Capítulo 16 – A Amante de Damien
A medicação não foi o que Damien teria esperado. Os olhos do médico responsável e de sua donzela exclusiva, Margaret, com quem ele se encontrara antes, estavam preocupados e aliviados ao mesmo tempo.
“Senhora, está se sentindo bem?” (Margaret)
“Deverá repousar absolutamente por enquanto.” (Médico)
O médico da casa Thisse disse que Chloe teve a sorte de não ter febre e novamente pediu absoluto repouso antes de se retirar. Chloe lutou para se levantar da cadeira e se apoiou na cabeceira da cama. Falando com a donzela que colocou um travesseiro em suas costas, ela disse:
“Margaret, o que aconteceu com os convidados?”
Margaret mal conseguia conter seu coração perturbado ao ver que a anfitriã, que caiu sob o gelo e mal recuperou a consciência, estava se preocupando com seus convidados com suas primeiras palavras. Os outros servos que atenderam aos convidados disseram que todos eles não esconderam seu desprezo pela duquesa doente, o que enfureceu Margaret ainda mais.
“Todo mundo se retirou… exceto uma pessoa.” (Margaret)
Ao olhar para a expressão apagada de Margaret, Chloe pôde intuir quem permanecera na propriedade.
“… é a Marquesa?”
“Na verdade, é a senhora que caiu na água, mas não sei por que aquela mulher desmaiou. O que é?” (Margaret)
Ao ouvir a reclamação da serva, Chloe fechou seus olhos pesados por um momento e depois os abriu. Lá fora estava escuro.
“Ainda assim, que sorte o Mestre ter salvado a Senhora sem demora. O fato de a Grande Senhora não estar no castelo também foi um auxílio dos céus. Se a Grande Senhora tivesse presenciado isso, o pobre Doutor Brown teria que lidar com três pacientes doentes em uma noite.” (Margaret)
Chloe, com os olhos desfocados, ponderou seus pensamentos por um momento. Como a donzela disse, o Duque Damien Ernst Von Thisse cumpriu seu dever como marido ao salvar sua esposa de se afogar. Ela não pretendia ignorar o fato de que o Duque também se arriscou em uma situação potencialmente perigosa.
Mas certamente, se ele não tivesse convidado sua amante, a Marquesa Isabella, o incidente dela cair no lago congelado realmente teria acontecido? Era improvável que a cadeira de patins, que estava imóvel, se movesse tão rapidamente por si só, então alguém a empurrou de propósito.
“Aconteceu mais alguma coisa?”
“O colapso da Senhora foi o maior de todos!” (Margaret)
Chloe lembrou a situação pouco antes de ser empurrada. Havia várias pessoas correndo rapidamente ao seu redor, assobiando, conversando e se vangloriando, mas as pessoas atrás dela eram bastante previsíveis. A pessoa que a empurrou poderia ter sido a própria Marquesa Isabella, ou alguém mais que ela tenha instigado.
O incidente foi sério o suficiente para ser algo feito arbitrariamente por alguém para ganhar o favor da Marquesa.
“… Margaret. Onde está o quarto da Marquesa Isabella?”
“Por que pergunta isso, Duquesa?” (Margaret)
A donzela perguntou cautelosamente, sem esconder sua expressão preocupada.
“Há algo que preciso dizer a ela.”
A expressão de Chloe mostrava vestígios de profunda preocupação. Desde o início, estava claro que a Marquesa sentia algum ressentimento por ela. Se a Marquesa estivesse apaixonada pelo Duque há muito tempo, teria sido assim. Chloe até a repreendeu na frente de outras mulheres, então não era surpresa que sua malícia se tornasse afiada como um picador.
Mas, além de Chloe poder entender suas circunstâncias, não era trabalho dela consolar a Marquesa, que estava machucada por ter sido abandonada por sua amante. Para Chloe ganhar seu favor, seria como fazer algo engraçado para desacreditar sua posição como Duquesa em público, e honestamente, ela não queria fazer isso.
Desde que chegou ao Castelo dos Abedules, Damien sempre a pressionou a cumprir seu dever como Duquesa. De fato, constantemente lançava desafios grandes e pequenos, e Chloe os suportava com toda sua força, sem querer se envolver em nenhum de seus desafios.
