Capítulo 35 — Sorriso [2]
[Nota do Autor: Me senti compelido a escrever isso depois que alguns leitores apontaram isso. Este capítulo pode conter alguns tópicos sensíveis. Pessoalmente, não acho que seja triste, mas sinto a necessidade de colocar isso aqui para aqueles que são mais sensíveis.]
Aoife sentiu um calor estranho subir em seu rosto enquanto ficava rígida, de costas para ele. O calor começou a se espalhar por cada canto de seu corpo.
Ela sentiu que seu rosto estava da mesma cor que seu cabelo.
O pensamento a fez ficar com o rosto tenso.
Vira—
“….”
No silêncio que tomou conta do ambiente, Aoife apertou os lábios.
‘Esse bastardo… Ele acabou de…?’
O que substituiu a vergonha que ela sentia foi outro sentimento. Raiva. Sim, ela estava com raiva.
De todas as coisas…
Seus punhos lentamente se fecharam, e assim também seus dentes.
“Huuu…”
Respirando fundo, ela suprimiu a raiva que fervia dentro dela. Ela temia que faria algo estúpido caso contrário.
Então…
Ainda segurando seus livros, ela se virou para encará-lo e se dirigiu à mesma mesa onde ele estava.
Baque.
E colocou seus livros em cima da mesa dele.
“….”
Ele a encarou com um olhar que parecia dizer: ‘Você perdeu a cabeça?’, mas Aoife ignorou e prosseguiu para se sentar.
E…
“Ba Dum~ Ta la~”
Ela começou a cantar.
Agora era a vez dele de estremecer. Só que Aoife sentiu seu coração apertar com a reação dele. Seu canto… Não poderia ser tão ruim assim, certo?
Por algum motivo, isso doeu mais do que ela imaginava.
‘Não, é ele.’
Sim, tinha que ser.
Ela era uma ótima cantora.
“Tu lum~”
“…..O que você está fazendo?”
Vira—
Agora era a vez dela de ignorá-lo. Olhando casualmente para o livro à sua frente, ela continuou a cantarolar.
Isso até que sua mão pressionou o livro dela.
Ela olhou para cima.
“O quê.”
“….Você pode parar?”
“Por quê? Este é um espaço público.”
“Eu gostaria de estudar, não perder minha audição.”
“Eu… você…”
Aoife cerrou os dentes enquanto lutava para retrucar. Então, sussurrou: “…Não é tão ruim assim.”
“É sim.”
A resposta rápida dele foi como um martelo para Aoife, que se viu incapaz de retrucar. A raiva fervia dentro dela, mas ela não mostrou, mantendo o rosto firme.
“…”
‘…..O que eu estou fazendo?’
Aoife estava perplexa. Ela queria ir embora, mas não podia. Agora que ela se sentou, precisava ficar lá por pelo menos cinco minutos antes de sair.
‘Eu fui muito impulsiva.’
Agora, ela teria que arcar com as consequências de suas ações.
Ou pelo menos era o que ela pensava.
Creaaak…
A cadeira de Julien rangiu quando ele se levantou. Seus olhos se encontraram por um breve momento antes que ele examinasse os livros e selecionasse alguns.
“….Você está indo embora?”
Aoife sentiu-se compelida a perguntar. Se sim, então ela não precisaria sair.
Mas…
“…”
Ele não respondeu. Era como se ele nem estivesse ouvindo. Os lábios de Aoife se abriram. Pela primeira vez em um bom tempo, ela não sabia o que fazer. Sentiu uma estranha sensação de humilhação em toda essa situação, enquanto seu rosto ficava ainda mais vermelho.
Seu olhar eventualmente caiu sobre um dos muitos livros que ele deixou na mesa, e ela não hesitou em pegá-lo.
“Já que é assim, você não se importa que eu pegue isso, né?”
Tok Tok.
Os passos calmos de Julien ecoaram enquanto ele saía da biblioteca.
Suas costas sempre estavam voltadas para ela. O completo desprezo que ele tinha por ela fez com que Aoife ficasse ainda mais irritada, e assim que ela abriu a boca para dizer algo novamente, ele apontou para o ouvido.
“…..Não consigo ouvir.”
***
Pode ter parecido que eu estava exagerando, mas eu genuinamente estava com dor nos ouvidos. Que tipo de canto era aquele…?
