Capítulo 18 Combatendo o Sistema
Uma pele ainda mais branca que o prata, como se a própria alma se manifestasse pelo corpo, expulsando a escuridão da impureza e abraçando a bênção da luz.
Os pés tão firmes no solo que pareciam fazê-lo rachar. Seu corpo era definido em um nível próximo da perfeição, mesmo que o mantivesse relaxado.
Não possuía vestimentas, pois não se fazia necessário, afinal, seu corpo tinha apenas a aparência humana, mas se ausentava das características reprodutoras.
Lábios finos, mas estranhos. Ao mesmo tempo que pareciam macios, também aparentavam secos e sem vida, como se sua existência fosse puramente artificial.
Por fim, olhos cinzas, mas sem brilho algum neles. Era cego ou simplesmente não havia vida em seu corpo? De todas as opções, essa parecia a mais viável.
Morfius estava diante desse ser, que possuía a maioria das características do que hoje chamamos de “manequim”, estático enquanto o observava, refletindo consigo:
“Tá… O que eu faço agora?”
Permaneceu encarando-o, mas seus olhos vazios não pareciam interessados em prosseguir com algum combate, inutilizando a missão que deveria cumprir.
“Acho que vou perguntar para ela.”
Virou o pescoço sem pressa para trás, com o suspiro da dúvida pousando nas pupilas logo após retirarem-se do coração. Sua voz, um pouco entediada, indagou:
— Ele deveria estar fazendo algo?
S2 o observou com olhares frios, como se pensasse se aquele sujeito merecia sua resposta. Um suspiro banhado em desprezo veio um pouco antes de sua fala:
S2
Eu prestaria atenção se fosse você.
Um ligeiro arregalar surgiu nos olhos de Morfius, junto de um sincero “Hã?” que seus lábios murmuraram, até que seus instintos o orientaram a voltar seu olhar para seu oponente.
Lá estava o manequim, diante de seus olhos. Seu punho frio estava rente a suas costelas, estando apenas a um momento de acertá-lo, tornando a alternativa “escapar” algo impossível.
Como o esperado, acertou em cheio, quase atravessando seu corpo, como se estivesse em um desenho animado antigo onde o herói destrona o vilão.
Os ossos estalaram como pipoca estourando. A dor veio banhada em agonia, gritando dentro de si a situação caótica que seu interior acabava de encontrar.
O sangue explodiu dos lábios, assim como a torneira se desloca do lugar. Seus olhos viraram mais rápido que pneus, quase o abandonando na inconsciência.
A força desse ataque lançou seu corpo para longe, junto de um estrondoso barulho de explosão que veio com o acerto, enquanto o sangue banhava o chão com sua alma.
Sua queda foi tão desajeitada quanto uma pedra sendo arremessada no mar, caindo e girando incontáveis vezes até que eventualmente parasse.
Mal conseguia respirar; a chama do desespero havia estampado sua garganta e guardado os pulmões em uma caixa de puro sofrimento, sem saída alguma.
Os olhos estavam brancos, mas ainda havia alguma consciência ali, mesmo que não houvesse o mínimo sinal de que ele conseguiria se levantar daquilo.
S2 fixou seu corpo jazendo no chão, com olhares indiferentes. Para ela, não faria diferença deixá-lo morrer; na verdade, seria um agrado, mas seu trabalho tinha que ser feito de um jeito ou de outro.
O inevitável suspiro da desaprovação escapou de seus lábios. O desconforto abraçou seu coração, mas sua voz desanimada expressou um pouco de sua pequena dor:
S2
É ridículo de fraco. Tenho certeza de que o Ônix não sofreria dano algum.
Um breve silêncio formou seu império no ar. Um “Tsk” abraçado em desdém escapou de seus lábios, tentando comprimir a raiva que crescia em seu olhar.