Foi o mesmo nesse caso. Chloe percebeu que os deveres de uma Duquesa incluíam não se deixar intimidar na luta entre mulheres. Como resultado, esteve lidando com convidados grosseiros por dois dias, mas seus pensamentos mudaram quando a amante de seu marido realmente ameaçou sua vida.
Se o ódio da Marquesa era mais profundo do que parecia, não havia garantia de que algo semelhante não aconteceria da próxima vez.
“Me guiaria até lá?”
“Minha Senhora.” (Margaret)
“Não se preocupe, não acontecerá nada como gritos e brigas entre a amante e a esposa legítima.”
Chloe sorriu amargamente para a donzela que não sabia como esconder sua expressão. Alianças são melhores para eliminar brigas desnecessárias. Ela pensou que não havia motivo para se expor a uma humilhação desnecessária em público e arriscar sua vida apenas porque era casada com o Duque.
“Pequena Senhora. Eu sei que é uma blasfêmia, mas talvez essa mulher esteja por trás do que aconteceu no lago…” (Margaret)
“Foi apenas um acidente infeliz, Margaret. Então, se algum dos servos está interpretando mal a situação, por favor, corrija-os.”
Chloe cortou suavemente as palavras cuidadosamente pronunciadas pela donzela. Foi uma situação que poderia tê-la matado, mas estava claro que investigar o caso e punir a Marquesa teria más consequências. Foi por isso que Chloe se recusou a embelezar os boatos enquanto estava envolvida nesse triângulo amoroso, e além disso, não havia garantia de que os outros presentes na cena estariam do seu lado.
O coração de Chloe congelou um pouco mais quando chegou à conclusão de que o Duque poderia estar entre aqueles que não ficariam do seu lado.
No final, ela poderia ser vista como uma Duquesa cega pelo ciúme, e terá que suportar as cicatrizes de não ser espancada nos salões de outras pessoas.
Sua resolução de encontrar Isabella e falar com ela se fortaleceu. Não poderia revelar o fato de que ela e o Duque se casaram por interesses mútuos. Em vez disso, poderia dizer com segurança que, quanto à relação entre ela e o Duque, ela não tinha nada a ver e também não queria ter nada a ver com ele, e que eles poderiam sussurrar palavras de amor em algum lugar secreto, longe dos olhos alheios, mas respeitando seu espaço.
Era o último ato de orgulho de Chloe Verdier.
Isabella tentou fingir serenidade diante de Damien, que a observava com as pernas cruzadas.
“Finalmente tenho a chance de falar com você.” (Isabella)
“Sim. Vou te conceder uma chance, então vá em frente.”
A voz de Damien era afiada, mas sua expressão era a mesma de sempre. Isabella respirou fundo e abriu a boca.
“A condição do Príncipe está cada vez pior. Agora estão tentando chamar um psíquico diretamente para o palácio.” (Isabella)
“O Rei está ciente disso?”
“Sim. Por isso estou ainda mais ansiosa. E…” (Isabella)
Isabella parou um pouco antes de Damien olhá-la.
“O que?”
“Parece que Sua Majestade o Rei suspeita que você está planejando uma rebelião.” (Isabella)
“É assim?”
Quando Damien não mostrou sinais de agitação, Isabella piscou um pouco mais rápido, escondendo sua vergonha. Sua expressão era séria enquanto abaixava a voz.
“Sua Majestade o Rei ameaçou tirar minha vida se eu não te levasse para Swann. A razão pela qual ele me forneceu uma dama de companhia exclusiva provavelmente é para me espionar.” (Isabella)
“Então, eu tenho que caminhar para a forca enquanto seguro sua mão?”
“Claro que não, Damien. Não vou deixar isso acontecer.” Isabella colocou suavemente sua mão em seu braço. “O que acha de se esconder por enquanto em uma cabana em Windsbury sem que ninguém saiba? Direi ao Rei que você desapareceu a caminho de Swann.”
“O Rei realmente acreditaria nisso?”
“Farei qualquer coisa para que ele acredite.” (Isabella)
“Isabella.”
“Sim, Damien.” (Isabella)
Damien suspirou, dando uma olhada em sua mão.
“Você realmente não achou que eu iria para Windsbury seguindo seus conselhos, né?”
“M-Mas caso contrário, você estará em perigo.” (Isabella)
“Suas mãos estão esfriando, Isabella. É uma característica sua sempre que você mente.”
