Capítulo 32.3 – A Tutora de Gwyneth
“Você é feliz aqui, senhorita?” (Grey)
Grey perguntou, olhando para ela. Chloe o encarou de frente com o vento soprando do rio. O vento do rio agitou os cabelos de Chloe selvagemente, e Grey não pôde ver a expressão em seu rosto, apenas um pequeno sorriso em vez de uma resposta.
“Eu morri e voltei à vida, então deveria estar feliz.”
Depois de prender o cabelo com um laço, Chloe sorriu levemente para Grey. Grey assentiu, mordendo o lábio.
“É isso.” (Grey)
“Você ainda é um chorão, Grey.”
“Não choro.” (Grey)
Chloe segurou o braço de Grey, que a olhava com olhos vermelhos, e o conduziu para o cais que dava para o mar. O bom aqui era que sempre podiam ver de perto o vasto oceano. Chloe e Grey eram pessoas que vieram aqui do mundo além do mar.
“Quer se sentar?” (Grey)
Finalmente, eles se sentaram lado a lado numa rocha que dominava o horizonte. Chloe foi a primeira a falar.
“Você disse que esteve num mosteiro, mas nunca estudou sobre Deus. Como se tornou missionário?”
“Eu queria entender a causa da dor. O motivo pelo qual os humanos têm que sofrer.” (Grey)
Grey respondeu baixinho, e Chloe piscou lentamente.
“O que poderia ter te feito sofrer tanto?”
“… o fato de eu não poder fazer nada depois de ouvir as notícias sobre a senhorita.” (Grey)
Chloe poderia ter previsto facilmente o choque que Grey teria sentido com sua morte. Depois de Grey engolir com dificuldade e com uma expressão angustiada, ele continuou.
“Naquele momento, não consegui suportar a vergonha de mim mesmo por não conseguir segurar a mão da dama e fugir, mesmo que a obrigasse.” (Grey)
“Mas estou viva agora, Grey. É assim.”
Grey a olhou e sorriu levemente.
“Na verdade, mesmo agora, tudo isso parece um sonho. Eu não consigo acreditar.” (Grey)
Ele não sabia como o tempo tinha passado desde o último domingo, quando encontrou Chloe. Não esperava encontrar alguém que conhecia numa terra estranha, muito menos Chloe, que pensava que estava morta. No início, duvidou de seus olhos, depois caiu de joelhos diante dela. Até o dia em que prometeu voltar a vê-la, Grey não conseguiu dormir bem.
“Desculpe, senhorita.” (Grey)
Vendo Grey se desculpando com uma expressão culpada, Chloe perguntou novamente.
“Sim? Por quê?”
“Agora eu entendo o significado do que disse.” (Grey)
“… sempre fui tagarela na sua frente. Disse tantas coisas que não consigo lembrar direito o que foi.”
Ela baixou o olhar diante dele, que tentava abraçar Grey com carinho.
“Você disse que: aconteça o que acontecer, fui escolhido pela vontade da dama.” (Grey)
Chloe o encarou sem dizer uma palavra. Grey estava falando do último encontro deles. Foi o dia em que Chloe desapareceu deste mundo.
“Ele me prometeu que definitivamente seria feliz. Eu não duvidava de sua morte, mesmo que você me tivesse ensinado tudo.” (Grey)
Chloe balançou a cabeça com uma expressão tranquila quando viu Grey sussurrando baixinho como se estivesse confessando.
“Não. Eu esperava que você não tivesse.”
“Minha senhora… você está dizendo que queria que eu pensasse que estava morta?” (Grey)
“Sim.”
As mãos juntas de Grey tremeram diante da resposta suave, mas firme.
“Por quê?” (Grey)
“Senão, você não teria desistido até o fim. Mesmo que significasse se sacrificar, você teria tentado me salvar. O Grey que conheço definitivamente é alguém que faria isso.”
Olhando novamente para os olhos vermelhos de Grey, Chloe continuou falando gentilmente.
“Eu… não queria que as pessoas que amo saíssem machucadas.”
Os olhos úmidos de Grey a olharam sem dizer uma palavra. Não era algo que pudesse ser detido com força de vontade enquanto seu coração batia ao som das ondas.