Parecia que alguém estava arranhando uma janela com as unhas.
Arrepios.
Tudo o que eu sentia eram arrepios.
‘É uma pena pelo livro que deixei, mas não consigo me concentrar com ela aqui.’
Havia um livro que eu realmente queria ler, mas infelizmente não pude. Principalmente porque era perda de tempo, e eu não podia me dar ao luxo de perder tempo.
Agora então…
Tok Tok—
Bati na porta familiar.
“Entre.”
Uma voz que eu estava começando a conhecer respondeu, e eu abri a porta.
“….”
Só para parar na entrada.
“O quê?”
Pisquei. Então pisquei de novo. Depois me virei e me preparei para sair.
“Você não precisa limpar isso. Eu faço… Mais tarde.”
Parei de repente e me virei. Ignorando todos os papéis e embalagens no chão, entrei no escritório.
“….”
Delilah apenas me encarou com um olhar vazio, mas eu ignorei. Ela também não insistiu no assunto e continuou.
“Quantos feitiços você conhece?”
Feitiços?
Contei mentalmente.
Se contarmos as seis emoções básicas, havia apenas dois.
“Oito.”
“Oito? Hmm.”
Delilah franziu a testa.
“Presumo que seis deles sejam as seis emoções básicas, correto?”
“Sim.”
Com um aceno quieto, ela se recostou na cadeira e cruzou os braços. Então, prosseguiu perguntando:
“Até onde você aprendeu?”
“Ambos no nível iniciante. Só desbloqueei um.”
Mãos da Enfermidade era atualmente o único feitiço que eu podia usar naquele momento. Ainda não conseguia usar o outro feitiço.
Havia cinco estágios para um feitiço.
Desbloqueio, que era a integração de um círculo na mente. Só quando uma conexão circular era estabelecida com a mente é que alguém poderia usar o feitiço como desejado.
Geralmente era a parte mais difícil de aprender um feitiço.
Os próximos cinco níveis eram: iniciante, intermediário, avançado, superior e aperfeiçoado.
“…..Algum intermediário?”
“Sim. Tristeza.”
Atualmente, apenas a tristeza estava no nível intermediário para mim.
Era a que eu entendia melhor, e também a que mais doía.
Então…
“Tente em mim.”
Eu me senti um pouco relutante quando ela pediu. Mas entendi que isso era importante e respirei fundo.
“Agora….?”
“Sim, preciso saber a extensão das suas habilidades antes de ajudá-lo.”
“….”
Brevemente, olhei para meu antebraço antes de desviar o olhar.
Eu precisava evocar tristeza.
A roda não poderia garantir tal emoção. E…
‘Quero ver o quão profundos são meus poderes.’
Eles poderiam afetar alguém tão poderoso quanto ela?
“Huu.”
O pensamento fervia em minha mente, e respirei fundo novamente antes de fechar os olhos. Deixei minha mente mergulhar em meus pensamentos.
Eu ia dar o meu melhor. Sem imersão. Sem trapaça. Apenas eu e meus pensamentos.
E para fazer isso…
Eu precisava desbloquear memórias que havia mantido escondidas em minha mente.
“H-huu…”
Uma certa dor perfurou meu coração. Era como se uma faca afiada o estivesse esfaqueando, e eu senti meu peito apertar.
Uma imagem surgiu em minha mente.
Meus lábios… De repente, pareciam secos. Meus dedos ficaram inquietos, e meus pulmões começaram a aquecer a cada respiração.
Uma sensação familiar.
….E um cheiro familiar.
Terroso, pungente, com um toque de notas doces.
Haa… Isso era…
Tzzz—
O som que fazia a cada tragada.
A calma que trazia.
O gosto em meus lábios.
Eu me lembrei de tudo. Até o menor detalhe. Como se fosse ontem.
Até a conversa que veio junto com aquela sensação.
‘….Por que você começou a fumar?’
Quem foi que me fez essa pergunta…? Minha mente estava confusa. Meus arredores estavam cinzentos, e o rosto da pessoa parecia desfocado.
Eu não conseguia me lembrar de muita coisa além da conversa.
Mas mesmo agora…
Eu me lembrava da minha resposta.
‘Houve um tempo em que eu queria ter câncer.’