As sobrancelhas suaves e arqueadas de Isabella se moveram ligeiramente. Não fazia muito tempo que o idoso Rei a trouxera para dentro do palácio. Ele a interrogou intensamente, questionando se ela estava agindo como espiã de Damien até agora. Isabella insistiu em sua inocência diante da morte e, em vez de executá-la, ordenou que levasse Damien para um lugar remoto.
“Por que eu iria lá quando há grupos de assassinos me esperando em Windsbury?”
“Damien. Do que você está falando…?” (Isabella)
Os lábios de Isabella tremeram. A proposta do Rei era uma oferta que Isabella não tinha motivos para recusar, e era a oportunidade que ela estivera esperando para se vingar de Damien. O objetivo final de Isabella Tweedle era se tornar Duquesa, mas desde que Damien a traiu, tudo foi catastrófico.
“Não finja ignorância. Você realmente parece ridícula.”
Damien riu dela, fingindo estar calmo. Contrariamente ao belo rosto que cega e seduz o espectador, em sua voz se revelava desprezo e zombaria.
“Enquanto tivermos decidido nos aliar ao Rei, o acordo comigo acabou.”
Isabella mordeu o lábio de forma lamentável. Dado que Damien, como uma víbora, percebeu toda a situação, só havia uma maneira.
“Isso é realmente demais.” (Isabella)
“O quê?”
“Não sei por que está fazendo isso de repente, mas não pode me tratar tão mal considerando os últimos dois anos que sacrifiquei por você.” (Isabella)
“Sacrifício, Isabella. São palavras ditas quando você se entrega por alguém sem esperar nada em troca. Realmente não combina com você.” Damien sorriu e agitou a mão.
“Acha que sou esse tipo de pessoa, né?” (Isabella)
“É por isso que não brinco.”
Isabella ofegou.
“Toda a sua bondade comigo foi apenas uma mentira.” (Isabella)
“É necessário tratar com frieza alguém que é bom no seu trabalho? Novamente, se tivesse sido honesta e buscado minha ajuda, teria estado mais do que disposto a ajudá-la. Mas, infelizmente…”
Os olhos de Damien brilhavam felizes.
“Você não tem outro lugar para estender a mão, Isabella.” Ele era imparável ao atacar as fraquezas de seu oponente. “Se não puder me levar para Windsbury, o Rei não deixará você ir.”
Os olhos de Isabella começaram a tremer de repente.
“É verdade que eu estava com raiva. Mas tudo é culpa sua. Porque me ignorou completamente depois de casar e me deixou sozinha.” (Isabella)
“Isabella, se vai agir como uma criança carente de afeto, pelo menos não deveria ter me traído. Não, eu nem deveria ter descoberto isso.”
“Vazava todas as informações sobre o palácio conforme você desejava, mas não pode me abandonar assim!” (Isabella)
“Haha!”
Damien finalmente riu às gargalhadas enquanto olhava para Isabella, que estava banhada em lágrimas. Mal conseguiu capturar seu riso frio e seco, inclinando a cabeça para Isabella, que o encarava em branco.
“Isabella, como poderia te abandonar?”
“Damien…” (Isabella)
“Se nunca a tive em primeiro lugar, então, como me desfaço de você? Que absurdo chamar isso de abandono.”
O rosto de Isabella alternava entre o desprezo miserável e a raiva.
“Ninguém te conhece melhor do que eu. Precisa estar ao meu lado.” (Isabella)
“Julgamentos infundados e obsessão, todos os quais são rejeitados.”
“Vou morrer se soltar minha mão.” (Isabella)
A última carta de Isabella teve o efeito oposto. Os olhos de Damien se tornaram azuis como os de um louco.
“Pobre Isabella… você realmente pensou que poderia sobreviver depois de instigar o assassinato de minha esposa?”
Isabella deu um passo para trás e gaguejou involuntariamente diante de seu impulso.
“O quê? Do que está falando? Nem cheguei perto da Duquesa…!” (Isabella)
“A Marquesa, a personagem principal desta tragédia, não precisa usar suas mãos. Um dos servos que você subornou ontem à noite deve ter feito seu trabalho muito bem.”
“Ah, Damien, por favor, me perdoe. Só fiz isso porque te amo.” (Isabella)
Isabella se agarrou à sua camisa. Lágrimas corriam por suas bochechas.
