Fiquei completamente encantado com a cidade, mas logo recuperei o foco. Precisava obter algumas informações sobre como caçar e vender as mercadorias, então me aproximei de uma pessoa que parecia ser um caçador, portando uma espada e vestindo roupas de couro grosso. 

    — Olá, como faço pra caçar e vender as mercadorias? 

    — Um novato? Basta ir até a guilda, lá você encontrará tudo o que precisar. 

    — E onde fica essa guilda? 

    — Só seguir reto por ali, tem uma placa enorme com o nome Vigilantes do Céu. — Ele apontou em direção ao centro da cidade. 

    Hmm… Foi mais fácil do que eu havia imaginado. Achei que precisaria pagar pela informação, considerando que provavelmente todos aqui estavam motivados apenas pelo dinheiro. 

    — Obrigado. 

    Prosseguimos na direção indicada e, conforme nos aproximávamos do centro da cidade, o número de caçadores aumentava visivelmente. As ruas não tinham vendedores, apenas pessoas armadas, transportando couro e diversos itens provenientes de criaturas; muitos deles eram completamente desconhecidos para mim. 

    Ao chegarmos ao que parecia ser o coração da cidade, uma imponente praça se revelou diante de nós, com bancos cuidadosamente alinhados ao redor, repletos de pessoas. No centro da praça havia uma majestosa estátua de um guerreiro que eu não reconhecia; seu semblante determinado e a armadura detalhadamente esculpida sugeriam alguém de grande importância e bravura.  

    Sobre seu ombro, um pássaro de asas abertas parecia vigiar a praça, como se simbolizasse liberdade ou um vínculo com a natureza.  

    Logo além da praça, destacava-se a guilda, uma construção grandiosa com arquitetura robusta e imponente, cujas paredes de pedra eram decoradas com símbolos e emblemas impressionantes. Na entrada principal, uma gigantesca placa ostentava o nome “Vigilantes do Céu”, escrito em letras douradas e cuidadosamente trabalhadas. 

    Era impressionante a quantidade de pessoas entrando e saindo daquele lugar. Dirigi-me até um ponto próximo à guilda, amarrei o burro cuidadosamente e pedi para Clarice esperar ali para garantir que ninguém o roubasse. Ela também estava curiosa para entrar e explorar, mas não podíamos deixar o animal desacompanhado. 

    Ao entrar na guilda, deparei-me com um salão imenso, iluminado por lustres grandiosos que pendiam do teto alto. Mesas extensas de madeira maciça estendiam-se pelo ambiente, abarrotadas de caçadores que conversavam animadamente, riam e trocavam histórias sobre suas aventuras. 

    Olhei ao redor e percebi um balcão onde alguns funcionários da guilda trabalhavam, todos vestidos com uniformes elegantes e padronizados. Me aproximei de uma mulher atrás do balcão, que exibia um porte profissional e um olhar atento.  

    Seus cabelos longos e castanhos estavam perfeitamente arrumados, e seus olhos verdes transmitiam uma mistura de cordialidade e firmeza. Seu uniforme azul escuro com detalhes prateados estava impecavelmente alinhado, e um crachá brilhante reluzia em seu peito, destacando sua posição na guilda. 

    — Bem-vindo! Em que posso ajudar? 

    — Como faço pra me tornar um caçador? 

    — Se esta for sua primeira vez na guilda, basta assinar um contrato para obter autorização para vender os itens que coletar diretamente para nós. 

    — Entendo. Como encontro os locais de caça? 

    — Ali no canto tem um grande mapa com explicações detalhadas. As áreas são divididas de acordo com as espécies de criaturas encontradas em cada uma delas, além dos itens que podem ser obtidos para venda e seus respectivos preços. — Ela apontou para o lado direito do salão, onde diversos caçadores estavam reunidos. 

    — Certo, quero me tornar um caçador. 

    — Aqui está o contrato. Basta assiná-lo para receber seu crachá da guilda. 

    Após uma leitura rápida, percebi que as regras eram simples e diretas. Ao assinar o contrato, eu ficaria vinculado à guilda, podendo vender apenas para eles, sem qualquer tipo de comércio paralelo na cidade. Além disso, teria total liberdade para caçar em praticamente qualquer região, sem restrições baseadas em habilidades ou experiência. 

    No entanto, toda a responsabilidade pelos riscos seria exclusivamente minha; a guilda não oferecia qualquer tipo de proteção ou compensação para os caçadores em caso de acidentes ou perdas. 

    Assinei o contrato e o entreguei a ela. As regras eram vantajosas para mim, pois garantiam total liberdade para caçar onde e o que eu quisesse. 

    — Desculpe, mas você precisa fornecer seu nome verdadeiro. 

    — Como assim? Esse é meu nome. 

    — Aconselho você a não brincar com esse tipo de coisa. Pode trazer problemas. 

    — Eu não estou entendendo. Esse é meu nome verdadeiro! — Levanto um pouco a voz, sentindo a irritação crescer. 

    — Emy, está tudo bem? — perguntou uma voz firme atrás de mim. 

    Ao me virar, deparei-me com um homem de físico robusto e bem definido, evidenciando anos de treinamento árduo. Seus cabelos negros, ligeiramente desgrenhados, caiam até a altura dos ombros, e seus olhos cinzentos transmitiam um olhar afiado e experiente.  

    Vestia uma túnica escura reforçada com placas de couro e metal nos ombros, além de botas resistentes, indicando que estava habituado a terrenos difíceis. Em suas costas, uma imponente espada descansava, deixando claro que se tratava de um caçador veterano. 

