Índice de Capítulo

    A manhã chegara com um sol pálido, que mal conseguia cortar a névoa densa que pairia sobre o mar. Dante e os outros prisioneiros foram arrastados de seus aposentos sombrios, as correntes rangendo enquanto eram empurrados para o convés superior.

    Dessa vez, suas mãos não estavam apenas algemadas à frente, mas presas nas costas, as correntes puxando seus braços com uma força que fazia os músculos queimarem. O tripulante que o conduzia segurava seu pescoço com uma mão áspera, empurrando-o para frente como se fosse gado a caminho do abate.

    No convés, foram forçados a se ajoelhar diante do mastro principal, de costas para o mar. Dante levantou a cabeça, seus olhos encontrando o Imenso, que conversava com Jack e outro homem. Este último era um desconhecido, careca, com uma cicatriz que cortava sua orelha e descia até o pescoço, onde outra marca, mais profunda, parecia ter sido feita por uma lâmina afiada.

    Dante perguntou a si mesmo se todos os homens do mar carregavam marcas tão visíveis de suas batalhas.

    — Raitoper! — Uma voz ecoou do timão. Lá de cima, um homem de chapéu negro e vestes marrons ergueu a mão, chamando a atenção. O Imenso respondeu com um aceno, sua voz grave e autoritária.

    — Mande todos para seus lugares. Vamos receber visitantes.

    O Imenso começou a dar ordens, apontando dedos e gesticulando com uma eficiência brutal. Jack se moveu rapidamente, seguindo as instruções, enquanto o Imenso se voltou para os prisioneiros. Ele escolheu a mulher de cabelos curtos, agarrando-a pelos cabelos e arrastando-a para frente, ignorando seus gritos de protesto.

    Quando a soltou, seus olhos se voltaram para outro prisioneiro, um homem que tentava manter a cabeça baixa, mas cujos olhos traíam seu medo.

    — Está olhando pra mim por quê? — O Imenso fechou o punho e desferiu um golpe no rosto do homem, que caiu de lado, sangrando. — Achou estranho a sombra ficar grande, não é? Você acha que sou gordo.

    — Não, senhor. Por favor. Eu não quero ser morto.

    Raitoper o agarrou pelos cabelos, arrastando-o pelo convés até deixá-lo ao lado da mulher. Com um movimento brusco, jogou-o no chão, onde ele caiu de costas, gemendo de dor.

    — Quando eu mando vocês ficarem de cabeça baixa, é uma ordem. Entenderam?

    Os tripulantes, incluindo Jack, observavam em silêncio enquanto o Imenso desferia chutes nos dois prisioneiros. A mulher chorava, enquanto o homem gemia, cada golpe no estômago fazendo-o contorcer de dor.

    Dante manteve a cabeça baixa, sabendo que um chute daqueles poderia abrir seu ferimento, que ainda não havia cicatrizado completamente. Semanas haviam se passado, mas seu corpo ainda estava longe de se recuperar.

    A porta do timão se abriu, e um homem de cabelos longos e vestes negras surgiu. Seu traje era de guerra, com um leão negro nas ombreiras e placas de ferro cobrindo o peito e os braços. A cinta vermelha em sua cintura sustentava uma espada longa, e seus olhos eram frios como o mar profundo. Dante pensou que poderia ser Sakamoto, o homem de quem Pomodoro falara, mas logo percebeu que estava enganado.

    Outros cinco indivíduos emergiram das cabines, todos vestidos de forma imponente, com duas mulheres entre eles, suas calças largas e adagas na cintura sugerindo que não eram meras espectadoras.

    Eles se alinharam, lado a lado, como se esperassem algo — ou alguém. Dante manteve a cabeça baixa, seus olhos fixos no convés, mas sua mente trabalhava rapidamente. Haveria um momento, ele sabia, em que a oportunidade surgiria. Não ali, no meio do Oceânico Polar, mas em terra firme. Ele só precisava esperar.

    — Parece que ele chegou — disse uma das mulheres, sua voz suave, mas carregada de uma tensão que não passou despercebida.

    Um dos tripulantes correu para o beiral de madeira, puxando uma seção para dentro, como se abrisse um portão. Em seguida, o Aurora foi engolido por uma sombra imensa.

    Quando Dante levantou os olhos, viu um navio surgir do nada, suas velas enormes, três vezes maiores que as do Aurora. O casco era uma mistura de metal e madeira, tão bem unidos que pareciam uma única peça. As janelas do navio revelavam dezenas de canhões, e uma delas estava apontada diretamente para ele.

    Uma ponte de madeira foi estendida, caindo com um baque surdo sobre o convés do Aurora. Do outro lado, um homem imponente se apresentou. Ele era careca, com sobrancelhas curtas e uma expressão que não deixava dúvidas sobre sua autoridade. Seu traje era duas vezes mais pesado que os usados pelos tripulantes do Aurora, com placas de ferro tão grossas quanto um dedo humano.

    No peito, um tigre vermelho parecia ganhar vida, suas garras desenhadas com detalhes que faziam Dante duvidar de seus olhos. As ombreiras eram adornadas com dentes de dragão, e a armadura inteira parecia espinhosa, como se estivesse pronta para repelir qualquer ataque.

    Por que alguém usaria uma armadura tão pesada no mar?

    O homem atravessou a ponte, seus passos firmes e calculados. Quando seus pés tocaram o convés do Aurora, Dante sentiu. A pressão da Energia Cósmica que emanava dele era esmagadora, como uma força gravitacional que o empurrava para baixo.

    Era semelhante à habilidade de Jix, mas muito mais poderosa. Dante percebeu, com um frio na espinha, que aquele homem poderia afundar o Aurora sem esforço, sem nem mesmo mover um músculo.

    Era um tipo de força que Dante nunca havia sentido antes. E, pela primeira vez em muito tempo, ele sentiu medo.

    Outro homem veio atrás daquele, era menor, com um rosto redondo e um semblante risonho. A armadura dele era mais fina, com um ferro mais claro e uma bota de couro chamuscada. Ele sorria, mas era um sorriso malicioso demais.

    — Mestre Bulianto Hug, Rei da parte leste Oceânico Polar I — disse o homem ao lado. — Senhor das Terras Fluviais. Monarca dos Arquipélagos Jianxi. Capitão das Três Frotas. O Senhor do Forte Tempestade e do Castelo Arruinado.

    Sem exceção, todos os tripulantes se ajoelharam ao mesmo tempo. Não ficou ninguém de pé. Até mesmo o Imenso se jogou, como um cachorro ao seu dono. Cabeças mais baixas do que o joelho daquele homem.

    Dante não tinha ideia, mas queria logo fazer a pergunta.

    Quem era esse cara?

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