“Você me ama?” Damien segurou seu rosto como se tivesse ouvido algo estranho. “Senhora Isabella, Marquesa de Tweedle. Tem a ilusão de que realmente se tornou algo para mim depois de fingir ser minha amante?”
Damien envolveu os braços na cintura de Isabella e sussurrou cruelmente.
“Mas… nunca te quis como mulher.”
“Eu… é porque já fui casada antes? Ou é por minhas origens humildes?” (Isabella)
Isabella mordeu o lábio e Damien estalou suavemente.
“Isabella. Então, não me conhece tão bem.”
‘Se eu tivesse querido Isabella, a teria feito minha mulher há muito tempo. Não importava a mulher que ela tinha sido ou de quem tinha sido mulher. A origem nem sequer era uma consideração.’
“Enquanto isso… você foi boa comigo.” (Isabella)
“Ainda sou bom o suficiente para você?”
Os olhos de Damien estavam injetados em sangue enquanto olhava para Isabella, que suplicava e chorava. Foi só então que Isabella pôde ver vividamente a ira fervendo dentro dele.
“Minha paciência não é grande quando descobri que segurou a mão do Rei e ainda a deixei ir mesmo depois de
saber que me traiu e tentou assassinar minha esposa?”
Os lábios de Isabella tremeram silenciosamente.
“Se eu voltar para Swann sozinha, o Rei me matará…!” (Isabella)
“Então logo encontrará o pobre Marquês de Tweedle, a quem você mesma matou.”
Diante de Damien, que conhecia todos os segredos de Isabella, seu rosto ficou branco de medo. Só então ela percebeu que tomara uma decisão completamente errada.
“Damien, por favor, não me abandone. Por favor… me ajude. Me ajude.” (Isabella)
Damien olhou para Isabella, que se agarrava a ele sem medo, e murmurou.
“É tarde demais, Isabella.”
Isabella Tweedle e ele haviam mantido uma boa relação de trabalho nos últimos dois anos. Tudo o que ela precisava fazer era fingir ser amante de Damien. Ele a escolhera porque sabia que Isabella, que fora dama de companhia da falecida rainha, frequentava a residência do Rei. Graças a isso, pôde compreender a situação dentro da família real e, em troca, pagou à gananciosa Isabella dinheiro suficiente para viver condignamente.
“Ah, Damien… Damien, te amo…” (Isabella)
Em vez de simpatia, o rosto de Damien mostrou irritação ao ver Isabella soluçar. O que mais odiava era que se agarrassem a ele com lágrimas. Se esse fosse o caso, não deveria ter cometido aquele erro em primeiro lugar.
Justo quando Damien estava prestes a afastá-la e sair, ouviu uma voz tranquila fora da porta.
“Vamos voltar.” (Chloe)
As sobrancelhas de Damien se franziram bruscamente enquanto virava a cabeça. Era a voz de sua esposa, que deveria estar deitada na cama e descansando.
“Ai, Damien… damien, te amo…” (Isabella)
A serva, que pretendia ajudar Chloe, ficou tensa. Sua mão, que segurava a lâmpada, tremia ligeiramente. O rosto de Chloe também se endureceu. Em sua mente, ela sabia que não havia nada de estranho em Damien estar no quarto de Isabella, mas seu coração doeu.
“… vamos voltar.” (Chloe)
No momento em que Chloe soltou um pequeno suspiro, a porta se abriu diante de seu nariz. Era Damien.
“O que minha esposa está fazendo aqui?”
O homem, aparentemente não familiarizado com a palavra vergonha, perguntou com a testa franzida. Chloe mordeu o lábio forte o suficiente para sangrar, então as palavras saíram de sua boca.
“Vim me desculpar por causar tal tumulto. Ouvi dizer que a Lady Isabella não estava se sentindo bem, então vim trazer um chá que é bom para os nervos.” (Chloe)
“Eu entregarei pessoalmente. Neste momento, a Marquesa não está em condições de se encontrar com ninguém.”
Chloe sacudiu a cabeça com rigidez. A pobre serva ao seu lado tremia com a cabeça baixa, sem saber o que fazer. Chloe rezou à sua falecida mãe, esperando com toda a força que sua voz não tremesse. ‘Por favor, mãe. Dê-me coragem para não desmoronar.’
“Agora que encontrei a Excelência aqui, tenho algo a dizer.” (Chloe)
“O quê?”
