Prelúdio - Parte III
Prelúdio – Parte III
Com a morte de Rudolf I, rebeliões republicanas entraram em erupção em todos os cantos. Se acreditava que com a perda da liderança e feroz personalidade de Rudolf, o império logo se desintegraria; no entanto, esse tipo de pensamento era muito otimista.
Os aristocratas, líderes militares e burocratas que Rudolf tinha nutrido ao seu lado nos últimos quarenta anos fizeram uma troica 1 muito mais forte que as esperançosas estimativas dos republicanos.
Essas forças foram lideradas pelo Lorde Joachim de Neue-Staufen, que era ambos, pai do imperador e primeiro-ministro. Demonstrando a liderança calma e tranquila que se poderia esperar de um homem escolhido por Rudolf como noivo de sua filha, Joachim esmagou as forças mais fracas da insurreição como se fossem cascas de ovos sob seu calcanhar.
Mais de quinhentos milhões daqueles que participaram nos levantes foram mortos e suas famílias, mais que dez bilhões, tiveram sua cidadania revogada e foram jogados em servidão. “Na supressão de forças opositoras, seja implacável”, dizia as regulações imperiais e eles seguiram-na ao pé da letra.
As forças do republicanismo tiveram uma vez mais que aguentar um longo inverno. Diante de ditadores tão poderosos, pensava-se que esse inverno rigoroso se estenderia para sempre. Depois da morte de Joachim, Sigismund governou diretamente e depois de sua morte, Sigismund foi sucedido por seu filho mais velho, Richard, que então foi sucedido por seu filho mais velho, Ottfried. A mais alta posição de autoridade se passava apenas para os descendentes de Rudolf e parecia como se a hereditariedade fosse a única coisa que podia determinar a transição de poder.
No entanto, profundamente abaixo dessa grossa camada de gelo, uma convecção de água estava silenciosamente se movendo.
No ano 164 CI (Calendário Imperial), os republicanos do sistema Altair – que tinham sido denunciados como um clã rebelde, reduzidos ao status de escravos e colocados sob trabalhos forçados – tiveram sucesso em escapar, usando uma espaçonave que eles mesmos tinham construído.
Seu plano não era como aquele que seus antepassados tinham cuidadosamente planejado por gerações. O número de tais planos que tinham sido propostos eram iguais àqueles que tinham terminado em fracasso. Os túmulos dos republicanos só aumentaram e, no lugar das elegias 2, apenas as risadas cruéis do Escritório de Manutenção da Ordem Pública ressoavam nos cemitérios. Era um ciclo que se repetia sem parar. No entanto, finalmente, houve sucesso. E da concepção à execução, foram necessários apenas três meses padrão.
Tinha começado literalmente como brincadeira de criança. A criança de dois escravos que estavam minerando molibdênio e antimônio no cruel frio de Altair 7 tinha escapado da visão de seus cuidadores e estava brincando de esculpir pequenos navios de gelo, com os quais ele flutuou pela água. Um jovem chamado Ahle Heinessen o estava observando distraidamente e essa imagem reverberou em sua mente como uma revelação divina. Esse planeta solitário não era, afinal, um depósito sem fundo de materiais de construção naval?
No sétimo planeta, a quantidade total de água não era tão grande;
abundava mais em gelo seco natural do que em água congelada. Heinessen escolheu uma massa gigantesca de gelo seco que estava totalmente enterrada em um determinado vale. Suas dimensões eram 122 quilômetros de comprimento, 40 quilômetros de largura e 30 quilômetros de altura. Depois de esvaziar o centro, ele fez uma área de propulsão e uma área habitável, e logo começou a parecer que poderia voar. A parte mais difícil do plano era a questão de como obter materiais para realmente construir uma nave espacial. Não adiantava tentar obter materiais ilegalmente, pois se o Escritório de Manutenção da Ordem Pública ficasse sabendo, eles simplesmente prenderiam e matariam todos os envolvidos. Entretanto, esse mundo também tinha recursos naturais que não chamariam a atenção do escritório. No frio zero absoluto do espaço sideral, não havia medo de que o gelo seco se sublimasse em gás. Se eles conseguissem isolar o calor que seria gerado pelas áreas de propulsão e de moradia, seria possível realizar um vôo de longo prazo. Durante esse tempo, eles poderiam procurar em asteroides e planetas desabitados os materiais necessários para construir uma nave espacial interestelar.