Respirou fundo, desfazendo por um momento o sentimento de incômodo no peito. Por fim, fechou os olhos com delicadeza e, buscando um pouco do que sobrou de sua gentileza, assoprou suavemente.
Esse som ecoou como uma leve brisa que cumprimenta os céus, formando algumas partículas em tom verde-marinho que se deslocavam como fumaça.
Não demorou muito para que essa névoa alcançasse o corpo destroçado de Morfius, envolvendo-o como um tornado que abraça uma cidade em ruínas.
Assim que o contornou por inteiro, o fez flutuar levemente, adentrando seu interior e brilhando no exterior, consertando tudo o que estava quebrado em si.
Os ossos voltaram a ser como eram, como se tivesse voltado no tempo. Os pulmões encheram-se com o aroma da cura, retornando à saúde que sempre teve.
O desconforto não existia mais; a paz era tanta que parecia estar despertando de um sono perfeito, sem dor alguma possuindo seu corpo, tampouco a alma.
Assim que a cura foi feita, as costas tocaram com suavidade no chão; não demorou muito para que despertasse devido à influência da temperatura.
Os olhos encaravam um céu com uma dúvida palpável, estando em dúvida do que tinha acontecido, mas um evento tão marcante como aquele não seria facilmente esquecido.
Em um ato de ansiedade e desespero, suas mãos moveram-se para as costelas tão rápido quanto um raio, e seu levantar não foi nem um pouco demorado.
Seus olhos, arregalados e atentos, fixaram-se no manequim que voltou a ficar estático, mas o medo crescente em seu peito o impediu de virar os olhos para outra direção.
S2 o observava de longe, com os olhos ainda mais frios do que gelo na Antártida. Sua alta inteligência a fez perceber em pouco tempo que ele não iria se mexer até se sentir um pouco seguro.
S2
Eu abaixei drasticamente a dificuldade. Não vou mentir, tinha deixado alto o suficiente para que houvesse um único golpe que te destruísse, mas nem isso saciou o ódio que tenho por você.
Morfius estava em uma situação complicada. O medo de ser atacado novamente apertava seu coração, mas a confusão das palavras que o sistema lhe dissera bateu tão forte quanto.
Qual o motivo da raiva? Desde o momento que reviveu, não quebrou regra alguma, tampouco teve uma conversa indecente com um dos sistemas.
Seu histórico nesse mundo era curto demais para ser julgado, então, qual o motivo de seu ódio? Mesmo que buscasse intensamente, não pôde encontrar uma resposta que fosse agradável.
Os lábios de S2 torceram-se em amargura, percebendo que nada que dissesse adiantaria. Um bufo de desprezo vazou de seus lábios, e uma voz cheia de desagrado veio em seu berço:
S2
Idiota, um tolo completo. Espero que sua morte não demore para acontecer. Vá, termine logo a primeira parte da missão; deixei esse manequim fraco o bastante para que até mesmo você pudesse terminar.
Suas pálpebras ainda tremiam em incerteza. O que iria garantir que aquela dor absurda não florescesse de novo? Não havia uma gota de certeza.
A profunda respiração ecoou por sua mente. De um jeito ou de outro, ele sabia que teria que agir, ou ficaria preso naquela missão até que a concluísse de um jeito ou de outro.
Na sua perspectiva, a luz começou a virar escuridão. O som do ar se desfez; a temperatura deixou de existir, mas o medo ainda permanecia ardendo como lava na pele.
Uma automotivação começou a surgir enquanto o suor florescia. Seu coração agia como um tambor, fornecendo uma energia que nunca havia sentido antes.
“Tenho que fazer isso… Eu consigo… Eu vou…”
O medo espalhou-se por todo o seu corpo, formigando-o por inteiro. As pontas dos dedos começaram a tremer, mas sua alma havia entendido que era hora de lutar por sobrevivência.
Levantou a guarda, sentindo a adrenalina impedir os joelhos de ficarem firmes, mas, por bem ou por mal, ele teria que andar até ficar frente a frente com o oponente.