Depois que Damien pegou o chá, ele a instigou a falar rapidamente. Chloe engoliu saliva com dificuldade e conseguiu pronunciar com a voz levemente trêmula.
“Permita-me voltar para a propriedade Verdier.” (Chloe)
“Por que eu deveria fazer isso?”
‘Depois deste momento, não tenho confiança para enfrentá-lo.’ (Chloe)
“Estou doente, então desejo ver meu pai.” (Chloe)
“Não posso permitir.”
Damien cortou suas palavras com firmeza, como se nem sequer valesse a pena considerar essa possibilidade.
“Por favor.” (Chloe)
“É uma negativa.”
“Por quê?” (Chloe)
Chloe franziu a testa e Damien continuou.
“Uma vez que você é casada, não é mais filha de Verdier, mas esposa de Damien Von Thisse.”
“…” (Chloe)
“Não é seu dever como Duquesa deixar seu marido à sua sorte no castelo?”
Chloe sentiu como se tivesse levado água gelada, ficou congelada e seu coração batia forte.
“Se esse assunto se resolver, virei visitá-la? Estou um pouco ocupado no momento.”
Damien olhou por cima do ombro e cuspiu baixo. À primeira vista, parecia alguém que acabara de sair de um ‘assunto movimentado’ com a Marquesa. As manchas em sua camisa pareciam dizer tudo.
“Ha…” (Chloe)
Chloe não tinha confiança para suportar mais humilhações. Falou baixo para as costas de Damien enquanto se virava.
“Enquanto desfruta do amor com sua amante, espera que eu cumpra minhas obrigações como Duquesa?” (Chloe)
Damien fez uma pausa e ergueu lentamente as sobrancelhas. Foi só então que soltou a porta à qual estava se agarrando como se bloqueasse sua visão.
“Você está com ciúmes agora?”
A pesada porta se abriu silenciosamente, revelando a visão completa do quarto. No momento em que Chloe viu que o vestido preto da Marquesa Isabella, que estava sentada no chão chorando, estava meio solto, Chloe fechou os olhos e os abriu novamente.
Sentiu como se seu coração estivesse se partindo em pedaços. O orgulho ao qual ela mal tinha se agarrado até agora se desfez no chão, e os fragmentos voaram.
“De jeito nenhum.” (Chloe)
Não havia modos naquele homem claramente possuído pelo diabo. Chloe apertou com força a mão que segurava a bengala, lutando para superar a sensação de desmoronar.
“Aproveite, Excelência Duque.” (Chloe)
“Graças a você, acho que vou.”
Chloe começou a descer as escadas com pernas trêmulas. Seus olhos ficaram embaçados e sua respiração parou na ponta do queixo. Mordeu com força o interior da boca para não chorar, mas o sangue escorria dela. Não apenas suas mãos e pés estavam frios, mas todo o seu corpo tremia, então ela mal conseguia ficar de pé corretamente. Sentiu que sua bengala ia escorregar e rolar pelas escadas.
“Senhora, está tudo bem?” (Margaret)
Quando sentiu que estava prestes a cair, a voz preocupada de Margaret soou fracamente nos ouvidos de Chloe. Chloe se agarrou à grade e lutou para sorrir.
“É tarde da noite. Estou bem, então volte para o seu quarto e descanse hoje.” (Chloe)
“Só a levarei para o seu quarto.” (Margaret)
“Quero ficar sozinha.” (Chloe)
Margaret hesitou por um momento, depois assentiu com uma expressão preocupada. Além da diferença de status, como mulher, não pôde deixar de conhecer seu coração. Ser nobre não significa que seu coração seja de ferro.
“Tenha cuidado para não cair, minha Senhora.” (Margaret)
“Obrigada, Margaret.”
Chloe, de pé com a lâmpada que Margaret lhe entregou, soltou um longo suspiro apenas depois que a serva desapareceu. As lágrimas que ela vinha segurando com força finalmente saíram e caíram no chão do corredor escuro.
‘Se acalme, Chloe. Você está bem. Você está bem.’ (Chloe)
Chloe secou o rosto molhado com as costas da mão e lutou para mover os pés. Abriu bem os olhos, olhando para frente para evitar olhar os retratos de Damien pendurados nas paredes do corredor. Nas pinturas, ele sempre tinha um sorriso arrogante no rosto. Era um rosto que parecia rir dela.