“Finalmente aconteceu. Não te vi e te tornaste uma pessoa tão incrível? E eu, por outro lado… me tornei uma tutora entediante.”
Grey entendeu o significado só depois de Chloe encolher os ombros timidamente. Grey ouviu dizer que ela estava trabalhando como tutora da filha de um fazendeiro rico. Chloe, que se tornara uma serva, usava um vestido muito mais simples do que o que usava nos dias em que a família Verdier estava em apuros. Havia uma clara diferença com Chloe, que sempre ficava na frente dos servos com roupas limpas e arrumadas, embora vivesse sem luxos.
“Você não é entediante, minha senhora.” (Grey)
Grey negou com a cabeça com firmeza. O sol brilhava e se chocava contra as ondas. Seus olhos escuros estavam cheios de sinceridade. Não importa o quanto ele se tornou um ministro respeitado, só havia uma pessoa no coração de Grey que ele respeitaria para sempre.
“Nunca me senti entediado com a dama. Pelos séculos dos séculos.” (Grey)
Os lábios de Chloe se curvaram para cima enquanto abraçava os joelhos. Olhando para o outro lado do mar, ela sussurrou com um sorriso no rosto.
“Isso porque sempre me pareço bem aos seus olhos.”
‘É possível ela parecer mal?’ Em vez de perguntar, Grey apenas manteve a boca fechada. Porque queria lembrar este momento para sempre.
Numa cidade desconhecida. Num mundo do outro lado do mar que ninguém conhece. Era uma vida jogada a um estado desconhecido. Grey não pensou que seria capaz de entender completamente a vontade de Deus, mas queria agradecer a Deus ao menos por este momento, quando viu a jovem viva e segura com seus próprios olhos.
O buquê na mão de Chloe balançou com o vento do mar. Os pequenos pétalos azuis foram levados pelo vento e pousaram suavemente sobre as ondas quebrando. De repente, uma luz suave brilhou no olhar de Chloe enquanto o observava em silêncio.
“Minha senhora, o que está pensando?” (Grey)
“Só… pensei que as flores que você me deu são muito bonitas.”
“… são apenas flores silvestres colhidas à beira do rio.” (Grey)
Chloe sorriu silenciosamente e piscou rapidamente olhando para o céu. Grey continuava sendo amável e doce, mas não conseguia dizer nada ao ver a garota com uma aparência solitária.
A maioria dos clientes no restaurante a bordo, que estava aberto após o pôr do sol, eram casais.
“Segure-se em mim, senhora.” (Grey)
“Sim. Obrigada.”
Chloe deu um passo lento com os braços entrelaçados aos de Grey. Era um lugar flutuante na água, então ela tinha que andar com muito cuidado para não cair.
“Vamos para outro lugar agora?” (Grey)
Chloe soltou uma pequena risada diante da sugestão cautelosa de Grey.
“Aqui é onde reservei, Grey. Queria te mostrar.”
“Este é um lugar que você visita com frequência?” (Grey)
“Não. É minha primeira vez.”
Chloe baixou a voz como se estivesse contando um segredo, ao vê-lo questionando seu rosto.
“Queria vir apenas com alguém que não se envergonhasse se eu caísse.”
Grey baixou o olhar em silêncio e tocou levemente o nariz ligeiramente arrebitado. Um sorriso leve surgiu no rosto de Chloe, sabendo que era um hábito que aparecia quando ele se sentia tímido.
Chloe sempre se respeitou, mas não pôde deixar de se sentir animada depois de muito tempo. Era bom estar com a única pessoa que conhecia sua existência em uma cidade estranha, e parecia como se estivesse voltando ao passado. Já fazia muito tempo desde que Chloe ainda vivia no castelo de Verdier, e Alice também.
“Se eu pensar bem, sempre foi assim.”
Depois da refeição, Chloe molhou os lábios com vinho e abriu a boca.
“… o quê?” (Grey)
Grey perguntou com cautela. Chloe o olhou e continuou com um sorriso no rosto.
“Mesmo quando estou com dor de cabeça ou ansiosa por algo, sempre me sinto confortável quando te vejo.”
Para Chloe, que cresceu com ele desde a infância, Grey era uma presença reconfortante como um lar. Uma pessoa com quem se sentia confortável e segura quando estavam juntos, como um membro da família e um amigo ao mesmo tempo.
