Capítulo 5: Tutorial (Waraioni)
Um solo gélido, marcante como caminhar sobre gramas, mas limpo como um concreto prateado recém-formado. A ausência de luz permitiu a dominância das sombras.
Waraioni encontrava-se no meio desse abismo, sem nada para se guiar, nem sequer o som de sua própria respiração. Até então, a escuridão continuava a dominar.
Ba-dump… Ba-dump…
Um coração começou a pulsar, ecoando suas batidas por todo aquele local. O som era vívido e próximo, como se sussurrasse diretamente nos ouvidos.
Partículas em tom ciano surgiam pouco a pouco, acompanhando suas fortes pulsações e aumentando gradativamente, respeitando a lenta velocidade do tempo.
Waraioni observou o evento com certa admiração. Em que momento isso aconteceria na vida real? Das trevas, surgiria o ciano? Provavelmente, nunca aconteceria.
“Que bonito…”
Eles se juntaram pouco a pouco. Nesse processo, um pouco de ar vazava como um sussurro por seu corpo, de forma consideravelmente forte, mas confortável.
Finalmente, ele tomou forma. Aquele mesmo sistema em tom ciano surgiu, com seu nome prateado no topo de sua interface, deixando sua forma ainda mais divina.
Apitos agudos começaram a ecoar daquele sistema em um ritmo preciso. Letras tão prateadas quanto seu nome surgiam juntamente com esse som, comunicando-se consigo mesmo:
S1 Minimizado
Carregamento concluído. Devo elaborar o tutorial conforme o poder do jogador atualmente presente. Buscando jogador… Encontrado. Devo personalizar o tutorial levando em consideração seu crescimento futuro.
Que curioso… Um sistema sem personalidade, informando a si mesmo o que deve fazer. O quão mais fundo e curioso esse mundo consegue ser? Uma curiosidade peculiar nasceu no coração de Waraioni.
S1 Minimizado
O tutorial foi devidamente elaborado. Preciso conversar com o jogador de forma pacífica e gentil, respondendo suas indagações antes de dar início ao tutorial.
O apito cessou sua presença, levando consigo as letras que se encontravam na interface do sistema. Começou a virar areia abruptamente, deixando-se levar pelo ar.
Waraioni arregalou um pouco os olhos. Para onde ele foi? Foi apagado por algo? Inesperadamente, a resposta estava logo atrás dele, aguardando pacientemente para ser notada.
Um arrepio percorreu sua espinha. Algo gelado sussurrou em suas costas, fazendo-o virar no mesmo instante, notando aquele mesmo sistema observando-o de forma estática.
Assustador. Diferente de antes, agora havia olhos em sua interface, tão prateados quanto a pupila de um cego. Sua boca trazia dentes afiados que moldavam sua aparência constantemente.
O sistema o observava, paralisado, ajustando sua pupila pouco a pouco, como se o jogador à sua frente fosse um coelho observando um rei leão.
Waraioni não pôde fazer nada. Seus instintos aguçados gritavam em seus ouvidos para que ele não se mexesse. Um suor frio nasceu em sua testa, escorrendo pacientemente.
O sistema finalmente moldou seus lábios, erguendo um bizarro sorriso ao tentar parecer carismático. Seu olhar ainda era esquisito, prateado como o ouro, como se não tivesse vida.
S1 Minimizado
Olá, jogador~
Sua voz era sem vida, mas num tom normal, banhado em coral. Ecoou por todas as direções, com um calor aconchegante, como se tivesse uma presença humana.
Começou a se deixar levar pelo vento, iniciando um estranho giro no ar, vazando suas partículas cianas. Cessou seu movimento abruptamente, vazando brilhos brancos de seu sorriso enquanto dizia:
S1 Minimizado
Eu sou o sistema!~
Waraioni observou aquilo com estranheza. Algo que, até agora a pouco, parecia querer matá-lo, agora agia de forma boba e, de certa forma, até fofa.
Tocou em seu próprio peito, suspirando de alívio em seguida, expulsando seus medos com o ar que vazou de sua boca. Levantou o pescoço para conversar com esse sistema:
— Oi, sistema. Me dá só um segundinho pra respirar, tá bom?
