Capítulo 241: Estática
A criatura de olhos verdes e pele cinzenta avançou, sua espada esverdeada cortando o ar com um assobio sinistro. Dante se preparou, seus músculos tensionados, a Energia Cósmica pulsando em suas veias como um rio prestes a transbordar. Ele deu um passo à frente, pronto para enfrentar o monstro, mas algo estava errado.
— Você é rápido, humano — disse a criatura, sua voz ecoando como um trovão abafado. — Mas velocidade não será suficiente.
Antes que Dante pudesse reagir, a criatura ergueu a mão livre, e uma onda de energia escura emanou de seus dedos retorcidos. O ar ao redor de Dante pareceu engrossar, como se ele estivesse submerso em melaço. Suas pernas, antes ágeis, agora pareciam presas em areia movediça. Ele tentou levantar os braços, mas eles pesavam como se fossem feitos de chumbo.
— O que…? — Dante murmurou, seus olhos se arregalando enquanto tentava se mover. A Energia Cósmica que sempre fluía tão livremente dentro dele agora estava… bloqueada. Ele sentiu como se uma corrente invisível o prendesse, cortando sua conexão com a fonte de seu poder.
— Ah, sim — a criatura riu, um som rouco e gutural. — Você não é o primeiro guerreiro que enfrento. Eu sei como vocês funcionam. Sua Energia Cósmica… é impressionante, mas inútil quando não pode ser usada.
Dante forçou os músculos, tentando romper a estranha prisão que o envolvia. Suas veias saltaram em seu pescoço, e gotas de suor escorreram de sua testa. Mas quanto mais ele lutava, mais a pressão ao seu redor aumentava. Era como se o próprio ar conspirasse contra ele.
— Não adianta resistir — disse a criatura, avançando lentamente, sua espada brilhando com um brilho sinistro. — Minha habilidade suprime a Energia Cósmica de qualquer um que esteja próximo. Você está indefeso, humano.
Dante olhou para os olhos verdes do monstro, sentindo uma faísca de frustração e medo. Ele estava acostumado a lutar em desvantagem, mas nunca assim. Nunca completamente impotente. Sua mente correu, procurando uma saída, uma brecha, qualquer coisa.
A criatura ergueu a espada, preparando-se para um golpe fatal. Dante fechou os olhos por um instante, concentrando-se. Ele não podia usar a Energia Cósmica, mas ainda tinha seu corpo. Ainda tinha sua mente.
No último momento, ele se jogou para o lado, rolando no chão áspero e pedregoso. A espada da criatura atingiu o solo onde ele estivera, enviando faíscas verdes para todos os lados. Dante sentiu a dor aguda das pedras cortando sua pele, mas ignorou. Ele se levantou, vacilante, e olhou para o monstro.
— Você é teimoso — disse a criatura, girando a espada com facilidade. — Mas teimosia não vai salvar você.
Dante respirou fundo, sentindo o ar pesado entrar em seus pulmões. Ele não podia contar com sua energia agora. Teria que lutar de outra forma. Da mesma forma que fazia quando era mais novo, da mesma maneira quando enfrentou outro tipo de demônio, com uma espada semelhante na mão.
— Então vamos ver — disse ele, assumindo uma postura defensiva, seus olhos fixos no monstro. — Vamos ver se você é tão forte sem essa sua energia quanto eu sou sem a minha.
Dante ergueu os punhos, os nós dos dedos brancos de tanto apertar, e avançou. Seu corpo curvou-se, movendo-se de um lado para o outro com uma agilidade que parecia quase desumana. O Espadachim, com sua espada esverdeada brilhando como um olho de serpente, observou-o com interesse, brandindo a lâmina para o lado num movimento fluido. A espada cortou o ar com um silvo afiado, mas Dante desviou, abaixando-se ainda mais, quase rastejando. Seus punhos encontraram o peito do monstro duas vezes, e o som metálico das placas de ferro estalando ecoou como um trovão distante.
Mas Dante não teve tempo para comemorar. A espada veio pela direita, rápida e mortal, forçando-o a recuar. Ele se distanciou, sentindo a ausência da Energia Cósmica como um vazio frio em seu peito. Sem ela, sua pele parecia mais fina, seus movimentos mais lentos, como se o mundo ao seu redor tivesse se tornado mais pesado. Aquela pressão constante, que o acompanhava desde a infância, simplesmente desaparecera. Ele estava nu, exposto, apenas um homem contra um monstro.