Lá estavam eles: o medo absoluto disfarçado de coragem contra a vida artificial, um encarando o outro, mas sem nenhum movimento feito por alguns segundos.
Morfius engoliu seco. Os olhos não piscavam há tempo o suficiente para fazê-los arder, não muito tempo depois ficando marejados com o incômodo que surgia.
Inevitavelmente, ele piscou. Mesmo que essa ação durasse menos que um segundo, foi o suficiente para criar uma brecha que poderia fazê-lo se prejudicar.
O manequim já havia ajustado sua guarda, com o punho rente ao nariz de Morfius. Nesse momento, tudo o que existia ao seu redor teve seu tempo parado.
Seu cérebro encontrou um pico de emergência, registrando cada milissegundo com uma precisão impecável, tornando-o uma máquina por três segundos, tempo o suficiente.
O ataque estava prestes a acertá-lo, sem deixar brechas que ele pudesse usar. O desvio convencional não funcionaria; já estava próximo demais para tentar.
A única alternativa que restou foi seguir as instruções que lhe foram dadas anteriormente, confiando pela primeira vez naquele mundo e nos sistemas que existiam.
A pupila arregalou dos olhos, como se estivesse pulsando feito um coração, executando na hora certa a mecânica de evasiva que existia naquele mundo.
Seu corpo desapareceu como um estalar de dedos, reaparecendo nas costas do manequim, um teleporte perfeito que possibilitou sua fuga do golpe que o acertaria.
Ainda suspirava em confusão, e o suor escorria como uma cachoeira, banhando a camisa com a adrenalina e atenção que o rodeava como redemoinho.
Um pequeno sistema escuro surgiu em sua frente de pouco a pouco, entregando uma mensagem simples, mas com um grande potencial para fazer nascer um sorriso em seu rosto:
S2 Minimizada
Parabéns! Você concluiu a primeira etapa da missão.
As pálpebras estremeciam, e as pupilas dilatavam cada vez mais com cada palavra que absorviam. A gasolina da adrenalina parou de abraçar suas pernas, fazendo-o cair.
A primeira etapa foi tão difícil, mas tão prazerosa ao terminá-la. A dopamina inundou sua mente, algo ainda mais impactante para ele do que fazer um gol na final da copa do mundo.
Poucos risos involuntários escaparam dos lábios. Pouco depois, levantou sua mão para que pudesse observá-la de perto, olhando com felicidade para cada dedo que tremia.
A conquista foi alta demais para acabar agora. O medo deixou de existir, e um desejo ganancioso pousou no mar de sua mente como um helicóptero:
“Eu… Quero mais.”
Uma barra laranja surgiu abaixo de sua energia, um pouco desgastada, indicando-lhe que seu vigor havia sido gasto, fixando-se ali para todo o sempre.
S2 fitava-o sentado no chão, sentindo sua animação transbordar como uma aura, mas, nem isso foi capaz de fazer o desdém desaparecer de seus olhos.
Moveu suas pupilas para baixo, encarando o chão por um breve momento. Logo depois, piscou seu olho direito, conjurando um de seus diversos poderes.
Como resultado, Morfius foi teleportado para sua frente em um instante, mas o ânimo que o consumia o fez demorar para perceber seu deslocamento.
Não demorou muito para que ele olhasse para cima, notando aquele imenso sistema, que ainda mantinha os olhos fixados neles, ainda mantendo-se assim em sua fala:
S2
Vamos logo para a parte dois. Vou te descrever o básico das habilidades normais e super habilidades, mas apenas uma vez, então preste atenção.
Depois de ouvir o sistema, cessou seu ânimo para que pudesse ouvir com clareza, absorvendo cada informação como se sua vida dependesse disso, porque talvez dependa.
As habilidades normais é algo autoexplicativo, se baseia em poderes que o jogador consiga utilizar gastando pouca energia, mas, também, não causando um dano admirável.
