Capítulo 26.4 – A Peste
Durante vários dias após a partida de Damien, os visitantes se espalharam pelo reino. Os jornais destacaram como o Duque, que estava em Thisse, conseguiu reprimir o tumulto rapidamente assim que decidiu ir para Swann.
A notícia também ressaltou que a repressão violenta foi minimizada e um acordo foi feito habilmente com representantes da cidade. Damien propôs uma abordagem não convencional, mantendo a monarquia e incluindo alguns representantes da cidade no parlamento.
Os representantes, familiarizados com as ações do Duque, que se casou com uma aristocrata pobre e não hesitou em se misturar com pessoas de classe média, eram vistos como alguém capaz de mudar o sistema de Swanton. O Duque de Thisse foi reconhecido como o único para essa tarefa.
O fato de Damien ser a única pessoa capaz de proteger a legitimidade da família real, enquanto o paradeiro de Johannes permanecia desconhecido, também era crucial. Isso tranquilizou as pessoas, já que ele conseguia reunir um exército forte, enquanto os nobres que ainda apoiavam Johannes não tinham condições de se manifestar.
“Um problema que persistia há anos foi resolvido em menos de 15 dias após a intervenção do Duque.” (Assistente)
“Sério.” (Sra. Dutton)
“E quando o chefe assumir o trono, o que devemos fazer? Todos nós devemos nos preparar para mudar para o Palácio Real de Swann?” (Assistente)
Depois que a Sra. Dutton terminou os sanduíches, ela falou mais alto para a ajudante de cozinha.
“Parece que agora você deveria entregar esses sanduíches rapidinho antes que fiquem secos.” (Sra. Dutton)
“Eu levo, Sra. Dutton.” (Margaret)
Quando Margaret apareceu, a Sra. Dutton a olhou e concordou.
“Você pode fazer isso, por favor? … coloquei bastante geleia de mirtilo e queijo, que a Sra. gosta.” (Sra. Dutton)
“Obrigada.”
“E aí, como está a Sra.?” (Sra. Dutton)
A expressão de Margaret ficou desconfortável.
“Sem grandes mudanças.”
A Sra. Dutton suspirou fundo e deu um gole em água com limão. O fato de a anfitriã da Casa Thisse ter pedido o divórcio já se espalhara pelo Castelo dos Abedules. Claro, ao ouvir que o Duque, incapaz de aceitar a petição de divórcio, ordenou que a Duquesa não saísse do Castelo dos Abedules, alguns servos desviaram o olhar, sem saber como reagir.
“Margaret, mesmo que ninguém mais saiba, você sabe o quanto o Duque se preocupa com a Duquesa, né?” (Sra. Dutton)
A Sra. Dutton era a serva mais antiga no castelo desde que Eliza se foi.
“Alguns homens cometem erros porque não são bons em expressar seus sentimentos, mas esta é a primeira vez que eu vejo tanta manteiga, açúcar, morangos e creme sendo levados para a cama desde que trabalho aqui no castelo. Eles definitivamente se amavam apaixonadamente.” (Sra. Dutton)
Margaret concordou rapidamente com as palavras dela e pegou a bandeja.
“Vou sair antes que a Sra. fique esperando.”
“É, isso mesmo. Se encontrar o Paul pelo caminho, por favor, peça para ele verificar quando os ingredientes vão chegar. Originalmente, era para ter chegado há dois dias. Todo mundo aqui no castelo está quase morrendo de fome porque a farinha acabou.” (Sra. Dutton)
Margaret parou quando a Sra. Dutton, que estava limpando as mãos no avental, falou mais alto.
“Ah, ele disse que vai chegar esta tarde. Devido à prolongação da greve ferroviária, parece que os horários estão meio descontrolados até mesmo aqui em Thisse.”
Deixando para trás as reclamações da Sra. Dutton, Margaret se apressou para sair pela porta dos fundos do castelo e seguiu para a cabana, com pressa para evitar que os sanduíches secassem com o vento frio. Chloe agora vivia na pequena cabana atrás do Castelo dos Abedules e não havia saído de lá desde então.
‘Não é que eu não entenda os sentimentos da anfitriã, que está trancada nesse espaço, cercada pelas coisas do filho morto. Na verdade, é estranho que a tristeza que ela estava segurando por tanto tempo não tenha explodido antes.’ (Margaret)
Ao retornar ao castelo depois de ser chamada pelo Duque, Priscilla foi à cabana várias vezes para tentar acalmar o coração partido de Chloe, mas todos os seus esforços falharam. Foi impossível forçar Chloe a sair dali, ela que pediu tempo para chorar seu filho morto em completa solidão, mesmo que fosse por pouco tempo.
“Minha Senhora.” (Margaret)
Quando abriu a porta, Chloe ergueu a cabeça.
“Sim. Bem-vinda de volta, Margaret.”
Chloe entregou a Margaret a carta que estava sobre a mesa. Sabendo que era seu único canal de comunicação quando não podia sair, Margaret valorizava a carta e a colocava debaixo de seu avental.
“Trouxe comida.” (Margaret)
Ao abrir a tampa da bandeja de prata, Chloe sorriu levemente ao ver a comida que preenchia o interior.