“Sabe que o que usei no dia em que escapei do Castelo das bétulas foi a manta que me deu naquela ocasião? Aquela que me deu quando mataram a Marquesa.”
“… ah.” (Grey)
A expressão de Grey escureceu um pouco ao lembrar do desagradável passado. Chloe continuou com uma voz alegre, esforçando-se para aliviar o clima.
“Sim. Coloquei farinha no cabelo para deixá-lo branco, roubei um vestido que seria enviado ao asilo, o vesti, envolvi-me na sua manta e fui para a estação de trem.”
“Foi tão útil que usasse coisas velhas.” (Grey)
“Não.”
Ao ver Grey amuado, Chloe balançou a cabeça com determinação.
“Fiz isso para encontrar tranquilidade. Como um amuleto.”
“…” (Grey)
“Será desrespeitoso dizer tal coisa a alguém que adora a Deus?”
Chloe acrescentou brincando, e Grey finalmente esboçou um sorriso leve. Era uma noite com uma suave luz da lua. Ele ainda não conseguia acreditar que estava com ela em um lugar flutuante em um rio que se agitava e ondulava lentamente.
“É como um sonho.” (Grey)
Ele disse essas palavras como um sussurro suave.
Chloe piscou por um momento, depois inclinou seu copo de água e passou os dedos por ele. Grey, que a estava observando, piscou incrédulo quando Chloe finalmente desviou a água com os dedos. Olhando para Grey, que nem sequer pensou em limpar as gotas de água em sua pele de cor clara, Chloe estava bastante envergonhada e rapidamente pegou um guardanapo.
“Fiz isso para te mostrar que não é um sonho, como é que você não se surpreende?”
Grey se recusaria a fazer mesmo se ela o tivesse empurrado na água. Foi quando ela abaixou as pálpebras escuras, sentindo a mão de Chloe limpando seu rosto.
“Dou boa sorte a um casal de bom humor para ver adivinhações.” (Cigana)
Uma cigana idosa vestida com joias antigas apareceu com um som de tilintar. Chloe mostrou uma expressão de perplexidade e sorriu para ela.
“Desculpe. Estou bem, mas meu companheiro é uma pessoa que serve a Deus…”
A mulher esfarrapada fingiu não ouvir Chloe e pegou sua mão.
Não seria fácil escapar, pensou Chloe, olhando para Grey. Os magros bolsos dos ciganos não eram diferentes nos países estrangeiros. Como se tivesse lido seu coração, que não poderia recusar facilmente, Grey assentiu com um leve sorriso.
“Assim sendo. Apenas olhe para mim.” (Cigana)
A cigana acariciou a mão de Chloe com a mão áspera e fechou os olhos.
“Você é uma moça com um coração caloroso. Você… é como alguém que irriga o coração das pessoas como uma fonte que nunca seca. Sua forma muda conforme o recipiente que a contém, mas sua origem nunca muda. Assim, é ainda mais forte.” (Cigana)
Chloe fez contato visual com Grey e sorriu silenciosamente, como se só tivesse esperado elogios da mulher que segurava sua mão. A cigana continuou sua conversa com mais concentração e as sobrancelhas franzidas.
“É forte. É forte o suficiente para contrastar com sua aparência frágil, então é uma pessoa naturalmente adequada para uma posição elevada. Realmente deveria estar numa posição muito alta.” (Cigana)
O rosto de Grey endureceu ligeiramente. Ao perceber sua vergonha, Chloe sussurrou baixinho.
“Diz apenas coisas boas como meu pai, não diz?”
Era natural para eles dizerem apenas coisas boas porque viviam do dia a dia e das bênçãos de seus clientes, mas aquilo parecia despertar Grey para a realidade. A situação real de Chloe, que deixou um cargo elevado.
“Fico um pouco envergonhada de ouvir apenas elogios. De qualquer forma, obrigada.”
No momento em que Chloe estava prestes a terminar com um sorriso amigável, a mão que a segurava ficou um pouco mais forte. Quando Chloe hesitou um pouco, a cigana abriu seus olhos enrugados e encontrou o olhar de Chloe.
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