Capítulo 24: Recompensas Condizentes com as Conquistas (4/5)
Seol viu a empregada loira que o guiou na Área 1. Mas ela não era a única ali. Um total de nove empregadas, todas vestindo o mesmo uniforme, estavam de pé, com as mãos cuidadosamente dobradas e repousando na frente de seus estômagos.
No meio delas, sentava-se uma única mulher. Diferente das demais, ela não usava um uniforme de empregada francesa, o que naturalmente atraiu a atenção de todos para ela. Talvez fosse culpa da iluminação, mas os longos cabelos sedosos que alcançavam os braços da cadeira possuíam um leve tom avermelhado.
Um casaco grosso estava pendurado frouxamente sobre seus ombros; seus olhos estavam fechados e os braços cruzados sobre o peito, como se estivesse em profunda contemplação.
Pouco tempo depois, todas as nove empregadas começaram a bater palmas em uníssono.
— Parabéns… e comemorações…
— Quando eu contar a todos que você está apaixonado por mim…
…Elas até começaram a cantar a famosa música de Cliff Richard.
— O que elas estão fazendo agora?
Alguém no fundo perguntou, soando um tanto perplexo. As reações dos outros não eram muito diferentes. Todos estavam atordoados com essa inesperada ‘comemoração’, acompanhada de um número musical.
Eventualmente, a música chegou ao fim. Os olhos da mulher sentada no centro se abriram pela metade. Ela ergueu levemente o queixo e, como se estivesse avaliando mercadorias luxuosas em uma loja, seu olhar percorreu lentamente aqueles sentados na plateia.
O interior do teatro permaneceu mortalmente silencioso. As reações daqueles que encontravam seu olhar eram similares, ou ficavam nervosos e abaixavam a cabeça, ou desviavam os olhos de forma furtiva. Aqui e ali, podiam-se ouvir sons de saliva sendo engolida.
Seu olhar ardente, que lembrava o de um predador observando sua presa em potencial, causou um sutil medo nos corações daqueles que a encaravam.
Suas pernas cruzadas se descruzaram lentamente. E quando ela se levantou do assento com elegância e caminhou tranquilamente para a frente, Seol ficou surpreso com sua altura, ela era alta o suficiente para ficar ombro a ombro com um homem alto.
A mulher de repente parou e direcionou seu olhar para a direção geral de Seol. Ou, para ser mais específico, para onde os sobreviventes da Área 2 estavam sentados. Lá, a garota que havia trocado cumprimentos silenciosos com Seol ergueu a mão no ar.
— Você também é uma guia do Tutorial?
“Ela ainda consegue fazer uma pergunta mesmo sob essa atmosfera?”, pensou Seol. Ele não pôde deixar de se impressionar, ao mesmo tempo que sentia uma leve preocupação. Até ele estava sentindo uma certa e inexplicável sensação de perigo vinda dessa mulher. Se tivesse que colocar em palavras, ela o lembrava de uma fera selvagem e indomável.
A mulher alta não respondeu, apenas ficou ali em completo silêncio, encarando de volta. Sem desviar o olhar, ela enfiou a mão dentro do casaco grosso e tirou um cigarro. A luz da chama acendendo a ponta do cigarro iluminou a escuridão o suficiente para destacar a cicatriz que se estendia de seu olho até a bochecha em toda sua glória.
Se a garota tivesse bom senso o suficiente para perceber a atmosfera desconfortável, já teria abaixado a mão. Mas talvez fosse excessivamente corajosa ou simplesmente audaciosa, pois jogou outra pergunta no ar.
— Ou… Como devo chamá-la? Quem é você?
A cabeça da mulher alta inclinou-se ligeiramente para trás. Uma empregada, que estava duas posições à esquerda da empregada loira de Seol, deu um passo à frente.
— Área 2, Odelette Delphine.
Ao ouvir esse nome, os olhos semicerrados da mulher alta se abriram completamente, e ela voltou seu olhar para a garota, Odelette Delphine. Seus lábios vermelhos se entreabriram lentamente, e uma fina fumaça azul escapou.
— …Apenas me chame de Cinzia.
A garota abaixou a mão então.
— Sobre o que eles estavam falando?
— Aquela mulher alta disse que seu nome é Cinzia. E a pessoa que fez a pergunta deve se chamar Odelette Delphine, da Área 2.