‘É como se pudesse ouvir a voz de Damien zombando de mim, perguntando se me casei sem conhecer seu coração desde o início ou se esperava algo diferente dele, e onde foi parar o espírito com o qual entrei no quarto da Marquesa?’
Chloe soltou um suspiro trêmulo e se arrastou pelo corredor interminável. Obviamente, ela tinha jurado não se intrometer na vida privada do Duque. Ela pensou que não importava se ele sussurrasse amor para sua amante, contanto que respeitasse seu espaço.
No entanto, no momento em que viu Damien com Isabella com seus próprios olhos, todas as resoluções que ela havia tomado antes de ir lá desmoronaram como uma casa atingida por um tufão. ‘Por quê? Por que me sinto tão miserável?’
Pensamentos confusos fervilharam na cabeça de Chloe enquanto ela caminhava sozinha pelo sombrio castelo.
Será que o fato de Damien tê-la salvo ao cair no lago criou alguma esperança nela sem que ela percebesse? Afinal, ele era alguém cujo único propósito era mostrar sua cavalheirismo diante dos outros? A uma pessoa de moral duvidosa que desfruta de um encontro com sua amante em um castelo onde sua esposa é a anfitriã?
Seu quarto estava visível à distância, mas os passos de Chloe ficaram mais lentos. Ela não queria estar naquele castelo. Não importava o quanto Chloe tentasse se proteger, era um fato real que ela se tornaria miserável enquanto Damien a ignorasse.
‘Você se casou sabendo que ele era esse tipo de pessoa, Chloe.’
Chloe estremeceu com um sentimento de vergonha, e ao mesmo tempo cresceu nela a necessidade de fugir. Parando em frente ao seu quarto, ela não conseguiu abrir a porta.
‘Quero ir para casa. Quero voltar para Verdier.’
Os amáveis olhos de Grey apareceram de repente em sua mente enquanto ela chorava silenciosamente. Chloe abandonou suas dúvidas e se virou. De qualquer forma, quando amanhecesse, ela teria que voltar a ser uma boneca sem emoções e manter seu papel de anfitriã que ninguém respeitava.
Se não pudesse ir para Verdier, ela precisava do consolo de alguém que fosse como sua família, mesmo que fosse apenas por esta noite. Ela queria se apoiar em uma vontade calorosa e amigável. Grey não perguntaria nada, e só estaria ao seu lado fazendo o possível para que ela resistisse até amanhã.
“… minha senhora.”
Quando Grey abriu a porta rangente e viu Chloe, seus olhos se arregalaram.
“Ainda não está dormindo?” (Chloe)
“Está tudo bem?”
Grey a fez entrar em sua cabana e fechou a porta rangente. As bochechas de Chloe estavam congeladas como se ela tivesse caminhado sozinha pelo vento frio.
“Faz muito frio lá fora. Não deveria andar sem um casaco assim.”
Depois de Grey generosamente colocar lenha no fogão, ele lhe entregou uma manta.
“Sim, estou bem. Acho que me acostumei com esse frio ridículo e estou bem mesmo depois de cair na água gelada.” (Chloe)
Os olhos de Chloe estavam úmidos de lágrimas. Grey disse baixinho.
“… senhorita Chloe.”
“Posso ficar aqui por um tempo? Deve ter se surpreendido com minha visita repentina, mas quando recuperei os sentidos, de repente me vi ansiando por meu pai. Sinto que me transporto para Verdier quando estou com você.” (Chloe)
Grey não pediu mais detalhes. Era o que Chloe esperava.
“Por favor, peço desculpas se este quarto não estiver em boas condições.”
“Oh. É muito maior do que o quarto debaixo das escadas onde você ficou em nosso castelo.”
Com uma risada autocrítica, Chloe se sentou em uma pequena cadeira de madeira. Grey colocou a chaleira sobre o fogão, que ele usava tanto para cozinhar quanto para aquecer o quarto, e ferveu chá.
O som áspero do vento batendo na fina janela. Apesar de o vento forte soprar como se fosse derrubar a pequena cabana, o pequeno espaço estava tão quente quanto sua antiga casa. Chloe se encolheu e se cobriu um pouco mais com a manta que ele lhe entregara.
“É simples, então talvez não tenha um bom gosto em sua boca.”
