Capítulo 26: Uma Estrela Brilhando Novamente (1/5)

A maior diferença entre a área onde o Tutorial ocorreu e a Zona Neutra eram as instalações disponíveis na última. Se Seol fosse analisar tecnicamente, então a Zona Neutra só poderia existir no Paraíso e em nenhum outro lugar.

Ele certamente concordava com a ideia de que esse santuário era muito especial – afinal, as sete divindades combinaram seus poderes para criar esse lugar.

Seol percebeu que elas deram uma atenção considerável à integração segura e adaptação dos sobreviventes. Isso era fácil de perceber ao recordar as reações iniciais de todos que viam esse lugar pela primeira vez. Até ele pensou que estava olhando para uma loja de departamentos de alto padrão. A praça localizada no centro do térreo ou os cafés simulados onde se podia comprar algo para beber eram bons exemplos disso.

No entanto, tais considerações só podiam ir até certo ponto. Com um simples olhar, ele avistou vários itens que as pessoas da Terra moderna não teriam a chance de ver ou usar em suas vidas cotidianas.

Mas isso era esperado. O Paraíso não era tão avançado cientificamente quanto a Terra, e sua cultura também era diferente.

Em outras palavras, certos elementos para preparar alguém para o que estava por vir eram essenciais – tudo para minimizar a sensação de incongruência que se poderia sentir nos primeiros dias fora dos muros da Zona Neutra.

Os andares superiores eram reservados exclusivamente para aqueles que conseguiram acumular mais de 1000 pontos durante o Tutorial. Ao olhar para baixo a partir do corrimão do corredor sinuoso, era possível ver quase tudo o que acontecia abaixo. E que visão era essa.

Seol não conseguia esconder sua expectativa, imaginando como seria dentro do quarto.

Maria o levou até uma porta com o número ‘1’ gravado. Seol a abriu e entrou no cômodo além, apenas para lutar muito para não deixar seu queixo cair no chão.

O espaço do que chamavam de ‘quarto’ era tão vasto quanto um oceano; tanto que ele nem conseguia calcular o tamanho real daquele lugar. E ao observar as inúmeras pinturas e esculturas luxuosas decorando as paredes e cantos do ambiente, além do deslumbrante lustre pendurado no alto do teto, não pôde evitar a falsa impressão de que esse quarto deveria pertencer a um rei.

Em todos os seus 26 anos de vida, Seol nunca havia pisado em nenhum lugar tão luxuoso quanto aquele. Ele só tinha visto algo desse nível através da mágica da internet. Como comparação, talvez a lendária Suíte Embaixador do The Empire Brunei, supostamente existiam apenas duas no mundo, poderia rivalizar com o nível de opulência ali presente.

Seol levou um tempo explorando o quarto, que obviamente era grande demais para ser chamado de ‘mero quarto’ antes de se sentar na beirada da cama, que também era grande demais para uma única pessoa, e decidiu relaxar um pouco.

No entanto, sua euforia durou pouco. Encontrando-se sozinho em um espaço tão vasto, ele logo ficou entediado. Qual era o sentido de tanto espaço e luxo? Não havia TV ali. Nem geladeira. Tampouco computador.

O único objeto que funcionava com eletricidade que ele tinha era o smartphone que recebeu no início do Tutorial, usado para receber as missões e afins.

…Ele não tinha basicamente nada para fazer ali. Então, acabou pegando o panfleto que Maria havia deixado para conferir mais uma vez. E à medida que passava os olhos pelo conteúdo, seus olhos se arregalavam de surpresa, mas sua expressão ia se tornando cada vez mais complicada.

Havia apenas dez itens na lista, mas todos possuíam efeitos excepcionais. O problema óbvio era, claro… Os preços eram incrivelmente, absurdamente, ridiculamente altos.

“Isso é loucura…”

Ele sentiu vontade de xingar ali mesmo. Apenas olhar para a Lembrança de Moirai parecia lhe dizer tudo o que precisava saber.

Eles estavam realmente falando sério? Isso não era praticamente uma provocação? Como se estivessem exibindo um item tão profundo e desejável, apenas para declarar em voz alta: ‘Ohh, veja como é caro!! Kekeke!!’

“Quem, em sã consciência, pode pagar por coisas tão caras?!”

…Ele continuava pensando assim, mas não conseguia simplesmente esquecer. Principalmente, não conseguia tirar o interesse do primeiro e do quinto itens da lista.

A Ambrosia era supostamente uma ‘gota’ de orvalho matinal que forçava a evolução de uma das habilidades despertas para o próximo nível. Quanto aos Elixires Divinos, eram remédios milagrosos que aumentavam os atributos físicos em um nível. Comparativamente falando, seus preços até pareciam razoáveis.