Shin Sang-Ah resmungou suavemente em voz baixa, e Yi Seol-Ah sussurrou de volta.
— Cinzia? Othello Delphine? Que tipo de nomes são esses?!
— Acho que Cinzia é um nome italiano. E, hum, não é Othello, mas Odelette…
Yi Seol-Ah sorriu sem graça e tentou explicar. No entanto…
【A sincronização será iniciada agora.】
De repente, uma dor aguda e irritante atacou os cérebros de todos que estavam sentados na plateia, sem aviso prévio. Seol estava concentrado na explicação de Yi Seol-Ah e foi pego de surpresa. Uma carranca pesada se formou em seu rosto enquanto a dor o atacava implacavelmente. Gemidos e murmúrios de dor vinham de todos os lados enquanto as pessoas começavam a segurar a cabeça.
Felizmente, o tormento não durou muito.
【A sincronização foi concluída.】
Assim que o anúncio foi feito, a dor desapareceu como se fosse mentira. Agora, repentinamente livres da dor agonizante, os sobreviventes caíram em um estado de confusão caótica.
— Acho que a sincronização demorou um pouco desta vez. Bem, tenho certeza de que todos podem me entender agora.
A mulher alta que se apresentou como Cinzia observava tudo como se achasse a situação bastante divertida. Ela falava com tanta fluência que até falantes nativos ficariam impressionados. No mínimo, parecia coreano aos ouvidos de Seol.
Talvez achando o silêncio atordoado do público agradável, os cantos da boca de Cinzia se curvaram para cima.
— Com certeza é muito melhor filtrá-los pelo menos uma vez, não acham? Se eles começassem a tagarelar sem parar como um bando de papagaios malditos, eu já estaria furiosa agora.
Seus passos ecoavam alto enquanto voltava a caminhar.
— Como um gesto de respeito pelo fato de não terem feito um escândalo durante a sincronização, deixem-me informá-los de algo importante antes de começarmos. Não gosto de rodeios. Além disso, vocês já devem ter uma ideia geral do que é este lugar. Então, irei direto ao ponto.
Cinzia deu mais alguns passos à frente e falou com uma voz baixa, mas poderosa.
— Este lugar é o santuário criado através dos poderes combinados das sete divindades, chamado de Zona Neutra.
Ao ouvir isso, Seol se lembrou das palavras de Han. Afinal, o mordomo desejou que Seol desfrutasse do beijo da sorte na Zona Neutra, não foi?
— E neste lugar, todos vocês terão a chance de provar que são capazes de sobreviver no Paraíso. Vocês receberam seus Pontos de Sobrevivência, certo?
A pontuação de Seol era 21.500. Han havia declarado com confiança que era a maior da história.
— Resumindo, vocês devem aumentar sua pontuação para mais de 1000. Essa é a única maneira de sair desta Zona Neutra. Embora tenhamos preparado vários métodos para aumentar sua pontuação, não nos importaremos se encontrarem outros meios por conta própria. No entanto, vocês só têm um mês para fazer isso.
Um pequeno alvoroço começou a surgir. Afinal, a maioria ali havia ouvido que, assim que concluíssem o Tutorial, teriam permissão para entrar no Paraíso. Isso contrariava completamente o que lhes havia sido prometido.
É claro que havia alguns poucos que mantinham uma atitude relaxada. Esses eram aqueles que receberam uma explicação mais detalhada anteriormente e já sabiam o que estava acontecendo.
— Se vocês falharem em reunir os pontos dentro de um mês…
— O que isso significa?
A voz alta de protesto veio da Área 4. Um homem de físico imponente e barba se levantou de seu assento. No entanto, Cinzia apenas lhe lançou um olhar breve e indiferente.
— Hmph… Se não quiser vomitar o burrito que enfiou na goela antes de chegar aqui, é melhor sentar essa sua bunda de volta no assento. Eu realmente odeio ser interrompida no meio da minha fala.
O homem barbado piscou, surpreso por alguns segundos, antes que sua expressão se contorcesse em raiva.
— Que diabos você disse? Abaixe essa bola, sua vadia de espaguete!
Cinzia jogou a cabeça para trás e soltou uma gargalhada alta.
— Certamente um mexicano selvagem, não é? Você é de Sinaloa, certo?
— Como você sabe…?
— É óbvio. Entre aqueles que têm autoridade para recrutar, o único que pode mobilizar Marcas de Bronze em massa está lá.
