Índice de Capítulo

    — O senhor não pode deixar isso acontecer — disse Cloud, sua voz carregada de urgência enquanto assistia Blink e Zapi serem esmagados por Dante e jogados contra o chão como bonecos de pano. — Temos que mandar mais gente pra lá.

    Bastardo fitava o velho homem se movimentar como um lobo faminto, seus olhos estreitando-se enquanto observava cada movimento preciso e letal. Dante não era diferente dos outros que haviam cruzado seu caminho no mar — homens que buscavam o Desejo, como ele ouvira dizer, eram perigosos demais. Mas esse era um novato no Oceano, alguém que ainda não entendia completamente as regras não escritas desse mundo brutal.

    — Acha que pode lidar com ele, Cloud? — perguntou Bastardo, sua voz calma, mas carregada de uma ameaça silenciosa.

    O homem se ajoelhou rapidamente, abaixando a cabeça em um gesto de submissão.

    — O senhor só precisa pedir.

    — Guaca e Miatamo voltaram para a retaguarda — continuou Bastardo, seus olhos agora se fixando no navio do outro lado, onde Egiss estava sendo pressionado pelos três Leões Carmesins. — Mas Egiss está sendo pressionado. Mudança de planos: mate o velhote e exponha o corpo dele.

    Cloud ergueu a cabeça, respirando fundo. Ele bateu no peito, um gesto de lealdade e determinação, e saiu correndo em direção ao navio onde Dante continuava sua dança mortal.

    Dois dos alvos haviam sido retraídos. Sem eles, a missão de Bastardo não poderia ser concluída. Bulianto, do outro lado do campo de batalha, ainda com aquela expressão orgulhosa e inabalável, dava a Bastardo um embrulho no estômago. Era hora do pagamento.

    — Tierre — chamou Bastardo, sua voz agora um sussurro carregado de intenções sombrias.

    Um espectro sombrio surgiu ao seu lado, emergindo de sua própria sombra como uma criatura das profundezas. Seu rosto era escuro, como os ancestrais de Bastardo haviam moldado, com um aspecto magricela e sinistro. Tierre abaixou a cabeça, se aproximando com um movimento fluido e silencioso.

    — Senhor, o que deseja? — perguntou Tierre, sua voz um eco frio e vazio.

    — Quero Porto e sua irmã Thelia mortos — disse Bastardo, suas palavras carregadas de uma frieza que faria até os mais corajosos estremecerem. — E… — ele fez uma pausa, seus olhos se fixando na mulher que ajudava os demais Vanguardistas no meio das batalhas. Ela era rápida, suas adagas funcionavam para acertar os inimigos desprevenidos. — A mulher do gelo, eu quero ela.

    Tierre abaixou a cabeça novamente, sua sombra se dissolvendo no ar como fumaça.

    — Às suas ordens, senhor.

    Seu corpo se dissolveu na sombra novamente, e a mancha negra se desfez, descendo em direção ao campo de batalha como uma serpente pronta para atacar.

    Bastardo sabia que não poderia usar todas as suas cartas de uma vez, mas Bulianto só tinha esses dois para contrariar seu plano. O Rei do Oeste também estava chegando, e quando ele aparecesse, tudo seria praticamente destruído. Esses homens, que o traíram, que o deixaram para a morte, sofreriam vendo seus semelhantes sendo dilacerados diante de seus olhos. Tudo em que confiavam seria retirado, peça por peça, até que não restasse nada.

    — Você vai sofrer, Rei — sussurrou Bastardo, seus olhos brilhando com uma luz sombria. — E eu vou garantir que cada segundo seja uma eternidade.

    Cloud pousou no navio com a leveza de uma sombra, seus pés tocando o convés sem fazer um único ruído. Dante estava segurando Zapi pelo pescoço, o homem com seu cordão e duas pulseiras roxas brilhando sob a luz do sol. Cloud parecia sério demais, seus olhos fixos em Dante, mas o velho não parecia intimidado. Ele abriu a mão, deixando Zapi cair e formar uma pilha com os outros dois homens que já haviam sido surrados até perderem a consciência.

    — Você não estava lá em cima? — perguntou Dante, apontando na direção de Bastardo, que observava tudo de longe. — Por que veio para cá?

    — Meu Rei me deu ordens. Eu respondo as palavras finais dele.

    Ah, Dante ficou impressionado. Esse tipo de lealdade. Lembrava Marcus. Que saudade de Kappz.

    — Sua missão sou eu, então?

    — Você? — Cloud uniu as mãos lentamente, seus dedos se entrelaçando como se estivesse preparando algo sinistro. — Está se fazendo muito para alguém que chegou agora. O Mar não é coisa pra gente velha ou nova demais. As águas foram feitas para serem governadas.

    Dante deu uma risada, um som rouco que ecoou pelo convés.

    — Já parou pra pensar que algumas coisas nunca saem do jeito que a gente quer? — perguntou ele, seu sorriso agora sombrio. — Não sou do tipo que espera o inimigo fazer seu movimento.

    Os três corpos caídos atrás dele, Dante abaixou rapidamente, segurando o primeiro e o segundo, e os arremessou em direção a Cloud. As mãos do homem se desgrudaram uma da outra, seus olhos arregalados de surpresa.

    Do meio do navio, raízes grossas e largas se libertaram, esticando-se em direção aos dois homens e os enrolando como serpentes. As raízes os puxaram de volta, arrastando-os pelo convés.

    — Seu desgraçado, arremessar homens…

    Parou de falar ao vê-lo. Dante segurava Raspum pelo pescoço, na beirada do convés. Se ele soltasse, o homem cairia no mar. Para salvá-lo, precisaria sair do campo de batalha. Dante sorriu.

    — Pega esse também.

    E abriu a mão.

    Raspum caiu, mas Cloud reagiu rapidamente. As raízes soltaram Blink e Zapi, correndo entre o convés, perfurando a madeira e descendo para o convés inferior. Dante acenou para Cloud, correndo para o outro lado.

    — O que você… está fazendo?

    — Não tenho tempo para perder com você aqui.

    Ele saltou no ar para o navio central novamente. O ar foi disparado pela sua sola, e ele subiu cerca de dois metros quando seus tornozelos foram segurados. Dante virou o rosto. As duas raízes se libertaram da madeira, o puxando de volta.

    O corpo de Raspum voltava a ser erguido do outro lado, sem estar molhado. O controle desse cara é bom, pensou consigo.

    Ele puxou a espada da cintura e cortou para baixo, se libertando. Mas, assim que o fez, mais uma dezena de raízes explodiu o casco, se libertando e acertando Dante no peito. Elas enviaram-no para baixo, na direção do oceano.

    Antes de se afundar, Cloud apareceu na borda, encarando-o com indiferença.

    — Boa morte, velho — disse ele, sua voz carregada de desdém.

    Dante caiu nas águas geladas, as ondas se fechando sobre ele como um túmulo líquido.

    Apoie-me

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 100% (2 votos)

    Nota