O sistema virou de um lado para o outro, como uma criança boba que observa algo curioso. Novamente sorriu, respondendo ao jogador com uma simpatia impressionante:
S1 Minimizado
Claro! Leve o tempo que quiser, jogador! A propósito, se desejar, posso alterar minha personalidade para qualquer uma que você queira, sem restrições. Deseja realizar alguma alteração?
Waraioni suspirou profundamente, sem prestar muita atenção no que o sistema disse. Respondeu: “Não, tô na boa.” enquanto se recuperava do susto que havia sofrido.
S1 Minimizado
Claro! Seeeem problemas! Constatei que você esqueceu de verificar as informações de seus poderes. Irei lhe informá-las para que seu tutorial não seja tão difícil, tudo bem?
Waraioni surpreendeu-se por um momento. Como aquela coisa sabia até mesmo o que ele havia esquecido? Quanto mais ela sabe? Bom, era inútil pensar nisso de qualquer forma.
— Tudo bem.
As verticais e horizontais desse sistema começaram a alongar-se, ganhando mais espaço para descrições precisas ou concisas. As letras prateadas reapareceram:
S1 Minimizado
Nome do poder: Anfitrião do Tempo.
Quantidade de poder atualmente disponível: 2%
Primeira habilidade: Visão do Futuro.
Observações da Habilidade: Quando houver contato físico com algo ou alguém, você poderá ver as ações futuras desse objeto ou pessoa. Se o atingir duas vezes, verá dois segundos e assim sucessivamente.
Limitações: Recomenda-se que visualize somente dois segundos à frente, devido à sua porcentagem atual ser de 2%. Caso contrário, haverá danos oculares.
Consequências: Caso tente ultrapassar demais o limite, haverá uma sobrecarga física e ocular. Se usar essa habilidade por muito tempo, também haverá outras consequências.
Informação adicional: Atualmente, seu corpo não suporta o uso prolongado dessa habilidade. Seus olhos serão danificados se ela for utilizada excessivamente. Essa barreira será quebrada assim que você tiver 50% ou mais do poder liberado.
Segunda habilidade: Sacrifício.
Observações: Você pode ultrapassar seu limite atual quanto à distância que pode enxergar no futuro; entretanto, se ultrapassar demais, isso poderá levá-lo à morte ou causar grandes ferimentos.
Primeira passiva: Corpo Fortalecido.
Observações: Você teve um aumento exponencial em todos os seus atributos físicos e uma pequena melhoria em seus sentidos.
Waraioni leu as informações do começo ao fim, refletindo que poderia resumir todos os seus poderes atualmente disponíveis em uma palavra: sacrifício.
Recordou-se de quando conversou com CMV, dizendo-lhe que desejava ser o anfitrião do tempo com balanceamentos justos, requisitando que a habilidade fosse difícil de usar.
“Então esse foi o resultado do que eu pedi…”
O sistema encolheu-se, retornando à sua forma pequena, enquanto brilhos prateados vazavam de suas costas como asas, mas desapareciam logo após.
S1 Minimizado
Prontinho! Tudo está completo. Agora vamos para a parte interessante: seu tutorial tem quatro opções: Fácil, Médio, Difícil e Extremo. Posso dar continuidade?
Waraioni deu uma breve pausa para raciocinar. Se existe um modo Extremo, significa que apenas ele tem recompensas? Deixa pra lá; ele desistiu, pois não é bom em criar teses.
— Pode falar na minha língua, do porquê eu deveria escolher o Extremo e não o modo mais Fácil, por favor?
O sistema fitou-o por um momento, com um olhar confuso. Piscou algumas vezes, girando brevemente na horizontal, e respondeu logo após:
S1 Minimizado
Antes de dizer sobre as dificuldades, quero te avisar sobre sua habilidade que você ganhará em um dos modos, o “Presente Alterado”.
Finalmente, algo lhe chamou atenção. O nome de sua habilidade o fez questionar se realmente alteraria o presente ou viajaria no tempo para fazer algo relacionado.
— Que legal… O que ela faz?
