Capítulo 12 — magia do mundo
Já se passaram várias horas desde que começamos nossa jornada para Drogmog. O sol, que antes brilhava intensamente no céu, agora começava a se esconder no horizonte, tingindo o céu de tons alaranjados e avermelhados. Os cavalos, suados e ofegantes, arrastavam a carroça com dificuldade, suas patas batendo no chão de terra batida com um ritmo cansado. Era evidente que estavam exaustos depois de horas intermináveis puxando a carroça sob o sol quente.
— Kael, quando vamos chegar? Não aguento mais ficar andando de carroça — reclamei, enquanto me ajustava no banco de madeira duro. Minha barriga roncou alto, como se ecoasse minha frustração. A fome era insuportável, e eu mal conseguia pensar em outra coisa.
Kael, sentado à minha frente, segurando as rédeas dos cavalos, virou-se para mim com um sorriso tranquilo.
— Um pouco mais à frente tem uma pequena vila. Podemos parar lá para almoçar e descansar um pouco antes de continuar a viagem.
— Eu também estou com uma fome absurda! — interveio Aiza, que estava sentada ao meu lado. Ela esfregava a barriga com as mãos, fazendo uma careta exagerada. — Agora mesmo, sou capaz de devorar um javali inteiro sozinha!
Eu olhei para ela, surpreso.
— Sério, Aiza? Tanta fome assim? — perguntei, achando que ela estava exagerando.
— Sim! — respondeu ela, franzindo a testa. — Ultimamente, tenho gastado muita mana treinando com Kael. E quando você gasta muita mana, a fome vem com tudo.
— Gastar mana dá fome? — perguntei, confuso. Isso era algo que eu nunca tinha ouvido falar.
— Claro! — explicou Aiza, animada. — Quanto mais mana eu gasto, mais minha vontade de comer aumenta. E quando finalmente como, a comida parece ter um sabor mil vezes melhor. É como se meu corpo precisasse repor toda a energia que foi usada.
Fiquei pensativo por um momento.
— Sério isso? Porque uns anos atrás, eu li vários livros sobre magia, e nenhum deles mencionava isso.
— Eu estou falando sério, Lucas — insistiu Aiza, cruzando os braços.
Foi então que Kael interveio, interrompendo nossa conversa.
— Você leu quais livros sobre magia? — perguntou ele, com um tom de desconfiança em sua voz.
— Li vários, mas não lembro os nomes — respondi, um pouco hesitante. Por que ele estava tão interessado nisso?
Kael olhou para mim com um ar sério.
— Então me diga, quantos tipos de magia existem?
Essa eu sabia.
— Existem três tipos de magia: a da natureza, a da criação e a mais poderosa de todas, a interestelar — respondi, confiante de que estava certo.
Kael soltou uma risada curta, abanando a cabeça.
— Totalmente errado, Lucas. Os livros que ensinam isso são livros infantis, que não explicam praticamente nada. Eles só dão o básico do básico.
Fiquei um pouco constrangido. Isso explicava por que aqueles livros tinham mais desenhos do que palavras.
— Ahahaha! Muito burro, Lucas! — Aiza riu, apontando para mim com um sorriso malicioso.
— Então me explica sobre a magia, Kael — pedi, decidido a aprender.
Kael suspirou, como se estivesse se preparando para uma longa explicação.
— Está bem. Para usar magia, você primeiro precisa sentir a mana ao seu redor. A mana é algo que está em tudo e em todos. Ela existe em todos os lugares, em todos os seres vivos, sem exceção. Para usar mana, você precisa absorvê-la ao seu redor, torná-la sua e armazená-la em seu corpo. Então, você pode usá-la a seu favor, seja para criar um manto protetor ao seu redor, fortalecer suas armas ou lançar feitiços.
Ele fez uma pausa, olhando para mim para garantir que eu estava acompanhando.
— Mas antes de sair por aí lançando feitiços, você precisa entender os tipos de magia que existem. E não são apenas três, como você pensa. Existem vários tipos: magia de criação, magia de natureza, magia de transformação… e milhares de outros. Cada tipo de magia tem seus próprios feitiços e aplicações.
— Por exemplo — continuou Kael, gesticulando com as mãos — a magia da natureza permite controlar todos os elementos naturais, como fogo, água, terra e ar. E você pode combiná-los para criar variações mais complexas. Já a magia da criação permite criar coisas do nada, como espadas, gólens ou até mesmo cidades inteiras. Mas feitiços de grande escala consomem muita mana, então é preciso ter cuidado.
Ele fez uma pausa, olhando para mim com um ar pensativo.
— Agora, você mencionou a magia interestelar. Esse tipo de magia não existe, Lucas. Deve ser algo que você leu em um daqueles livros infantis.
Fiquei um pouco decepcionado, mas ao mesmo tempo fascinado por tudo o que Kael estava explicando. Eu queria ser capaz de fazer o que Aiza fazia, de controlar a magia com tanta facilidade.
— Mas como faço para sentir a mana ao meu redor? — perguntei, ansioso.
Kael sorriu, como se estivesse esperando por essa pergunta.
— Desde o nascimento, o corpo de uma pessoa naturalmente absorve mana ao seu redor, mesmo sem perceber. Conforme a pessoa cresce, o corpo acumula mais e mais mana, até que, em uma certa idade, ela começa a perceber a mana ao seu redor. Algo que antes era invisível e intangível se torna real, e ela consegue sentir a mana ao seu redor.
— Mas como a Aiza consegue usar a magia da natureza com tanta maestria sendo tão nova? — perguntei, curioso.
Kael olhou para Aiza, que agora estava dormindo profundamente ao meu lado, como um bebê.
— Existem exceções — explicou ele, com um tom mais sério. — Se o ambiente ao redor de uma pessoa é muito estressante ou caótico, o corpo dela tende a amadurecer mais rápido. Com isso, o corpo sente a necessidade de absorver mais mana em menos tempo. Eu nem imagino o que Aiza teve que passar para conseguir usar magia tão nova.
Fiquei em silêncio por um momento, olhando para Aiza.
— A Aiza não é minha irmã de verdade — confessei, baixando a voz. — Ela é adotada. Antes de minha tia a acolher, ela morava nas ruas. Ela viu muitas coisas ruins… inclusive o próprio pai sendo morto.
Kael fez uma expressão de pena, mas não disse nada. Ele apenas olhou para a estrada à frente, como se estivesse refletindo sobre o que eu havia dito.
— Lucas, estamos quase chegando à vila — disse ele, finalmente, tentando mudar o clima pesado que havia se instalado.
Percebi então que já havia se passado algum tempo desde que começamos a conversar. O sol já estava quase completamente escondido, e as primeiras estrelas começavam a aparecer no céu.
A vila surgiu à nossa frente, pequena e aconchegante, com casas de madeira e luzes quentes brilhando nas janelas. O cheiro de comida fresca chegou até nós, e meu estômago roncou novamente.
— Finalmente! — exclamou Aiza, que acordou com o cheiro de comida. — Vamos comer!
Kael riu, dirigindo a carroça em direção à vila. Eu olhei para o céu, sentindo uma mistura de alívio e expectativa. A jornada ainda era longa, mas pelo menos agora teríamos um momento de descanso.
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.