A forma mais inteligente de usá-los é utilizando-os para suporte próprio, como combiná-lo a um ataque anterior ou alcançar seu oponente mais rápido.
As super habilidades é o ápice de um golpe que o jogador pode usar, gastando boa parte de sua energia e, dependendo de qual técnica usar, também utiliza o vigor.
O dano é muito maior, e as habilidades que incluem o vigor são aquelas que o jogador se teleporta com ela, seja para acertar ou para se aproximar em instantes.
Tudo isso foi-lhe explicado pelo sistema, mas, não adianta a teoria se não há um atalho para a por na prática, e é isso o que ele precisa adquirir agora.
S2
Você precisa criar um atalho para as habilidades normais o mesmo para as super habilidades. O processo não é diferente da barra de vida.
Após absorver todas as informações, respirou fundo, se endireitando para a posição de lótus, fechando seus olhos para que a imaginação pudesse fluir.
Focou nas palavras “super habilidades” primeiro, deixando-a destacada na escuridão de sua mente, aguardando pacientemente os resultados virem até ele.
Seu corpo começou a sentir uma energia nova nascer, circulando por seu sangue como células novas, como se aumentasse a energia que possuía.
No exterior, uma leve aura em tom azul o circulou, representando a energia que tinha, enquanto a recarregava para que pudesse ser utilizada logo em breve.
No interior, uma tabela nasceu, com cinco espaços para uso, mas apenas dois estavam ocupados, sendo eles a “Recarga de Energia” e o “Golpe Final”.
A tecla imaginária de atalho para acessar esses poderes era a “ALT”, assim, encerrando essa parte para que pudesse prosseguir logo depois.
Fez o mesmo processo com as super habilidades, no entanto, apenas com ela, tinha quatro espaços disponíveis, tendo uma super técnica equipada e uma técnica evasiva.
Nas super habilidades, o jogador pode utilizar apenas duas técnicas máximas, uma transformação, caso ele tenha alguma, e uma evasiva para auxiliá-lo em um duelo.
O ataque que veio equipados se chamava “Esplendor Final”, e, por fim, sua evasiva era intitulada de “Explosão de Onda” servindo para afastar quaisquer adversários.
O atalho escolhido foi a tecla “R”, assim encerrando sua mais nova conquista, estando de prontidão para dar início a missão e, dessa vez, tinha certeza que conseguiria terminar.
Abriu os olhos, observando o sistema com as pálpebras firmes e determinadas, apenas no aguardo de novas instruções para que pudesse progredir.
S2
Certo. Antes de prosseguirmos, preciso obrigatoriamente te dizer algumas informações chatas, mas necessárias. Ouça com atenção.
Resumindo o que ela falou, todos os jogadores, sem exceção, começam com poucas habilidades disponíveis, e aqueles que não criaram seus personagens não podem criar os seus poderes.
Tanto Morfius quanto quase o resto do mundo deveriam progredir distribuindo com inteligência seus atributos pessoais na aba “Atributos” do sistema próprio que eles tem.
Lá, pode-se aumentar individualmente o que deseja, seja a vida, vigor, energia, o dano que você causa no soco, nas habilidades normais e nas super habilidades.
Dependendo do quanto você aumentou um ou alguns atributos, você desbloqueia habilidades normais ou as super habilidades e, dependendo dos seus poderes, a transformação pode vir de brinde.
Ela já é um caso especial, não depende só dos atributos, há de passar por um evento muito difícil onde sua vida ou a de alguém importante está em risco ou com um árduo treinamento.
Ótimo, agora que toda a explicação chata e cansativa foi dada, está na hora de Morfius ouvir os requisitos da segunda etapa que ele tanto queria:
S2
Dito isso, para a segunda etapa, você precisa acertar o manequim três vezes com aquele ataque de energia que eu te ensinei assim que você chegou aqui.
Próximo capítulo: Combatendo o sistema (Final)
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