S1 Minimizado
Desde que você veja cinquenta segundos à frente, poderá sacrificá-los para alterar levemente a realidade, indo para um breve futuro e tendo o direito de realizar um movimento garantido, atacando ou não. Caso seja um ataque, seu dano será aumentado em duzentos por cento; porém, apenas neste tutorial, este ataque arrancará exatos cinquenta por cento de vida do oponente.
Interessante, mas confuso. O sistema quis dizer que a vida desceria de 50% para 25%, ou, por exemplo, de 70% para 30%? Ele se perdeu tentando responder em sua mente, esquecendo de indagar.
O sistema sorriu, girando no ar como uma criança boba, divertindo-se com a brisa do vento que aconchegava sua interface. Por fim, deu rumo às suas falas:
S1 Minimizado
Acho que expliquei tudo devidamente! Há algo que você queira saber ou que eu esqueci?
Essa pergunta renderia um ótimo bate-papo. Waraioni ainda queria saber de muitas coisas, mas sua curiosidade se resumia aos sistemas, questionando-se se havia diferença além dos nomes.
— Bom… O que significa esse S1 em você? Tem outros além de ti? Algum mais forte que o outro? E as funções e características?
Sim, ele se empolgou com seus questionamentos. Sua sorte foi que ele estava falando com um sistema que facilmente consegue condensar explicações.
S1 Minimizado
Significa “Sistema Um” e há outros além de mim, sim! Como a S2, por exemplo! Ela não tem uma função específica, mas consegue observar histórias, julgando se os jogadores são bons ou maus. Sua característica é que ela é a única capaz de alterar sua cor dependendo da emoção, enquanto o restante tem cor fixa. Não sei se há diferença em suas forças, afinal, são todos sistemas!
— Hum… Entendi…
Apoiou os dedos no queixo, fitando o chão escuro e tentando rastrear na memória algo que tinha perguntado recentemente. Não demorou muito para encontrar.
— Ah, lembrei! Te perguntei por que eu deveria escolher o modo extremo, com você falando na minha língua. Pode falar?
Uma interrogação surgiu nas pupilas do sistema, fazendo-o paralisar por um momento. Pouco depois, ela se substituiu por uma lâmpada, rememorando o assunto.
S1 Minimizado
Ah, sim! Dizendo sobre as dificuldades: os modos Fácil, Médio e Difícil pertencem apenas às falhas fracas e covardes, não tendo nenhuma recompensa senão o desafio. O modo Extremo anula isso e traz recompensas.
Pronto, isso bastou. Falha? Covarde? Fraco? Waraioni negaria essas características com toda a sua alma. Rangeu os dentes em fúria, coçando a cicatriz em sua bochecha. Disse em seguida:
— Começa logo essa porra no modo Extremo.
Estranho… Simples palavras normalmente não causam uma mudança abrupta no humor. Será que sua cicatriz tem algo a ver com isso? Essa resposta, por enquanto, está oculta.
O sistema sorriu, rindo brevemente, e começou a diminuir, desaparecendo aos poucos como um átomo se disfarçando no ar. Antes de sumir, disse:
S1 Minimizado
Tá bom! Boa sorte~
Com a saída do sistema, tudo voltou a ser escuro. Waraioni ainda estava incomodado, com a palavra “falha” martelando em sua mente como estouros de pipoca.
Suspirou profundamente, fechando os olhos e abrindo-os logo após, encontrando um pouco de paz em sua mente, mesmo que por um período de tempo curto.
— Hmph… Sistema estranho do caralho.
Sua cicatriz coçava mais que o normal, como se algumas palavras a afetassem. Olhou para o chão prateado e o chutou ligeiramente, desabafando consigo mesmo:
— Pensa num amigo que fala que só a porra.
Moveu as mãos para cima, distorcendo seu rosto de uma forma irônica e boba, articulando as mãos para todos os lados enquanto sua voz torcida disse:
— “Ain, que num sei o quê, que num sei o que lá…”
Chutou o solo novamente, cerrando os lábios e cuspindo no chão logo após, dizendo: “Deixa ele. Vou terminar essa missãozinha com as mãos nas costas.”
Sua raiva serviu como um breve combustível motivador, mas de nada adiantou. A escuridão ainda insistia em o abraçar, bloqueando qualquer coisa que estivesse à sua frente.
