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    Uma nuvem de névoa flutuou para fora de uma torre alta e aparentemente desapareceu um instante depois.

    A torre alta era pintada em vermelho e preto, e a palavra ‘Vandalize’ estava escrita na fachada.

    Aquele era o terceiro maior Fabricante da Cidade da Marca Selvagem e era liderado por três pessoas, sendo a mais poderosa delas a Chefe Extratora Zephyx, uma Perita no Pináculo.

    A torre da Vandalize era grande, superando quase todos os edifícios ao seu redor.

    No entanto, ainda havia dois prédios mais altos, mas ficavam a mais de dois quilômetros de distância.

    Na verdade, um deles era tão grande que era considerado uma megaestrutura, com mais de um quilômetro de altura e quase trezentos metros de largura.

    Essa megaestrutura abrigava o governo e o maior Fabricante da cidade.

    Em muitas cidades, os maiores Fabricantes trabalhavam em conjunto com o governo numa relação simbiótica.

    Esse não era exatamente o modelo que a Égide idealizava para suas cidades, mas era uma triste realidade que mais de 30% delas fossem administradas assim.

    Dentro da megaestrutura, numa sala qualquer a 75% da altura do prédio, quatro pessoas estavam em diferentes posições, fazendo coisas distintas.

    Era a unidade de Shirley.

    Mendor, o ruivo, estava deitado no sofá, fingindo que dormia — o que claramente não era verdade.

    Cynthia estava sentada numa cadeira em frente à escrivaninha, conversando animadamente com Shirley, que se sentava do outro lado.

    Surpreendentemente, as duas riam bastante enquanto conversavam.

    Perto da cozinha, Steve desenhava várias linhas em uma folha de papel.

    Todas as folhas estavam cobertas com as plantas da torre da Vandalize.

    — Já teve alguma ideia? — gritou Cynthia para Steve.

    — Não — respondeu Steve, sem levantar o olhar.

    — Então por que ainda tá aí? Se não teve até agora, o que te faz achar que vai ter mais tarde? — perguntou Cynthia de forma casual.

    Steve franziu o cenho.

    — Preciso estar preparado — respondeu Steve, ainda sem tirar os olhos dos planos.

    — Steve, precisamos esperar o Nick — disse Cynthia com um suspiro. — Você pode olhar os planos o dia inteiro, mas enquanto não soubermos onde o Espectro está, você não vai chegar a lugar nenhum. E, além disso, nem sabemos se o solicitante está certo. Pode muito bem ser só mais uma dessas tentativas de eliminar um Fabricante em ascensão.

    Infelizmente, a tentativa de Cynthia de acalmar Steve não teve efeito algum.

    Ele não queria mostrar seus verdadeiros sentimentos na frente da equipe, mas falhou.

    A unidade já trabalhava junta há cerca de oito anos, e todos já conheciam bem uns aos outros.

    Mendor e Cynthia conseguiam ver que Steve estava extremamente nervoso.

    No entanto, não podiam culpá-lo.

    — Você tem tido sorte até agora — falou Shirley com calma ao virar-se para encarar as costas de Steve. — Mas não pode contar com sorte para sempre.

    Steve respirou fundo.

    — Eu sei — respondeu.

    A atmosfera pareceu ficar mais pesada.

    Mendor abriu levemente os olhos, mas não olhou ao redor.

    Havia um olhar raro de preocupação em seus olhos.

    Na verdade, todos ali estavam preocupados.

    Até mesmo Shirley.

    Apenas uma semana antes, haviam recebido uma missão marcada como genuína.

    O maior Fabricante da Cidade da Marca Selvagem era o solicitante, e havia requisitado uma investigação com eventual erradicação da Vandalize.

    O solicitante suspeitava que a Vandalize estava abrigando um Espectro ilegal que representava perigo para toda a cidade.

    Naturalmente, o governo já havia feito muitas varreduras e testes, mas nunca encontraram nada.

    Após várias dessas varreduras, os Fabricantes menores, liderados pelo segundo maior Fabricante, se uniram por conta do favoritismo óbvio que o governo mostrava ao maior Fabricante.

    Todas essas inspeções inúteis e constantes claramente tinham como objetivo intimidar a Vandalize e interromper seu funcionamento.

    Por conta disso, o governo teve que começar a agir com muito mais cautela.

    Claro, o governo e o maior Fabricante eram mais fortes que todo o resto da cidade juntos, mas se uma guerra civil de fato estourasse, a cidade não conseguiria pagar seu tributo à Égide.

    E isso era a última coisa que o Governador queria, já que isso arruinaria suas chances de se tornar um Agente algum dia.

    Além disso, o número de inspeções e varreduras feitas na Vandalize já era tão alto que o próprio Governador corria risco de ser julgado como corrupto pela Égide.

    Mas eles não eram corruptos!

    Tinham certeza de que a Vandalize estava escondendo algum tipo de Espectro perigoso!

    Os sinais estavam lá!

    Mas será que alguém acreditaria?

    No fim, o maior Fabricante decidiu chamar a Égide.

    Naturalmente, o Governador ficou apavorado, mas já era tarde demais.

    A unidade de Shirley chegou poucas horas depois.

    Cynthia suspirou.

    Estava tão nervosa quanto os outros.

    A unidade já trabalhava junta há oito anos, e não haviam perdido uma única pessoa, o que era raro.

    No entanto, esse nem era o motivo de sua preocupação.

    Nos últimos oito anos, eles também nunca haviam precisado matar um humano.

