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    O quinto andar.

    No final de um corredor alinhado com várias salas de aula, havia um laboratório. Nenhum raio de luz escapava pela porta firmemente fechada, apenas o som suave de algo se remexendo conseguia vazar intermitentemente.

    Um certo adolescente estava remexendo o interior do laboratório. Ele afastou os conjuntos de química e outros aparelhos de vidro das mesas e puxou todos os livros armazenados nas estantes. Ele estava procurando desesperadamente por algo.

    Mas, à medida que o tempo continuava passando, sinais de ansiedade começaram a se infiltrar lentamente em cada uma de suas ações.

    Kiik.

    De repente, houve um ruído.

    No entanto, o garoto, Yi Sungjin, não conseguiu ouvir, pois naquele momento estava virando uma mesa de cabeça para baixo. Ele lançou um olhar intenso e analisou todos os aparelhos de laboratório que caíram e se estilhaçaram no chão. Em seguida, seguiu em frente, sem sequer desacelerar para expressar qualquer decepção. Continuou murmurando para si mesmo: — Moedas, preciso encontrar mais moedas.

    Ele deliberadamente não acendeu a luz. Pensou que seria mais fácil identificar aquelas moedas de cor amarelo-clara se o ambiente estivesse mais escuro.

    Tak… Tak…

    Novamente, houve sons estranhos. Eram suaves e baixos o suficiente para passar despercebidos se alguém não estivesse prestando atenção.

    Yi Sungjin não deu atenção. Sua mente estava completamente ocupada com o pensamento de reviver sua irmã morta, Yi Seol-Ah. O Guia havia dito com certeza, se conseguisse reunir muitas moedas, poderia trazer sua irmã de volta à vida.

    — Noona…

    O choque mental que sofreu ao ver o corpo sem vida de Yi Seol-Ah sendo arrastado para fora foi verdadeiramente devastador. Embora tudo abaixo de sua cintura estivesse relativamente intacto, seu torso havia sido reduzido a pedaços, restando quase nada. Só de pensar em sua irmã, brutalmente assassinada sem motivo, seu corpo parecia afastar qualquer traço de cansaço e recuperar sua energia.

    Diziam que os céus ajudavam aqueles que ajudavam a si mesmos, e logo ele encontrou um objeto brilhando suavemente dentro de uma pia. Os olhos de Yi Sungjin se arregalaram e ele instintivamente estendeu a mão.

    Infelizmente… ele estava com muita pressa.

    — Ah!

    A moeda que ele trabalhou tanto para encontrar escorregou de seus dedos e caiu no chão. Rolou e deslizou para debaixo de uma mesa. O garoto instantaneamente se jogou no chão e esticou o braço com todas as forças, finalmente conseguindo pegar a moeda antes que ela desaparecesse para sempre. Só então ele conseguiu recuperar o fôlego.

    Fora das janelas do laboratório, o mundo havia se tornado completamente escuro. Apenas a fria e indiferente luz da lua passava através do vidro e iluminava fracamente o interior.

    — Uff…

    Era apenas uma moeda, mas era uma prova clara de que seus esforços não foram em vão.

    O tempo já havia passado muito da meia-noite, e ele ainda tinha um longo caminho pela frente. Não tinha tempo para se preocupar com a Hora dos Falecidos. Não, ele precisava encontrar mais moedas. Muitas mais. Yi Sungjin apertou a única moeda que tinha em mãos e rangeu os dentes.

    Tak…! Tak…!

    Yi Sungjin estava prestes a se levantar do chão, mas congelou no mesmo instante ao ouvir o ruído. O som parecia roçar contra seus sentidos, como se estivesse chamando por ele de maneira zombeteira. Seus braços ficaram rígidos e tensos. As mãos pressionadas contra o chão sentiram um frio mortal e arrepios se espalharam por todo o seu corpo.

    Num instante, milhares de pensamentos passaram por sua mente. O garoto de dezesseis anos e alguns meses levantou a cabeça lentamente, com extremo cuidado. E, quando seu olhar subiu apenas um pouco além do chão acinzentado, ele esqueceu de respirar.

    Bem debaixo da mesa, ele viu um par de pequenos pés e, acima deles, pernas longas e bem proporcionadas. Pernas que tremiam e hesitavam, como se pudessem desmoronar a qualquer momento.

    Yi Sungjin estava prestes a gritar, mas seus olhos se arregalaram ainda mais antes que sua boca pudesse soltar qualquer som. Embora só conseguisse ver a metade inferior, aquilo parecia estranhamente familiar. E quando reconheceu a saia azul manchada de sangue seco, seus olhos se abriram ainda mais.

    — N-Noona!?

    As pernas trêmulas pararam. E então, giraram lentamente, como se estivessem procurando alguém.

    — Oooonnndeeee…

    A voz era horrível, e Yi Sungjin sentiu um arrepio imediato de repulsa, mas para ele, isso não importava. Ele se levantou de imediato e…

    — Noona? É você, Noona!? Eu estou aqui! N…

    …Mas ele não conseguiu terminar o que queria dizer.

