Capítulo 2: Passado (3)
Isabella estava sentada no sofá. Com as sobrancelhas franzidas e o olhar desfocado, ela expressava sua reflexão. Respirou fundo, tentando expelir a raiva que a envolvia.
“Quase me descontrolei hoje… Ainda tenho muito o que aprender.”
Um suor quente escorreu do seu rosto, caindo suavemente em seus dedos. Um calor desconfortável a envolveu, acompanhado de um aumento incomum do ritmo do seu coração.
“Que calor… Talvez um banho frio me ajude.”
Suspirou, levantando-se do sofá e caminhando em passos pesados até o seu quarto. Pequenas cicatrizes marcavam suas pernas; suas coxas eram tão definidas que beiravam à perfeição marcial.
Entrou em seu quarto, fechando a porta ligeiramente em seguida. Com os olhos fechados, ergueu o olhar para o teto, respirando fundo enquanto tocava seu abdômen.
Encostou as costas na porta. Gritos desesperados surgiram em sua mente, como uma canção infernal: alguns clamavam por misericórdia, enquanto outros gritavam negações.
“Passe o tempo que for, eu não consigo esquecer…”
Respirou profundamente e abriu os olhos. Eles estavam mortiços, semiabertos, sussurrando traumas. Baixou a cabeça e enxugou as lágrimas, enquanto se dirigia ao seu guarda-roupa.
Ela o abriu. Havia apenas roupas simples, com poucas cores. Agarrou uma peça vermelha e a jogou na cama sem muita atenção em seguida.
Paralisou-se por um momento, fixando o olhar no vazio. Uma brisa fria começou a abraçá-la gentilmente, trazendo-a de volta para o momento presente.
“Deixa pra lá. Como diria meu mestre: o passado é um livro que não vale a pena ler.”
Começou a retirar sua blusa. Seu abdômen era definido; gominhas bem formadas protegiam aquele local como um castelo imponente, quase impossível de ser machucado.
Antebraço, tríceps, bíceps, dorsal… Tudo era firme e definido, como se deuses tivessem esculpido e forjado aquele corpo pessoalmente, mas apenas uma coisa se destacava com estranheza: cicatrizes.
As cicatrizes eram tão presentes que era preferível acreditar que se tratavam de um tipo de maquiagem. Algumas eram superficiais, mas outras lembravam cortes profundos, quase como se a pele tivesse sido arrancada daquela região.
“Só trocar de camisa já deve resolver.”
Aproximou-se da cama, tocando suas cicatrizes enquanto observava fixamente aquela peça vermelha desajeitada, perdendo-se em breves desvaneios.
Assim que a pegou, vestiu-a gentilmente e caminhou para a porta, em passos mais tranquilos e suaves. Ao abri-la, seu marido estava lá, sorrindo gentilmente para ela.
Isabella, ao olhar mais atentamente, notou-o segurando um prato com um pequeno hambúrguer caseiro, enquanto a outra mão segurava um copo de chocolate quente.
— Fiz pra você!
Ela ficou confusa por um momento, processando a gentileza que recebia. Lágrimas involuntárias escorreram do seu rosto enquanto um gentil sorriso se formava em seus lábios.
— Obrigada…
Ela moveu os dedos aos olhos, tentando enxugá-los, mas as lágrimas não cessavam. Seu esposo tocou gentilmente sua testa com a dele, acalmando-a pouco a pouco com carinho.
— Tá tudo bem, amor, não precisa se preocupar com nada.
Conseguiu, gradualmente, estabilizar-se, controlando a respiração para se acalmar melhor. Enxugou as lágrimas e fitou os olhos do seu amado.
— Obrigada, amor. Te amo.
Beijou-o, pegou a comida oferecida e, caminhando para o sofá, sentiu que os traumas do passado eram, por um breve instante, esquecidos graças à alegria do presente.
Ônix estava fora, em frente ao seu portão fechado, fitando o céu noturno por um breve período, mas não o suficiente para se perder em desvaneios.
— E aí!
Uma voz ecoou, vinda da direita, não muito distante dele. Ao olhar, viu Waraioni aproximar-se sorridente, acenando para ele, enquanto Saito caminhava ao seu lado com as mãos no bolso.
Ônix sorriu, acenando de volta e caminhando até eles. Notou que Waraioni estava um pouco mais solto do que antes, como se um peso tivesse sido aliviado dele. Percebendo esse pequeno detalhe, perguntou:
— Que que deu contigo? Tô sentindo que tu parece mais leve.
