.

Milhões de rostos gritavam e riam enquanto passavam através do corpo de Shang, dilacerando-o.

Shang estava em uma dor inimaginável.

Nunca havia sido tão ruim antes.

Uma eternidade passou.

Shang ainda não sabia o que era.

Ele era um desses rostos?

Ele fazia parte da escuridão?

Shang tentou muitas vezes escapar, mas a escuridão ao seu redor era eterna e onipresente.

O motivo pelo qual ele não conseguia escapar era porque fazia parte da escuridão?

Mas ele não queria ser parte da escuridão.

Doía.

Doía tanto.

Era horrível.

Ele tinha que sair dali.

Ele precisava fugir!

Mas era impossível.

Dor e sofrimento estavam em toda parte, e não importava o que fizesse, era impossível escapar.

Isso só pararia quando ele deixasse de existir.

No entanto, assim que Shang teve esse pensamento, algo dentro dele se revoltou violentamente.

Mas doía tanto!

Ele só queria que acabasse!

Não!

Ele não podia deixar que acabasse!

Mas era insuportável!

O conflito interno era eterno.

Shang não sabia por que existia ou o que era, mas se recusava a deixar de existir, mesmo que sua existência fosse apenas dor e nada mais.

Ele tinha que continuar existindo!

Uma eternidade passou.

Nada mudou.

Há quanto tempo ele estava ali?

Ele não sabia.

Desde que começara a existir, estava nessa escuridão eterna.

Isso era vida?

O que era vida?

Shang não sabia por que, de repente, havia pensado em um conceito chamado vida.

De onde isso veio?

Shang não sabia se estava vivo.

Ele estava consciente?

Nesse momento, Shang se lembrou de algo que veio das profundezas de sua memória.

Algo em que não pensava há milhares de anos.

“Penso, logo existo.”

Uma citação.

Shang não sabia de onde vinha essa citação, mas, por algum motivo, sentiu-se mais seguro em sua existência.

Ele podia pensar, o que significava que estava consciente.

A existência de Shang era tão vaga e instável que ele sequer tinha certeza se existia ou não, mas agora, ele sabia que realmente existia.

Ele não sabia o que era ou por que era, mas sabia que era.

Os rostos na escuridão continuavam a rasgá-lo e a atravessá-lo.

A dor era constante.

Era horrível.

Sempre tinha sido horrível.

Nunca deixara de ser horrível.

Mas por que era horrível?

Shang não sabia.

Ele apenas sabia que era horrível.

Algo dentro dele dizia que sentir dor era ruim.

No entanto, sem uma referência, esse sentimento parecia sem sentido.

Sentir dor realmente era ruim?

O que havia de tão ruim em sentir dor?

O que aconteceria se ele sentisse dor demais?

Ele deixaria de existir?

Shang se lembrou de que já tinha considerado deixar de existir por causa da dor.

Então, a dor estava realmente influenciando seus pensamentos e os direcionando para a morte.

Morte.

De onde isso veio?

Primeiro, Shang pensou de repente em um conceito chamado vida, e agora, de repente, pensava em um conceito chamado morte.

Morte…

Dor…

A dor estava convencendo alguém a morrer.

Pelo menos, era a única conclusão a que Shang conseguia chegar no momento.

Os rostos na escuridão queriam convencê-lo a morrer.

O que aconteceria quando ele morresse?

Ele se tornaria um dos rostos?

Ao olhar para os rostos, Shang conseguia sentir todas as emoções diferentes emanando deles.

No entanto, havia algo que todos compartilhavam.

Indignação.

Frustração.

Recusa.

Os rostos sorridentes estavam felizes por poder causar dor a alguém, pois isso tornava mais fácil lidar com sua própria frustração e indignação.

Os rostos furiosos queriam compartilhar seu ódio com os outros.

Os rostos tristes apenas atacavam porque se sentiam horríveis.

Todos os rostos odiavam Shang, mas demonstravam isso de maneiras diferentes.

Eram todos indivíduos.

Nenhum rosto era igual ao outro, e todos eram distintos em aparência e personalidade.

E ainda assim, todos compartilhavam o mesmo objetivo.

Forçar Shang a se juntar a eles.

Era injusto que estivessem mortos enquanto ele estava vivo!

Era injusto que eles não pudessem fazer mais nada enquanto Shang ainda tinha seu próprio destino em suas mãos!

Por que eles tinham que morrer?!

Por que ele não poderia ter morrido no lugar deles?!

Ele não merecia estar vivo!

Eles odiavam Shang porque ele estava vivo.

Aos poucos, Shang começou a entender essas coisas e, conforme entendia, a dor se tornava mais fácil de suportar.

Shang ainda sentia a dor. Na verdade, sua intensidade não diminuíra nem um pouco.

Mas algo havia mudado.

Shang ficou com raiva.

Assim como eles, ele ficou frustrado e indignado.

“E daí?! Vocês estão mortos, e por isso querem me matar?! Acham que eu sinto pena de vocês?!”

“Vocês morreram, e mereceram morrer!”

“Vocês eram fracos!”

“Fraqueza é um pecado!”

“E eu me recuso a obedecer a um bando de fracotes que nem sequer conseguiram se proteger!”

Muitas vezes, saber que alguém estava tentando provocar sua raiva tornava mais fácil manter a calma.

— Eles querem que eu fique com raiva. Ficar com raiva é fazer o que eles querem.

Era assim que as emoções funcionavam na maioria das vezes.

Para Shang, algo semelhante estava acontecendo.

Ele sabia o que os rostos queriam e por que queriam.

Morrer significava apenas cumprir os desejos deles.

Por isso, a mente de Shang se fortaleceu, e ele se recusou a desistir e morrer.

De repente, algo parecido com um braço disparou em direção a um dos rostos e o agarrou.

O braço puxou para trás e levou o rosto escuro até a boca aberta de Shang.

CRKSH!