Capítulo 107: Sino de Anthanasia

Era o segundo dia após William ter terminado seu treinamento com Celine. Ele havia acabado de concluir sua rotina diária de artes marciais e estava esperando o sol nascer no leste.

‘Eu me pergunto o que Mamãe está fazendo agora,’ William pensou enquanto tirava a camisa e começava a secar o corpo com uma toalha.

Ele não via Ella há dois anos, e seu Vovô apenas lhe disse que ela estava ocupada treinando junto com o resto do seu rebanho.

Depois de se secar, William sentou-se na colina enquanto os primeiros raios de sol espiavam por trás do monte a leste. Assistir ao nascer e pôr do sol havia se tornado um hábito nesta vida. Isso lhe lembrava dos dias na Terra, quando havia perdido muitas oportunidades belas por causa de sua doença.

Enquanto observava o nascer do sol, ele ouviu o som familiar de uma notificação do sistema.

< Ding! >

“Mensagem?” William murmurou enquanto abria sua caixa de entrada na Loja dos Deuses. Esta era a primeira vez que ele recebia uma mensagem do sistema, e estava muito curioso sobre o seu conteúdo. Ele leu a mensagem e ficou surpreso ao ver que havia um anexo incluído nela.

“Sino de Anthanasia?” William convocou o sino da Loja dos Deuses e usou sua habilidade de avaliação para verificar suas informações.

William leu as informações e concordou que era um artefato muito bom. No entanto, havia alguns pontos de interrogação nos detalhes e ele não fazia ideia do que significavam.

‘Sistema, há algo errado com minha habilidade de avaliação?’

< Para responder à pergunta do anfitrião, o nível da habilidade de Avaliação que você possui atualmente é incapaz de traduzir completamente as informações do artefato. Isso é algo bastante normal, especialmente para artefatos sagrados ou divinos que pertenciam a divindades e deuses. >

‘Entendo…’ William assentiu, compreendendo. ‘Tenho certeza de que Sir David não faria nada que me prejudicasse. Ah! Quase esqueci, preciso desejar um feliz aniversário a ele também.’

William respondeu à mensagem do Gerente da Loja dos Deuses e pediu respeitosamente que ele passasse um recado para o Deus dos Pastores. Ele agradeceu a David na carta e o parabenizou por seu aniversário. Também se desculpou e prometeu fazer uma oferenda na próxima vez que fosse a um templo, como forma de gratidão pela generosidade de David.

Depois de enviar sua resposta, ele olhou mais uma vez para o sino em sua mão. De todos os ângulos, parecia um sino de prata comum, sem nenhuma característica especial. Se não fosse pelas informações obtidas através da habilidade de Avaliação, William teria pensado que havia sido enganado pela Loja dos Deuses.

“Meeeeeeeeh!”

Um balido familiar ressoou no ar, e William imediatamente se levantou e olhou na direção de onde veio o chamado. Lá, ele viu Ella correndo em sua direção apressadamente.

William abriu um grande sorriso e correu ao encontro de sua Mamãe, e os dois finalmente se reuniram após dois anos de separação.

“Mamãe, senti sua falta.”

“Meeeeh!”

“Como você tem passado?”

“Meeeeh.”

Os dois conversaram por um longo tempo, contando um ao outro o que haviam feito durante os dois anos em que estiveram separados. Ella contou que ela e os outros bodes treinaram com Marcus e Thunder na parte Norte do Reino de Hellan.

Ela acrescentou que havia muitos Íbexes de Guerra Angorianos no local onde estavam treinando.

William ouviu a história de Ella e franziu a testa ao saber que, no começo, eles foram tratados como forasteiros. Ela até reclamou que foram atacados várias vezes pelo Líder do Rebanho dos Íbexes, que exigia que se submetessem a ele.

Naturalmente, nenhum dos bodes aceitou suas exigências, pois já pertenciam ao rebanho de William. Foi aí que o problema começou, e eles foram constantemente assediados durante o treinamento. Não apenas pelos outros bodes, mas também pelas Tribos que viviam naquela região.