Waraioni o observou, confuso por um momento, tentando recordar algo recente. Um sorriso espontâneo surgiu assim que ele se lembrou.
— Ah! É porque eu comi muito, aí eu fui direto pro banheiro quando cheguei em casa.
Ônix observou-o por um momento, soltando um “Ah… Tá explicado…” em seguida. Saito riu discretamente, achando graça da reação de Ônix.
São amigos fiéis. Saito e Waraioni eram tão próximos de Ônix que o consideravam um irmão. Ironicamente, suas origens sombrias e desconfortáveis apenas tornavam esse laço ainda mais significativo.
Não demorou muito para chegarem à escola. Ela possuía uma aparência tão imponente quanto uma construção medieval, assemelhando-se a um castelo, embora com poucos ajustes modernos.
Seu exterior era completamente escuro, destacando-se especialmente à noite; no topo, uma enorme placa exibia a palavra “Elite”. Essa era a escola de que Ônix fazia parte. Embora sua aparência sugira uma escola particular, ela era, na verdade, pública.
Sua qualidade era excepcional, mas ela permanecia pública. Não havia muitos alunos por lá, pois poucos conseguiam aguentar por muito tempo.
Havia apenas do primeiro ao terceiro ano do ensino médio. Dependendo da força do estudante, eles eram classificados da “Classe F” à “Classe A”.
Sim, força, não inteligência. O ensino baseado nas matérias nessa escola era algo secundário. Ônix, Celeste, Saito e Waraioni estavam na classe de nível mais alto.
Passaram-se cinco horas. O sinal ecoou pela escola, como uma sirene de guerra, e cessou seu barulho pouco depois, deixando o silêncio predominar no lugar.
Ônix parou de escrever e fitou seu professor, que os observava em silêncio. Ele tinha a altura necessária para ser considerado alto; seu corpo era definido, forjado por longos períodos de treinos marciais e na academia.
Um terno preto, repleto de elegância, abraçava seu corpo. Seu rosto era limpo e liso, sem barba, e seus olhos, escuros, eram destacados por uma pequena pinta logo abaixo. Cabelos dourados tornavam-no ainda mais imponente.
Ele usava óculos redondos e elegantes, os quais ajustava enquanto pousava gentilmente o giz no apoio do quadro. Sua voz, grave e imponente, ecoou com facilidade:
— Muito bem, podem ir para casa. Como hoje é aniversário de um dos estudantes presentes, não haverá tarefa de casa. Dispensados.
Todos os alunos levantaram-se, guardando seus materiais e arrumando as cadeiras sobre as mesas para facilitar o trabalho das faxineiras.
Nessa escola, o respeito pelo mais forte é uma norma seguida por quase todos. Assim, os alunos da sala 3º A sempre esperam que Ônix se retire primeiro para, só então, irem embora.
Ônix caminhava em passos leves. Um singelo sorriso surgiu em seus lábios enquanto ele pensava: “Que professor bondoso”, quase rindo.
O professor observava Ônix caminhar, com um sorriso gentil e discreto estampado no rosto, enquanto ele fingia arrumar os óculos para disfarçar seu agrado.
Ônix andava pelo corredor, sentindo seus chinelos afundarem no macio tapete vermelho que ali se estendia. Passos apressados e pesados aproximavam-se por trás dele.
— Irru!
Um tapa preciso atingiu suas costas, mas não era hostil, era amigável. Foi seu amigo Jonas quem o fez. Ônix o conheceu na escola, em um evento, digamos, bastante peculiar.
Jonas tinha o cabelo crespo e curto, pele parda e olhos cinzas, tão brilhantes quanto a cor prateada. Não era muito alto, mas compensava isso com músculos bem definidos.
— Foi mal, zé. Queria ir no seu aniversário, mas minha mãe não me deixou ir por ser muito longe.
O rosto de Jonas começou a franzir; lágrimas falsas inundaram seus olhos enquanto ele se ajoelhava, juntando as mãos como quem reza.
— Eu estava assim no chão, ajoelhado, implorando para minha mãe: “PUFAVO! MI DEIXA Í! PROMETO QUE LIMPO A CASA DURANTE UMA SEMANA!”
Levantou-se, franzindo a sobrancelha e simulando raiva em seu tom e olhar. As “lágrimas” desapareceram logo depois, como se ele as controlasse. Apontou o dedo para o nada, simulando julgamento:
— Mas, ela respondeu: “NAUN! NAUN VAI! É MUITU LONGI! SE RETRUCAR, LHE DÔ UMA PISA! VAGABUNDO! IMUNDO!”
