Índice de Capítulo

    Ônix encontrava-se na escuridão, na ausência de tudo. Começou a andar, mas tudo era silencioso demais, impedindo-o de ouvir seus próprios passos ou respiração, como se o som estivesse ausente.

    “Estranho… Não tem nada aqui?”

    Seu olhar curioso devorava cada minúsculo canto daquele lugar. Mais à frente, uma fagulha de luz começou a brilhar, guiando-o para uma porta prateada. Acima da maçaneta, estava escrito: A provação do herói.

    Manteve seus olhos fixos nela, como se tentasse racionalizar o que estava escrito ali, até que a porta, por vontade própria, começasse a se abrir.

    Seu ranger ecoou pelo silêncio como um trovão rouco, espalhando-se pelo horizonte como a ondulação do mar, como se viesse de todas as direções.

    Um caminho estreito foi revelado, com o chão, parede e teto completamente ocultos, como se o abismo tivesse os guardados em uma sacola.

    “Acho que eu tenho que seguir por aqui…”

    Deu seguimento à sua caminhada, absorvendo o auge do silêncio enquanto sua solidão abraçava as dores que moravam em seu interior.

    Uma luz começou a nascer do solo, de pouco a pouco, subindo para o teto como uma folha sendo levada pelo vento, espalhando-se lentamente.

    Não demorou muito para que seu brilho dominasse tudo, tampando os olhos de Ônix, impedindo-o de enxergar qualquer mínimo detalhe.

    Viu-se forçado a cobrir os olhos com o antebraço enquanto caminhava, até que uma estranha sensação de calor, junto de leves brisas do vento ao seu redor, surgiram abruptamente.

    Removeu o antebraço do local e, quando abriu os olhos, o forte brilho do sol iluminava a cidade, mas não havia calor, apenas conforto. As nuvens pareciam mais vivas, e o céu assemelhava-se ao mar. Aves voavam, pássaros cantavam, e um ar puro aumentava o aconchego.

    De repente, o som de um fogo de artifício ecoou, voando para as nuvens. Ao explodir, espalhou seu brilho, mas também escreveu a frase: O herói chegou.

    Ônix observava aquilo com a mão sobre a sobrancelha, com um olhar confuso, tentando entender o que estava acontecendo, mas falhando.

    — Herói?

    Passos começaram a ecoar, vindo de suas costas. Quando se virou, a porta havia desaparecido, mas algumas pessoas corriam sem pressa em sua direção.

    Uma moça gritou de longe, com um olhar cheio de esperança enquanto mantinha um sorriso agradável no rosto, perguntando se ele podia ouvir.

    O sol fazia seu cabelo ruivo brilhar como o rubi. Havia um homem robusto ao seu lado junto de uma pequena criança que corria desajeitadamente, também com sorrisos.

    Ele observava tudo aquilo em silêncio, esperando que eles se aproximassem. Assim que ficaram próximos, a mulher inclinou-se para frente, apoiando-se nas coxas, suando devido à pequena caminhada.

    Seus ofegos a dominaram assim que ela deu uma pequena pausa para descansar. Com muito esforço, seus lábios se estabilizaram para dizer:

    — E aí… Bom dia…!

    O homem ao seu lado não aparentava estar nem um pouco cansado, na verdade, ele parecia revigorado, como se o exercício físico o fortalecesse.

    Ele endireitou sua coluna e estendeu a mão para Ônix, com um enorme sorriso tampando os lábios, enquanto, sem dificuldade, dizia suas “primeiras” palavras:

    — Seja muito bem-vindo, herói!

    Ônix aceitou os cumprimentos, com um olhar tão confuso quanto um vinho verde. A curiosidade que nasceu em sua mente floresceu nos lábios:

    — Por que estão me chamando de herói?

    O homem travou por um breve momento; seu olhar expressava o auge do que podemos chamar de “confusão”, como se estivesse vendo um “bug” em sua frente.

    — … Ah, você não sabe? Amor, explica para ele, você é mais entendida disso.

    A moça esticou a coluna, levando seu pescoço ao céu enquanto recuperava o fôlego, deixando com que um breve suor escorresse da testa.

    — Ah, claro! Garoto, você foi transportado para cá por causa de uma missão, certo?

    Ônix respondeu que era exatamente esse o caso. Aparentemente, depois de tanta missão e sofrimento, nosso garoto parece estar mais familiarizado com o incomum.

