Capítulo 052 - Dialogue como um diplomata!
Capítulo 052 – Dialogue como um diplomata!
Raios e trovões!
Rugia do lado de fora uma tempestade tão forte, soava uma fera esfomeada, as pesadas gotas da chuva martelava os vitrais do salão de reuniões do grande castelo de Sihêon.
Ayel estava com uma postura um pouco torta, mas o olhar atento usava a mesa como tambor por conta da sua impaciência. Essa mesa ocupava o centro do cômodo e em cima dela havia um grande mapa do reino e os seus arredores. Um círculo, desenhado grosseiramente, marcava no mapa as planícies de Katze, no sudoeste.
Bruxo Negro era o único que dividia o local com o rei bárbaro, estava ele lá, com aqueles olhos ocultos no meio das nebulosas sombras que cobriam totalmente o seu rosto.
O arcano cruzou os braços, olhando ao redor. Fazia muito tempo que ele não pisava no castelo.
Ele havia sugerido ao Ayel para que a reunião fosse marcada em Nox Arcana devido à segurança, mas o tribal bateu o pé, por pura raiva que sentia daquela barreira mística que ele esquecia da existência e batia o rosto toda vez.
— Estão atrasados. — comentou Ayel, ainda batucando na maldita mesa.
— Já devem estar chegando, alteza. Sabemos que cada um deles tem seus próprios afazeres, não é isso?
Bruxo suspirou.
— É uma emergência! — O rei cerrava os punhos, batendo na mesa.
Um trovão explodiu no céu, fez as janelas vibrarem e ressoou por todos os corredores do castelo, misturava-se ao som distante do vento que cortava onde passava.
O arcano estalou a língua, o tribal era indobrável.
— Além disso, meu rei. Posso jurar que escutei a voz do Celérius no fim do corredor, ele deve estar chegando.
E o monarca assentiu, ainda impaciente.
— Isso que decidi chamar apenas os líderes das guildas, e não incluir o meu esquadrão também.
Com o passar dos minutos, sons de passos das botas da guarda real aproximavam-se da porta do salão, indicavam, sim, que alguém estava para ser anunciado.
— Acredito que já saiba, mas gostaria de frisar. Os algozes estão sem o seu representante, mas eu conversei com um dos membros: Tajid, ele me disse que Mudamir está para retornar de viagem e, enquanto isso, eu poderia representá-los, permitiram que eu falasse em seu nome.
O ruivo balançou a cabeça como se concordasse.
— Tudo bem, acho justo. Você é mil vezes mais sensato que qualquer outro algoz que eu conheça.
O arcano estava pronto para iniciar uma conversa sobre como o rei precisava deixar seu preconceito de lado para que a paz volte a reinar em Maut Ka Mandir, mas a porta abrira no exato momento em que ele levantaria a sua voz. Celérius surgiu.
— Ai, está. — murmurou Ayel.
— Eu disse, não disse? — riu Bruxo Negro.
— Boa noite, que Deus esteja conosco.
Celérius tomara seu assento com uma postura disciplinada, Bruxo e Ayel o saudaram devidamente.
Os três conversavam superfluamente até escutarem passos delicados e seguros, que romperam o silêncio do corredor, era Belle.
A viúva adentrou sozinha, aquele olhar felino percorreu rapidamente toda a sala, seus lábios arqueavam gradativamente e um sorriso leve e discreto. Os guardas da entrada ainda a observara enquanto a porta do salão não fechava.
— Boa noite, Belle.
— Boa noite, mestra dos venenos.
Saudaram Ayel e Bruxo Negro.
Celérius apenas acenou com a cabeça, mantendo o seu silêncio.
A mulher morena inclinou-se como uma dama sobre a mesa.
— Boa noite, vocês… Adoraria saber a ocasião que demandou a presença de todos nós, meu rei…
Aquele tom devasso.
Belle sorria mais que o comum, principalmente quando soube, pela sua subordinada, que Ayel havia a devorado noites anteriores.
Era o começo do seu plano.
— Ainda não, esperemos o restante surgir. — cortara o ruivo.
A viúva bufou desapontada, ela era ansiosa e desejava entender os motivos de ter sido convocada, se forçaria a esperar.
A chuva intensificou. Trovões iluminavam o salão por brevíssimos momentos, não muito depois, mais passos surgiram no corredor.
Era Solomúrius Gambiarra, o velho senhor do laboratório das maravilhas.
Ele estava hesitante e trazia consigo um objeto peculiar.
Uma haste com panos?
— Boa noite a todos, que chuvinha, hein? — Disse o Gambiarra, sacudindo o aparato em sua mão, parecia encharcado.
Todos saudaram o homem, mas o rei não conseguiu evitar, o encarou enquanto arqueava as sobrancelhas.
— O que é isso? — indagou Ayel.
— Ah, isso? É uma engenhoca que inventei, chama-se Guarda-Chuva! — Solomúrius soltou uma pequena alavanca na madeira e o pano esticou completamente, arqueando um círculo acima da haste.
Todos reagiram com uma surpresa digna de plateia de um espetáculo.
— Incrível a genialidade dos relicários. — Comentou Bruxo Negro olhando a relíquia.