Minhas bochechas se contraíram. Era como se a faca cravada em meu coração torcesse, me forçando a reagir.
Começou a ficar sufocante.
Como se alguém estivesse estrangulando meu pescoço. Apertando o mais forte que podia.
Não conseguia me lembrar da expressão que ele fez quando eu disse aquelas palavras. Eu não estava olhando para ele naquele momento. Ele era uma reflexão tardia. A pessoa com quem eu estava falando era eu mesmo.
‘…..Eu fumava porque queria ter câncer.’
Cada frase perfurava mais fundo que a outra.
Mais forte.
E mais profundo.
‘Para que meus pais, pela primeira vez… se importassem comigo.’
Porque…
‘Eles nunca se importaram.’
Era triste.
‘Eles morreram antes disso. Eles nunca…’
Mas era a verdade.
‘…Tiveram essa chance, sabe? A chance de prestar atenção em mim enquanto eu estava no leito de morte. É engraçado, né?’
“H-ha…”
Eu mal conseguia respirar a essa altura.
O peso no meu peito parecia imenso.
Eu…
Meus lábios tremeram.
Eu persisti.
‘A morte dos meus pais… Nunca me entristeceu.’
Deixei a conversa fluir.
‘A única coisa que me entristeceu foi o fato de que eles não puderam me ver sofrer. Prestar atenção em mim uma vez.’
Eu estava sorrindo naquela época.
A ironia parecia engraçada demais para mim.
“H-haa..”
‘Eu me arrependo agora, no entanto. Eu não… quero morrer.’
A morte deles me fez arrepender de minhas ações.
Eu tinha dezoito anos na época.
‘Eu pensei que, se eu parasse, meu corpo iria se curar. Eu era jovem. Eu sou jovem. E ainda assim…’
Eu ainda estava sorrindo.
‘…Eu acabei tendo câncer depois que parei. Depois que encontrei uma razão para me importar.’
E eu ainda estou sorrindo agora.
Porque…
Essa é a história da minha vida.
Minha vida patética.
Eu parei então. Não aguentava mais. Minha mente não aguentava. As memórias… Pareciam tão vívidas… tão reais…
A luz voltou aos meus olhos.
Delilah apareceu diante de mim, sua expressão tão estoica quanto sempre. Quanto tempo havia se passado? Provavelmente um segundo ou menos, mas parecia uma eternidade para mim.
Lágrimas escorriam dos meus olhos.
Eu as deixei.
E então, eu falei.
“…..É estranho. Emoções. Eu não pensei que doeriam tanto.”
***
O silêncio parecia sufocante.
“….”
Delilah ficou de pé perto da janela de seu escritório. Ela olhou para o campus lá de cima, observando calmamente os cadetes se movimentando.
Já haviam se passado dez minutos desde que Julien saíra.
Mesmo agora, ela estava pensando nele.
Sobre a “tristeza” dele.
A expressão que ele fez depois que ela perguntou, a mudança em seu rosto, as lágrimas em seus olhos, o poder de sua voz…
Imagens dele — naquele momento — continuavam a se repetir em sua mente.
Ela havia perguntado por curiosidade. Foi depois de ouvir os relatos sobre o que ele havia feito na sala de aula que ela se sentiu compelida a testar.
Emoções eram uma ferramenta assustadora.
Independente da força, elas podiam afetar alguém. Todos tinham emoções. Alguns eram apenas melhores em escondê-las do que outros.
“Ainda está um pouco cru.”
O domínio dele sobre suas emoções…
Ainda não era muito refinado. Ele ainda tinha um caminho a percorrer. Foi também por isso que ela não sentiu nada naquela hora.
Mas também era verdade que ela dificilmente sentia algo normalmente.
Ela tinha esperado que talvez, apenas talvez…
Ele pudesse fazê-la sentir algo.
Era uma esperança tênue, mas uma que ela não manteve por muito tempo. Ele tinha apenas dezoito anos. Suas expectativas não eram tão altas para começo de conversa.
“…..Uma pena.”
Verdadeiramente.
Delilah se virou para focar novamente em seu trabalho. Quando seus olhos caíram sobre um documento em sua mesa, ela sentiu uma coceira no olho.
“….”
Era uma coceira estranha.
Irritante.
Especialmente quando…
Pinga!
….Acabou manchando o papel embaixo.
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