Não havia necessidade de se manter voando na mesma nave na qual eles tinham partido. Assim, sua nave espacial branca e brilhante de gelo seco foi batizada de Ion Fazegas, em homenagem ao menino que havia feito aquele barco de brinquedo com gelo. Quatrocentos mil homens e mulheres entraram na embarcação e escaparam do sistema Altair. Esse foi o primeiro passo em uma jornada que os historiadores mais tarde nomeariam de Longa Marcha dos 10.000 Anos-Luz 3.
Depois de escaparem da impiedosa perseguição dos militares do Império Galáctico, eles se esconderam abaixo da superfície de um planeta sem nome e lá construíram oitenta naves interestelares. Então os fugitivos encararam a imensidão transbordante de estrelas gigantes mortais, anãs e diversas variáveis. Aqui a má vontade do Criador caiu em suas cabeças vez após vez de novo.
No meio dessa árdua jornada, eles perderam seu líder Heinessen para um acidente. Seu querido amigo Kim Hua Nguyen o sucedeu como líder. Quando esse homem se tornou velho e sua visão foi perdida, eles ao fim superaram as regiões perigosas e acharam seu futuro e estável aglomerado de estrelas na sequência principal 4. Mais que meio século tinha passado desde que eles saíram de Altair.
Para as estrelas de seus novos mundos eles deram os nomes dos deuses da antiga Fenícia: Baalat, Astarte, Melqart, Hadad e outros. Eles fizeram sua base no quarto planeta do sistema Baalat, o qual eles deram o nome do seu caído líder Heinessen, para que seus feitos possam ser para sempre honrados.
A conclusão da Longa Marcha dos 10.000 Anos-Luz ocorreu no ano 218 do CI, mas essas pessoas – que escaparam do jugo da ditadura – escolheram abolir o calendário imperial e reviver o calendário ES (Era Espacial) no lugar. Nisso, eles se orgulhavam de serem eles os verdadeiros herdeiros da Federação Galáctica. Rudolf e sua laia eram nada mais que contemplativos traidores para o governo democrático.
Nessa maneira, o estabelecimento da Aliança dos Planetas Livres foi solenemente declarada. Teve lugar no ano 527 ES. A primeira geração de cidadãos numeravam a volta de 160.000. Mais da metade de seus compatriotas pereceram durante a Longa Marcha.
Eram de longe um número muito pequeno para verdadeiramente se dizer que a humanidade tinha sido dividida, mas os fundadores da Aliança dos Planetas Livres possuíam incomparável diligência e paixão, e através de seu poder, completude material foi rapidamente alcançada. A procriação foi encorajada e a população cresceu. O estabelecimento nacional foi posto em ordem e a capacidade agrícola e industrial aumentou de forma constante.
Era como se a era de ouro da Federação Galáctica tivesse voltado. Então, no ano 640 ES, as forças do Império Galáctico e dos Planetas Livres se encontraram um ao outro pela primeira vez na forma de um confronto entre naves de batalha de ambos os lados.
Lançamentos todas as segundas, quartas e sextas!
- https://dicionario.priberam.org/troica [↩]
- https://dicionario.priberam.org/elegia [↩]
- Anos-Luz é a distância que leva para a luz percorrer durante um ano, tendo em conta que ela percorre 299.792,458 Km/s no vácuo[↩]
- https://pt.wikipedia.org/wiki/Sequ%C3%AAncia_principal [↩]
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