Os passos ecoavam como uma voz em um túnel, roubando momentaneamente sua atenção. O ar, outrora frio, alterou-se voluntariamente para tornar-se algo semelhante a um gentil abraço.
Ele sentiu-se estranho, como se tudo conspirasse para o deixar mais desatento possível. De repente, seus pés colidiram com algo que assemelhava-se a degraus.
“Eita… Cheguei em algum lugar?”
A boca entreaberta guiou seus olhos para baixo, mas nada pôde enxergar. Recuou lentamente, olhando de um lado para o outro, tentando buscar alguma luz.
Um arrepio abraçou todo o seu corpo. Seu coração colidiu contra seu peito como um tambor. Os instintos o forçaram a olhar para trás, observando um pequeno brilho nascer.
Esse pequeno brilho tornou-se algo luminoso, semelhante a uma estrela, começando a assumir uma forma mais humana pouco a pouco.
Um longo cabelo nasceu da luz, alongando-se como uma escada até tocar o chão. Seus olhos, tão prateados como o mais puro ouro, fitavam Waraioni.
Não havia pupila alguma nos olhos, apenas algo celestial. Era como observar o céu, só que em cor branca e um pouco marejado, parecendo-se com um anjo.
Ar puro vazou de lá, como se uma floresta estivesse presente. Aquela entidade moveu a palma para seu peito, fechando os olhos levianamente.
Bum-p… Bum-p… O som de um tambor, que mais parecia o pulsar de um coração, começou a ecoar das sombras, vindo de todos os lugares.
Junto consigo, leves flashes de luz tornavam o abismo um pouco claro, como se, de pouco a pouco, trouxessem a dominância da luz e a queda das trevas.
De repente, o tambor cessou suas batidas, deixando o silêncio dar início ao seu breve império. Aquela entidade de luz abriu os olhos, focando-os no nada.
Ela abriu seus lábios, dando início ao seu canto. Sua voz ecoava em um coral sagrado. A língua era desconhecida, mas assemelhava-se ao latim.
De pouco a pouco, junto ao seu canto, as luzes começaram a iluminar aqueles degraus. Eram exageradamente grandes, como se exigissem reverência dos convidados.
As luzes espalharam-se para todas as direções, expulsando o abismo que morava por lá. No topo daquele degrau havia um trono, com algo sentado sobre ele.
A voz calou-se. O silêncio instaurou imponência no que quer que estivesse sobre aquele trono. Aproximando-se mais, havia um cavaleiro com uma armadura completamente negra cobrindo-o.
Enquanto levantava-se, o ranger da armadura ecoava como um grito, enaltecendo as histórias de guerra que ela já presenciara ao matar incontáveis seres.
Começou a andar, descendo os degraus fitando seu adversário que o encarava com olhares arregalados. O som do metal colidindo com o solo era palpável.
A entidade de luz retornou sua fala, cantando seu nome: “Legio…Nis…”, dando início ao seu coral vocalise1 que ecoou pelo lugar em conjunto aos seus passos metálicos.
Enquanto ele se aproximava de Waraioni, ela desaparecia, retornando às partículas das quais tinha vindo, deixando apenas aqueles dois para se enfrentarem.
Waraioni sentia seu corpo revirar com os instintos de fuga. O que foi tudo isso? Um anjo, ou uma divindade, cantou para outro ser divino o enfrentar?
Dúvidas surgiram. Ele vai conseguir? E se ele morrer? Seu coração batia ainda mais forte do que aquele tambor celestial que deu passagem para o canto.
Um suor nasceu em sua testa. Cada partícula de si carregava uma preocupação e um medo distinto, descendo lentamente até alcançar seu queixo.
Legionis2 tocou no abdômen da armadura, fechando seu punho ali como se agarrasse algo. De lá, um cabo de espada surgiu, retirando-se conforme ele puxava.
O que é isso? Quase impossível de acreditar para um humano que reviveu recentemente. Uma espada, ainda maior que o corpo do cavaleiro, acabara de ser retirada da barriga da armadura.
Era tão escura quanto um céu sem estrelas, lua e nuvens. Seu peso poderia ser maior do que quaisquer montanhas, mesmo que todas se juntassem em uma.
