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    Certo, acertar um manequim três vezes com um ataque à distância não deve ser uma tarefa tão difícil para ele, levando em conta a velocidade do projétil.

    “O único problema vai ser…”

    A força do adversário. Ele está mais fraco agora graças ao balanceamento que o sistema teve que fazer, mas ela não especificou o quão inferior ele está ao que era antes.

    “Vou ter que arriscar.”

    Por mais que tivesse ajuda do sistema, ainda seria uma batalha entre a inexperiência de um jogador contra a eficiência de uma máquina programada para vencer.

    O manequim estava distante, com os olhos fixos nele, porém, felizmente, estático. Não sabia se fazia parte da sua programação levar o primeiro golpe, mas…

    “Essa não é uma chance que eu possa perder!”

    Felizmente, Morfius foi inteligente em prestar atenção nas informações do sistema. Quanto menor a energia lançada, maior a velocidade, e essa era a chave para passar desse teste.

    Ele puxou todo o ar disponível para seus pulmões e o soltou suavemente, como se deixasse de agarrar um mar que bloqueava todo o seu potencial.

    Fechou os olhos de forma lenta, permitindo a tranquilidade percorrer as pálpebras. Moveu o pescoço para o céu, deixando o brilho do ambiente apalpar seu rosto.

    Como uma espécie de ritual, relaxou os ombros e começou a saltitar levemente, revezando entre as pernas, sentindo seu corpo ficar tão leve quanto uma pena.

    “Essa é a chave…”

    O que estava sentindo agora é a pura essência da manifestação consciente de sua energia. Quando a paz reina e a energia se torna seu servo, poucas coisas no mundo podem te impedir.

    “Vamos lá!”

    Abriu os olhos. O que antes era inseguro e instável transformou-se em algo mais afiado que a faca e tendo mais gelo do que qualquer inverno pode proporcionar.

    Cessou seus saltos e focou completamente sua atenção no oponente à sua frente, que ainda permanecia imóvel, do mesmo jeito que estava anteriormente.

    Morfius levou seu braço direito um pouco para trás, focando uma pequena parcela da energia na palma de sua mão, desejando que ele fosse o menor possível.

    Em um instante, sua mão moveu-se para frente tão rápido para olhos humanos que poderia ser confundido com um teleporte, já mantendo sua palma aberta.

    No mesmo momento, disparou dois projéteis com uma velocidade semelhante a um disparo, cortando o ar enquanto se aproximava do manequim.

    As duas energias acertaram com precisão o peito adversário, mas a força não foi o suficiente para sequer arranhá-lo, não por ele ser forte demais, e sim porque a energia foi mal administrada.

    “Não deu nenhum dano? Bem, não importa, eu só preciso acertar mais um.”

    Isso é verdade. Obtenha mais um acerto e a segunda etapa acaba; no entanto, a confiança que veio na ação seguinte foi o que determinou um severo contra-ataque.

    Morfius disparou sua terceira energia. O olhar já brilhava com a conquista e um sorriso audacioso ergueu-se em seus lábios, mas mal sabia ele que o manequim também tinha as mesmas mecânicas de um jogador.

    Quando aquela energia estava prestes a acertar seu peito, seus olhos frios moveram-se pacientemente para baixo, observando-a chegar tão lenta quanto uma lesma.

    Seu punho esquerdo se fechou, e os pés agarraram o solo. Começou a se mover como se estivesse prestes a socar o ar, mas isso durou só até o projétil se aproximar ainda mais.

    Estava no último instante de ser atingido, e foi só então que ele agiu. Seu corpo desapareceu de forma repentina, esquivando-se do terceiro golpe que deveria acertá-lo.

    A confiança de Morfius transformou-se em preocupação em um piscar de olhos. De um segundo para o outro, seu oponente havia desaparecido de sua vista.

    “Impossível!”

