Capítulo 14.3 – A Profundidade do Inverno

[“Ao meu amado pai, Visconde de Verdier,

Como tem passado? Acredito que deve estar vivendo entre doces, já que sua teimosa filha partiu.

Peço desculpas por demorar para enviar esta carta, tenho estado tão ocupada ultimamente.

A propriedade de Thisse é uma cidade de puro branco de neve. Em conformidade com a reputação do norte, dizem que existem montanhas onde os polos não derretem o ano todo, então até meu pai pode imaginar a paisagem daqui. Eu só vi neve uma vez, quando tinha 10 anos, em uma viagem com meus pais, então sinto que estou acordando para um mundo novo a cada manhã.

Faz tanto frio lá fora que o rio está congelado, mas eu nunca sinto o frio.

Todos os servos aqui no Castelo dos Abedules são educados e gentis, e a mãe do Duque, Madame Thisse, me trata com gentileza. Ela ainda é tão deslumbrantemente bonita como os rumores da época em que era uma princesa, e é tão inocente quanto uma criança.

Neste ponto, acho que devo me apressar e contar a história que mais interessa ao meu pai.

Há uma notícia ainda mais surpreendente. Em uma carta anterior, pai mencionou que estava triste porque Grey renunciou repentinamente ao seu trabalho e deixou o castelo Verdier. Talvez Grey tenha gostado da propriedade Thisse, que visitou enquanto me escoltava até aqui.

Por acaso, consegue adivinhar o que vou dizer agora? Sim, pai! Grey conseguiu trabalho aqui, no Castelo dos Abedules! Claro, considerando a diligência do rapaz, não seria difícil encontrar trabalho em qualquer lugar, mas é reconfortante ver um rosto familiar em um lugar desconhecido.

Arrisco a acreditar que a razão pela qual o Duque ofereceu a Grey um acordo especialmente bom e o recomendou para trabalhar aqui foi provavelmente por consideração a mim. Ele está me tratando com muito cuidado, então por favor, não se preocupe comigo. Com a chegada da primavera, o maravilhoso frio de Thisse, abençoado pelos Santos do Gelo, diminuirá.

É hora de tomar chá com o Duque. Não importa quão ocupado ele esteja, ele nunca deixa de tomar chá comigo todas as noites e discutir os grandes e pequenos assuntos do castelo. É graças à ajuda do Duque que consigo lidar sem dificuldade com coisas às quais não estava acostumada.

Então, até eu escrever novamente, mantenha-se saudável.

Com um coração ansiando,

Chloe Verdier, filha de Thomas Verdier.”]

Chloe parou a caneta por um momento. Ela estava sendo forçada a escrever palavras amáveis sobre uma pessoa indesejada, então seu ombro direito estava tenso devido à força que havia aplicado. Não importava o quanto tentasse tranquilizar seu pai, ela se preocupava um pouco que ele pudesse suspeitar porque talvez ela tivesse exagerado demais.

‘Não. Pai ficará feliz.’

Chloe sentiu uma dor na perna e franziu levemente a testa. A dor de caminhar diante do Duque com a órtese que ele lhe deu há alguns dias ainda era vívida. ‘Que expressão meu pai faria se soubesse disso?’

‘Ufa.’ Seus pensamentos cessaram quando uma tempestade de neve começou e as janelas tremeram violentamente. Depois de deixar a caneta, ela se aproximou da janela para fechar as cortinas.

“Volte com cuidado.” (Grey)

“Obrigada.” (Visitante)

Na entrada, Chloe viu Grey conversando com o visitante. Um sorriso se formou nos lábios de Chloe. Como se percebesse o olhar dela, Grey ergueu repentinamente a cabeça e a olhou. Chloe abriu a tranca feliz e abriu as janelas com dobradiças. Grey se assustou e correu em direção ao canteiro de flores.

“O vento está tão frio quanto o gelo, senhora. Por favor, feche as janelas!” (Grey)

“Sim. Tenha cuidado para não pegar um resfriado, Grey.”

“Sim, senhora.” (Grey)

Grey apertou seu gorro de lã marrom e acenou com a cabeça. Chloe o observou e sorriu. Ela realmente não queria ter conversas longas. O fato de Grey, que era mais como um membro da família do que um servo, estar naquele castelo a fez sentir um pouco de alívio de sua solidão. No dia em que Grey foi contratado formalmente como cuidador de estábulos e entrou no Castelo dos Abedules, Chloe quase chorou quando viu seu rosto novamente.