Ele arrastou-a pelo chão enquanto descia os degraus. Faíscas transbordavam de lá e, quando ela colidia com outro metal, um som agudo, assemelhando-se a uma explosão, ecoava.
Waraioni deu alguns passos para trás, movendo os braços para trás, como se estivesse encurralado em um beco sem saída. O cavaleiro terminou de descer todos os degraus.
Já começou? O que ele tem que fazer? É possível vencer? Dúvidas invadiram sua mente como água num copo e, sem que ele percebesse, o suor em seu queixo havia se soltado.
Caía no chão lentamente, como se a presença de Legionis fizesse o tempo desacelerar. Waraioni piscou e, nesse mesmo momento, seu suor explodiu no solo.
Quando os abriu, aquela espada já estava diante de seu nariz, prestes a explodir sua cabeça no primeiro ataque. Sua jornada vai realmente encerrar aqui?
Ba-dump… Sua vida passou como um flash em sua mente, do nascimento ao momento presente. Seu coração, olhos, fibras, tudo em seu corpo entrou em desespero.
“Eu vou… Morrer?”
A boca entreaberta e os olhos surpresos entregaram sua quase desistência, mas seu coração reagiu. Não, nada poderia acabar aqui; sua alma ainda não o permitiria morrer.
Algo explodiu em seu peito, como uma determinação imensurável. Os olhos arregalaram-se com esse combustível, cerrando os lábios em uma fúria implacável.
Firmou a perna direita no chão. Todos os dedos dos pés esmagavam o solo, impulsionando seu salto para a esquerda, evitando o ataque que o mataria.
A espada negra voou para o horizonte, abandonando seu cavaleiro, deixando-o de mãos vazias. Waraioni ofegava enquanto olhava para o chão, sentindo um êxtase nascer em seu peito.
“Eu tô vivo? Eu tô vivo, né?”
Tocou em seu rosto diversas vezes, confirmando que ele ainda estava no lugar. Começou a rir brevemente, esquecendo que seu oponente ainda estava ali.
O ar começou a ser rasgado, como se um tiro supersônico estivesse avançando em sua direção. Antes que Waraioni percebesse, o pé da armadura já estava em seu rosto e, quando notou, já era tarde demais.
O chute metálico colidiu com seu rosto, forçando seu pescoço a saltar para trás. Sangue vazou das narinas como água de uma veloz torneira.
A dor do golpe ecoou pelos seus ossos. Seu nariz parecia estar dentro de um formigueiro; também aparentava estar infinitas vezes maior, com o tom vermelho dominando-o.
Como se não bastasse, Legionis agarrou seu cabelo e o jogou para cima, deixando-o flutuar por um momento. Logo depois, cerrou seu punho direito e o preparou para trás.
O ranger do metal gritava conforme a força aumentava. O ar distorcia ao redor de sua mão, alterando sua cor para vermelha, como um sinalizador.
Waraioni ainda estava desnorteado, sentindo uma dor no couro cabeludo enquanto o corpo aparentava estar mais leve. Um brilho em tom vermelho aproximava-se dele cada vez mais.
Boom. O golpe chegou, explodindo em seu abdômen como uma bomba. As partículas em tom vermelho atravessaram suas costas. O punho afundou lá.
Sangue vazou de sua boca como uma cachoeira. O impacto do ataque o lançou para trás, fazendo-o girar incontáveis vezes no chão enquanto saltitava. O solo foi banhado com o sangue que escorria.
Waraioni ofegava, ouvindo estalidos vindo de sua barriga. Pôs a mão no local atingido, sentindo-o revirar enquanto aparentava estar mais mole do que o normal.
“Puta… Que pariu…”
Tentou levantar-se, mas a dor o permitiu apenas a se apoiar no chão, ainda mantendo a mão no abdômen. A visão estava turva, mas sua vida estava em jogo.
Olhou para o lado, fitando o cavaleiro negro estático um pouco distante dele. Sua visão estava estranha… O que era isso em seu olhar? Ilusões?
Enquanto o cavaleiro se aproximava de seu adversário caído, duas miragens cianas estavam à sua frente, desaparecendo e nascendo assim que um segundo se passava.
Uma miragem estava um segundo à frente, com a mensagem “1S” acima da cabeça. Outra estava diante dela, com um “2S” também no topo da cabeça.
