Capítulo 36: Varrendo as Missões (1/3)

Seol passou um tempo explicando a Yi Seol-Ah que Competência não era uma droga, que ele não estava se dopando nem nada do tipo. Depois de convencê-la de alguma forma, ele seguiu para a academia no terceiro andar.

Por alguma razão, Agnes não aparecia fazia um tempo, mas ele achou que isso não fazia muita diferença. Mesmo sem a supervisão dela, Seol seguiu fielmente a dieta e o regime de treinamento que ela havia estabelecido.

Após encerrar o treino físico, ele retornou aos seus aposentos e praticou a aplicação de mana enquanto descansava. Seol era um ser humano como qualquer outro, então achava muito mais fácil e diversas vezes mais agradável sentar e meditar do que fazer agachamentos com uma barra sobre os ombros por horas a fio.

Quanto à aplicação de mana, quanto mais ele praticava, mais rápido o fluxo da energia se tornava. A sensação de estranheza também foi diminuindo gradualmente até desaparecer por completo. Como mover a mana desde o início já não era um problema, ele passou a focar em aceitá-la como parte de seu próprio corpo e em exercer um controle mais preciso sobre o fluxo dela.

Já passava do meio-dia quando ele terminava a meditação. Então, Seol descia até o primeiro andar, desta vez para o treinamento relacionado à classe.

Essa era a última tarefa de treinamento do dia, e a que Seol mais esperava. Às vezes, quando golpeava e estocava com sua lança, sua mente ficava livre de todos os pensamentos distraídos. Ele sentia que as horas literalmente voavam num piscar de olhos nesse estado.

Ele até comprou uma lança para usar durante o treinamento. Custou-lhe um total de 580 pontos de Sobrevivência.

Uma lança curta já era fornecida para as missões de treinamento da classe, mas ele a achava um pouco curta demais para o seu gosto. Além disso, o fato de não poder levá-la para fora das missões foi um fator decisivo para comprar sua própria lança. Se ele fosse continuar usando uma mais tarde, parecia sensato se acostumar com a arma o quanto antes.

Seol focou em dominar três técnicas de lança: a Estocada¹, o Golpe² e o Corte³.

Embora houvesse mais técnicas disponíveis, Seol escolheu se ater apenas a essas três. Estocar, Aparar e Cortar, ele sabia que o Seol do sonho conseguiu matar e destruir incontáveis inimigos apenas com essas três técnicas.

Durante as missões de treinamento, Seol sempre seguiu quatro regras.

Primeiro, como Agnes disse, ele nunca usava mana. Nem uma única vez.

Segundo, se não estivesse satisfeito com a postura, aquele movimento não contava, e ele o refazia.

Terceiro, ele realizava o mesmo movimento básico pelo menos 1.250 vezes durante as missões.

E, por fim, mesmo em meio ao treinamento intenso, nunca negligenciava alimentação saudável e descanso adequado.

Ele estabeleceu o número 1.250 simplesmente por causa da Competência Especial. Como dava um aumento de 8 vezes nos efeitos do treinamento, não era o mesmo que realizar o movimento 10.000 vezes em um único dia?

Quando terminava as missões de treinamento, o relógio do seu smartphone já mostrava que passava da meia-noite. O dia de treinos chegava ao fim nesse ponto. Ele retornava aos seus aposentos completamente exausto, mas sua expressão permanecia brilhante. Isso continuou por vários dias e semanas. E, claro, ele tinha um bom motivo para estar sempre sorrindo.

O humor de Seol ao verificar sua Janela de Status era de satisfação. Seus atributos físicos haviam aumentado nove vezes. Apenas com exercícios físicos, ele havia alcançado os mesmos resultados que beber 9 Elixires. Se precisasse igualar isso com pontos de Sobrevivência, seriam necessários 270.000 pontos.

— Ai…

Enquanto observava satisfeito sua Janela de Status, uma dor aguda em suas mãos o fez franzir a testa. Ele não precisava olhar para saber o motivo, suas mãos deviam estar novamente cheias de hematomas.

Ele começou a lavar as mãos doloridas com água fria, e seus dentes começaram a bater sozinhos.

“Droga, achei que minhas mãos já estivessem calejadas o suficiente…”

Embora estivesse reclamando internamente, ele ainda apreciava o progresso que fez; no primeiro dia que praticou com a lança, sua pele se rompeu e ele ficou sangrando por toda parte. A dor foi tão intensa que ele sentiu até o momento em que desabou na cama e apagou.