Suspirou profundamente, balançando a cabeça em negação, enquanto os lábios se contraíam em raiva. Pensava consigo: “O tanto de bolo que eu devo ter perdido…” enquanto disse:
— Aí eu tive que ficar em casa, infelizmente.
Ônix absorveu todo esse teatro com atenção, tentando segurar os poucos risos que surgiam, mas não conseguiu se conter. As palavras misturavam-se com as risadas:
— Deixa de ser dramático!
Jonas emburreceu-se em seguida. Fumaças pareciam sair de seu nariz enquanto ele bufava, pensando: “Ele acha que eu tô mentindo?!” enquanto torcia os lábios.
— Tô falando sério, rapaz! Quase me humilhei pra conseguir ir.
Ônix tampou os lábios, cessando os risos pouco a pouco. Respondeu: “Tá bom, tá bom…” enquanto respirava profundamente, seguindo pelo tapete.
Logo atrás deles, passos suaves se aproximavam em conjunto. Eram Saito e Waraioni. Waraioni apoiou o braço sobre o pescoço de Ônix, dizendo:
— Essa aula de matemática foi tranquila, né? Esse triângulo retângulo de não sei o quê parece ser mais de boa do que eu pensei.
Ônix riu ligeiramente, respondendo: “Pois é, né?” enquanto continuava a andar. Saito olhava para Jonas com um olhar desfocado, pensando: “E se…”
Pouco depois, seu rosto passou de neutro para um sorriso malicioso. Os olhos se apertaram, sussurrando suas maldades. Disse logo em seguida:
— Ei, Jonas…
Jonas virou-se para observá-lo. Saito levantou a camisa suavemente, tocando o próprio abdômen e movendo a mão em círculos suavemente.
— Eu comi muito bolo, viu? MUITO bolo…
Jonas arregalou os olhos por um instante. O rosto acompanhou sua surpresa, e ele murmurou: “Cê não vai fazer isso…” enquanto Saito assentia com o rosto.
Saito levou as mãos aos lábios, movendo os dedos como se estivesse apreciando uma fragrância esculpida apenas para os deuses experimentarem.
— Era macio como algodão… O chocolate derretia pela fatia igual mel na panqueca… Beeem gostosinho…
A boca de Jonas se encheu de saliva. Até as salivas pareciam pensar: “Panqueca no mel…?”, dançando agitadas em sua língua como ondas no oceano.
— Eu até pensei: “Bem que eu podia pedir um pote pra tia Isabella e levar uma fatia pro Jonas…”, mas peguei tudo pra mim e comi TUDO!
Saito fechou os punhos no final da frase, dando ênfase à sua tamanha falta de amor ao próximo. Ônix ficou boquiaberto, levando a mão ao peito, pensando: “Traidor…”
— E digo MAIS: não me arrependo. Tava derretendo na boca igual paçoca. Se eu pudesse, faria tudo de novo.
Jonas não podia acreditar. Como seu mais fiel aliado o traiu de forma tão desonrosa? Nem um pedacinho?! Quanta covardia. Até eu, que estou escrevendo isso, me senti ofendido.
Jonas torceu os lábios, olhando para o chão enquanto tentava conter as lágrimas que podiam cair a qualquer momento. Com a voz trêmula, disse:
— Fala comigo mais não, demorô…? Finge que nem me conhece, seu traidor imundo…
Poucos risos escaparam de Saito, que apertou os olhos em satisfação. Esse ritmo confortável e traiçoeiro permaneceu até eles chegarem ao portão da escola.
Se despediram no portão, cada um seguindo em direção à sua casa. Esse foi o último contato que Ônix teve com Jonas nessa vida passageira.
Ônix caminhava com o olhar voltado para baixo. Seus olhos desfocaram-se; sua mente encheu-se dos bons momentos passados em casa e na escola.
“Hoje aconteceu tanta coisa… Piz, aniversário, comida, risos, meu pai me zoando, o Jonas fazendo drama, meu colar… Hoje foi meu melhor dia.”
Um sorriso involuntário escapou de seus lábios, brilhando tanto quanto seus olhos. De repente, um arrepio percorreu sua espinha, fazendo-o levantar o olhar.
Lá estava ele: Carlos, fantasiado de palhaço. Sua tentativa de amedrontá-lo não foi tão eficaz por conta de sua aparência. Entre um barril fantasiado e Carlos, não havia muita diferença.