“Então, adeus. Boa noite.”

Chloe se despediu brevemente e fechou a janela. Grey acenou para ela e depois correu rapidamente pelo jardim. Chloe voltou para sua escrivaninha com um sorriso no rosto e começou a escrever mais fluente.

Depois de dobrar a carta e colocá-la em um envelope, Chloe verificou a hora. O relógio de bolso marcava meia-noite. Como ela escreveu na carta para seu pai, todas as noites ela tinha que se encontrar sozinha com o Duque. Embora fosse um segredo que Chloe não gostava muito desse período.

“O Mestre está esperando por você na sala de jogos.” (Donzela)

“E os convidados?”

“O último convidado acabou de voltar.” (Donzela)

Deve ter sido o convidado que Grey acabara de dispensar. Damien nunca perdia uma única reunião com ela, não importa o quão tarde fosse seu último compromisso. Por isso, Chloe não podia se preparar para dormir até que ele adormecesse.

“Duque.”

Chloe anunciou sua presença, mas Damien agarrou o taco sem nem mesmo olhar para ela. Vestindo

uma camisa e calça pretas, hoje ele parecia mais frio e distante, talvez devido às suas roupas escuras.

‘… será que algum dia a distância com o Duque diminuirá?’

Clack! Chloe recuperou a consciência com o som de uma bola branca de marfim batendo em uma bola vermelha. A bola vermelha cruzou rapidamente a mesa espaçosa e desapareceu no buraco.

“Se não terminou seu jogo, posso esperar um pouco e voltar mais tarde?”

“Não é divertido ficar sozinho.” (Damien)

Novamente, com um som suave, a bola azul rolou rapidamente pela borda da mesa onde ela estava. Damien se aproximou dela, pegou o giz e esfregou o taco. Quando estendeu os braços em direção a Chloe, ela deu um pulo e, sem perceber, recuou. Há pouco tempo, seu coração batia rapidamente, iniciado pelas sequelas dele se aproximando como se pudesse tocar em seu rosto.

“Você conhece as regras do snooker¹?” (Damien)

Damien disse, colocando de volta a bola azul que tinha caído no buraco. Chloe fingiu estar calma e balançou a cabeça. Porque ela queria dar a impressão de que não sabia nada e não queria prolongar a conversa. Não queria que seguisse um interrogatório por parte de seu marido, e Chloe queria encerrar sua reunião indesejada com ele e voltar para seu quarto.

“Não.”

“Bom.” (Damien)

Damien baixou um pouco o queixo e assumiu a postura.

“O que acabei de fazer foi uma jogada de 10 pontos.” (Damien)

‘Uma mentira!’

Chloe, que abriu os olhos amplamente e quase deixou escapar um som de sua boca. Os olhos de Damien brilharam intensamente enquanto mirava cuidadosamente a bola, e a bola branca se moveu rapidamente ao longo da parede da mesa.

Clack, Clack! As três bolas que bateram em sequência desapareceram completamente em buracos diferentes. Damien falou novamente com uma expressão sem remorso.

“São 30 pontos. Não é perfeito?” (Damien)

Se o Visconde Verdier, pai de Chloe, um mestre jogador de bilhar, visse, provavelmente teria dor no pescoço de crescente raiva. Chloe franziu a testa para o Duque que não piscou enquanto jogava do jeito dele, ignorando completamente a regra de colocá-las em ordem e uma bola de cada vez.

‘Está certo que uma pessoa que vai ao parlamento discutir os assuntos do país seja tão descuidadamente enganadora?’

“A bola está indo bem hoje. Em breve farei mais de 100 pontos.” (Damien)

Os lábios de Chloe, que estavam franzidos de insatisfação, finalmente se abriram.

“Duque. Você está trapaceando. Isso é um erro.”

“Você disse que não conhecia as regras.” (Damien)

Damien disse, apontando novamente para a bola e marcando no buraco ao seu lado.

“Você mentiu para não ter que jogar comigo?” (Damien)

Chloe respirou fundo e o encarou.

“Gostaria de jogar um jogo comigo?”

“Sim.” (Damien)

“Quais são as condições?”

Damien a olhou e sorriu.

“Condições?” (Damien)

Chloe pronunciou as palavras que o Visconde de Verdier sempre enfatizava.

“Não jogo jogos sem uma aposta.”

Uma risada baixa ressoou pela espaçosa sala.

“Ah, Chloe. Sempre me surpreende.” (Damien)

Chloe mordeu o lábio enquanto observava o Duque sorrindo alegremente como uma criança.

