Capítulo 57 — Caça [5]
Uma grande mansão.
Uma sensação familiar me invadiu. Mais uma vez, eu me senti presente, mas, ao mesmo tempo não. Eu podia ver e me mover, mas não estava… ‘aqui’.
‘…..Serei capaz de ganhar algo?’
Eu olhei ao meu redor.
O lugar era finamente decorado com móveis e pinturas por toda parte. Claramente, quem quer que vivesse aqui era bastante rico.
Concentrei minha atenção em uma das pinturas penduradas na parede.
‘Uma família de quatro.’
Dois adultos e duas crianças. Dois homens e duas mulheres.
‘….Esses são os donos da mansão?’
“Socorro…!”
Foi então que eu ouvi. Uma voz jovem. Uma que parecia pertencer a uma criança.
Crackle—!
“E-eu não consigo respirar…”
Chamas engoliram o ambiente.
“I-irmão… Eu não consigo respirar.”
Duas crianças se agacharam no canto da sala. Elas encaravam as chamas furiosas com medo.
Eu senti uma sensação familiar enquanto informações inundavam minha mente.
Uma família de classe alta. Uma que era altamente respeitada dentro do Império. As duas crianças na sala eram os únicos herdeiros da propriedade. Um ano mais velha que a menina, o menino era o irmão mais velho.
Nessas chamas furiosas.
“Mamãe e papai vão vir…”
Seus instintos tomaram conta, e ele protegeu a menina.
“Está doendo… Está doendo…”
A irmã se encolheu em seus braços.
“Não se preocupe, mamãe e papai estão vindo… Só espere um pouco…”
Embora ele dissesse isso, o menino não parecia seguro. Eu senti cada emoção que ele sentia. Ele estava principalmente dominado pelo medo, mas fez o possível para não demonstrá-lo.
Pelo bem de sua irmã…
“Eu vou te proteger.”
Ele estava preparado para afastar seus medos.
Crackle!
“Akhhh…!”
Mas as chamas continuaram a rugir.
“Está doendo…! I-irmão.”
“Fique atrás de mim.”
Ele a cobriu com seus braços.
O calor do fogo o queimou.
Ele tinha apenas oito anos, e ainda assim…
“Ukh.”
Ele entendia muito bem seu dever.
“….”
Eu olhei em branco para a cena à minha frente.
A cena atingiu mais forte do que eu pensava. Ela me lembrou muito de mim mesmo. Não, era um reflexo perfeito do que eu tentei ser.
Mas…
‘Eu fugi do meu dever.’
“Hah.”
Meu peito revirou enquanto era perfurado por uma dor muito familiar.
“Eli! Emily!”
Uma voz me tirou de meus pensamentos.
À distância, uma figura apareceu. Sua aparência estava desgrenhada, e ela parecia estar em desespero.
Crackle!
As chamas continuaram a queimar.
Mas no meio das chamas, os rostos das duas crianças se iluminaram.
‘Ela finalmente chegou.’
Bem a tempo.
“Mamãe!”
As crianças se levantaram rapidamente para ir até onde sua mãe estava.
Mas…
Bang—!
“Ahhhh!”
O teto desabou, e o fogo se espalhou.
“Eli! Emily….!!”
O grito da mãe ecoou no mar de chamas enquanto as duas crianças se agachavam com medo.
‘Está doendo.’
‘Eu não quero morrer.’
‘Mamãe.’
‘Papai.’
‘Salvem-nos.’
Suas vozes entraram em minha consciência enquanto seguravam suas cabeças.
‘….Por favor, me salve.’
‘Mamãe!’
‘Estou com medo.’
‘Estou com tanto medo…’
O fogo se intensificou, e as paredes queimaram. O crepitar do fogo ecoou. O teto desabou para dentro. Brasas se espalharam em todas as direções, e a fumaça cobriu tudo.
“Cough…! Cough((tosse)….!”
Na luta, o par de irmãos se abraçou. Como se fossem a única coisa em que podiam confiar.
Bang!
Bang!
A estrutura começou a desmoronar.
Toda esperança parecia ter se perdido quando.
“Peguem minha mão!”
Uma mão se estendeu por trás das chamas. O rosto de sua mãe apareceu por trás.
“Peguem!”
“Mamãe!”
“Mamãe…!”
A esperança se acendeu nas mentes das crianças enquanto elas alcançavam a mão estendida.