    Demorou, mas entendeu. Seu adversário acertou a evasiva com perfeição logo na primeira tentativa, transbordando a eficácia que sua programação tinha.

    Por fim, o inevitável aconteceu: o manequim reapareceu em sua frente. Seu ataque, previamente preparado, acertou o estômago do seu adversário com uma precisão instantânea.

    Não teve nem tempo de reação. O soco foi obviamente muito mais fraco, mas o fator surpresa deixou-o mais violento do que deveria ser.

    Ele afundou no seu estômago, que encontrava-se mole e desprotegido. O ar foi expulso dos pulmões, e os olhos quase viraram do avesso com o impacto.

    A força o lançou como um avião de papel ao céu. A força do vento parecia estapeá-lo com mais força do que o soco dado, como se insistisse em mantê-lo consciente.

    Não demorou muito para que caísse no chão, tão desajeitado quanto um saco de cimento. O mundo estava turvo ao seu redor, mas não estava doendo tanto quanto antes.

    Sua visão escurecia gradativamente. Deveria desistir? Ou falhar mais uma vez e receber a terceira chance? Mesmo que não quisesse, os passos do adversário eram claros como a água.

    “Ele está vindo…”

    A dor em seu estômago era aguda. Respirar com cuidado virou um dever para não sofrer com o oxigênio. Pouco tempo se passou, e o manequim já estava mais próximo.

    “Eu… Vou usar o mesmo truque.”

    Apoiou as mãos no chão. A tontura abraçou seu cérebro, mas agora não era a hora para desligar. Uma pequena poça de sangue saiu dos lábios, fixando-se no solo.

    Os braços tremiam, tentando derrubá-lo, mas o desespero oculto em seu coração falou mais alto. Com esforço, conseguiu levantar-se, mas os braços estavam caídos.

    As pálpebras pesavam mais que o chumbo, mas ele as manteve abertas, tentando observar o adversário que estava há poucos metros de lá.

    Estava tudo tão embaçado que, de um momento para o outro, parecia que a miopia o consumiu. A única coisa que estava ao seu lado nesse instante era sua audição.

    “Está perto…”

    Os dedos estremeciam em fraqueza, mas havia trabalho a ser feito. Discretamente, criou uma pequena esfera na palma, focando suas intenções na velocidade.

    “Paciência…”

    O manequim estava à sua frente, ainda com os olhos frios alfinetando seu frágil oponente. Os olhos circulavam atentamente ao redor de Morfius, buscando entender seu estado atual.

    Não foi de muita demora para concluir que ele estava em um estado crítico, e isso bastou para fazê-lo mover-se. Seu primeiro movimento foi levantar a guarda de boxe.

    No segundo seguinte, inclinou o corpo para a direita, cerrando o punho de pouco a pouco, imbuindo seu corpo com uma energia prateada para fortalecer o ataque.

    Morfius ainda estava imóvel. Cessou sua própria respiração para que seu silêncio fosse ainda mais notável. Até seu coração entendeu que era hora de calar-se.

    E então, o momento aguardado chegou. O manequim desferiu um soco certeiro com o braço direito, tendo quase cem por cento de certeza de que isso finalizaria a luta.

    Tudo estava perfeito. O movimento dos pés, a rotação do quadril e a distribuição de força. Sua existência lhe trazia a vantagem injusta da perfeição, mas era isso que Morfius tanto esperava.

    “AGORA!”

    Seus olhos dispararam como faróis. Os dentes cerraram involuntariamente, enrijecendo o resto do corpo. De um instante para o outro, já não estava mais no mesmo lugar.

    O ataque golpeou com perfeição o ar, deixando-o invulnerável por um segundo, mas foi o tempo necessário para que a conclusão da primeira etapa fosse feita.

    Morfius ressurgiu atrás do seu adversário, com o braço já esticado, rente às costas, mas a esfera estava pequena demais para que pudesse acertá-lo.