Atualmente, entre as cinco direções possíveis, os Nove Olhos de Seol haviam aberto as direções central e esquerda. Se ele pudesse consumir duas Ambrosias, então abriria mais duas direções das três restantes. O que significava que…

Seol estaria muito mais perto de desvendar o mistério com o qual teve que conviver nos últimos 26 anos.

“…Não devo desperdiçar tempo assim.”

O período de um mês não era longo. Não, ele pensava que era extremamente curto. Um senso de urgência tomou conta de seu pensamento.

Após pegar sua bolsa, Seol deixou o quarto.

De volta ao térreo.

Ainda havia uma multidão na praça, mas menor do que quando Seol saiu do teatro pela primeira vez.

Ele deu uma olhada ao redor para ver se encontrava alguém familiar, apenas para perceber que as outras pessoas, por algum motivo, estavam se afastando dele aos poucos. Graças a isso, conseguiu se aproximar do quadro de avisos sem dificuldades.

Como Maria havia mencionado antes, o quadro estava abarrotado de pergaminhos. Depois de escolher uma missão, bastava pegar o pergaminho correspondente e rasgá-lo ao meio. Isso teleportaria a pessoa para o local onde a missão aconteceria.

No entanto, havia uma regra que precisava ser seguida. Muitas missões permitiam que os sobreviventes se juntassem para completá-las. Porém, um grupo não podia ter mais da metade do número mínimo de participantes vindo da mesma Área. Em outras palavras, era obrigatório cooperar com sobreviventes de outras Áreas.

Seol não estava pensando em formar um grupo agora, de qualquer maneira. Com isso em mente, ele deu uma olhada rápida no quadro.

— Não. Passo.

Era uma missão fácil, mas a recompensa era muito baixa. O que Seol queria era uma missão que pudesse ser concluída no menor tempo possível e que oferecesse a maior quantidade de recompensas. E, se fosse segura, melhor ainda.

Com tantas exigências, sua busca não foi fácil; mas havia literalmente centenas de missões disponíveis ali, então era apenas questão de tempo.

Logo, ele encontrou um pergaminho de missão interessante.

Só de olhar para a recompensa, ele não ficou muito animado. No entanto, poderia repetir a missão quantas vezes quisesse e, mais importante, gostava da ideia de poder confiar em sua habilidade inata. A explicação da missão indicava que ele poderia morrer caso entrasse no caminho errado. Mas, se ele apenas seguisse os caminhos que brilhassem em verde, então não deveria haver problema, certo?

Definitivamente valia a pena tentar.

Seol tomou sua decisão e pegou um dos pergaminhos do grande amontoado. Ele conferiu as horas no smartphone: 11:31h da manhã. Depois de confirmar o horário, rasgou o papel ao meio.

Uma luz intensa explodiu, e ele sentiu uma forte força de sucção puxando-o pela cintura. Seol fechou os olhos e, ao abri-los novamente instantes depois, percebeu que agora estava dentro de uma caverna.

A novidade do ambiente durou pouco. Ele segurou firmemente a barra de aço e examinou cautelosamente os arredores. No entanto, mesmo após um ou dois minutos de espera, nada apareceu.

Seol soltou um suspiro de alívio e direcionou seu olhar à frente. Havia cinco grandes buracos na parede, todos parecendo entradas.

Assim que ativou seus Nove Olhos, as coisas se desenrolaram exatamente como ele suspeitava: a entrada mais à esquerda brilhava em verde; as três do meio brilhavam em amarelo; enquanto a mais à direita tinha tons alaranjados.

Seol avançou pela caverna levemente curvada e entrou pela entrada da esquerda.

Com o anúncio ecoando em seus ouvidos, a visão de Seol foi preenchida pela praça do térreo. Assim que saiu do labirinto, ele foi transferido de volta para a Zona Neutra.

O relógio em seu telefone marcava 12:56h, ele precisou de apenas uma hora e 25 minutos para concluir uma missão de seis horas.

Ele apenas seguiu a direção indicada por sua habilidade inata, então não encontrou nada que pudesse ser chamado de ‘perigoso’. A missão levou um pouco mais de tempo do que ele gostaria, já que foi sua primeira tentativa. No entanto, ele percebeu que, assim que se familiarizasse com o percurso, poderia completar o labirinto em menos de uma hora.

Seol assentiu, agora convencido. Em seguida, retornou apressado ao quadro de avisos para rasgar o pergaminho da missão do labirinto mais uma vez.