Ônix observava-o, inclinando os olhos, pensando: “De onde que eu já vi esse formato…” enquanto o palhaço, tentando parecer assustador, o encarava.
— Ei, criança… Um passarinho me contou que sua mãe anda devendo… O palhaço agora quer brincar de agiota~
Os olhos de Ônix alternavam entre o arregalar de surpresa e o desapontamento, por ser óbvio demais. Quase rindo no processo, pensou:
“Ah… É o Carlos.”
Carlos murmurava: “Ehehehehehe…” enquanto balançava os braços de um lado para o outro. Em seguida, começou a andar em passos lentos em direção a Ônix.
Por sua vez, Ônix procurava a melhor maneira de escapar daquela situação. Recordou-se de sua mãe agindo com elegância, dominando a situação num nível elevado.
Enquanto refletia, também rememorava os olhos decepcionados dela ao ver sua forma rude de se expressar, murchando seu coração de arrependimento.
“Nunca mais quero decepcioná-la… Vou agir direitinho dessa vez.”
Ele estendeu a palma aberta para a frente, sinalizando para que Carlos parasse de andar. Este cessou os passos por um momento, prestando atenção ao que o garoto queria.
— Por favor, me deixe ir para casa. Não quero confusão com você. Se o que eu disse te ofendeu, peço perdão.
Carlos surpreendeu-se, pensando: “Ué… o moleque se arrependeu?”, mas seu ego, inquietante como uma sirene que se aproxima, permaneceu inflado.
Seu coração formigava, alertando-o a deixar para lá. Sua alma puxava-o para trás, tentando fazê-lo recuar, mas ele encontrava-se consumido pelo orgulho.
Ergueu o rosto, apertando os lábios enquanto a testa franzia em reprovação. Pôs força em seu dedo indicador e, lentamente, apontou-o para baixo.
— Ajoelha e enterra a testa no chão. Só depois é que pensarei se te perdoo.
Ônix congelou por um momento. Ele não se importaria de fazê-lo, mas a arrogância com que Carlos insistira atingiu seu ego por um instante.
“Como é…?”
Um impasse interno surgiu. Ao mesmo tempo em que os olhos reprovadores de sua mãe iluminavam sua mente num tom ciano, seu ego apertava seu pescoço pela primeira vez.
Suspirou fundo, olhando para o chão de barro enquanto cerrava os punhos. Pensou: “Desculpa, mãe…” enquanto suas pernas, pouco a pouco, começaram a se mover.
Seu joelho esquerdo tocou o solo e, logo em seguida, o direito também o fez. Apoiou a testa no chão, firmando-a enquanto pensava: “… Eu quase falhei de novo.”
O arregalar de olhos surgiu em Carlos, junto com os lábios trêmulos. O alerta fortificou-se em seu coração, mas ele continuou a andar.
Ônix levantou-se, limpando a terra que havia em sua testa. Olhou para Carlos, que agora se encontrava diante dele, encarando-o irritado.
Ignorando todos os seus instintos, Carlos moveu o braço direito para trás e gritou: “Quem disse que você podia levantar?!”, lançando o punho contra o rosto de Ônix.
Ônix suspirou e olhou para baixo por um breve momento. Murmurou: “Eu tentei…” enquanto movia o pescoço para o lado, executando uma esquiva perfeita.
Quando percebeu, Carlos já não sentia mais os pés tocando o chão. Seu mundo girava, abandonando-o na escuridão de pouco a pouco.
Em um único instante, Ônix contra-atacou o golpe, fazendo-o girar algumas vezes no chão até cair de peito, com os olhos apagados.
Pôs a mão no bolso e retomou sua caminhada. Seus olhos, ainda caídos, estavam preocupados com a possibilidade de sua legítima defesa decepcioná-la.
“Espero que ela me perdoe… Vou tentar contar quando eu chegar.”
Os olhos permaneceram desfocados durante toda a caminhada, até que ele, enfim, chegou ao portão de sua casa e entrou, com o coração preocupado com a reação de sua mãe.
Carlos sentia seu corpo flutuar enquanto não enxergava nada, como se estivesse afundando em um abismo sem fim de escuridão e abandono.
Não ouvia nada, mas, aos poucos, o som de grilos começou a ecoar em sua mente. A suave luz de um poste amaciava seus olhos e, em instantes, ele despertou.
— Eita… O que houve?
Pôs a mão na mandíbula, sentindo-a estalar, enquanto tocava a máscara, que estava desajeitadamente encaixada em seu rosto enquanto ele tentava levantar, mas falhou.