    Criminosos raramente entravam em contato com a unidade, já que esses casos eram tratados pelos governos locais.

    Tinham apenas apreendido quatro criminosos nos últimos oito anos.

    Três foram entregues ao governo, e um deles havia sido ‘resolvido’ por Nick em segredo.

    A equipe havia participado de muitos combates simulados com Extratores de outras unidades.

    Também haviam enfrentado muitos Espectros em lutas genuínas.

    Mas nunca haviam estado em uma batalha de vida ou morte contra humanos.

    Isso também valia para antes da Égide.

    Cynthia, Mendor e Steve eram todos descendentes de famílias da elite extrema.

    Tinham educação impecável, treinamento perfeito e carreiras planejadas.

    Raramente se envolveram com qualquer coisa ilegal, e nunca haviam participado de batalhas realmente perigosas.

    Afinal, eram o ingresso que suas famílias tinham para conquistar um lugar na Égide.

    Suas famílias não arriscariam suas vidas tão facilmente.

    Infelizmente, isso significava que eles nunca haviam lutado de verdade contra outro Extrator.

    Quase ninguém espera ansiosamente para matar um humano pela primeira vez, e quem espera, com certeza não acaba trabalhando para a Égide.

    Eles sabiam que, às vezes, teriam que matar humanos.

    Mas, após tanto tempo na Égide, também haviam internalizado a ideologia da organização.

    Logicamente, conseguiam racionalizar a ideia de matar humanos, mas emocionalmente, havia uma enorme barreira.

    Eles realmente esperavam que aquilo fosse só mais um caso de alguém tentando usar a Égide para se livrar de um rival.

    A unidade já havia se deparado com situações assim mais de uma vez ao longo dos anos.

    De repente, a porta se abriu, e todos olharam na direção.

    Nick entrou na sala com uma expressão neutra.

    As expressões de seus companheiros de equipe estavam nervosas e atentas, enquanto Shirley o observava com as sobrancelhas franzidas.

    Naturalmente, Shirley já havia matado muitos humanos antes.

    Ela não era tão inexperiente quanto os outros três.

    No entanto, após tanto tempo com a unidade, ela também tinha sentimentos contraditórios.

    Por um lado, era importante que recrutas aprendessem a lidar com a morte de humanos, mas, por outro, ela realmente não queria ver sua equipe passar por uma experiência tão angustiante.

    Bem, com exceção de…

    Shirley olhou para Nick.

    Ela ainda não sabia muito sobre o passado de Nick, já que ele mantinha todos os detalhes em segredo, mas era evidente que ele devia ter condenado mais do que apenas algumas pessoas ao criar um Fabricante poderoso do zero.

    A oposição devia ter sido forte, e ainda assim, o Fabricante de Nick prevaleceu até que ele se tornasse um Perito.

    Nick tinha que ter bastante experiência em matar pessoas.

    Shirley olhou para os outros três.

    Mas ele era diferente deles.

    — Qual é o status, Nick? — perguntou Steve após respirar fundo e se virar.

    Nick olhou para Steve com indiferença.

    — Há um Fanático não suprimido no subsolo deles. Toda a alta cúpula da Vandalize é composta por seus servos. Eu testemunhei com meus próprios olhos como um Veterano no Pináculo foi transformado em servo — relatou Nick, com neutralidade.

    A atmosfera pareceu congelar.

    Nick havia confirmado os piores temores deles.

    O Governador estava certo.

    A Vandalize estava completamente comprometida.

    Mendor fechou os olhos novamente e respirou fundo.

    Cynthia franziu as sobrancelhas e olhou para o chão.

    Steve se levantou lentamente e caminhou até o centro da sala.

    — Você poderia ter salvado o novo servo? — perguntou Steve com calma.

    — Não, porque isso iria contra suas ordens — respondeu Nick.

    Steve cerrou os punhos.

    Steve era o líder daquela unidade.

    Após muitas missões, todos concordaram que Steve deveria liderar.

    Cynthia não conseguia lidar com a responsabilidade, e Mendor não tinha interesse em liderar a equipe.

    Isso deixava apenas Steve e Nick.

    No início, Nick liderava o grupo, mas com o tempo, foi passando cada vez mais responsabilidade para Steve.

    O principal motivo era que eles ainda eram recrutas, e deveriam aprender.

    Apesar dos problemas iniciais, Steve tinha uma personalidade muito adequada para liderança.

    Além disso, liderar uma unidade enquanto se infiltrava em território inimigo não era a melhor opção.

    Como batedor, Nick era o mais afastado da equipe, o que dificultava comandá-los adequadamente.

    Ao ouvir Nick dizer que não poderia ter salvado o Veterano por conta das ordens, Steve sentiu as emoções prestes a explodir dentro de si.

    No entanto, havia aprendido a se controlar e a analisar logicamente uma situação — mesmo estando extremamente furioso.

    Nick estava certo.

    Steve tinha dado a ordem para fazer o reconhecimento e relatar de volta.

    Aquilo era responsabilidade dele.

    “Além disso, eu teria ficado satisfeito se ele tivesse atacado o inimigo?” pensou Steve. “Não. Eu o teria chamado de imprudente.”

    “Nick fez a coisa certa.”

    Steve respirou de forma trêmula.

    Suas ordens foram a razão pela qual um humano morreu.

    Mas suas ordens também haviam sido corretas.

    Infelizmente, isso não aliviava a dor.

    — Bom trabalho — disse Steve.

    Um pequeno gesto, um grande impacto.

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