O Espadachim levou a mão ao peito, onde as placas de ferro haviam sido amassadas pelos socos de Dante. A aura esverdeada que o envolvia brilhou intensamente, e as placas se reformaram, como se nunca tivessem sido tocadas. Ele sorriu, revelando dentes amarelados e rachados, um líquido negro escorrendo pelas fissuras de sua pele. Seus olhos, verdes como a própria espada, vibraram com uma luz inquieta, fixando-se em Dante com uma intensidade quase hipnótica.
— Dante, Dante — disse ele, a voz ecoando como um sussurro vindo das profundezas. — De onde você veio, hein? Meu nome entre os meus iguais é irrelevante. Minha face, indiferente. Sou o que sou porque nasci da própria destruição do mundo, sabia? Moonlich. É assim que me chamaram quando subi pela primeira vez. E será a primeira vez que pisarei em seu mundo, nesse mundo.
Dante arqueou as sobrancelhas, confuso.
— Desse mundo?
— Claro — respondeu Moonlich, sua voz carregada de um tom quase reverente. — Eu sou o único que sobreviveu da primeira leva. O primórdio da destruição, da exuberância. E pisar nesse mundo, nessa terra que vocês chamam de continente, será como tocar os céus.
Dante não entendeu. O monstro diante dele era um Manchado, sim, mas com uma habilidade que desativava poderes ao redor. Ele era forte, resistente, mas não invencível. Se sua habilidade era apenas essa, então não havia mais nada a temer. Dante não estava amarrado.
— Vick — sussurrou ele, baixinho. — Vou usar o Estilo do pai.
— Aconselho a não utilizar — respondeu a voz de Vick em sua mente, calma, mas firme. — Render ensinou mais do que o necessário para se defender de qualquer inimigo do lado de fora. A mescla pode fazer seus ossos cederem se não for feita corretamente.
Dante riu, um som seco e sem humor.
— Eu sei disso. Sei bem. A Energia Cósmica sempre me protegeu, e sou grato por isso. Mas agora, sem ela, não preciso me segurar. Não há por que pensar em limitadores, em coisas sendo destruídas, em pessoas ao redor.
Ele respirou fundo, enchendo os pulmões de ar e soltando-o lentamente. Seus ombros relaxaram, os braços caíram para os lados antes de se erguerem novamente, assumindo uma postura diferente, estranha. Moonlich observou-o, curioso e impressionado.
A espada do monstro ergueu-se, e ele tomou cuidado. Humanos eram previsíveis, pensou Moonlich. Eles atacavam buscando acabar com a luta o mais rápido possível, nunca tentavam manter a postura, nunca se divertiam. Ele aprendera que eles se desesperavam quando sua base era retirada. Treinavam suas habilidades, testavam seus limites, mas deixavam seus corpos e mentes para trás. Por isso, seus olhos eram importantes.
— Fluxo Verde — murmurou Moonlich, sua voz saindo na mesma velocidade em que Dante chegou diante dele.
O monstro ficou surpreso. Usou a espada para bloquear um golpe vindo de baixo, mas antes que o punho de Dante atingisse a lâmina, o humano parou no ar, saltou e atacou com um chute. Moonlich usou o cabo da espada para bloquear, mas não esperava o próximo movimento. Dante já estava ao seu lado, seu soco acertando as costelas do monstro com força suficiente para fazê-lo recuar. Antes que Moonlich pudesse se recuperar, os dedos grossos de Dante agarraram seu braço e o puxaram com força brutal.
Uma cabeçada. O impacto fez Moonlich bater contra a parede do penhasco, pedras caindo ao seu redor. Ele ergueu a mão livre, segurando o punho de Dante antes que outro golpe pudesse ser desferido. Naquele momento, olhando nos olhos do humano, Moonlich entendeu. Dante não iria parar. Não importava o que acontecesse.
— Gostei da forma como você luta, Dante, Dante — disse Moonlich, devolvendo a cabeçada com força suficiente para fazer Dante cambalear para trás. — E então, qual é a sensação de sangrar?
Dante olhou para as mãos, onde o sangue escorria entre os dedos. Ele apertou os punhos, sentindo a dor, mas não o medo. Diferente do que Moonlich esperava, não havia desespero em seus olhos. Apenas um sorriso. Um sorriso cheio de arrogância.
— Isso está cada vez mais interessante, não acha? — disse Dante, sua voz firme, como o aço.
Moonlich riu, um som rouco e profundo.
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