    — Então você é nosso salvador. Estamos presos aqui há vários meses depois que o sistema nos pediu para aguardar pela chegada de um herói, dizendo que somos necessários para o seu crescimento.

    Ônix disse que entendeu o que ela quis dizer, mas indagou se suas liberdades dependiam do sucesso que ele teria que ter na missão e, com um ânimo fofo, a moça respondeu:

    — Bingo!

    Um breve sorriso surgiu nos lábios de Ônix, agraciando sua reação, mas pedindo perdão pelo atraso que ele teve para chegar ao local da missão.

    Ele virou o olhar para o horizonte, observando alguns prédios que ali haviam, mas notando o destaque que o silêncio tinha, como se ninguém morasse lá.

    — … Tem mais pessoas além de vocês?

    Uma pergunta inocente, movida pela curiosidade, mas que despertou um entristecimento nos olhos da mulher, levando-os a observar o chão por um momento.

    Os olhos de Ônix arregalaram por um momento, e um súbito arrependimento cresceu em seu peito, imaginando que sua pergunta não foi apropriada.

    — Ah, por quê? Desculpa pela pergunta, pode deixar de lado, se quiser.

    Sua resposta trouxe consigo a voz quase trêmula e recuada, mas a moça sorriu brevemente, dizendo que ele não precisava se preocupar com sua reação.

    Ela cruzou os braços e olhou para o céu, dizendo que, com o tempo, ela pensava que mais pessoas chegariam ao local, mas ninguém nunca veio, senão Ônix agora.

    Ônix preocupou-se, perguntando se essa solidão dos três vinha acompanhada da ausência da alimentação, deixando-os com fome por um longo período.

    Ela, por sua vez, respondeu que o melhor benefício em estar lá era justamente por os supermercados estarem presentes e, por uma graça do sistema, os alimentos nunca venciam.

    E, como um bônus extra, as comidas que acabavam eram automaticamente renovadas, fazendo com que ali estivesse qualquer tipo de comida para sempre.

    A surpresa de Ônix o fez ficar boquiaberto, indagando se aquele lugar era o paraíso, e a moça o respondeu com um sorriso, dizendo que essa era a melhor parte de morar lá.

    O homem robusto cruzou os braços, com um enorme sorriso confiante tampando seu rosto, dizendo que, como o assunto era comida, indagou se o garoto estava com fome.

    Ônix tocou em sua própria barriga, recordando que, desde o momento que reviveu, não havia comido nada, apenas experimentado o que há de pior nesse mundo.

    — Ah, agora que você falou, eu não comi nada desde que cheguei…

    Breves risadas tamparam os lábios do homem. Logo em seguida, ele disse que o garoto estava com sorte, e que estava olhando para o melhor cozinheiro que esse mundo já teve.

    Logo em sequência, o convidou para sua moradia, dizendo que era próximo de lá e que era o mínimo que podia fazer para alguém que o libertaria daquele lugar.

    Ônix sorriu, agradecendo e aceitando o convite, dizendo que nunca esperava que algum dia iria experimentar a melhor comida feita pelo melhor cozinheiro.

    Eles começaram a caminhar para o leste, trocando sorrisos enquanto murmuravam “finalmente vamos ser libertados”. Ônix ainda estava um pouco confuso, mas sentiu-se um pouco feliz ao saber que sua presença estava ajudando alguém.

    Pouco depois, eles chegaram à moradia. O portão de correr era cinza e desgastado, mas a casa era tão bonita quanto um apartamento da modernidade.

    O casal entrou na casa sorridentes, caminhando animado para a cozinha. Ônix os seguia em seu ritmo lento de sempre, observando o que a moradia tinha a oferecer.

    A moradia era tão limpa e organizada que parecia que não existia poeira ali, como se ela fosse alguém que não merecesse ser convidada.

    A moça olhou para trás, notando o garoto observando com admiração sua casa, fazendo com que um involuntário sorriso surgisse de seus lábios.

    Ela chamou por seu nome, dizendo que a cozinha ficava onde ela estava. Graças a esse sinal, Ônix pôde seguir para o lugar certo que saciaria sua fome.

    A criança estava sentada numa cadeira próxima à mesa, comendo uva enquanto brincava com uma maçã madura. A mãe mexia na geladeira freneticamente enquanto seu marido já estava agindo no fogão.