O riso de Cinzia cessou abruptamente e ela fez um gesto com o dedo indicador. A quarta empregada da esquerda deu um passo à frente e lhe entregou um pedaço de papel.
— Vamos ver. Estou curiosa para saber se seus resultados condizem com esse seu falatório.
Cinzia deu uma olhada no papel e um sorriso debochado se formou em seus lábios.
— 0 pontos? O quê? Isso é real?
A empregada silenciosamente acenou com a cabeça.
— Você nem é uma Marca Vermelha. Receber 0 pontos como um Bronze…
Cinzia jogou o papel no chão e lançou um olhar frio ao mexicano musculoso.
— Não vale a pena perder tempo falando com você de novo. Sente-se, burrito.
— Você…!
— Sente-se. Caso contrário, eu vou fazer aqueles que te convidaram se arrependerem disso.
A mudança repentina no tom de sua voz foi tão assustadora e ameaçadora que fez todos ao redor sentirem calafrios. O homem mexicano se encolheu no mesmo instante e caiu de volta no assento, sem jeito.
— …Acho que vocês estão todos entendendo isso errado.
Cinzia continuou fumando em silêncio por um momento antes de varrer a plateia com os olhos ferozes de uma fera selvagem.
— O nome oficial desta terra é Paraíso Perdido. Entenderam?
Ela enfatizou as últimas palavras. Especificamente, o nome.
— Vocês pensaram que, só porque se chama ‘Paraíso’, iam passear de montanha-russa e se divertir à beça? É melhor acordarem. Se eu comparasse esse lugar com a Terra, então o território para onde estão prestes a ir seria um campo de batalha, repleto de tiros e explosões todos os dias. É uma zona de guerra, onde vocês só terão permissão para sobreviver depois que seus inimigos estiverem mortos.
Ela jogou o toco do cigarro longe e cruzou os braços novamente.
— Só porque conseguiram escapar de algum monstro fraco, acham que têm o direito de latir para mim? Vocês não entendem o significado do Tutorial? Não fiquem convencidos. É melhor não se iludirem achando que as coisas que vão encontrar no Paraíso Perdido estão no mesmo nível do que experimentaram no Tutorial.
A realidade da situação deve ter afundado na mente de todos, pois o burburinho desapareceu quase que imediatamente.
— Isso mesmo. Se entenderam, calem a boca, seus inúteis pica-paus.
Foi nesse momento que um riso escapou dos lábios de Seol. Ele estava seriamente concentrado nas palavras de Cinzia, mas não conseguiu se segurar quando ela soltou aquela parte do ‘pica-pau’. Ele percebeu imediatamente que havia cometido um erro e tentou cobrir a boca, mas já era tarde. Ele se tornou o centro das atenções.
— Você é…
Um brilho estranho passou pelos olhos de Cinzia.
— Ah, entendo. De fato, talvez você ache tudo isso… adorável.
— ?
— Mas você também deveria tentar entender. Não importa o quão cuidadoso seja o processo de seleção, sempre há sujeira que consegue escapar da filtragem.
Seol esperava ouvir um sermão, mas ao escutar aquele tom de voz que parecia pedir sua compreensão, ele só conseguiu sentir confusão.
— Bem, de qualquer forma, este lugar será o fim disso.
Cinzia desviou o olhar de volta para a direção da Área 4 e soltou uma risadinha.
— Vocês vão passar por muitas dificuldades, isso é certo. Sair de 0 e chegar a 1000 pontos… isso não vai ser um passeio no parque.
Ao ouvir isso, várias pessoas começaram a se encolher visivelmente.
— Essa é a consequência de suas próprias ações. Quem mandou vocês conseguirem uma passagem gratuita pelo Tutorial?
Até mesmo a expressão de Yi Seol-Ah não estava muito boa. Sua pontuação era de apenas 46.
— Já que chegamos a este ponto, podemos dar início à cerimônia de premiação. Se há alguém que merece punição, então também deve haver aqueles que merecem recompensas…
Cinzia soltou um longo suspiro e enfiou a mão no bolso interno do casaco.
— De agora em diante, se eu chamar seu nome, fique de pé. Área 5, Tong Chai?
Um homem magro, vestindo um turbante branco, levantou-se.
— Você já atende aos requisitos. Se quiser, pode entrar no Paraíso imediatamente.
— Escolho permanecer.
— Então, pegue isto.
