Capítulo 72 - Caçada em dupla
No meio da floresta, em uma região densa, com o chão tortuoso tomado por raízes altas e rochas volumosas, está Byron, voando, em sua grande forma demoníaca. Com cada batida de suas asas membranosas, Byron espalha lufadas de vento e brasas incandescentes, tingindo o ar com sua presença ardente.
Ele se desloca em alta velocidade, desviando das árvores esguias e de troncos altos.
À frente, no caminho de Byron, uma garra-branca avança com força. Alta e robusta, ela corre ferozmente, suas penas eriçadas, balançando pelo movimento de sua corrida enquanto garras rasgam o chão em sua investida. Seus olhos fixam-se no demônio, sem hesitação.
O diabo, determinado, também mantém seu avanço. O som dos passos pesados se misturando com o abanar de asas prenuncia um impacto iminente entre os dois.
Quando estão em proximidade, a garra-branca pula com as garras em suas pernas estendidas para frente. Em resposta, Byron ergue uma de suas mãos na direção do monstro.
O choque acontece no ar. As pernas fortes da ave atingem o peito e o ombro musculoso do diabo e as garras se cravam na pele escamosa e grossa.
Byron não se abala pelo ataque. No mesmo instante, sua mão avança e se fecha em torno do pescoço da criatura, esmagando-a com força bruta.
No choque brutal, a garra-branca leva a pior. Com a força e o peso de Byron, ela é arremessada para trás e violentamente arrastada pelo chão, ainda presa nas garras do demônio. Sua plumagem branca e densa se solta, espalhando-se pelo ar e pela terra onde ela passa.
O demônio aperta seu pescoço, ao mesmo tempo em que o calor intenso de sua mão queima o animal. Um pouco de fumaça começa a sair do local onde estão em contato, o cheiro de penas e pele queimada começa a tomar conta.
A garra-branca se debate furiosamente. Suas pernas arqueiam, tentando empurrar Byron para trás, enquanto suas garras cavam ainda mais fundo na carne resistente do demônio. Mas seus esforços são insignificantes.
As garras afiadas rasgam a pele de Byron, mas os ferimentos não passam de um leve incômodo. A criatura pressiona as pernas, tentando empurrá-lo, mas o diabo não cede um único centímetro.
Byron mantém a seriedade, observando impassível a luta desesperada da criatura. Eu não posso estender mais isso, ele pensa, depois ergue seu braço livre e fecha seu punho pesado.
A garra-branca já percebe o que está por vir e começa a se debater mais fervorosamente ainda. As garras da criatura se soltam e voltam a atacar, buscando qualquer ponto vulnerável no tórax ou na barriga do demônio. Nessa nova tentativa, ela causa novos arranhões e cortes na pele de Bryon, mas, tais quais os primeiros ferimentos, não parecem surtir grande efeito.
O punho de Byron desce como o martelo de um juiz executando sua sentença. Um estalo seco, seguido por um ruído molhado, ressoa na clareira. Em um instante, a luta termina e o silêncio volta a tomar conta do local.
Byron se ergue e, com indiferença, começa a retirar a poeira e as penas grudadas em seu corpo.
No chão, jaz o corpo sem vida da garra-branca. O pescoço queimado, partes sem penas e o crânio completamente esmagado. Na massa disforme de sangue e ossos quebrados, ainda se distinguem as marcas dos dedos do demônio.
Enquanto isso, em outro trecho não tão distante dali, Brok se encontra de frente com outra garra-branca.
Os dois caminham de forma circular, dando passos lentos e calculados, encarando-se, como se estivessem se estudando antes da luta inevitável.
O orc segura firmemente seu machado, o olhar endurecido, enquanto um rosnado grave escapa de sua garganta. A garra-branca move o pescoço para cima e para baixo de maneira quase independente ao seu corpo, executando um movimento hipnotizante, analisando o orc de diferentes posições.
Em algum ponto dessa troca de olhares, Brok solta um urro alto, provocando a garra-branca.
A ave feroz também libera um grito estridente e agudo, que, quando chega aos ouvidos do orc, reverbera por todo seu corpo, até o fundo de suas entranhas. Mas ele se mantém firme. O canto dela não me deixou tonto, ele constata e já parte para o ataque.
Brok gira o corpo e desfere um golpe lateral com seu machado. A garra-branca, instintivamente, ergue a perna, tentando aparar o golpe com suas garras afiadas. Mas o golpe é tão pesado e firme que, quando ela tenta executar o movimento, o machado corta as garras e acerta a ave pela lateral.
A arma de metal atravessa as penas, a pele e um pedaço da carne do animal, que se desestabiliza momentaneamente. Mas, rapidamente, ela contra-ataca com seu bico, acertando o orc no ombro.
O bico afiado penetra o colete e enterra-se em sua carne como uma lança perfurando couro cru. Brok sente a dor aguda explodir em seu ombro, e o sangue quente escorre pela pele. Porém, por mais que aquilo o incomode, ele se surpreende ao não sentir o ferimento atrapalhar ou reduzir o movimento de seu braço.
Em uma decisão rápida e arriscada, Brok, com o mesmo braço do ombro onde ela ataca, agarra a cabeça da garra-branca e a empurra contra seu ferimento, prendendo-a.
A criatura se defende golpeando com a perna onde suas garras ainda estão inteiras, ferindo-o na coxa, onde jorra mais sangue quando ele perfura a carne. Mas não é o bastante para forçar o orc a soltá-la.
O orc aproveita a brecha e levanta seu machado, a lâmina voltada para o meio do pescoço do animal desesperado. Brok urra e golpeia com toda a força, descendo o machado como uma guilhotina.
A lâmina corta o pescoço da criatura em um único golpe. A cabeça se desprende, rolando pelo chão, enquanto o corpo ainda se debate por alguns instantes antes de tombar inerte.
O orc joga um olhar baixo para o corpo inerte, depois encara suas próprias feridas no ombro e na perna, já sem o sangramento e aos poucos se fechando.
Ele solta um longo suspiro e segue pela mata, indo ao encontro de Byron nas proximidades.
Quando se encontram, Byron, agora em sua forma humanoide menor, exibe um traje negro impecável e as feridas do orc já estão completamente curadas, restando apenas buracos e cortes em suas roupas.
“Houve algum empecilho?”, questiona o diabo, ajeitando sua camisa.
“… Não. Só arranhões.”
Byron examina os arredores brevemente. “Já percebi que esse ambiente é bem mais movimentado.”
“Estamos… quase no acampamento da tribo de Estoratora.”
“O quão perto nós estamos?”, pergunta Byron, erguendo a sobrancelha.
Brok aponta para uma árvore alguns metros adiante, onde, na altura dos olhos do diabo, um entalhe gravado profundamente na madeira forma uma borda circular com um risco de três pontas, semelhante à letra ípsilon. “A marca da tribo deles”, responde o orc.
“Entendo…”, diz Byron. “Em breve chegaremos ao nosso destino.”
“…Sim.”
“Espero que, quando nos separarmos, eles tenham bom senso com você”, o diabo comenta, enquanto ajeita a gola de sua camisa, impassível. “Será um empecilho se me fizerem gastar minhas forças aqui.”
A dupla então segue caminho, com Brok indo na frente e Byron o seguindo. Ao fundo, no alto de uma árvore, dois corvos cinzas os acompanham, voando silenciosamente de galho em galho, observando-os com atenção e semblantes apáticos.
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