“Devo tomar um banho ou simplesmente dormir assim mesmo?”

Enquanto Seol ponderava sobre o que fazer, ouviu alguém bater à porta.

— Quem é?

Seol abriu a porta e seus olhos se arregalaram de surpresa.

Do outro lado do batente estava uma mulher vestindo um uniforme de empregada francesa, suas mãos delicadamente postas à frente do corpo; ele podia ver seus olhos frios e severos por trás dos óculos, sua silhueta esguia e atlética, bem como o cabelo preso em um coque impecável.

— Agnes?

— Faz um tempo.

— O que te traz aqui a essa hora…?

— Há algo de que gostaria de falar com você.

— Claro. Por favor, entre.

— Obrigada — disse Agnes educadamente ao entrar no quarto com passos dignos.

— Ah, é verdade, Agnes.

Seol estava conduzindo Agnes para dentro do quarto quando, de repente, se virou para ela, como se tivesse acabado de se lembrar de algo.

— Sim?

— Como anda o seu ursinho de pelúcia ultimamente?

Pow!

O punho dela, veloz como um raio, acertou em cheio a boca do seu estômago. Seol tombou para trás e começou a ofegar de dor.

— Aaaaaaah…

— Você e esse maldito ursinho!!!

Agnes gritou em frustração, algo bem incomum para ela, e seu corpo inteiro começou a tremer.

— Eu… eu não… consigo respirar…

— Maldição!! Você tem ideia do que apareceu na coluna de Apelidos da minha Janela de Status por sua causa?!

— A-Ainda… meu estômago…

Ela devia estar furiosa de verdade, pois ergueu bem alto o cotovelo, pronta para desferir um golpe nas costas dele. No entanto, parou ao notar algo estranho na maneira como ele segurava o estômago.

Seol não estava usando as palmas, mas sim as laterais das mãos para pressioná-lo. Só então Agnes percebeu o estado machucado e coberto de hematomas das mãos dele.

— …Você não vai tratar suas mãos?

Ele conseguiu erguer a cabeça de alguma forma e soltou um gemido de dor. Agnes soltou um longo suspiro e balançou a cabeça.

— Vejo que continua insistindo em suas teimosias. Seria melhor se ao menos fizesse algum tipo de tratamento básico para o ferimento.

Ela arrastou Seol até a cama e o sentou, depois pegou um frasco de antisséptico, um bálsamo de cura e algumas ataduras de um armário próximo. Seol nem fazia ideia de que essas coisas estavam ali, então ficou naturalmente surpreso.

— Me dê suas mãos.

Seol obedeceu e estendeu as mãos. Agnes se ajoelhou diante dele.

— Este quarto vai ajudá-lo muito na recuperação da sua vitalidade, mas tem um efeito mínimo na cura de ferimentos. Pelo menos, se tomasse banhos com os unguentos especiais que recomendei, então…

Enquanto abria o frasco de antisséptico, ela continuava falando com ele. Ao vê-la limpar seus ferimentos com precisão, aplicar o bálsamo e enfaixá-los de uma só vez, um sorriso leve surgiu nos lábios de Seol.

Ele se sentia bastante feliz naquele momento. Na verdade, já fazia um bom tempo desde que se sentira assim. Ele estava gostando dessa nova vida, onde podia passar o dia inteiro imerso em coisas que o interessavam e, ainda assim, ter alguém cuidando dele. Era… reconfortante.

Até sua personalidade estava mudando para melhor. Quando ainda era viciado em apostas, vivia constantemente tenso. A mentalidade de vítima dominava seu coração e o fazia se sufocar com coisas insignificantes; muitas vezes, se tornava defensivo e irritado mesmo quando estava errado.

Porém, quanto mais tempo passava na Zona Neutra, mais Seol mudava. Talvez fosse mais correto dizer que a personalidade antiga, a que fez Yoo Seonhwa se apaixonar anos atrás, estava finalmente retornando.

Seja como fosse, um novo problema surgiu no meio disso: seu lado travesso também estava voltando.

Agnes estava concentrada apenas em enfaixar as mãos de Seol, permitindo que ele a observasse por um tempo. Então, ele soltou uma pergunta do nada.

— Estou curioso… Quantos anos você tem, Agnes?

— Tenho 27.

Como estava quase terminando o tratamento, Agnes focou nisso e não deu muita atenção à resposta que deu.

— Ah. Então você é minha noona por um ano.