    No entanto, isso não o fez desistir. Como se sua vida dependesse disso, gritou, doando toda a energia que tinha para o seu braço, movendo-a para a espinha do manequim em seguida.

    Ela o tocou, mas nada aconteceu. Nenhum dano, nenhuma reação. O vento sequer marcou presença agora, apenas suspirava o aparente fracasso de Morfius.

    Seus braços perderam a força, e os joelhos abraçaram o chão. O cansaço já havia fechado seus olhos, e o desgaste fazia sua inconsciência nascer em seu corpo.

    “Eu vou conseguir… Na próxima.”

    Quando tudo parecia perdido, uma explosão sorriu para todos, apalpando com violência os tímpanos de quaisquer seres que estivessem presentes.

    Uma névoa ergueu-se de repente, tampando os olhos. Um novo adversário? Ou algum novo balanceamento? Felizmente, não era nem uma dessas alternativas.

    Partículas escuras apareciam como faíscas de estrelas à sua frente. O calor agradável abriu os olhos, e uma mensagem ainda mais querida e desejada lhe foi dada:

    S2 Minimizada

    Parabéns! Você acertou o manequim com êxito! Sua vida será restaurada em cinquenta por cento em breve.

    Alívio, conquista, dopamina. Tudo retornou, mas em dobro. Cada ação feita era um passo a mais para sua aprimoração, e também, saída daquele lugar.

    “Só mais um pouco!”

    Levantou-se, sentindo uma leveza carinhosa abraçar seu corpo. As dores foram quase todas embora, mas as que restaram eram perfeitamente suportáveis.

    S2 Minimizada
    Segunda etapa: tenha êxito em três evasivas!

    Três evasivas… Isso seria uma tarefa fácil. Acertar as três energias foi tão desafiador que requereu que elas fossem feitas e, devido a isso, o inesperado novamente aconteceu:

    S2 Minimizada
    Parabéns! Você teve êxito com as evasivas! Sua vida será restaurada em cinquenta por cento em breve. Para a última etapa, deve acertá-lo com uma técnica de evasiva, uma habilidade e finalizá-lo com uma super habilidade!

    Desapareceu tão rápido quanto veio, mas a surpresa grudou em suas pálpebras como uma música chiclete, paralisando-o por um momento, até que processasse tudo.

    “Última etapa? Só mais essa e acabou?”

    A alegria parecia abraçá-lo. Seu sorriso confiante estava mais radiante do que nunca, apenas esperando seu inimigo aparecer. De preferência, machucado.

    Em pouco tempo, os passos já voltaram a cantar sua presença. O manequim retornava calmamente das fumaças, mas um pouco de sangue escorria das costas.

    O ambiente mudou. Agora, estava na hora da máquina cumprir seu papel. A presença que exalava de seu corpo era fria e pesada, murmurando sua poesia de assassinato.

    Ambos firmaram os pés no chão. O foco vedou as pupilas, e os sons externos deixaram de existir para os dois guerreiros, que esperavam o menor sinal possível.

    A gota de sangue escorreu pacientemente pelas costas do manequim, até que não encontrasse mais um caminho para percorrer, indo de encontro ao vento.

    Sua queda era lenta, como se respirasse para cair, assim como a folha seca encontra-se planando antes de encontrar o solo. Pouco depois, finalmente, sua queda ecoou.

    E então, eles dispararam como mísseis um na direção do outro. Ficaram próximos no mesmo instante, mas Morfius foi o primeiro a tomar a ação seguinte.

    Cerrou os punhos, como se esmagasse o metal invisível. O projetou para trás e, quase no mesmo instante, lançou-o para frente, mirando o nariz adversário.

    O manequim, por sua vez, decidiu agir passivamente. Mesmo sabendo que seu vigor não era infinito, tampouco alto, decidiu apostar nas evasivas.