    — Ulrich, não é nada, apenas um mal-entendido. Esse jovem parece ter escrito o nome errado. 

    — Eu não escrevi errado! — declarei, batendo no balcão com firmeza. 

    — Deixa eu ver. 

    Emy estendeu o contrato para Ulrich. Assim que ele leu, seus olhos se estreitaram e ele me encarou com seriedade. 

    — O que foi? — perguntei, franzindo a testa, sem entender a reação dele. 

    — Galera, esse garoto aqui colocou que é um Falconer! — disse, virando-se para uma mesa próxima, onde várias pessoas estavam sentadas. 

    Logo, todos explodiram em gargalhadas, o som ecoando pelo salão. Eldric não conteve o riso e juntou-se a eles, sua risada grave se destacando entre as vozes. 

    — Que porra é essa? 

    — Saito, se quer ser um caçador, precisa usar seu nome verdadeiro. — Ele se virou para mim com um tom mais sério. 

    O que está acontecendo com essas pessoas? Olhei ao redor e percebi que todos agora estavam nos encarando, alguns com expressões curiosas, enquanto outros idiotas ainda riam, se divertindo com a situação. 

    — Esse é meu nome! 

    — Hm… se continuar mentindo, terei que o retirar à força. 

    — Vocês só podem estar brincando comigo! Meu nome é Saito Falconer, e meu pai se chama Elion Falconer. 

    Ao dizer isso, os olhos de Ulrich se arregalaram em choque, como se tivesse ouvido algo impossível. 

    — Agora entendi… Emy pode aceitar esse contrato. 

    — Já que você está dizendo, tudo bem. Aqui está seu crachá. Tome cuidado para não o perder, pois só poderá vender os itens com ele. — Ela me estendeu o crachá, e eu o peguei um pouco irritado. 

    — Saito, você poderia me acompanhar até um lugar? 

    — Não tenho tempo pra isso. Estou ocupado com outras coisas. 

    — Acho que isso pode lhe interessar. 

    — Ainda assim, vou recusar. 

    — Garanto que não será uma perda de tempo. 

    Hesitei por um instante, mas, movido pela curiosidade, decidi acompanhá-lo. Se a recepcionista o conhecia, ele provavelmente não era um simples estranho. Se fosse algo realmente relevante para mim, valeria a pena descobrir. Caso contrário, eu poderia simplesmente ir embora sem demora.  

    Saímos juntos da guilda e fui até Clarice, chamando-a para vir junto com o burro e a carroça. Com a ajuda de Ulrich, encontramos um local apropriado para deixá-lo, onde outras carroças estavam estacionadas. Como o dono do lugar era um conhecido dele, não precisei pagar pela estadia. 

    Seguimos por ruas mais tranquilas, afastando-nos do movimento da praça central, até chegarmos a uma pequena casa de aparência simples. As pedras envelhecidas das paredes e a porta reforçada sugeriam que o local resistira ao tempo. Ulrich avançou sem hesitação e começou a abrir a porta. 

    — O que exatamente viemos fazer aqui? — perguntei, desconfiado, enquanto observava o local com atenção. 

    — Quero que você conheça uma pessoa. 

    Assim que entramos na casa, um forte odor de álcool invadiu minhas narinas, obrigando-me a levar a mão ao rosto em uma tentativa instintiva de bloquear o cheiro. O ambiente era pequeno e simples, consistindo em um único cômodo mal iluminado. 

    No centro, uma mesa velha de madeira cercada por cadeiras gastas denunciava anos de uso. Pelo chão, roupas amassadas estavam espalhadas de forma descuidada, contribuindo para a sensação de desordem. 

    No fundo mal iluminado do cômodo, uma cama de aparência desgastada se destacava entre as sombras. Uma pequena janela permitia a passagem de uma luz tênue, refletida pelas pedras brilhosas incrustadas nas paredes, criando um brilho fraco e irregular no ambiente.  

    Conforme nos aproximamos, percebi que havia alguém deitado nela — e não estava sozinho. Duas jovens, completamente nuas, se levantaram apressadamente, os olhos arregalados pelo susto.  

    Clarice, em um gesto rápido, levou as mãos ao rosto e se virou de costas, claramente constrangida. Sem dizer uma palavra, as duas pegaram suas roupas do chão, vestiram-se apressadamente e saíram da casa às pressas, evitando qualquer contato visual. 

    — Puta que pariu, Ulrich! Já falei pra não vir mais aqui — resmungou o homem, sentando-se na cama enquanto tomava um longo gole direto da garrafa. 

    — Pelo visto, você continua o mesmo. Vista-se, você tem visita — disse Ulrich, jogando uma roupa para o homem com um olhar severo. 

    — Porra de visita. Você me atrapalhou por isso? Sumam daqui. 

    Não é possível que eu tenha vindo até aqui apenas para encontrar um bêbado. Que piada… que perda de tempo. 

    — Estou indo — disse, começando a me virar, mas Ulrich segurou meu ombro com firmeza, impedindo-me de sair. 

    — Espere. Saito, este é Eldrin Falconer, irmão do seu pai, Elion. 

    Irmão? Você está me dizendo que esse homem, mulherengo e afundado no álcool, é o meu tio?

    Uma obra de: Matheus Andrade.

    Mapa do Mundo.

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    A escala não é exata, já que fui eu quem fez e não sou bom nisso kkk. É apenas para termos uma ideia de onde estamos. Ele vai se revelando ao decorrer da história.

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