Celérius resmungava para si se Deus permitiria uma criação dessa, enquanto Belle olhava com curiosidade, mas preferiu não comentar.
— Ele não parece estar guardando chuva alguma, Gambiarra — exclamou o bárbaro. — Parece fazer o oposto, na verdade.
Solomúrius riu.
— Bem, sobre o nome… Poderia ter versões melhores, mas resumindo, ele faz uma cobertura com esses panos e as engrenagens para que a água das chuvas não me molhe.
— Genial. — Bruxo Negro apontara em direção ao guarda-chuva como se aprovasse o que Solomúrius fizera.
“Ora… Por acaso, relicários têm medo de água? Enfim”
Pensava o bárbaro em sua ignorância, de qualquer forma, ele precisava agir como o rei. Então concluiu.
— Muito incrível, Gambiarra.
Kassandra adentrou logo em seguida, ela deslizou pelas portas do salão com uma postura serena e aquela expressão fria de sempre. Atrás dela, estavam os guardais reais que abriram a porta, esperaram ela passar completamente para fechá-la.
— Perdão pelo atraso, companheiros.
Ela reverenciou todos, que prontamente responderam.
— Bem que senti mesmo o odor de cadáver. — Belle murmurou um pouco alto assim que viu a necromante.
— Já olhou se este cheiro não veio da sua roupa íntima? — A Morta-viva retrucou.
Elas se odiavam, sempre que possível desrespeitavam uma à outra.
— E quem disse que eu estou usando? — A mestra dos venenos riu, dizendo que as reações do restante da mesa foram mistas.
— Sua promíscua!
Kassandra começara a xingar, mas antes que completasse sua frase, Celérius levantou e as duas, que estavam prestes a cair em um conflito, pararam para vê-lo.
— Poupem o seu linguajar na frente do seu rei!
Silêncio.
E ele permaneceu por alguns instantes a mais, enquanto as chamas das lamparinas das paredes tremulavam com o frio que insinuava se aproximar por conta das frestas das janelas. A chuva não cessava por nada.
O monarca já estava mais que cansado daquela troca de farpas, respirou fundo enquanto as escutava, tentando recuperar a situação. Assim que Celérius gritou, Ayel aproveitou o momento e convocou alguns criados que aguardavam próximos à porta. Com um estalo do tribal, os criados se retiraram e voltaram tempo depois carregando bandejas com taças e jarros de bebida.
Era uma mistura aromática e marcante do vinho, com a doçura do hidromel, o áspero do rum e a encorpada cerveja.
Adentraram em filas, carregando as bebidas. Cada líder de guilda pegara um cálice da bebida a sua escolha.
Kassandra pegara o vinho enquanto encarava discretamente Belle, que pegou rum, brindando em silêncio, erguendo o líquido para o ruivo.
— Agora que estamos todos devidamente servidos, voltemos ao que importa. — Dissera Ayel impaciente, pegando uma caneca enorme de hidromel.
Ele fitou os olhos de todos, mas parou seu encarar em Kassandra, ela engoliu seco, o tribal prosseguiu:
— Após seu aviso, Katze se tornou um perigo iminente, vamos precisar nos reunir para resolver isso.
O peso da declaração pairou sobre a mesa. Bruxo Negro inclinou-se rapidamente, colocou ambos os cotovelos em cima da mesma, sua expressão, como sempre, estava oculta pelas sombras que cobriam o seu rosto.
— Para os desavisados, Kassandra reparou que nas antigas planícies de Katze, uma força maligna muito poderosa criou vida em todos os cadáveres da região, isso gerou uma legião de mortos. É de interesse tanto dela quanto do rei acabar com esse mal e manter Sihêon a salvo.
Isso atingiu sorrateiramente todos os desavisados, o reino ainda estava terminando de erguer as edificações danificadas na onda dos goblins, eles conseguiriam reunir essa força para outra onda, mas agora de mortos?
— Vale salientar que… — Bruxo Negro continuou falando. — Essa horda de mortos não age como qualquer outra coisa que já enfrentamos.
— Seres que ignoram a ordem divina do ciclo da vida são uma afronta ao equilíbrio sagrado. É dever nosso erradicar tais abominações. — Celérius cortava com convicção em sua voz, ele tocava no símbolo sagrado pendurado em seu peito. Um colar com uma espessa cruz.
Kassandra tentou ignorar o comentário do fanático, apenas devolveu sua taça na mesa e retrucou.
— A questão não é apenas destruir, mas entender quem ou o que os trouxe de volta.
— Isso é irrelevante. — contestou Belle. — Esse problema pode ser resolvido de maneira mais simples… Aniquilação.
— Nem sempre a destruição é a resposta mais sábia. Se houver uma fonte central, talvez seja mais eficiente eliminá-la ao invés de desperdiçarmos recursos enfrentando o que pode ser interminável.
Dissera Bruxo Negro, e entreolhou-se com os olhos de Ayel e Kassandra. Os três sabiam da orbe necromântica que mantinha os mortos em pé, estavam em uma dualidade entre esconder esse fato para poupar perguntas do restante dos líderes, com a preocupação de inocentes de Sihêon morrerem. Se fosse pertinente, eles revelariam, por ora, precisavam de força.
E as guildas mais poderosas do reino discutiam sobre como prosseguir.
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