    Ela agarrou uma mexerica, murmurando um animado “Achei!” enquanto fechava a geladeira e se realocava para a mesa, posicionando a fruta próxima a Ônix.

    — Te garanto que essa vai ser a melhor mexerica que você vai comer na vida, garoto!

    Sua confiança brilhava tanto que poderia ser chamada de “Sol”, colocando em Ônix uma expectativa um pouco maior que o universo em seus olhos.

    Ônix tocou na fruta, sentindo sua textura macia como o algodão, mas, ao mesmo tempo, firme como o limão e suculenta como uma melancia.

    Ao fincar sua unha na mexerica, algumas gotas subiram para o céu, como se estivesse abrindo uma lata de refrigerante que se encontrava cheia de gás.

    Descascar o restante ecoou um som crocante pela cozinha, fazendo seus olhos brilharem em surpresa antes mesmo de experimentá-la.

    Ele olhou para a moça, como se seu olhar confuso pedisse permissão para comer. Ela acenou gentilmente com o rosto, enquanto sorria em expectativa.

    O doce suco encharcou sua boca com a primeira mordida, fazendo sua língua dançar enquanto a saliva celebrava o tesouro conquistado.

    Seu olhar brilhou, e um sorriso involuntário surgiu, mal conseguindo conter sua animação. A mulher sorriu brevemente ao observar seu contentamento.

    — Gostou, né? Eu falei para você que era muito bom!

    Um bobo e largo sorriso tingiu o rosto de Ônix a cada mordida, fazendo-o esquecer de seus problemas por um momento, entregando-se à felicidade da fruta.

    A moça sorriu tão intensamente quanto, como se a felicidade do garoto também fosse a sua, um altruísmo tão impressionante quanto incontáveis joias raras.

    Ônix olhou para o lado, notando a fofa criança sorrindo tão animadamente quanto, comendo algumas uvas enquanto uma maçã estava ao seu lado.

    Um brilhar surgiu nos olhos, não contendo a admiração pela fofura que lá estava. Ele sorriu gentilmente para a mulher, dizendo logo em seguida:

    — Ela é tão fofinha! Quantos anos tem?

    A moça sorriu gentilmente e, logo em seguida, deu leves toques em sua filha mais nova, chamando sua atenção enquanto beijava sua bochecha macia.

    Logo depois, ela disse: “Fala pro tio ali quantos anos você tem, princesinha!” enquanto apontava para Ônix, mostrando para sua garota quem seria esse “tio”.

    A pequena olhou para Ônix com olhares bobos, fazendo o número cinco com seus pequenos dedos, enquanto afirmava dizer que já tinha três anos de idade.

    Ônix riu brevemente, dizendo que sua inteligência era muito avançada para sua idade, deixando a criança com as bochechas rosadas em vergonha devido ao elogio.

    Logo depois, perguntou se ela já tinha algo em mente para fazer da vida e, inocentemente, ela respondeu que pretendia brincar e comer sempre que pudesse.

    Ônix derreteu com sua pureza, enquanto sua mãe ria, abraçando gentilmente sua filha enquanto apoiava a cabeça em seus macios cabelos, tão puros quanto a prata.

    De repente, surgiu em sua mente que ele ainda não sabia os nomes de seus benfeitores, perguntando logo em seguida quais eram seus nomes.

    A moça respondeu na mesma hora, informando-o que o nome dela era Dalila, a de sua pequena filha era Ephemera e, por fim, o de seu marido era Salvatore.

    Ônix sorriu, dizendo que seus nomes eram belos. Dalila, devolvendo o sorriso, agradeceu, sentindo uma felicidade genuína com o elogio tão verdadeiro quanto seus olhos.

    De repente, sentiu um agradável cheiro roubando sua atenção e olhou para o lado, observando Salvatore trazendo um prato cheio de comida e colocando-o na mesa.

    — Aqui, garoto! Minha especialidade: estrogonofe.

    Os olhos de Ônix brilharam ligeiramente ao ver a carne derretendo-se no arroz, enquanto os legumes atraíam tão fortemente quanto o aroma gentil.

    — Posso comer mesmo?

    O homem sentiu-se confuso por um momento, mas um longo sorriso substituiu a confusão em seu olhar, afirmando com uma certeza que nunca havia sentido antes:

    — É claro que pode!