Assim, ele continuou desaparecendo e reaparecendo na praça várias vezes.

Após concluir a missão, que teoricamente exigia seis horas para ser finalizada, mais seis vezes, dois problemas inesperados surgiram.

O primeiro problema era que o número de tentativas restantes havia diminuído drasticamente. Isso aconteceu porque outros sobreviventes testemunharam Seol completando repetidamente essa missão em particular; logo, deduziram que deveria ser mais fácil do que haviam imaginado e, um por um, começaram a tentar a sorte. Afinal, para um sobrevivente comum, 100 Pontos de Sobrevivência representavam um décimo de seu objetivo, então a tentação era grande.

E o segundo problema era…

— Euhck…

Uma dor aguda atravessou momentaneamente seu cérebro. Seol não teve escolha a não ser parar de rasgar outro pergaminho. Nem precisava mencionar o que essa dor significava. Ele conhecia esse sintoma bem demais.

Era um aviso. Ou talvez, um presságio.

Ele já estava usando os ‘Nove Olhos’ por mais de seis horas seguidas, então não era nenhuma surpresa que seu cérebro estivesse protestando em agonia.

“Mas ainda preciso fazer mais algumas…”

O nível da dor não era tão grande, se ele pensasse bem.

No entanto, anos atrás, quando ele ignorou sinais de alerta semelhantes… acabou sofrendo as consequências ao perder sua habilidade.

“Agora que penso nisso, meu corpo inteiro também está meio cansado.”

Não importava o quanto evoluir sua habilidade fosse crucial, se ele a perdesse por imprudência, esse seria o pior desperdício de tempo possível. Ele nunca mais queria cometer o erro de perder sua habilidade novamente.

No fim, Seol devolveu o pergaminho da missão ao quadro e decidiu descansar em seu quarto no andar superior.

Seol despertou de seu sono completamente revigorado. Não apenas sua cabeça, mas todo o seu corpo parecia vivo e renovado. O peso que antes sentia, mesmo que não fosse como uma montanha sobre ele, agora havia sumido completamente.

Maria havia explicado que havia um motivo para os quartos mais caros custarem tanto. Existiam dezenas de quartos na Zona Neutra, mas seus preços variavam de forma absurda.

Segundo ela, os quartos baratos serviam apenas para dormir, mas conforme o preço aumentava, o ambiente dentro deles se tornava gradualmente mais ‘benéfico’ para a recuperação dos sobreviventes.

Mais importante ainda, o quarto de Seol era único em toda a Zona. Mesmo que ele descansasse pelo mesmo tempo que os outros, os efeitos do descanso seriam multiplicados, como se tivesse dormido por um período muito mais longo.

A tela do celular agora exibia 23:12h.

“Dormi por cerca de cinco horas, hein.”

Seol pegou a comida de conveniência da sacola. Ele poderia comer de graça nos restaurantes, mas não podia perder tempo indo até lá, pedindo e esperando a comida. Enquanto mastigava um sanduíche, começou a organizar seus pensamentos.

“A eficiência está muito baixa.”

Incluindo a pausa, ele gastou 11 horas para ganhar 600 Pontos de Sobrevivência. Se conseguisse 1200 pontos a cada 24 horas, em um mês isso resultaria em 36.000 pontos. Talvez ele conseguisse pagar por duas Ambrosias nesse ritmo, mas…

“O problema é o número de tentativas restantes.”

Seol sabia muito bem que não poderia repetir a mesma missão infinitamente. Além disso, precisava levar em conta as pessoas que tentariam copiar qualquer coisa que ele escolhesse fazer a seguir.

Seol sentiu a necessidade de revisar sua estratégia. As duas condições essenciais ‘tempo curto para conclusão’ e ‘altas recompensas’ eram inegociáveis, mas ele percebeu que poderia abrir mão da segurança. Não, ele tinha que abrir mão dela.

Por quê? Porque quanto maior o perigo, maior a recompensa.

Sendo sincero, ele estava muito tentado pelo que a Loja VIP oferecia. Além disso, disseram-lhe que, depois de sair, seria extremamente difícil retornar à Zona Neutra. Então, ele realmente queria pelo menos beber um Elixir Divino o mais rápido possível.

Ele se perguntou se também deveria visitar as outras lojas. Mas, no fim, apenas balançou a cabeça. Sério, ele não podia se dar ao luxo de desperdiçar um único ponto, então o que ele poderia comprar, afinal?

No entanto, não podia negligenciar uma preparação minuciosa. Assim, Seol puxou sua bolsa para mais perto e começou a inspecionar seu conteúdo.