“Pedi uma quantidade generosa, mas a senhora Dutton tem mãos grandes.”
“Minha Senhora.” (Margaret)
“Sentemos e comamos juntas, Margaret.”
Olhando para Chloe, que falava calmamente, Margaret sacudiu a cabeça com incredulidade. Margaret a observou por um momento e deu um longo suspiro. Chloe percebendo sua ansiedade, perguntou baixinho.
“… está bem?”
Margaret apertou os punhos como se finalmente tivesse decidido.
“Sua Graça tem um convidado.” (Margaret)
Chloe piscou em silêncio. Observou Margaret abrir a porta da cabana, olhar ao redor e finalmente assobiar. Logo, uma pessoa inesperada apareceu diante de seus olhos.
“… Grey.”
Margaret confessou rapidamente quando Grey entrou na cabana.
“Deixei a porta dos fundos que dá para os terrenos de caça aberta porque Grey disse que tinha algo para contar à Senhora. Se o zelador ou o Mordomo Paul virem esse cara passando, estaremos em apuros. E se Sua Excelência, o Duque, descobrir, eu…” (Margaret)
“Obrigada, Margaret.”
Chloe mancou em direção a Margaret, que não sabia o que fazer, e pegou a mão dela carinhosamente.
“Muito obrigada.”
“Não tenho muito tempo. Então, voltarei logo.” (Margaret)
Margaret se curvou levemente para Grey, depois abriu a porta da cabana e desapareceu com pressa. Chloe bateu a porta, depois se aproximou mancando de Grey e apertou suas mãos. Mesmo sendo inverno, quando sentiu o calor do corpo dele, seus olhos ficaram úmidos sem aviso.
“Você está ótimo, Grey. Parece um sacerdote de algum país estrangeiro.”
Chloe o observou e sorriu com os olhos úmidos. Grey olhou para ela e franziu levemente o nariz timidamente.
“Bênçãos de um monge… é desconfortável.” (Grey)
“Não. Fica bem em você. Sério.”
Chloe o conduziu a se sentar em um pequeno banco, depois se aproximou do fogão e serviu chá como estava acostumada. O olhar de Grey escureceu ao ver as costas esqueléticas de Chloe. Ele só soube o que havia acontecido através de Margaret, mas ver a mulher notavelmente magra com seus próprios olhos pesou em seu coração.
“Minha senhora, está tudo bem?” (Grey)
Os ombros de Chloe se moveram levemente quando ela se virou. Finalmente, se virou e sorriu brilhantemente para Grey.
“Hoje é o melhor dia dos últimos meses.”
‘Por que estou derramando lágrimas ao ver o sorriso dela?’ Ao ver seu sorriso prestes a explodir como uma luz suave, Grey só conseguiu segurar suas mãos com força.
Chloe lhe ofereceu uma xícara de chá com creme e açúcar e alguns petiscos para comer. Grey não hesitou em morder o sanduíche que ela ofereceu.
“Vou te contar, caso esteja preocupado, estou totalmente sã, Grey.”
Margaret tinha dito que a senhora estava trancada em um quarto cercado pelas coisas do filho falecido e nunca ousava sair. Ela acrescentou que a Duquesa passou por um momento difícil depois de perder o filho ao receber medicamentos para combater os sintomas da epidemia. Mas aos olhos de Grey, Chloe estava lutando. A última notícia que Grey ouvira do Duque era que ele tinha entrado em Swann e estava prestes a ser coroado rei.
“Na verdade, minha mente nunca esteve tão clara.”
“Sei que você não vai desmoronar facilmente.” (Grey)
Quando Grey falou baixinho, Chloe o olhou com olhos cheios de carinho. Grey sabia como consolar Chloe.
“Mesmo que o mundo inteiro a desconheça, estou orgulhoso de você por saber.”
“Posso imaginar o quanto você deve ter passado por este momento.” (Grey)
Os lábios de Chloe tremeram em silêncio diante do suave conforto de Grey. Chloe rapidamente endireitou sua expressão e deu um gole em sua xícara de chá.
“Estudar a vontade de Deus lhe deu a habilidade de ler a mente das pessoas?”
“É verdade que entrei para um mosteiro, mas nunca estudei a vontade de Deus.” (Grey)
“Mesmo? Acho que você se sairia bem se tivesse estudado teologia. Provavelmente teria notas melhores que Alice.”
Grey engoliu em seco enquanto a observava rir.
“Minha senhora, você sabe a razão decisiva pela qual ajudei Lady Alice a escapar?” (Grey)
“Deve ter sido porque ela estava chorando e se agarrando a você.”
Alice, é claro, havia implorado a Grey enquanto falava entre lágrimas. No entanto, havia outra razão crucial pela qual Grey fez vista grossa para sua fuga.
“A senhorita Alice me disse que queria ser feliz.” (Grey)
“… foi um pedido muito semelhante ao mesmo da Alice.”
O rosto de Chloe também mostrou um sorriso de nostalgia. Grey a olhou e disse a próxima palavra com olhos hesitantes.