    A figura, que estava de costas para ele e lentamente se virava, era muito semelhante a Yi Seol-Ah. Tinha o mesmo cabelo longo e esvoaçante, e, e…

    — N-Noona…?

    Algo estava errado. Muito errado. Ele não conseguia identificar exatamente o quê. Mas aquela figura se parecia tanto com sua irmã mais velha…

    Os instintos de Yi Sungjin foram dominados por um terror inexplicável.

    — Ssssuuuunnnggg…Jjjjjiiiinnnn…aaahhh… Hhhhuuuu…

    Plop.

    De repente, a pele do pescoço da figura oscilou e se esticou, como um saco vazio. Só então o garoto entendeu a razão daquela sensação de desarmonia, as proporções de seu corpo não combinavam.

    — N-Noona…

    Ele queria perguntar. Ele desesperadamente queria perguntar por que o corpo dela parecia daquele jeito. Ele queria perguntar se ela realmente era sua irmã. Mas sua voz se recusava a sair.

    — Rrrraaaaaaappiiiiiiidd…

    Como se aquela coisa quisesse lhe dizer algo, a voz áspera e suja continuou a escapar. Ela agora havia se virado completamente e estava de frente para ele, e quando Yi Sungjin viu as órbitas vazias onde deveriam estar os olhos, o fôlego preso em seus pulmões explodiu para fora.

    — Euh-hark!!!

    Juntar vários esfregões velhos e desgastados se pareceria com aquilo? Nos muitos buracos espalhados por sua pele, pedaços de sangue coagulado e carne podre pareciam ter sido empurrados juntos à força.

    A carne rasgada e entrelaçada parecia ter endurecido após os fragmentos serem remendados nos lugares que deveriam estar, enquanto a pele dilacerada parecia ter sido costurada de volta e jogada sobre seja lá o que estivesse por baixo. Era uma aparência verdadeiramente infernal, digna de um pesadelo.

    Se alguém tentasse juntar pedaços de membros e carne arrancados, um por um, o resultado provavelmente ainda ficaria melhor do que aquilo.

    — Euh, uwaaaaahhh!!

    Yi Sungjin recuou inconscientemente até que seus calcanhares se enroscaram e ele caiu sentado. Suas pernas chutaram o ar freneticamente enquanto tentava aumentar a distância entre ele e aquela coisa.

    Foi então que as pernas, que pareciam mais normais em comparação ao resto do corpo, pararam de se aproximar. A mandíbula desalinhada de ‘Ela’, que parecia prestes a cair a qualquer momento, começou a tremer para cima e para baixo.

    — O, ooouuuuuçaaaa… Rraap-piiiiid…

    A mente de Yi Sungjin entrou em um caos ainda maior. Pensou que já estaria morto a essa altura, mas por que essa criatura parou de avançar? E o que estava tentando lhe dizer?

    Foi nesse momento que um pensamento insano surgiu em sua mente. Ele reuniu o pouco de coragem que conseguiu.

    — …É, é você, Noona?

    — …

    — Noona? De verdade? É você, Noona!?

    — …p-piddooooo… L-leeev… leeeevaaa…

    — …Rápido? Levante-se?

    Mantendo seu olhar fixo na criatura, Yi Sungjin lentamente se levantou.

    — V-váaaa… f-f-foooooor-… Eeeeeenc-c-cooo…

    — Sair? Achar? Você quer dizer moedas? Está falando sobre moedas? Não se preocupe. E-eu não desisti, ainda estou procurando por elas! Eu vou trazer você de volta…

    A coisa balançou a cabeça com dificuldade. Era como se estivesse dizendo que não era isso.

    — Eeeeeee… v-v-viiiiiiiinnn… L-looooooooggg…

    De alguma forma, levantou um braço trêmulo e apontou para a porta.

    — V-v-viiiiiiiiiiiind-… eeeeeel-llleeeeeeeesssssss eeeeesssst…

    Embora fosse difícil entender o que estava dizendo, o garoto percebeu uma coisa. ‘Ela’ estava tentando avisá-lo que precisava sair dali antes que algo mais aparecesse.

    — Noona!! É você, não é!?

    — …

    — Eu vou trazer você de volta!! É por isso que…

    — Sssuuunnnggg… Jjjiiinnn… aaahhh…

    A voz trêmula de Yi Sungjin parecia ter feito os ombros da coisa estremecerem. Das órbitas vazias, um líquido avermelhado começou a escorrer lentamente.

    — P-p-prreeeeeciiissssssaaaaaaa… v-v-viiiiiv-v… Oookkkaaayyy…

    Foi então.

    Uwwwaaaahhhhccckk!!!

    Um grito ensurdecedor vindo de algum lugar fora do laboratório sacudiu o corredor violentamente.

    Um pequeno gesto, um grande impacto!

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