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    As únicas coisas que Nick sentiu ao ouvir essa proposta foram nojo, irritação e desprezo.

    “Se eu trabalhasse para você, os habitantes da Cidade Carmesim não teriam mais ninguém que realmente se importasse com eles”, ele pensou.

    Nick agiu como se estivesse surpreso.

    — Espere um segundo — ele disse após dois segundos de um silêncio atônito. — Eu preciso pensar sobre isso.

    — Tome seu tempo — disse o governador enquanto guardava o quadrado e caminhava até a porta. — Não preciso mais que me guie. Agora tenho um mapa.

    Nick observou com surpresa enquanto o governador deixava a sala.

    Vários segundos depois que o governador saiu, Nick começou a andar de um lado para o outro, franzindo as sobrancelhas.

    Ele parecia estar debatendo consigo mesmo.

    Mas por quê?

    Não era certo que ele recusaria?

    Sim, era.

    No entanto…

    Sua habilidade não havia se reativado.

    Alguém ou algo estava observando-o, e Nick tinha quase certeza de que era o governador.

    “Espionando-me, hein?”, Nick pensou enquanto olhava para a parede com uma expressão pensativa. “Não sei como ele está fazendo isso, mas deve ter algum poder único.”

    Nick voltou a andar pelo cômodo, murmurando para si mesmo ocasionalmente.

    “Isso é algum tipo de teste dele?”, Nick pensou. “Ele quer garantir que eu não estou planejando traí-lo?”

    “Não posso ter certeza. Só sei que preciso agir como se estivesse considerando a oferta.”

    Após cerca de um minuto andando de um lado para o outro, Nick suspirou e olhou para a porta que levava para fora da sala.

    Ele a encarou por alguns segundos.

    Então, saiu e olhou ao redor.

    Nick caminhou lentamente pelo corredor, espiando por todas as portas à procura do governador.

    No fim, ele encontrou o governador na grande sala com todas as telas, olhando para algumas delas.

    — Você tomou sua decisão? — perguntou o governador sem se virar, sua voz atravessando de alguma forma todo o barulho do alarme.

    Nick respirou fundo.

    — Não acho que entrar para a cidade seja o que devo fazer — ele disse lentamente.

    O governador se virou e olhou para Nick com olhos avaliativos.

    — Elabore, por favor — ele disse.

    — Estou do lado da Égide — Nick disse. — Desde que conversei com Simon Francium, soube que a Égide é a única organização que quero ajudar mais do que qualquer outra.

    — Você disse que as cidades foram feitas para, no fim das contas, ajudar a humanidade.

    — No entanto, me juntar à cidade não é a melhor maneira de ajudar a Égide ou a própria cidade — Nick disse.

    Um pequeno brilho de interesse surgiu nos olhos do governador, mas ele permaneceu em silêncio.

    — A Sonho Sombrio cresceu muito nos últimos anos — Nick disse. — Conseguimos mais Espectros e mais Extratores. Temos um departamento de Investigação maior e também empregamos muito mais funcionários. É claro que nossas margens de lucro também aumentaram muito.

    Nick olhou para o governador.

    — E, embora eu não possa dizer que somos completamente puros, as manchas em nossas roupas são minúsculas.

    — Não influenciamos a política para nosso próprio benefício.

    — Não usamos os guardas para encobrir irregularidades.

    — Não estamos escondendo Espectros que não deveríamos.

    — Não matamos ninguém sem informar a cidade.

    — Sempre que houve um conflito, não fomos os agressores, apenas nos defendemos.

    — A Sonho Sombrio teve muitas oportunidades ao longo dos anos, mas Julian e eu nunca pegamos mais do que nos era devido.

    — Os outros Fabricantes não são assim — Nick disse friamente.

    O governador continuou olhando para Nick.

    — Não preciso te dizer o que eles fazem. Você sabe disso melhor do que eu.

    — O fato é que a Sonho Sombrio não é nem de perto tão parasítica para a cidade quanto os outros Fabricantes.

    — E é por isso que acredito que permanecer na Sonho Sombrio é a decisão certa.

    — Os guardas e o governo estão presos por leis e não têm muita liberdade para agir.

    — Enquanto isso, a Sonho Sombrio tem total liberdade.

    — Na Sonho Sombrio, posso apoiar a Égide melhor do que como um agente da cidade — Nick disse.

    O governador olhou para Nick com olhos inexpressivos.

    — Você acredita que o governo é ineficaz em fazer cumprir suas leis? — o governador perguntou.

    Nick olhou diretamente nos olhos do governador.

    — Com dez Especialistas, 20 Peritos e 40 Veteranos, teria sido possível remover a influência do Parasita no passado? — Nick retrucou.

    O governador franziu as sobrancelhas e olhou para Nick por um momento.

    Nick apenas manteve o olhar.

    — A resposta é não, não teria sido possível — Nick continuou.

    O governador ficou um pouco surpreso com essa afirmação.

    Afinal, deveria ser possível se livrar do Parasita com uma força dessas, e a cidade tinha acesso a algo assim.

    — Porque a maior parte das forças da cidade são emprestadas — Nick disse. — Pelo menos um, se não vários, dos designados para a missão teriam deliberadamente ignorado muitos dos ratos. Afinal, os guardas não pertencem à cidade. No máximo, são temporários.

    — Suas lealdades verdadeiras pertencem aos Fabricantes, não à cidade.

    — Então, sim, acredito que a cidade não consegue fazer cumprir suas próprias leis adequadamente, mas isso ocorre porque a maioria de seus agentes são criminosos.

    Enquanto o governador olhava para Nick, a imagem que ele tinha de Nick em sua mente começou a mudar.

    Nick sempre parecera inexperiente e ingênuo para o governador. A única coisa realmente boa nele era seu altruísmo e seu poder em relação ao seu nível.

    No entanto, a confiança com que Nick falava fez o governador perceber que talvez o tivesse subestimado.

    Nick havia destacado a maior fraqueza da cidade.

    A cidade não possuía muitos Espectros, o que significava que não podia produzir muitos Extratores verdadeiramente leais a ela.

    O fato de precisar emprestar Extratores dos Fabricantes era o que tornava tão difícil manter os Fabricantes sob controle.

    Embora o chefe do governo fosse, tecnicamente falando, um ditador, todos os seus soldados e guardas agiam conforme a democracia.

    Uma democracia em que apenas as grandes empresas podiam votar.

    Logicamente, as grandes empresas votavam pelo que era melhor para elas, e muitas vezes, isso significava quebrar as leis estabelecidas pelo ditador.

    Um pequeno gesto, um grande impacto.

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