Um pouco confuso, mas não demorou tanto para entender que aquele era seu poder de Anfitrião do Tempo, que lhe permitia visualizar as ações futuras daquilo que o tocara.
Ótima vantagem. Seu oponente era inesperadamente veloz, mas não superior ao tempo. Waraioni conseguiu levantar-se, fitando seu adversário com olhos determinados.
A dor era marcante onde fora atingido, mas manter o foco lá não o ajudaria em nada. Não demorou muito para que ficassem frente a frente.
“Ele tá aqui…”
Observou as miragens estáticas nele, sinalizando que ele ainda não havia se movimentado dois segundos à frente. Isso o aliviou, mas não baixou a guarda.
“As miragens não se movem… Então, por enquanto, tá tudo bem.”
Olhou para a armadura com atenção, questionando se era possível danificar aquilo. Tanto o peitoral quanto as pernas pareciam mais resistentes do que diamante.
“Como que eu passo dessa porra? Tem que ter algum ponto fraco… Não é possível que o tutorial seja tão difícil assim…”
A miragem, outrora estática, agora surgiu com o punho posicionado no rosto de Waraioni. Reagiu no mesmo instante, projetando o pescoço para baixo e para a direita logo após.
Legionis golpeou com o exato movimento daquela miragem, mas seu oponente reagiu com uma antecedência fora do padrão, surpreendendo o cavaleiro.
Waraioni rangeu os dentes, cerrando seu punho direito com toda a força de aperto que tinha. Lançou-o como um míssil no peitoral do adversário. O impacto ecoou em um som agudo.
As miragens continuaram a entregar o que Legionis faria, permitindo que Waraioni mantivesse suas esquivas e contra-atacasse repetidamente o rosto do cavaleiro.
Irritante, mas belo. O cansaço quase fazia com que Waraioni expelisse sua alma para fora, mas nada tiraria seu extremo foco naquele momento. Sua adrenalina estava em outro nível.
A batalha assemelhava-se a uma coreografia. Enquanto Legionis aumentava cada vez mais o ritmo dos socos e chutes, seu oponente, por sua vez, esquivava-se com perfeição, lançando contra-ataques precisos.
O ritmo implacável drenava sua força como água de uma torneira aberta, enquanto Legionis avançava sem danos aparentes. Por quanto tempo mais Waraioni conseguiria reagir? Bom, não muito.
Uma gota de sangue brotou em seu olho direito, escorrendo lentamente. Seu coração ardia, e suas pupilas mergulhavam-no na escuridão, pouco a pouco.
Os dedos das mãos ardiam, estalando como pipocas. Uma das miragens mostrava o punho prestes a atingir sua bochecha esquerda, alertando-o do golpe iminente.
Que frustrante. Atacara incontáveis vezes, mas nenhum golpe causara dano. Seria ele fraco demais ou estaria acertando as partes mais resistentes da armadura?
Fraco… A palavra ecoou em sua mente como uma gota caindo no mar. Algo o impedia de sucumbir ao questionamento de sua força. Ego? Ou força de vontade? A resposta, para ele, tinha raízes muito mais profundas.
Seus suspiros foram, por um momento, suas únicas companheiras. O coração pulsava em ritmo frenético, esforçando-se para sustentar seu corpo.
“Atacar a armadura é inútil…”
Algo gritava em seu peito, fincando-se como uma agulha. Uma chama frágil nasceu ali, envolvendo seu corpo. Seus instintos atingiram o ápice.
“Vou confiar tudo nos meus instintos.”
Quando o golpe estava prestes a atingi-lo, ele se esquivou, curvando o torso abruptamente, como se quisesse tocar o chão com a testa.
Cerrou o punho esquerdo e o lançou como um projétil contra o joelho direito do adversário. O som de metal amassado ecoou, fazendo a armadura tremer levemente.
Repetiu o movimento com o joelho esquerdo, mas ainda não era suficiente. Gritou, cerrando novamente o punho e desferindo-o contra o queixo do cavaleiro.
O impacto ecoou, acompanhado do estalo de ossos. Waraioni sentiu-se leve, como se o ar o abraçasse e o transformasse em pó, carregando-o para longe.
