Capítulo 643: Multidão Inútil
Quase imediatamente, várias pessoas na audiência começaram a gritar.
— Silêncio! — gritou a Governadora novamente, aterrorizando ainda mais a multidão.
— Eu disse que traria justiça! — gritou ela com sua voz poderosa. — As provas estavam ali! As provas eram esmagadoras! Todos vocês viram as provas com seus próprios olhos!
Então, apontou agressivamente para as várias pessoas ao lado, que ainda estavam lendo suas montanhas coletivas de provas.
— Elas ainda não reclamaram, mesmo depois de estarem examinando as evidências por mais de 30 minutos!
— Se as provas fossem falsas, já teriam encontrado alguma inconsistência.
— Mas não encontraram.
— Isso é porque as provas são genuínas, e as punições foram justas!
Em seguida, a Governadora fez uma pausa de alguns segundos, e sua voz ficou mais baixa, mas manteve a firmeza.
— Vocês têm o direito de questionar as punições, e também podem revisar as provas. Tudo é feito às claras e…
BANG!
A Governadora atirou em alguém ao lado, e uma mão explodiu do braço de uma pessoa.
A pessoa olhou, chocada, para sua mão voando.
SPLAT!
A mão caiu no chão e se abriu.
Havia um pedaço de papel amassado dentro dela.
No instante seguinte, uma leve rajada de vento apareceu, desamassou o papel e o empurrou de volta para as pilhas de documentos.
Então, a Governadora girou sua arma uma vez.
BANG!
E transformou a mão do homem em uma névoa sangrenta.
— Tente destruir provas novamente, e sua cabeça será a próxima — disse a Governadora friamente.
Alguns segundos depois, o homem começou a gritar de dor.
WHOOM!
Uma rajada de vento apareceu, e o homem foi lançado para dentro da cidade.
O vento não foi forte o bastante para feri-lo gravemente, mas sua aterrissagem não foi nada agradável.
— Próximo! — gritou a Governadora.
A essa altura, a multidão já havia perdido grande parte de sua força, e as pessoas se apresentavam com muito menos frequência.
Claro, ainda havia aqueles que tentavam incitar uma revolta pública, mas assim que alguém tentava, a Governadora mandava um dos guardas puxar a pessoa e a forçava a falar publicamente diante de todos sobre seus problemas.
Esse método começou a dar resultado, pois duas horas após o início da audiência pública, quase ninguém ousava sair da linha.
Bastava que uma única pessoa saísse da linha para ser destacada e colocada na frente de todos.
Então, era forçada a expor publicamente suas queixas, e quase sempre, não tinha nenhuma forma de contestar a montanha de provas apresentada.
Se cem pessoas corressem contra alguém, mesmo que essa pessoa tivesse uma arma, ela seria dominada.
Mas se os cem estivessem parados e ainda tivessem que começar a correr, a situação seria diferente.
A força de um grupo vinha do fato de que seus membros eram apenas indivíduos.
Claro, alguns morreriam, mas a chance de ser aquele indivíduo específico era baixa.
Mas se os cem ficassem parados, alguém teria que ser o primeiro a correr.
Para essa pessoa, o grupo já não importava.
No momento em que começasse a correr, estaria sozinha.
Em vez de ter 5% de chance de ser morta, teria 100% de chance naquele instante.
O grupo precisava sacrificar algumas pessoas para ganhar ímpeto.
No entanto, pela natureza da situação, esses sacrifícios precisavam ser voluntários.
Alguém precisava pular no abismo para formar uma ponte com seu próprio corpo.
Naturalmente, ninguém faria isso por alguns ricos que mal conheciam.
Em poucas horas, havia silêncio.
Ninguém ousava se destacar.
Ninguém ousava iniciar uma revolta.
Eles estavam em um grupo poderoso, mas não podiam usar esse grupo como arma.
Um grupo assim precisava de união e confiança.
Soldados avançam na linha de frente porque lutam por algo maior que suas vidas.
Além disso, se não seguirem ordens, são considerados desertores e executados de qualquer forma.
E mesmo que alguém estivesse disposto a se sacrificar, também precisaria de outros para acompanhá-lo, e provavelmente não acreditaria que os outros o seguiriam.
Isso tornava o sacrifício inútil, já que não alcançaria nada e, nesse caso, era melhor continuar vivo.
Se fosse para se sacrificarem, que ao menos não fosse em vão.
— Ninguém mais? — perguntou a Governadora.