“Vamos ver… A pena da consciência fluída… não serve para combate. E este Espelho da Compreensão serve para… Droga, só é útil contra os Falecidos!”

Não havia uma missão para eliminar mortos-vivos no Tutorial, nem os sobreviventes recebiam esse tipo de missão em primeiro lugar, então por quê…?

Felizmente, ele possuía uma caixa cheia de esferas mágicas. Ele precisou de apenas quatro delas para lidar com aquele terrível Gaekgwi, então tinha certeza de que seriam úteis no futuro próximo.

Seol separou a combinação familiar de Névoa Venenosa, Ignição, Teia de Aranha e Ácido Clorídrico e as colocou nos bolsos. Em seguida, desceu para o térreo.

A hora já era avançada, mas ainda havia mais de vinte pessoas perambulando pela praça. Até mesmo Odelette Delphine, a segunda colocada, e Hao Win estavam entre elas.

Assim que o — primeiro lugar — Seol fez sua entrada, ambos se viraram para ele, como se tivessem combinado isso de antemão. No entanto, Seol estava tão focado em ganhar mais Pontos de Sobrevivência que nem percebeu seus olhares. Sua atenção estava inteiramente voltada para o quadro de avisos.

— Com licença.

Assim que Seol ergueu os olhos, Odelette Delphine o chamou.

— Uhm, sim?

Seol inclinou levemente a cabeça. Ela brincava nervosamente com uma mecha de seu cabelo castanho, diferente da primeira vez que a viu, parecia estar um pouco preocupada com algo.

— Você sabia? Por acaso se lembra do senhor Tong Chai?

— Senhor Tong Chai…? Quer dizer, o homem que usava um turbante?

— Sim. Ele ficou em quinto lugar. Aquele homem… Acho que encontrou seu fim.

— …Encontrou seu fim? Ele morreu?

Um sobrevivente que conseguiu acumular mais de 1000 pontos durante o Tutorial já estava morto? Isso não era algo que Seol pudesse simplesmente ignorar.

— Aquela ali. Acho que ele morreu tentando essa missão.

Odelette apontou para a mesma missão que Seol vinha repetindo mais cedo naquele dia.

— De fato, há um aviso sobre a possibilidade de morrer, mas… Por que você acha que ele está morto?

— Já se passaram seis horas desde que ele desapareceu, e ele ainda não voltou.

— Mmm. Não sei… De qualquer forma, dizer que ele morreu tentando algo tão simples como essa missão de dificuldade Normal parece um pouco…

A expressão de Odelette ficou complicada ao ouvir suas palavras.

— Tão simples… Entendo. Bem, você vai tentar essa missão de novo?

— Ah, não. Estou pensando em tentar uma missão diferente desta vez.

Seol voltou seu olhar para o quadro de avisos. Odelette Delphine ficou ali por mais um momento, mordiscando os lábios, antes de falar novamente.

— Você poderia me conceder um pouco do seu tempo para tomarmos uma xícara de chá?

…

Embora a sugestão não parecesse ruim, encontrar uma garota de beleza impressionante tarde da noite, Seol tinha algo muito mais urgente para fazer antes. Ele precisava escolher uma nova missão e testá-la pelo menos uma vez.

— Peço desculpas, mas há algo que realmente preciso confirmar primeiro… Se não for muito incômodo, podemos deixar isso para outro momento?

Seol escolheu suas palavras considerando que ela era estrangeira. Após ouvir sua recusa educada, Odelette fez uma expressão melancólica.

— Então não tem jeito.

Ela se virou e foi embora.

Seol retomou sua busca pelo quadro de avisos – então, teve um pensamento e ativou sua habilidade.

A maioria dos pergaminhos localizados na parte inferior do quadro não brilhava com nenhuma cor, mas conforme ele levantava os olhos, viu amarelo, laranja e, acima de tudo, vermelho, nessa ordem crescente.

“Isso significa que as missões posicionadas mais acima no quadro são mais difíceis?”

Seol então ficou incrédulo ao olhar para o pergaminho de missão tingido de um vermelho profundo, localizado no topo do quadro, que ostentava uma recompensa de 172.800 pontos. No entanto, algo próximo chamou sua atenção. Entre o mar de laranja, havia um pergaminho tingido de amarelo.

— 1000 Pontos de Sobrevivência como recompensa da missão?

A dificuldade era um nível acima de ‘Levemente Difícil’, ‘Difícil’. Tentativas restantes? 15 de 15. E, mais importante, não havia limite de tempo.

Ao observar aquele pergaminho, a ganância encheu a expressão de Seol.