    Como resultado, desapareceu, mas já era mais do que sabido que ele iria ressurgir nas costas. Combinando reflexo com conhecimento, Morfius virou-se para trás em instantes.

    E foi lá mesmo que o manequim reapareceu, dessa vez, com seu golpe de direita já preparado, precisando apenas lançá-lo assim que pôde avistar seu oponente.

    Morfius imbuiu seu antebraço esquerdo com energia, movendo-o para frente do ataque, bloqueando sem dificuldade alguma enquanto aproveitava o curto tempo para raciocinar:

    “Se ele usar mais uma evasiva, eu ganho!”

    E assim seguiu. Com o golpe de direita já preparado, apenas bastou lançá-lo e, como desejado, o manequim desapareceu, indicando aos céus sua evasiva.

    “Isso!”

    Era tudo o que Morfius queria. Usar evasivas demais desgasta o vigor, e, sem vigor, não há esquivas. Tudo o que tinha que fazer agora era não errar em usar suas habilidades.

    O manequim manifestou-se em suas costas, mas Morfius já estava um passo à frente. Antes que seu oponente pudesse golpeá-lo, utilizou uma técnica evasiva:

    — Explosão de Onda!

    Uma aura em tom ciano explodiu de seu corpo, voando para todas as direções em um instante, mas desaparecendo em pouco tempo. No entanto, sua função foi cumprida.

    A técnica inutilizou o contra-ataque do manequim, lançando-o para o céu em sequência. Pela falta de vigor, ele não podia se recompor no ar, apenas lamentar o cansaço.

    Aproveitando a oportunidade, Morfius virou-se, fixando os olhos no adversário. Enquanto ele ainda estava caindo, deu sequência em sua próxima habilidade:

    — Golpe Final!

    Seu corpo desapareceu, como se fosse puxado para o vácuo. De forma involuntária, moveu-se rapidamente para a frente do oponente, acertando com precisão um gancho no estômago.

    Uma aura em tom azulado atravessou suas costas, servindo de impulso, lançando-o com ainda mais violência para o chão, mesmo que estivesse distante.

    E então, o momento mais esperado chegou. Levou os braços para o horizonte, e uma aura em tom amarelado começou a circular seu corpo, explodindo em energia.

    Alguns pequenos raios pareciam querer sair, mas eram cessados. Duas esferas de energia, também da mesma cor, manifestaram-se em ambas as palmas, crescendo gradativamente.

    Pouco depois, juntou os pulsos, fundindo ambas as energias em uma só. Seu alvo já estava definido, e o sucesso era só uma questão de tempo para que se realizasse.

    Os músculos não aguentavam a própria potência, gritando às fibras que seriam seus últimos esforços. A técnica deu-se início, evaporando qualquer molécula que estivesse à sua frente, em meio ao seu último berro:

    — RESPLENDOR FINAL!

    Assim que sua técnica colidiu com o solo, uma enorme explosão sorriu, apagando o manequim da existência, encerrando tanto a missão quanto sua vida.

    S2 Minimizada
    Parabéns! Sua missão foi concluída. Seu teleporte ocorrerá em nove segundos! Como recompensa, todas as técnicas usadas estarão em seu inventário.

    A energia esgotada já o fazia cair do céu. Sua inconsciência prosperou por alguns segundos, nem mesmo a regeneração do sistema o fez acordar de seu desmaio momentâneo.

    Antes que pudesse tocar o chão, já havia sido teleportado, restando apenas o silêncio naquele lugar, tanto de S2 quanto do próprio vento que se calou.

    S2
    … E pensar que ele fosse passar em tão pouco tempo. Bom pra mim.


    Seu suspiro ecoou como um canto frustrado. Inseguranças, incertezas… Sobretudo, preocupações. Fez tudo o que pôde com perfeição, e, agora, estava na hora da recompensa.


    S2
    Pronto, terminei o que tu me pediu, S1. Apareça.

    Próximo Capítulo: Reencontro.

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