Capítulo 28: Uma Estrela Brilhando Novamente (3/5)

Quando Seol voltou à praça, um pequeno alvoroço se formou.

Depois que o ‘primeiro colocado’ desapareceu, a multidão foi rapidamente verificar qual missão ele havia escolhido, apenas para ficarem em choque absoluto. Nenhuma das pessoas ali havia sequer tentado uma missão de dificuldade Normal ainda, mas esse jovem já estava desafiando uma missão Difícil? E sozinho, ainda por cima?

As opiniões se dividiram. Alguns diziam que ele havia mordido mais do que podia mastigar, enquanto outros preferiram esperar para ver.

E como todos puderam testemunhar, Seol retornou à praça em menos de cinco minutos.

Como a única possibilidade ao falhar na missão era a morte, seu reaparecimento significava apenas uma coisa.

— Eu não acredito nisso.

Hao Win murmurou suavemente, incrédulo.

Poderia-se dizer que a surpresa de Hao Win estava em um nível diferente dos outros sobreviventes ali. Ele já havia completado algumas missões e, ao fazer isso, formou uma certa visão, uma espécie de suposição fundamentada sobre como alguém deveria agir para sobreviver na Zona Neutra.

Ele estava convencido de que, para realizar missões, primeiro precisaria fazer preparativos adequados, comprando diversos itens nas muitas lojas disponíveis. Além disso, mesmo que pudesse formar um grupo com outras pessoas de nível semelhante ao seu, sob nenhuma circunstância deveria tentar completar missões com dificuldade maior do que ‘Normal’, pelo menos não por enquanto.

Provavelmente, foi por isso que Odelette Delphine foi conversar com o jovem em primeiro lugar no ranking. Claro, ela acabou sendo recusada de forma bem direta.

Mas agora, esse coreano havia concluído uma missão com uma dificuldade dois níveis acima de Normal… tão rápido assim?

— Como ele fez isso? Será que já consegue usar magia…? Hmm?

Hao Win estava prestes a se aproximar de Seol para perguntar, mas acabou inclinando a cabeça em dúvida. Seol estava parado no mesmo lugar, imóvel como uma estátua. Havia uma atmosfera estranha e desconfortável ao redor dele.

Era como se Hao Win estivesse olhando para um soldado que mal conseguira retornar de um campo de batalha brutal e sangrento. Quando observou com mais atenção, percebeu que a valiosa bolsa dourada que tanto invejava estava quase rasgada ao meio, e a expressão de Seol parecia perdida e contemplativa ao mesmo tempo.

Então, Seol começou a se mover em silêncio.

A multidão apenas observou, sem dizer nada, enquanto o jovem subia as escadas com passos trêmulos.

Seol não conseguia se lembrar de como retornou ao seu quarto. Sua cabeça doía, e ele se sentia tonto, como se tivesse bebido demais. Quando recuperou o foco, percebeu que seu corpo inteiro estava encharcado de suor frio.

Um calafrio subiu por suas costas. Sua respiração parecia normal na superfície, mas seu coração batia acelerado. Sua garganta estava seca e pegajosa, como se pudesse rachar a qualquer momento. Ele pegou uma garrafa de dois litros de água e bebeu sem parar.

O pomo-de-adão subia e descia continuamente. Seol bebeu quase metade da garrafa de uma vez, então forçou suas pernas trêmulas a se mover. Logo, caiu sobre a cama.

Só então a sensação de ter voltado vivo do abismo veio à tona. Para ser honesto, ele já havia se sentido tão esgotado assim desde o início do Tutorial?

Tok, tok…

Ouviu batidas na porta e ergueu a cabeça, mas logo desistiu e a deixou cair de volta no travesseiro. Ele não queria falar com ninguém naquele momento.

As batidas continuaram por um tempo, mas quando ele não respondeu, cessaram.

Seol apenas ficou ali, olhando fixamente para o teto. O padrão quadriculado acima parecia girar diante de seus olhos.

Quanto tempo se passou?

O silêncio espesso e sufocante continuou. Os olhos assustados e atordoados de Seol se fecharam lentamente, até restar apenas uma fresta aberta.

“Coloquei fé demais na minha habilidade?”

O pergaminho brilhava em amarelo. Ele pensou que definitivamente poderia completar a missão, considerando sua experiência anterior com Kang Seok.

“Ou fui descuidado demais?”

Não era como se tivesse achado que seria fácil. Ele sabia que seria perigoso. Apenas acreditou que conseguiria lidar com o risco.

“Talvez eu tenha ficado muito relaxado…”

Mas ele não fez preparativos? Conferiu cada esfera mágica e até separou combinações possíveis…

Seol pensou até esse ponto e então…

“Fui apressado demais…?”

…Fechou completamente os olhos.

Quanto mais tentava analisar suas ações, mais tolo se sentia.

Pelo menos, ele conseguiu completar a missão com sucesso. Ou, mais corretamente, mal conseguiu. As escolhas erradas que fez voltaram para assombrá-lo, e ele quase perdeu a vida. Na verdade, ter conseguido voltar vivo e inteiro já era um milagre.