Cinzia jogou algo para Tong Chai. Ele pegou no ar com facilidade e perguntou, cheio de curiosidade.
— O que é isso?
— Ora, um membro de uma equipe de assassinato perguntando por informações?
Um sorriso enigmático surgiu no rosto de Tong Chai enquanto ele se sentava novamente.
— Se estiver realmente curioso, pergunte à sua empregada atrás de mim mais tarde. Área 2, Salvatore Leorda.
Dessa vez, um homem de cabelo raspado se levantou.
Cinzia não se deu ao trabalho de dizer nada e simplesmente jogou algo em sua direção. O homem, que parecia surpreendentemente jovem, pegou o objeto, fez uma leve reverência e voltou a se sentar.
— Área 7, Hao Win.
Um dos homens chineses vestidos de maneira idêntica, de porte físico avantajado e aparentando estar na casa dos trinta e poucos anos, se levantou.
— Pelo jeito como você se comporta, posso facilmente adivinhar de onde veio. Então, vai ficar?
— Essa é uma pergunta tola. Ficarei, é claro.
O homem chamado Hao Win sorriu de maneira refrescante.
— Certo. E então… Área 2, Odelette Delphine.
— Também vou ficar.
A garota respondeu imediatamente. Ela pegou com facilidade o objeto lançado no ar, descrevendo um longo arco. Depois de verificá-lo, ergueu a mão novamente.
— Com licença!
— Hm?
— Acho que me deram o errado, porque está escrito — No.2 — na placa.
— Não, eu sei muito bem que você conseguiu 7500 pontos.
Gritos surpresos e impressionados vieram de várias partes da plateia. A maioria dos presentes encarava a garota com a faixa branca no cabelo com olhares incrédulos.
— Se eu descontar os 1000 Pontos de Sobrevivência que você recebeu como bônus inicial, então sua pontuação original é 6500. E sua Marca de Prata garantiu um Selo de Sobrevivência com multiplicador de 5 vezes. Assim, você ganhou 1300 pontos durante o Tutorial. Estou certa?
— S-sim, está certa…
— Que pena. Essa quantia teria sido suficiente para colocá-la no topo do ranking. Mas, desta vez, só foi o bastante para o segundo lugar.
O queixo da garota caiu. Provavelmente, ela não havia considerado a possibilidade de que alguém poderia tê-la superado na pontuação.
“Espera um minuto? Eu também não recebi Pontos de Sobrevivência como bônus inicial?”
Agora que pensava nisso, Seol recebeu 5000 pontos no salão de assembleia como bônus inicial. Parecia que os pontos obtidos naquela ocasião não estavam sujeitos ao multiplicador do Selo de Sobrevivência. De qualquer forma, isso significava que o total real de Pontos de Sobrevivência de Seol não era 21.500, mas sim 26.500.
— Área 1…
— Vou ficar.
Seol se levantou rapidamente. A parte de trás de sua cabeça estava começando a coçar.
— Quantos pontos esse cara recebeu, então?
— Nem deveria perguntar. Apenas somando os pontos originais, são 2150. É 850 a mais que os seus.
— U-Uau…
“Ela não tem vergonha nenhuma?!”
Seol reclamou mentalmente enquanto pegava o objeto lançado. Era uma chave com um número ‘1’ dourado gravado na placa anexada.
— Sabe, eu realmente acho isso impressionante.
Cinzia, inesperadamente, demonstrou um certo grau de admiração.
— Já é surpreendente o suficiente que esse seu país minúsculo tenha conseguido o direito de recrutar pessoas de forma independente, mas agora um segundo Irregular apareceu…
Graças à sua declaração, os olhares que antes estavam sobre Odelette agora se fixaram em Seol. Ele realmente queria recusar toda aquela atenção.
Finalmente, Cinzia deu um sinal, e as empregadas desceram apressadamente do palco, movendo-se para os dois lados da plateia.
— O que estão esperando? Levantem-se!
Seol estava a meio caminho de se sentar, mas teve que se levantar novamente.
— A contagem regressiva para o prazo de um mês já começou. O quê? Querem que eu ponha a comida na boca de vocês antes de começarem a mexer suas bundas?
Ao ouvir isso, Seol pegou sua bolsa sem demora.
A empregada loira o esperava em uma porta diferente daquela pela qual ele havia entrado no teatro. Como se estivesse dizendo para ele usar essa agora.

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