Os sons ao seu redor estavam abafados, enquanto seus joelhos desafiavam os limites para mantê-lo de pé. A determinação esvaía-se de seu rosto.
“Acabou…?”
O silêncio predominou, mas não por muito tempo. Seu abdômen foi atingido por uma joelhada precisa, esmagando-o instantaneamente.
A dor, já latente, amplificou-se em incontáveis vezes. Sangue jorrou de sua boca como chuva torrencial, e o impacto o arremessou para longe.
Rolou no chão, sentindo-se afundar em areia movediça. As pálpebras pesavam como chumbo, quase obrigando-o a fechá-las, mas sua determinação não permitiu.
Flashbacks de seus irmãos invadiram sua mente. Sorrisos brilhantes como o sol. Começou a levantar-se novamente, enquanto a voz de Saito ecoava: “Não faça nada estúpido…”
Seu olhar estava desfocado, fixo no vazio. Os braços estendiam-se no chão, sem força para erguer-se. Tudo estava perdido? Desde o começo, a derrota era seu destino?
“O que eu faço…?”
A resposta estava além de seu alcance, e a derrota parecia inevitável. De repente, um som semelhante a uma notificação estalou em sua mente, audível apenas para ele.
Partículas azuis materializaram-se à sua frente. Outra tela do sistema? Esta parecia diferente, invisível ao resto do mundo, mas não para Waraioni.
Sistema de Jogo
Parabéns! Você atingiu o requisito de 50 golpes consecutivos. Para utilizar sua habilidade, sacrifique-se e grite o nome dela com sua alma.
Foi estranho. As letras estavam lá para serem lidas, mas uma voz calma como o oceano ecoou em sua mente, recitando a mensagem.
O sistema desapareceu tão rápido quanto surgiu, deixando-o novamente só contra o oponente. Waraioni não tinha mais escolhas a não ser seguir o guia efêmero.
Não pensou. Apenas ficou imóvel, suspirando como um homem à beira da morte. Deu o primeiro passo, agarrado-se a última esperança que tinha e sussurrou:
— Presente… Alterado.
O ar tornou-se gélido como o inverno mais cruel. O mundo perdeu as cores, como se deixasse de existir. O vento estagnou, entregando-se ao vazio. O tempo parou.
Seu corpo ficou leve como uma pluma, como se sua alma o possuísse. Ao olhar para trás, viu seu próprio corpo estático, a boca entreaberta. À frente, Legionis permanecia imóvel.
Ali estava sua chance. Não entendia o que acontecia, mas sabia ser sua única oportunidade. Algo assim não se repetiria. Seu coração disparou. Correu o mais rápido que pôde, posicionando-se diante do oponente.
Enrijecendo o corpo, saltou. Seu joelho esquerdo voou como um míssil contra o abdômen da armadura, ecoando como um tiro contra um escudo.
No mesmo instante, o tempo retomou seu curso. O impacto arremessou o cavaleiro para longe, acompanhado do estrondo de metal retorcido.
Ironicamente, ele foi lançado de volta ao trono, agora derrotado, incapaz de mover um dedo. Waraioni saíra vencedor, tanto da batalha quanto da guerra.
Sangue jorrou de seus olhos, carregando dor e exaustão. Seus joelhos cederam, colando-o ao chão. O corpo pesava como um casaco encharcado. Os olhos recusavam-se a abrir, e o sangue pintava o solo, mas nada disso importava mais.
Risos fracos escaparam-lhe enquanto se entregava à morte iminente. Em sua mente, as imagens dos irmãos mesclavam-se a um único pensamento:
“Eu consegui…”
Pobre tolo. A morte o envolvia, mas a vitória o fez sorrir, triunfando sobre o medo. Felizmente, ainda era cedo demais para partir. Uma aura verde-marinho envolveu-o, expulsando a dor e regenerando corpo e energia, deixando-o como novo.
“Até que não foi tão ruim assim…”
Finalmente, tudo acabou. Abriu os olhos, deitado de costas, e riu ao perceber que a regeneração era uma das recompensas. O sistema ciano reapareceu, informando que as recompensas foram entregues e o teleporte ocorreria em nove segundos.
Próximo capítulo: Tutorial (Saito)
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