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    Na manhã seguinte, antes de Ethan e Camille começarem suas obrigações, Theo os convocou no escritório do Duque. Sentado na cadeira de seu pai, enquanto o mesmo estava em pé ao lado de Camille, o garoto iniciou:

    — Pai, mãe… Eu quero ser um agente de Vagus.

    — Não! — Camille reprimiu instantaneamente. Ela não esperava aquele pedido, mas seu instinto materno lhe fez tomar uma resposta rápida.

    Cruzando os braços, Ethan suspirou antes de dar o veredito.

    — Como? — perguntou Theo — Por quê?

    Uma gota de suor escorregou lentamente por sua testa.

    — Por que não. Theo, você não pode se tornar um Agente de Vagus.

    — E por que não?

    — E por que eu deixaria? Você quer mesmo passar a vida longe de mim, das suas irmãs e de toda nossa família, se escondendo em bibliotecas, salas de aula, correndo pelo mundo e enfrentando seres além da compreensão? A troco de quê?

    — Eu ainda descobrirei — retrucou. Aquela resposta chamou a atenção de Liam. — Meus instintos me levam a essa vontade, eu tenho algo a cumprir como um Agente…

    — Não. Você não tem.

    — Sim, eu tenho!

    Erguendo a cabeça e arregalando os olhos, Ethan despencou um olhar imponente sobre Theo. Rapidamente, o garoto entendeu do que se tratava.

    — A senhora… não gastou dezoito anos atrás de virar uma escritora e pintora renomada? Então por que eu não posso ir atrás do que eu quero…

    — Por que você não tem querer, garoto!

    — Dá um motivo! — Theo retrucou. Novamente, ele foi oprimido com um olhar de Ethan.

    — Por que…

    — Por que não, não é resposta.

    Camille não conseguiu responder subitamente. Como arma ela recuou os ombros e buscou por seu marido.

    — Ethan!

    Olhando para seu marido, ela esperou que ele respondesse. No entanto, não obteve o que gostaria; Ethan apenas lhe enviou um olhar sereno e deu de ombros. Para ele, era um tanto faz…

    — E… Ethan! É sério?!

    — Sim… Eu sou o último a poder julgar o que ele quer — disse coçando o braço.

    — Não! Você é quem tem mais propriedade para falar um não. Você viveu isso, Ethan. Entende perfeitamente esse caminho, essa rota que se perde no meio da floresta e acabam sete palmos abaixo do chão.

    Theo abaixou a cabeça, deixando seus cabelos ondulados cobrirem os olhos.

    — E… Qual caminho não vai nos levar até esses sete palmos abaixo do chão?

    Camille espantou-se com o posicionamento de seu filho. O pai, no entanto, apoiou o argumento do filho.

    Dando uma risada abafada e baixa, Ethan roubou a atenção dos presentes.

    — Ei! Ethan! Você deveria estar me ajudando com isso!

    — Que foi? — Ethan perguntou soltando os braços, antes cruzados. — Esse foi um bom argumento para uma criança. Qual caminho de nossas vidas não vai levar à morte? Eu vou morrer, você também vai, ele vai, todos vão…

    — Eu sei! Só não quero adiantar esse processo, deixando meu filho seguir um caminho suicida!

    — Eu estou vivo…

    Camille se levantou rapidamente da cadeira, lançando o móvel para trás com suas pernas. Pondo os braços na cintura, encarou Ethan profundamente nos olhos.

    — Você é um caso à parte! E, sério?! Está considerando permitir essa baboseira?!

    — Mãe… — Theo tentou, mas sua mãe impediu.

    — Não! — Ela apontou o indicador para ele, sinalizando que fizesse silêncio. — O que tá passando pela sua cabeça ultimamente?!

    — Camille… Ele é uma criança — disse Ethan, apontando para Theo com a palma aberta.

    — Justamente!

    — Uma criança. — O Duque manteve um tom calmo desde o início, e, embora estivesse abrindo uma discussão, ele manteve ainda mais o controle. — Crianças sonham com algo que daqui a alguns anos, perdem o interesse. Até alguns anos atrás, Thays queria ser uma veterinária, hoje quer ser uma pesquisadora. Entende?

    — Eu não vou mudar! — Theo exclamou batendo o pé.

    Sua postura estava determinada a provar suas palavras.

    — Estou convicto disso!

    — Ei! Ei, ei, ei! Você nem tem idade para cogitar proferir tais palavras! — Camille reprimiu.

    Pegando nas mãos de sua esposa, Ethan guiou-a a respirar fundo. 

    — Existem pontos positivos nesse mundo…

    — Ah, claro. Num mundo que existe serpentes do tamanho de cidades, leões do tamanho de prédios, atentados terroristas, governos a beira do colapso, desigualdade, fome, miséria e mil e uma criatura que eu nem consigo imaginar, o que pode haver de positivo?!

    Ethan sorriu.

    — Para mim? Teve vocês. O mundo é tudo isso, mas foi nele em que eu lhe encontrei, através do amor…

    — Sim, sim. E acha que vai ser o mesmo para ele? — A voz de Camille foi gradualmente se acalmando após o comentário pacífico de seu marido.