    Dito e feito. Seu sorriso não ousou desaparecer enquanto ele degustava o prato feito. Dalila observava-o sorrindo, mas com uma pitada de curiosidade em seu olhar.

    Sem conseguir se segurar, ela indagou como que era o mundo de Ônix, levando em conta que ele era um jogador, desejando ouvir nem que fosse um pouco de sua história.

    Por sua vez, ele disse que era um lugar normal, com a ausência das missões, sistemas e que também os alimentos venciam, sem muita tecnologia que existe nesse novo mundo.

    Em uma pergunta inocente e curiosa, Dalila perguntou sobre a família de Ônix, indagando se ele tinha uma família presente e se eles ainda o acompanhava.

    Ônix surpreendeu-se por um momento, dizendo: “Ah… Família, né?” enquanto desvaneios tampavam seus olhos, recordando-o do desastre que o aguardou em sua ressurreição.

    Dalila arrependeu-se na mesma hora, se desculpando e perguntando se tinha feito uma pergunta ruim, mas Ônix disse que não tinha nenhum problema em sua pergunta.

    Logo depois, apresentou seus irmãos para ela. Saito, uma pessoa que se preocupa com tudo ao seu redor, mas finge indiferença, guardando tudo para si.

    Por outro lado, tem Waraioni, uma pessoa com tanto medo quanto um ser maligno correndo da cruz, mas que sempre quer aparentar ser forte e preparado.

    Salvatore riu, comentando que era uma dupla interessante, onde um finge que não liga para o que acontece enquanto o outro finge não ter medo de nada.

    Dando continuidade para as apresentações, falou sobre Morfius, um amigo recente que não conhece tanto, mas que não parece ser uma pessoa ruim.

    E então, ele finalmente terminou seu prato, pondo a mão na barriga logo após, sentindo o poder da saciedade transbordar em seu estômago como o mar.

    Em um sorriso espontâneo, disse que estava começando a acreditar que, de fato, Salvatore era o melhor cozinheiro que esse mundo poderia oferecer.

    Salvatore, por sua vez, agradeceu o elogio, dizendo que, quando retornarem, com certeza faria um estrogonofe tão bom quanto para os amigos do garoto.

    Dalila se ofereceu para dizer sobre sua outra filha, dizendo que era justo, já que Ônix havia dito brevemente sobre a família que ele tinha consigo nesse mundo.

    Seu olhar se entristeceu ao lembrar de sua outra filha pequena, dizendo que havia dito para ela que estava de viagem, desejando que nada de ruim acontecesse.

    Os olhos de Ônix arregalaram por um momento, perguntando se a garota em questão se chamava “Carol”, surpreendendo Dalila na mesma hora, forçando-a a perguntar como que ele sabia.

    Ele respondeu, dizendo que havia a visto e que estava morando com seu avô, que se chamava Robson e tinha uma aparência tão marcante quanto a voz.

    Dalila sacodiu seus ombros, perguntando várias vezes como que ela estava, dando prioridade ao seu bem-estar e se estava se alimentando devidamente.

    Ônix, um pouco tonto, respondeu que havia um sorriso muito bonito em seu rosto, e que a alimentação era algo que ela não precisava se preocupar.

    Dalila pulou em animação, como sua filha Carol, enquanto um brilho animado e aliviado florescia em seus olhos e brilhavam tão fortes quanto estrelas.

    Salvatore o convidou para caminhar ao supermercado junto de sua família, dizendo que, se achou sua comida boa, com certeza iria gostar dos inúmeros alimentos que lá existiam.

    Ônix aceitou no mesmo instante, levantando-se de sua cadeira e guardando-a embaixo da mesa, pronto para partir em sua mais nova aventura.

    Ao abrirem a porta para a partida, uma surpresa os abraçou: o céu escuro como o abismo, junto da ausência do sol e das nuvens, permitindo que apenas a escuridão reinasse.

    Ônix pediu para que eles retornassem enquanto ele iria cuidar desse novo problema. Eles aceitaram, dizendo-lhe para ter cuidado e que poderia ser parte da missão.

    Eles retornaram para a moradia, mas deixaram a porta aberta, a única coisa que não deveriam ter feito, servindo como o começo de um desastre inesquecível.

    Próximo capítulo: Nunca estará só.

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