É claro que Ella e os outros bodes tentaram revidar, mas estavam em grande desvantagem numérica. Eram apenas quatorze contra milhares de inimigos. Como poderiam vencer?

Felizmente, Marcus estava com eles, e Ella contou ao garoto ruivo que o Pastor Sênior de Lont teve uma longa conversa com o Chefe da Tribo.

Depois dessa conversa, nenhum dos Íbexes de Guerra nem os membros da tribo os incomodaram novamente. Isso permitiu que os bodes treinassem no ambiente hostil da Região Norte, onde nevascas e tempestades de granizo aconteciam regularmente.

Por sua vez, William contou a Ella sobre seu treinamento com Owen, Trent, Dwayne e Celine. Naturalmente, ele amenizou a dureza do treinamento para não deixar Ella preocupada. Os dois conversaram por muito tempo, até que perceberam que já estava quase na hora do almoço.

“Mamãe, tenho algo para você.”

“Meeeeh?”

“Este é um artefato divino, e eu quero que você fique com ele, Mamãe.” William apresentou o sino de prata a Ella e o balançou algumas vezes.

“Meeeeeh.” Ella soltou um balido suave ao ver o sino. Seu instinto lhe dizia que se tratava de um objeto muito precioso, e ela ficou comovida ao perceber que William planejava dá-lo a ela.

O sino estava preso a uma coleira de prata que se ajustava automaticamente ao tamanho do usuário. William cuidadosamente ajustou a coleira no pescoço de Ella e a fixou no lugar.

“Mamãe, você sente algum desconforto?”

Ella balançou a cabeça e lambeu a bochecha de William em resposta.

“Preciso voltar para a casa da Mestra para preparar o almoço dela. E você, Mamãe?”

“Meeeeeeh.”

“Certo, nos encontramos mais tarde à tarde.” William assentiu.

Ella lhe disse que iria cuidar dos outros membros do rebanho de William, que estavam pastando no vale próximo a Lont. Ela foi a única a retornar à cidade porque queria ver como William estava.

William deu um último abraço em Ella antes de ir para a casa de Celine. Ella, por sua vez, observou as costas de William se afastando com um olhar gentil.

Ela balbuciou suavemente um agradecimento, não para William, mas para David, que a havia feito lembrar das coisas que aconteceram em um passado distante. Um passado em que deuses e mortais trabalhavam juntos para construir um paraíso que ela acreditava que duraria até o fim dos tempos.

Em algum lugar no Templo dos Deuses…

“3021º aniversário?” Lily bufou. “Que grande mentira. Por que você simplesmente não diz que queria dar um presente para ele? Por que fazer isso de uma maneira tão indireta?”

A Deusa Loli estava reclamando porque David havia “enganado” William, fazendo-o acreditar que era seu aniversário. Infelizmente, William também se esqueceu de que aniversariantes normalmente não são os que enviam presentes para os outros.

Normalmente, são eles que recebem presentes!

“Lily, você é uma deusa da nova geração. Você não entende o conceito de retribuição?” David perguntou.

“Hmp! Retribuição? Você realmente acha que sou uma criança ingênua?” Lily respondeu com desprezo. “Eu sei que você está aprontando alguma coisa. Um velho trapaceiro como você não faz nada sem um motivo.”

David acariciou a barba e sorriu. “Você pensa demais, Lily. Foi apenas um presente.”

“Você diz isso, mas ainda sinto cheiro de algo suspeito.” Lily estreitou os olhos.

David riu e se afastou da Deusa Loli para escapar de seu interrogatório. Para dizer a verdade, o Deus dos Pastores estava apenas cumprindo a promessa que havia feito ao seu velho amigo, Amaltheia.

Uma promessa feita há milhares de anos, quando o universo ainda era jovem, e a humanidade estava apenas começando a dar seus primeiros passos rumo ao desconhecido.