“Senhorita Chloe. Eu… posso fazer o mesmo por minha Senhora.” (Grey)
Enquanto Chloe o encarava, Grey continuou com a voz tensa.
“Pensei por um curto período. Se a Senhorita é feliz, independentemente do que tenha ouvido ou saiba, pensei que seria melhor manter a boca fechada até a morte.” (Grey)
Os olhos castanhos calorosos de Chloe olharam para as mãos ásperas de Grey que tremiam sobre a mesa.
“Deve ter sido muito difícil, Grey.”
Um suspiro irregular escapou dos lábios de Grey. Essas são as razões pelas quais ele deseja sinceramente a felicidade de Chloe. Não importa em que situação infeliz ela se encontre, seu coração treme tanto que dói pela bondade que a permite pensar primeiro nos outros.
“Você não sabe nada sobre o que eu descobri, minha dama.” (Grey)
A expressão de Grey era como se ele tivesse voltado a ser um menino de 10 anos que fora brusco diante dela. Mordendo os lábios, Chloe abriu a boca, empurrando cuidadosamente a xícara de chá quente para ele.
“Eu sei que há algo que o fez correr o risco de vir até mim. E… consigo a
divinhar que tipo de história você ouviu.”
“O Duque Thisse se aproximou da dama com um propósito claro desde o início.” (Grey)
Ao ouvir a voz trêmula de Grey, Chloe colocou lentamente a xícara de chá. No inverno, quando o vento que roça suas bochechas é brutalmente frio, um canto de seu coração se aquece ao lembrar quão profundamente Grey deve ter refletido e hesitado enquanto vinha sozinho até aqui.
“Eu já sabia de antemão que nas montanhas de Verdier estavam enterrados depósitos de ouro, e ele havia planejado o pedido de casamento que Lady Alice recebeu. Um homem chamado Conde Cromwell ia fazer com que Lady Alice de alguma forma se envolvesse em um escândalo. Mesmo que Lady Alice não tivesse fugido, a família Verdier teria problemas de qualquer maneira, minha senhora.” (Grey)
‘Ah, mas o Conde Cromwell parecia um cara legal.’ Um sorriso amargo apareceu nos lábios de Chloe enquanto confirmava um dos planos de Damien que ela não conhecia.
“Não realmente… não fique surpresa.” (Grey)
Grey percebeu imediatamente sua reação tranquila. Chloe assentiu e tentou sorrir, mas seus lábios tremeram.
“Não há tal coisa como um segredo que possa ser escondido para sempre.”
“Não é só isso.” (Grey)
Houve uma leve hesitação na voz de Grey. Chloe abriu a boca antes que ele se angustiasse com a história angustiante.
“Foi algo muito sutil e cruel que me fez suspeitar do assassinato da Marquesa.”
“… será que você o perdoou mesmo sabendo de tudo isso?”
Chloe soltou um longo suspiro diante de Grey, que tinha uma expressão de incredulidade no rosto. Quando ela baixou o olhar, seus olhos piscaram lentamente.
“Odiava tanto que não conseguia perdoá-lo. Mas não é estranho? Que a criança não fosse odiada. Como eu odeio tanto o nome de Thisse, ainda queria passá-lo para o meu filho, então suponho que sou uma esnobe incurável.”
Grey sussurrou suavemente enquanto enxugava os olhos com um lenço.
“Não fale assim. A senhora só queria proteger seu amado filho.” (Grey)
“Sim. Tudo acabou agora.”
Ao olhar para o sorriso de Chloe, ela apertou a mão dele. Sentiu pena da garota que sempre suportava tudo sozinha. Ainda assim, foi uma vantagem se sentir miserável por não poder fazer nada.
“É impossível recomeçar comigo?” (Grey)
Chloe olhou para Grey com um pouco de surpresa. Pôde sentir o quanto de coragem ele reuniu para dizer essas palavras, embora não ousasse olhá-la nos olhos e baixasse o olhar.
“A abadia patrocinada pelo Conde de Weiss era, de fato, um local de reunião secreto para aqueles que apoiavam o Duque Thisse. Lá, pude ver como o mundo funcionava simplesmente mantendo os ouvidos abertos. Então, peguei meu salário e investi em uma empresa comercial no Principado Carter. Usei o nome de um nobre que não é mais usado.” (Grey)
“Ótimo, Grey.” Chloe sorriu sinceramente para ele.
“Foi algo que qualquer um poderia ter feito.” (Grey)
“Não. Você conseguiu fazer porque é você.”
Grey ofegou e sussurrou baixinho com os olhos vermelhos.
“É natural que eu não pudesse adorar a Deus no mosteiro. Eu me atrevi a… sabia que era um pecado abrigar esses sentimentos por uma dama nobre.” (Grey)
Chloe estendeu a mão silenciosamente e tocou sua mão. O final da voz suave de Grey tremulou levemente.
“Viver enquanto aguardo o calor do raio de boa vontade da dama como a luz do sol agora me faz murchar até a morte.” (Grey)
“…”
“Estou tão ganancioso agora que não aguento mais.” (Grey)
“Não chore, Grey.”
“Por favor, fuja comigo… ah…” (Grey)
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