Ambas a alcançaram ao mesmo tempo, mas…
Apenas uma mão agarrou a mão estendida.
O menino encarou sua mãe, que olhava para ele com os olhos arregalados. O braço puxou para trás, e ele sentiu sua irmã desaparecer.
Crackle!
Pouco depois, as chamas engoliram completamente sua visão, inundando seu corpo com uma dor intensa.
Mas a única coisa em que o menino conseguia pensar era em sua mãe.
‘Está doendo…’
‘Mamãe.’
‘….Onde você está?’
Ele esperou por ela.
‘Estou aqui…’
‘Você vai voltar?’
‘Mamãe.’
Para que sua mão se estendesse para ele novamente.
Mas…
Isso nunca aconteceu.
Mesmo enquanto ele sentia todo o seu corpo queimar.
A esperança.
Ela ainda persistia, e eu a senti.
Mas ela nunca veio.
∎| Nível 1. [Raiva] EXP + 3%
A escuridão tomou conta a partir daí. Apenas para ser quebrada pouco depois, quando o calor que invadia cada parte do corpo da criança desapareceu, e ele sentiu a presença de alguém.
‘Mamãe…?’
Ela finalmente tinha vindo?
Uma sensação de alívio lavou o corpo da criança enquanto a escuridão abraçava sua consciência.
No entanto, esse alívio foi de curta duração.
“Acorde.”
Uma voz trouxe o menino de volta.
Era uma voz áspera e distante. Quando seus olhos se abriram novamente, o menino se viu dentro de uma grande caverna.
Ele não estava sozinho. Havia várias outras crianças ao seu redor. Todas elas agachadas, assustadas.
“Mamãe?”
Ele chamou por sua mãe, mas ela não estava em lugar algum.
“Esqueça tudo o que você conhece. Sua identidade não importa mais. Se você quer liberdade, então tem que conquistá-la.”
O homem sorriu. Era um sorriso que parecia caloroso para quem olhava. Mas também era o mesmo sorriso que forçava as crianças à fome.
“Trabalhem mais.”
Ele era um completo canalha.
“Você não trabalhou o suficiente. Você não vai comer hoje!”
‘Não… Estou com fome… Vou trabalhar mais… Por favor… Só um pouco…’
“Cale a boca!”
‘Ahhhh—!’
Mesmo com as bochechas das crianças afundando devido à fome, ele não se importava.
“…..Pelo Céu Invertido! Orem!”
Um fanático.
“Não é o suficiente!”
Um lunático que gostava de torturar as crianças.
“Seus inúteis! Vocês não serão úteis desse jeito!”
Famintos.
‘Eu sou inútil…’
Lavagem cerebral.
‘Está doendo… Está doendo… Mas é pelo Céu Invertido.’
‘Estou com fome…’
Era isso que ele era.
‘….Tudo é pelo Céu Invertido.’
As crianças gradualmente esqueceram a dor e a fome. Mesmo quando desmaiavam de fome e dor, a única coisa que murmuravam era…
“Pelo Céu Invertido.”
Era como se suas vidas não importassem mais.
Eu assisti isso acontecer repetidamente. Milhares de crianças vieram e se foram. No final, tudo o que restou foram marionetes sem mente que acreditavam apenas em uma coisa.
“Viva o Céu Invertido.”
Sua identidade havia sido arrancada.
Assim como sua humanidade.
A única coisa que restou foi sua voz.
“F-fome… D-dor…”
Mas até isso estava começando a desaparecer.
Apenas uma criança não havia perdido sua voz.
“….”
No silêncio, eu me aproximei dele.
“Dói… Fome… Mamãe…”
Mesmo agora, ele se agarrava ao passado. À sua mãe, que o deixou nas chamas.
Gradualmente, meus passos pararam, e ele virou a cabeça.
Um rosto queimado familiar. Seus olhos, embora inocentes, carregavam uma certa clareza enquanto olhavam para mim.
“…..Você não é Julien.”
Eu fechei os olhos antes de acenar.
“Eu não sou.”
A criança acenou com a cabeça, como se entendesse a situação.
Ele olhou ao redor.
“Essas eram memórias que eu havia esquecido há muito tempo.”
“….”
Eu ouvi em silêncio.
“Minhas memórias da minha família estão bem confusas. Como eles estão agora? Estão saudáveis? Minha irmã está bem? Eles ainda pensam em mim…?”