“Sou engraçada?”

“Muito.” (Damien)

“O que é engraçado?” Chloe levantou a cabeça desafiadoramente.

“Com uma cara inocente que nunca comprou um bilhete em uma corrida de cavalos, você aposta no bilhar como um homem faminto.” (Damien)

Damien se aproximou dela e a encarou nos olhos.

“Qual é a aposta? Quer algo de mim?” (Damien)

Seus olhos se encheram de uma luz interessante. Não era uma boa situação para Chloe, mas ela achou que precisava dizer algo.

“Por favor, pare de me chamar tão tarde da noite.”

“E se eu tiver um negócio?” (Damien)

“Pode fazer quando o sol sair. Este não é o momento em que todos os servos estão dormindo.”

“E se eu ganhar?” (Damien)

Chloe hesitou por um momento. Damien riu suavemente novamente.

“Nunca pensou na possibilidade de perder? Isso é loucura.” (Damien)

Chloe o encarou seriamente, pensando que deveria se manter calma, quer o Duque ria dela ou não.

“O que o Duque quer se ganhar?”

“Vou pegar algo que quero de você.” (Damien)

Chloe piscou algumas vezes e o encarou com uma expressão ligeiramente perplexa.

“Como o Duque sabe, não tenho muito.”

“Isso significa que não havia nada mais do que poeira nas doze malas que ocupavam todo o espaço do trem de carga?” (Damien)

Chloe segurou o taco em vez da bengala e o encarou intensamente.

“Claro que não. Só pensei que não tenho o que o Duque precisa.”

“O que ouviu?” (Damien)

Sua preciosa mala estava cheia de itens essenciais. Além dos frascos que salvaram o neto de Eliza, Charlie, há apenas alguns dias, o pacote de diários que ela carregava desde a infância, os coloridos fios de bordar e os materiais de papelaria perfumados que sua mãe comprou para ela pela primeira vez, canetas, incensos que seu pai comprou em Swann para ela, a boneca com a qual brincava desde criança. Não havia uma única coisa que pudesse ser útil para Damien.

“Direi depois que o jogo terminar.” (Damien)

“Como quiser.”

Damien assentiu e deu a vez. Chloe pensou que nunca perderia para ele. Em nome dos Verdier.

A bola branca que rolou suavemente atingiu com precisão a bola colorida alvo. Depois de pontuar, Damien observou atentamente Chloe enquanto ela escolhia o próximo ângulo. Percebeu que seus lábios pequenos estavam parcialmente abertos enquanto ela se concentrava no jogo.

“Falta.” (Damien)

“Isso não pode estar certo!”

Diante do sussurro de Damien, os olhos de Chloe se abriram bem. Ela se movia com tanto cuidado para evitar cometer um erro, mas ele diz que foi falta. O Duque tem olhos na nuca?

“Errei.” (Damien)

Damien encolheu os ombros calmamente e escondeu um sorriso. Já sabia há muito tempo que essa mulher sempre o surpreenderia, mas isso foi francamente mais do que esperava. Chloe era prudente e, uma vez que tomava uma decisão, tinha a determinação de agir audaciosamente.

Ele lambeu a boca seca com a língua. Enquanto Chloe coxeava ao longo da mesa espaçosa, olhando fixamente a bola, ele parecia estar fora de vista. Finalmente, só restaram as duas últimas bolas.

Damien estava dois pontos à frente na pontuação, mas Chloe tinha a última chance de atacar. Se ela fizesse dois pontos seguidos, seria a vencedora do jogo. Se isso acontecesse, ele não poderia vê-la novamente naquela noite. Se ele não aceitasse os termos da aposta, ela não iria querer jogar mais com ele.

“Chloe.” (Damien)

De repente, Damien a chamou pelo nome. Chloe disse sim, sem olhar para ele.

“Sabia que a base deste jogo é fazer com que seu oponente cometa erros?” (Damien)

“Sim.”

Chloe o ouvia com um ouvido e deixava sair pelo outro, calculando ansiosamente o ângulo de sua jogada. Suas mãos suavam muito, e depois de polvilhá-las com pó de resina, ela finalmente se acalmou. Quando era criança, quando suas pernas eram mais fracas do que são agora, o Visconde de Verdier ensinou Chloe, que estava deprimida porque não conseguia sair, a jogar bilhar.

“O jogo nesta pequena mesa é incrivelmente diverso, Chloe. Assim é a nossa vida. Nada disso foi decidido desde o início. Então, é divertido.”