— …Como?

— Eu só tenho 26, sabe.

Uma carranca rapidamente se formou no rosto de Agnes. Ela claramente foi pega de surpresa. Seus olhos pareciam dizer: ‘Onde você quer chegar com isso agora?’

Na verdade, a palavra noona era algo totalmente desconhecido para ela.

— Uhm…

Seol coçou a bochecha com uma expressão sem jeito.

— Não é nada, de verdade. Só que, se estiver tudo bem para você, gostaria de chamá-la de noona a partir de agora.

— Flarsh trriinmnt-to…

Agnes apressadamente soltou algumas palavras incompreensíveis antes de cobrir a boca com uma expressão que gritava: ‘Ah, droga.’

— Falar de quê?

— Me perdoe. Mordi a língua. Eu estava falando sobre seu treinamento.

Agnes limpou a garganta com uma tosse falsa e falou direito desta vez.

— Ah. Meu treinamento, é?

Ao simples mencionar de treinamento, os olhos de Seol brilharam de empolgação. Ao ver isso, Agnes sentiu um alívio interior. Não sabia o porquê, no entanto.

Ela conseguiu mudar de assunto, mas, ainda assim, guardava certo ressentimento de Seol, seus pensamentos já estavam complicados há um tempo, e ele tinha que dizer algo totalmente desnecessário para deixá-la ainda mais confusa.

Pouco tempo depois, Agnes abriu a boca para falar.

— Estive pensando cuidadosamente sobre isso há um tempo.

Agnes nunca deixou de se importar com o treinamento diário de Seol, não. Pelo contrário, não aparecia diante dele precisamente porque não havia mais nada que pudesse fazer por ele neste estágio.

— Está na hora de um novo tipo de treinamento?

Inicialmente, não havia motivo para ela ser tão meticulosa com o treinamento de outra pessoa. No entanto, 30% da decisão veio de seu orgulho como instrutora de Seol, enquanto 20% vieram da provocação de Cinzia.

— …Bom, eu diria que, de certa forma, é um novo tipo de treinamento.

Quanto ao restante… isso vinha dos desejos dela. Um desejo que qualquer Terrestre neste lugar teria pelo menos uma vez na vida.

Talvez ela estivesse buscando realização através de um substituto, por exemplo, ‘se ao menos eu tivesse feito isso quando cheguei à Zona Neutra’ ou ‘se ao menos eu tivesse feito aquilo, então eu teria…’

Ela estava despejando sua própria ganância na busca pela perfeição ideal, aquela que não conseguiu alcançar.

— De certa forma… você diz?

Por um mês inteiro, desde que Seol conseguiu sua classe, ela o observou treinar sozinho. Vendo-o melhorar e melhorar por conta própria, sentiu inveja, e…

— …Sim.

…E também, gratidão.

Ela era grata por ele ter lhe dado essa oportunidade; era grata por ele ter paciência o suficiente para não participar de outras missões; era grata por ele não ter desistido no meio do caminho; era grata por ele não reclamar, tanto, e seguir seus conselhos sem questioná-los.

O jovem sentado à sua frente não apenas satisfazia sua ganância, mas também seu orgulho como instrutora. Talvez fosse por isso que ela não sentia mais a necessidade de comparar Seol a Sung Shihyun.

Este jovem era único. E aquele homem também era único à sua maneira.

Simplificando, o Seol que ela conhecia agora era um sobrevivente que percorreu corretamente os passos da Zona Neutra, um de cada vez. De fato, era isso que ele era.

E, finalmente, o fim desse caminho estava à vista.

— Indo direto ao ponto, acredito que você já treinou o suficiente.

O papel que Agnes desempenhou até agora podia ser comparado ao volante e à alavanca de câmbio de um automóvel. Agora, era hora de devolver o controle ao dono.

— Você se saiu muito bem. Você suportou tudo maravilhosamente até agora. Estou sendo sincera.

O chassi desse automóvel havia sido substituído por algo ainda mais resistente do que antes.

— Mas, a partir de agora, é hora de aumentar sua experiência em combate.

O motor já era de alto desempenho desde o começo.

Seol apagou o sorriso do rosto.

— Você quer dizer…

Sua voz saiu baixa, quase inaudível.

Agnes ajustou os óculos.

A única coisa que restava fazer…

— É hora de começar a fazer as missões.

…Era acelerar na Autobahn e correr livremente.

1. 결缺[↩]
2. 교撤[↩]
3. 예別[↩]