Seus Nove Olhos não mentiram. Pensando com calma, a missão estava em um nível que ele poderia ter concluído se tivesse sido muito cuidadoso. Ele até tinha, em sua posse, a resposta exata para concluí-la.

E se ele tivesse puxado o Espelho da Compreensão no momento em que chegou lá? Seja um Falecido ou um esqueleto, ambos eram mortos-vivos, então por que não pensou nessa semelhança óbvia antes?

Ou, e se tivesse preparado combinações diferentes de esferas mágicas?

Apenas confiando cegamente na minúscula experiência de ter matado o Gaekgwi, escolheu Névoa Venenosa como seu primeiro ataque, entre as dez esferas que possuía. Enquanto isso, nem sequer parou para pensar em onde poderia acabar depois da teletransportação.

No final das contas, a culpa era de sua mente. Ele fingiu não estar relaxado. Fingiu não estar excessivamente confiante. Sua mente, sua ganância, o cegaram com a necessidade de acumular os Pontos de Sobrevivência o mais rápido possível.

No mínimo, ele não teria agido com tanta complacência durante o Tutorial.

“…Não, isso não está certo, está?”

Mesmo naquela época, houve algo que ele fez com seu próprio poder?

Cada vez mais perguntas surgiam naturalmente enquanto Seol era puxado por essa cadeia de lógica.

Quando ele expulsou o Gaekgwi no salão de assembleia, foi com seu próprio poder? Ou quando passou sozinho pela segunda missão repleta de armadilhas?

Ambos foram graças à sua habilidade Visão do Futuro. Ele nem sequer sabia como ativá-la agora. E, mais importante ainda, não foi como se Seol tivesse feito uma escolha consciente para agir. Ele simplesmente foi dominado pelas emoções naquele momento.

E quando ele matou o Gaekgwi?

Isso só foi possível por causa da segurança absoluta que a zona segura proporcionava.

E quanto ao fato de ter conquistado a maior quantidade de pontos durante o Tutorial? Tudo foi graças ao diário de um estudante desconhecido.

Muito provavelmente, ele ficou convencido demais. Assim que entrou no salão de assembleia, foi reconhecido como o portador do sagrado Selo de Ouro, e todos o trataram com extremo respeito. Todos tentaram seguir seus passos, alguns até o idolatravam. Mesmo as menores coisas que ele fazia chamavam muita atenção. Todos diziam que ele era alguém muito especial.

Ele devia estar gostando de toda essa atenção, desse reconhecimento de sua existência, mesmo que externamente o negasse, não quisesse isso, nem sequer gostasse…

Na realidade, ele era fraco. Se lhe tirassem isso e aquilo, ele não teria nada e não seria nada.

Ele já sabia o que aconteceria com ele no momento em que perdesse sua habilidade. Sabia muito bem que tipo de inútil desperdiçado ele era, e ainda assim… Além disso, ele não recebeu muito mais desta vez? Além de sua própria habilidade sobrenatural?

— Seu idiota de merda…

Ele achou difícil suportar essa sensação de vergonha.

Seol se levantou de imediato, segurou a garrafa d’água de outro jeito e derramou a água sobre sua cabeça. O líquido refrescante desceu de sua cabeça, passou por seu rosto e molhou seu torso. Era sua forma de zombar de si mesmo. Ele disse a si mesmo: ‘Você se encontra em uma posição tão favorável, muito melhor do que outras pessoas, e mesmo assim, é só isso que consegue fazer?’

Mesmo depois de a garrafa esvaziar, Seol permaneceu de pé, de olhos fechados. Ele se concentrou em cada gota d’água que escorria das pontas de seus cabelos. Quando fez isso por um longo tempo, o turbilhão de emoções ferventes no fundo de seu estômago começou a esfriar um pouco.

Só então ele reabriu os olhos.

— Fuuuu…

O brilho da ganância havia desaparecido completamente de seus olhos, e o brilho original retornou.

“Isso não pode continuar assim.”

Ele começou a refletir desde o início, analisando cada pequeno detalhe. Não apenas quando começou a fazer as missões, mas desde o momento em que pisou na Zona Neutra.

“Por que estou tão obcecado em conseguir a Ambrosia?”

Sua obsessão começou no momento em que Maria entregou o panfleto… Não, isso não estava certo. Ele já conhecia a existência da loja VIP antes mesmo de chegar aqui.

— …Talvez até consiga acessar a loja VIP.

…O Guia, Han.

Quando Seol lembrou do rosto de Han, também se recordou de algo que havia esquecido até agora. Por que aquele cara escolheu aquele momento para sussurrar essas palavras para Seol? Por que fez questão de mencionar a loja VIP logo de cara?

As gotas de água ainda caíam do corpo de Seol quando ele se moveu para pegar a mochila. Ele a abriu e vasculhou o conteúdo até encontrar três folhas de papel cuidadosamente dobradas.

Pegou uma e a desdobrou com cautela.