“Minha… vida?”

“Sua vida também. Minha querida filha.”

Chloe não podia sair, mas aprendeu todos os passatempos que podiam ser feitos dentro de casa. Nem seu pai, que a ensinou a jogar bilhar enquanto discutiam seu futuro imprevisível, teria imaginado que ela se tornaria Duquesa e teria que lidar com seu marido de mau humor. Foi quando ela olhou para o último alvo, sorrindo levemente ao se lembrar de seu pai.

“Em dois dias, um grupo de importantes convidados visitará o Castelo dos Abedules. Como Duquesa, espero que faça o máximo para recebê-los.” (Damien)

“Sim, farei.”

‘Receber convidados não era o seu forte, mas não havia nada que não pudesse fazer. Tudo o que precisava fazer era servir comida constantemente para satisfazer os gostos dos convidados, intervir moderadamente em suas conversas e prestar muita atenção neles próprios.’

Chloe mordeu o lábio e se concentrou em bater na bola. ‘O ângulo estava ligeiramente desviado, mas a bola entrou por pouco na esquina. Agora, se ela apenas colocasse a última bola preta, o jogo terminaria.’

“Supostamente, a Marquesa Isabella comparecerá. É uma mulher exigente, então é melhor prestar atenção especial e ser cuidadosa com os preparativos.” (Damien)

A bola branca falhou em acertar a bola preta e se afastou. O taco caiu impotente da mão de Chloe enquanto ela se afastava lentamente da mesa. ‘Agora, o que disse o Duque?’

Chloe observou com olhos embaçados enquanto Damien esfregava o taco no giz, indiferente, e batia com força na bola que ela falhou. Damien se levantou e a encarou.

“É uma pena, Chloe. Quase ganhou.” (Damien)

Clack!

A bola, girando alternadamente ao longo dos quatro lados da mesa, finalmente tocou na bola preta. A bola preta que rolava suavemente desapareceu no buraco como se tivesse sido sugada.

‘A pontuação se inverte. Foi a vitória de Damien.’

Chloe o olhou com os olhos fora de foco, sem nem pensar em pegar o taco que havia caído no chão.

“… o que deseja, Sua Graça?”

Damien se aproximou lentamente dela, estendendo as mãos entrelaçadas diante dela. Ele se aproximou dela lentamente como um animal preguiçoso e falou em um tom baixo.

“A língua e os lábios de Chloe Verdier.” (Damien)

‘Como esse homem podia ser tão cruel?’ Chloe se imaginou escolhendo pratos para seu amante. ‘A quem deveria perguntar sobre os gostos da Marquesa Isabella? Deveria perguntar ao homem à minha frente?’

“… está falando sério?”

Chloe sorriu e o encarou. O homem que casualmente pisoteou seu orgulho, que ela pensou que havia protegido com um sorriso.

“Não poderia ser mais sincero do que isso.” (Damien)

Damien se deleitou vendo Chloe, com os olhos completamente desfocados, mordendo os lábios e apertando os punhos.

“Você é quem me pediu para apostar.” (Damien)

‘Exploda, Chloe.’ (Damien)

“…”

“Por quê. O que há de errado?” (Damien)

“Duque, eu…”

‘Sim! Deixe explodir, Chloe.’ (Damien)

Chloe coxeou em direção a ele. Não houve hesitação como antes quando agarrou a camisa de vestir preta de Damien com as duas mãos.

“Nunca senti tanto desprezo por um ser humano.”

“Oops. Desculpe.” (Damien)

Damien respondeu com um beijo ainda mais quente em Chloe, que o beijou com lágrimas quentes nos olhos.

“Isso é tudo o que tem a me dizer?” (Damien)

Passou os lábios pela bochecha molhada de Chloe. Seu coração acelerou descontroladamente enquanto observava a mulher chorar silenciosamente como uma pintura.

“Não.”

‘Sim. Neste ponto, ela tinha que perguntar. Seria normal gritar e lançar insultos perguntando como ele ousava oficialmente convidar sua amante para o castelo onde está a anfitriã.’ (Damien)

“Tente, ouvirei qualquer coisa.” (Damien)

“Se isso terminou, posso voltar agora?”

Chloe tinha uma habilidade especial para enlouquecer as pessoas, muito mais do que ela pensava.

1. Jogo de bilhar jogado com tacos mais longos que o comum e em uma mesa de bilhar comum, com uma bola branca que deve atingir 15 vermelhas e seis de outras cores.[↩]