Seu rosto mudou de repente, e eu senti minha mandíbula se apertar.
“Você viu minhas memórias, certo? Como eu consegui meu rosto.”
A maneira como ele estava me olhando…
Fez minha pele arrepiar.
“Aquela mão…”
Sua cabeça se inclinou, e eu senti minha respiração parar.
Uma variedade de emoções inundou meu peito de repente.
Mas principalmente…
“….Ela era para mim ou para minha irmã?”
Tudo o que eu senti foi raiva.
Uma sensação estranha e sufocante tomou conta de mim enquanto meu peito ficava pesado.
“Você viu o rosto dela. Quem ela estava tentando salvar?”
Seu rosto permaneceu impassível e inalterado, mas sua raiva não. Ela fervia ainda mais ferozmente.
“Foi porque ela alcançou mais rápido do que eu? Foi por isso? O que teria acontecido se eu tivesse alcançado a mão primeiro?”
Meu peito parecia estar se rasgando enquanto seus olhos permaneciam grudados em mim.
“….Ela teria tomado meu lugar? Ou eu ainda teria sido descartado?”
Ele desapareceu naquele momento, enquanto o mundo ficava escuro.
Mas mesmo assim, seu rosto não desapareceu.
Ele permaneceu preso em minha mente. Sua voz sussurrando no fundo da minha mente.
‘Quem ela estava tentando salvar?’
‘Eu?’
‘…Ou ela?’
No final…
∎| Nível 1. [Raiva] EXP + 13%
Eu nunca consegui responder à pergunta dele.
“….”
Mas eu não tinha tempo para me debruçar sobre a questão. No momento em que recuperei minha visão, me deparei com uma dúzia de olhos olhando em minha direção à distância.
Eu soube então que meu caminho estava bloqueado.
Mas eu não me importei.
Estendi minha mão para frente, onde cinco fios lentamente saíram. Um círculo mágico roxo flutuou acima enquanto os fios mudavam de cor.
Então…
Encarando as criaturas que se aproximavam, fechei minha mão.
Swoosh—!
***
“….Vocês acham que eles estão nos esperando lá embaixo?”
A voz de Evelyn ecoou pelos túneis vazios, misturando-se ao som de seus passos enquanto corriam em direção ao buraco à frente.
Ela era a mais atrás, enquanto Leon liderava o grupo.
Sua expressão era difícil de ler. No entanto, era claro que ele estava preocupado.
“Eu não sei.”
Leon balançou a cabeça.
Havia apenas um minuto desde que eles haviam conseguido derrotar o Nyxfernal de nível Júnior.
Eles adiaram a coleta dos fungos e foram direto para o buraco em busca de Julien e Wesley.
Baque. Baque.
No momento em que tocaram o chão, tudo o que encontraram foi escuridão. O ar estava úmido, e um cheiro podre pairava no ar.
“Ugh…”
“O que é esse cheiro?”
O cheiro era tão horrível que Evelyn teve que cobrir o nariz para evitar engasgar.
Embora não demonstrasse diretamente, Aoife também parecia não gostar, já que seu nariz se enrugou.
Pinga… Pinga…!
Havia um som fraco de ondulação à distância que chamou a atenção de todos. Ele quebrou o silêncio que dominava o ambiente.
Sem hesitar, Leon pegou sua bolsa para tirar sua lanterna. Ele queria ver melhor seus arredores.
….E quando a luz finalmente brilhou, ele congelou.
Assim como todos os outros.
“Ah…”
Olhando para os cadáveres espalhados pelo chão, a cabeça de Leon lentamente se ergueu para encarar a pessoa sentada em cima deles.
Encharcado da cabeça aos pés de sangue, seu corpo estremeceu no momento em que a luz brilhou sobre ele.
Então…
Sua cabeça lentamente se ergueu para encarar eles, e sua voz rouca ecoou.
“Vocês chegaram…”
Bom, chegamos ao último capítulo gratuito de Advento, coincidindo com amanhã, que será o dia que pegarei todo o conteúdo original para continuar traduzindo até o mais recente. Atualmente Advento foi lançado até o 557, mas como o lançamento é diário, aguardem por mais capítulos… Para aqueles que não me conhecem, eu sou o Gehrman, autor de As Sombras do Imperador e também tradutor de Advento das Três Calamidades! Espero ver vocês mais vezes.
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