— Ah, é… Eu me fantasiei e fui atrás do moleque…
Sua visão, ainda embaçada, voltava gradualmente. Olhou de um lado para o outro, como se procurasse Ônix, que já havia partido há muito tempo.
— Espera… Eu perdi?
Carlos suspirou profundamente, sentindo uma dor de cabeça repentina. Cerrou os punhos e bateu-os contra o chão em reprovação.
— Inferno… Eu nunca fui tão humilhado duas vezes no mesmo dia…
Mordeu os lábios em raiva, frustrado com seu fracasso. Levantou-se, apoiando-se no chão, cambaleando em direção a sua casa enquanto pensava:
“Isso não vai ficar assim…”
Seus passos eram curtos e pesados, mas sua soberba o impulsionava para frente, como se o levasse para a morte em passadas largas e leves, ainda mais rápidas do que as de um guepardo.
Chegou à sua moradia muito depois. Suor escorria do seu rosto enquanto sua visão ficava cada vez mais turva, e seus suspiros ecoavam por toda a casa.
— Onde está… Preciso ver quanto eu tenho guardado…
A instabilidade dos seus passos o fez colidir com os móveis, derrubando alguns objetos decorativos. Pouco depois, um brilho ligeiramente ciano chamou sua atenção.
Lá estava o celular, ligado sobre a mesa e se destacando sutilmente. Carlos caminhou até lá em passos largos, pegou-o com pressa e abriu, em seguida, o aplicativo do banco.
Após algum tempo, o aplicativo carregou e mostrou o total disponível: 25 mil. Isso o aliviou, fazendo-o suspirar e largar o celular desajeitadamente.
— Deve ser o suficiente…
Seus passos apressados o levaram para o quarto logo em seguida. Lá, pegou algumas roupas normais e uma toalha, e foi para o banheiro.
Após o banho, retornou ao quarto, deitou-se na cama e desmaiou ali mesmo. Sua vingança entraria em vigor no dia seguinte; seu maior erro, tanto nesta vida quanto na outra.
Acordou ao som suave dos passos que lhe desejavam um bom dia. Levantou-se, estagnado na beirada da cama por alguns segundos.
Seus olhos desfocados refletiam indecisão, questionando se realmente era a melhor opção, mas seu ego não o permitia recuar. Que erro.
Perambulou pela casa, procurando os galões de gasolina que havia guardado em outro dia. Encontrou-os, acompanhados de fósforos e um isqueiro.
— Tudo acaba hoje.
Saiu de casa, caminhando em passos lentos até seu carro. O coração e a alma ainda o puniam, questionando suas ações, mas nada adiantou.
Entrou no automóvel e dirigiu com os olhos secos, que ficavam cada vez mais turvos a cada segundo dessa viagem rumo ao desastre. Chegou ao posto de gasolina, pagou para encher seus dois galões e retomou a viagem, agora em direção a uma favela próxima.
Estacionou cuidadosamente, tentando parecer o mais inofensivo possível, mas, obviamente, isso não funcionou nem de longe. Duas pessoas se aproximaram do carro: uma com uma Glock na cintura, enquanto o outro já a manuseava desajeitadamente em sua mão.
Eles bateram duas vezes no vidro de Carlos, apontando a arma para ele. Carlos suou frio, arrependendo-se de sua escolha na mesma hora, mas não teve outra opção senão obedecer.
Os aspirantes a bandidos o encaravam com fervor nos olhos; os dentes cerrados quase saltavam para fora enquanto tentavam parecer perigosos.
— Quem é tu? É mandado? É nois ou é a gente?
Carlos levantou as mãos, evitando contato visual. Seu corpo paralisou; sua garganta parecia travada como um computador antigo, mas seus instintos o fizeram falar:
— Eu só vim aqui pra comprar uma arma… Tenho vinte e cinco mil pra negociar.
Os olhos dos “bandidos” brilharam imediatamente, como se dissessem “vinte e cinco mil?”, enquanto as mãos se abaixavam, cheias de mansidão e desejo pelo dinheiro.
Um deles pegou a arma e a ofereceu como moeda de troca para Carlos. Ele aceitou, perguntando sobre o Pix e, surpreendentemente, disseram que a chave era o CPF.
Infelizmente, Carlos conseguiu comprar essa arma e sair dali em segurança, retornando para sua casa. O palco para o desastre final já estava montado.
Próximo capítulo: Passado (Final)
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.