    “O papai dominou ela…” Theo pensou, vendo sua mãe abaixar a guarda.

    Balançando a cabeça, Ethan confirmou que sim. Ele acreditava fielmente que é na lama onde os homens encontram o ouro.

    Sacudindo a cabeça, Theo voltou ao assunto.

    — Para! Meu futuro é meu — reclamou agressivamente.

    — Quem decidiu isso, garoto?

    — A senhora tá repetindo isso desde o início! Se não tem argumentos ou motivos para me impedir, então por que está tentando?! Se a senhora não tem coragem de decidir, então eu irei decidir por mim!

    — Opa! — Ethan pôs a mão na frente de Theo.

    O garoto recuou novamente a postura.

    Suspirando, ele retornou ao estado de calmaria.

    — O senhor permite? — Theo indagou ao seu pai.

    — Bom… Eu ensino o Edward há anos, mas, parando para pensar, nunca ensinei a um desviante que nem tem consciência do próprio núcleo… — retrucou Ethan, pensativo com o pedido.

    Camille tirou os olhos de seu filho e olhou para Ethan, incrédulo com o que havia acabado de sair de sua boca. Ela balançou a cabeça tentando entender, mas, ainda incrédula, não conseguiu falar nada.

    — Sério?! Theo, não! A resposta dele também é não!

    — Na verdade, é um sim.

    Os ombros de Camille despencaram.

    — O quê?!

    — Eu permito que ele se torne um agente de Vagus. Porém, com uma condição…

    Um brilho indomável tomou os olhos cor de âmbar de Theo. Suas dorsais se contraíram numa postura reta e atenciosa… Orgulho estava preenchendo seu peito.

    — Você entrará numa academia em Vagus em dez anos… Se eu achar que merece, entrará com treze anos. Então, eu irei te treinar por dez anos, aceitando o limite do que pode ser passado fora de uma instituição acadêmica. Vou fazer de tudo para prepará-lo, para que no fim, você se gradue na melhor academia disponível.

    Theo concordou balançando a cabeça.

    — Calma, não terminei ainda. Enquanto for um estudante e meu aprendiz, irei apoiá-lo de todas as formas. Com dinheiro, contatos, reconhecimento… Tudo. Porém, a partir do momento em que você for inserido num esquadrão e colocar o pé para fora do meu domínio, eu o proíbo de sequer pensar em voltar para casa.

    — Ethan… — Congelando com a atmosfera tensa que Ethan trouxe, Camille tentou apaziguar.

    — Relaxa. Você só estará permitido a retornar, quando for forte o bastante para proteger todo mundo nesse ducado, e pronto para torná-lo em um reino. Essa será a consequência por suas ações, e por agir como se tivesse responsabilidade e maturidade sobre suas palavras. Por menosprezar sua mãe e gritar com ela, por suas atitudes arrogantes e gananciosas. Você entende o que isso significa?

    — Sim… — Theo respondeu hesitante.

    — Pois bem… Já que falou como um adulto, e que até mesmo iria decidir sozinho, irei tratá-lo como tal daqui em diante.

    — Amor…

    Camille agarrou o braço de Ethan com preocupação.

    — Você entendeu? Temos um trato?

    Theo cogitou aquilo. Mas, no fim, era o que ele queria. Toda maturidade que Liam Mason pode fornecer, somado aos ensinamentos de Michel e Ethan, foram o que trouxeram o garoto até aquele momento.

    Ele estava disposto a caminhar pelo purgatório pessoal para alcançar seu shangri-la.

    — Sim!

    Estendendo a mão direita, Theo esteve disposto a apertar a mão de seu pai que, sem hesitar, cumprimentou seu filho.

    Porém…

    Puxando o braço e dando um leve empurrão nos pés de Theo, o Duque Lawrence colocou alguns livros como peso nas costas do garoto.

    — Por desrespeitar sua mãe e gritar com ela, fará cem flexões de um braço, já que o outro está fraturado. Toda vez que você desrespeitar alguém, fará isso novamente e duas vezes mais. Isso é, na próxima vez serão duzentas flexões. Está me entendendo?

    — Sim… senhor…

    Theo mal conseguiu falar com o peso dos livros, mas conseguiu forças para levantar o corpo. Calmamente, ele passou a executar os exercícios.

    — 1… 2… 3…

    Cruzando os braços e voltando ao lado de Camille, que ainda estava em choque, Ethan disse:

    — Ah, e você ficará responsável pelo ducado nos próximos seis meses, amor. Vou cuidar dele durante esse tempo. A depender dos resultados, posso continuar treinando, ou voltarei a administrar tudo enquanto o preparo. Pode fazer isso por mim?

    Era um pedido… Mas, quando se tratava de Ethan, as pessoas não conseguiam rejeitar. Após tudo o que o Duque fez por todos, a única resposta que eles poderiam dar era a única viável…

    — Sim… Com certeza eu posso, querido.

    Theo começou a falhar gradualmente quando chegou na 20° flexão.

    — Se falhar, vai começar do zero.

    Os olhos de Theo se arregalaram instantaneamente.

    — Não acha que vai pesar muito para ele?

    — Nah… Ele vai sobreviver.

    Afinal, os verdadeiros anjos sempre sobrevivem ao inferno.

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