“Não diga isso, Grey.” (Chloe)
Chloe pegou a xícara de chá e sorriu, corada. Grey era tranquilo, não chato, mas sim inteligente. Embora tenha sido Chloe quem o ensinou a ler, era claro que Grey trabalhava duro nisso. Grey aprendeu rapidamente e tinha uma boa capacidade de compreensão de contexto. No entanto, sua maior força era ser uma pessoa que, conhecendo os fatos, podia ignorá-los. Não porque tivesse más intenções, mas apenas por ser considerado com a outra pessoa.
Grey deve ter sabido que a razão pela qual ela caminhou sozinha pela floresta altas horas da noite até sua cabana não era apenas para tomar uma xícara de chá. Mesmo assim, Chloe estava realmente grata a ele por não perguntar nada.
“Grey, não diga isso. Estar com você aquece meu coração.” (Chloe)
A pele escura de Grey ficou tingida de um leve tom de vermelho.
“O chá está delicioso. Obrigada.” (Chloe)
“… não se comparará com a primeira xícara de chá que a senhora me ofereceu.”
Chloe sorriu levemente para Grey.
“Já se passaram 10 anos desde que nos conhecemos pela primeira vez?” (Chloe)
“Onze anos, minha Senhora.”
Grey corrigiu ela suavemente. Os olhos de Chloe se estreitaram ligeiramente.
“Naquela época, você era como um filhote muito fofo.” (Chloe)
“Você disse a mesma coisa quando me viu pela primeira vez.”
“Eu disse?” (Chloe)
Chloe riu um pouco e Grey assentiu. O senhor Chester, que trouxera um órfão para ajudar com o trabalho, advertira Chloe para não se aproximar porque ele cheirava terrivelmente. Chloe, que o olhava com curiosidade em seus olhos calorosos, se aproximou mancando e o levou para dentro do castelo.
“Sim. Ele disse que eu cheirava como um filhote que havia corrido na lama sob a chuva. E você mesma me ofereceu uma xícara de chá. A melhor que já tomei… era doce, quente e deliciosa.”
Grey se levantou cautelosamente de sua cadeira e colocou toda a lenha restante no forno para ela.
“Nunca esquecerei até o dia da minha morte.”
Chloe desviou o olhar de Grey, sentindo que seus olhos estavam se aquecendo. Estava claro que este era o consolo de Grey para ela. Sua sinceridade a comoveu. Claramente, ele estava lhe dizendo que sua boa vontade significava algo para alguém.
“O que você vai fazer se usar toda a lenha que lhe deram?” (Chloe)
“É muito melhor do que a senhora ficar doente.”
Dizendo isso calmamente, Grey mexeu silenciosamente na lenha com a atiçador. Depois de lavar sua xícara de chá, Chloe se deitou na mesa de madeira como uma criança que não quer estudar.
“Ficarei assim por um tempo.” (Chloe)
Lágrimas silenciosas brotaram dos olhos de Chloe. A mão de Grey tremeu várias vezes, mas no final ele não conseguiu enxugar suas lágrimas. Em vez disso, enquanto colocava cobertores nas janelas por onde o vento entrava, só desejou em seu coração. ‘Por favor, minha Senhora, não fique doente.’
Quando Chloe acordou, já era amanhecer lá fora. Grey, que não tinha dormido nem por um instante, a cumprimentou e Chloe saiu apressadamente da cabana. Tinha que voltar antes do amanhecer e se deitar antes que Margaret acordasse.
Sob o céu escuro da alvorada, Chloe caminhou rapidamente. Teve a sorte de não encontrar ninguém no caminho de volta ao castelo. Depois de se despir e vestir o pijama, Margaret abriu a porta no momento perfeito, assim que ela se enfiou na cama.
“Minha senhora, dormiu bem?”
“Dormi profundamente.” (Chloe)
Chloe sorriu de propósito, brilhantemente, para tranquilizar a donzela que a observava atentamente.
“Acho que foi a noite mais confortável desde que cheguei a este castelo.” (Chloe)
Foi no momento em que a aliviada Margaret lhe entregou chá e biscoitos e pegou um pente para pentear seus cabelos.
“Kyaaak!”
Um grito agudo ecoou do lado oeste do castelo.
“… há uma pessoa morta aqui dentro!”
A xícara de chá caiu da mão de Chloe.
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