Ninguém deu um passo à frente.
Todos lançavam olhares irritados uns aos outros.
Queriam que alguém tomasse a iniciativa.
Estavam furiosos porque ninguém havia se sacrificado pelo bem do grupo.
Ah, como todos os outros eram egoístas!
Naturalmente, pedir que os próprios reclamantes se sacrificassem não era a mesma coisa.
Afinal, eles tinham família.
Ou seus negócios estavam indo muito bem.
Ou tinham algo incrível que ajudaria outras pessoas.
Ou estavam planejando deixar a cidade em breve, de qualquer forma.
Não, eles tinham um bom motivo para não se sacrificarem, mas havia muitos outros que não tinham um motivo tão bom assim!
Esses sim deveriam se sacrificar pelo bem do grupo!
Ah, como eram egoístas!
— Sendo assim, a audiência pública está encerrada — anunciou a Governadora. — Por favor, dispersem-se e voltem para suas casas. Qualquer um que permanecer em frente à sede sem motivo explícito será detido por um mês.
As pessoas estavam furiosas.
Estavam frustradas.
Mas então, uma pessoa foi embora.
Essa pessoa atraiu os olhares cheios de ódio de todos os outros membros.
Mas então, outra pessoa foi embora.
Depois, mais duas.
E por fim, o grupo começou a se dispersar como uma unidade.
Quando a Governadora viu todos indo embora, finalmente conseguiu se acalmar.
Aquele tinha sido um dia insano.
Era difícil acreditar que a revolta havia sido contida.
Mais ainda, nada de horrível tinha acontecido!
— Isso é poder — sussurrou Nick em sua mente.
— Humanos desejam felicidade para si mesmos e para quem amam. Você tem o poder de tirar essa felicidade deles. Os humanos estão dispostos a engolir muita merda, frustração e raiva para manter sua felicidade viva.
— Enquanto você ameaçar essa felicidade, eles farão tudo o que você mandar.
— Porém — disse Nick em um tom mais alto — eles precisam ter felicidade primeiro! Se não tiverem felicidade, você não pode tirá-la, e eles não terão nada a perder.
— Eles precisam de comida, dinheiro, amigos, bens e uma família. Quanto menos tiverem disso, mais difíceis são de controlar.
— Ameaçar um sem-teto de tirar sua casa não terá efeito algum.
A Governadora ouviu Nick.
Ela jamais havia encarado o governo de uma cidade sob essa perspectiva.
Enquanto conseguisse manter as pessoas poderosas felizes, poderia fazer o que quisesse.
Era assim que havia governado a cidade até agora.
À primeira vista, as palavras e ações de Nick pareciam contraditórias.
Ele falava sobre dar felicidade às pessoas, mas ao mesmo tempo, ordenava que a Governadora as matasse e ameaçasse.
E ainda assim, de algum modo, fazia sentido, e funcionava.
A Governadora respirou fundo, discretamente, e entrou de volta na sede da cidade.
Parecia que todo o incidente havia terminado.
— Encontre um lugar isolado e diga ao seu pessoal que você estará indisponível pelas próximas horas — sussurrou Nick.
A Governadora ficou nervosa.
Na maior parte do tempo, conseguia sentir onde Nick estava, mas às vezes, como agora, não fazia ideia.
Ela ainda ouvia sua voz em sua mente, mas não sabia onde ele estava.
O fato de poder ouvi-lo sem vê-lo a deixava inquieta.
Ela se sentia impotente.
Mesmo assim, fez exatamente o que Nick ordenou.
Alguns minutos depois, entrou em seu escritório.
Não era muito grande, mas também não era pequeno.
Nick apareceu no canto da sala e olhou para ela.
No instante seguinte, ela notou várias pedras ao lado de Nick.
Ela nunca tinha visto um círculo de pedras como aquele antes.
Sem dizer nada, Nick se virou para o círculo de pedras e começou a usar uma grande quantidade de Zephyx.
A Governadora viu a maior das pedras se transformar em uma figura musculosa.
A figura musculosa olhou para Nick antes de encará-la com fúria.
Naquele momento, ela soube quem era.
Apesar de, essencialmente, já ter trabalhado para a Gula, ela nunca havia visto a Gula nem um Grande Retransmissor.
Aquela era a primeira vez que via um dos Corruptores, mesmo que fosse apenas por um Grande Retransmissor.
— Você será minha serva — falou Ira com uma raiva incessante.
A Governadora respirou fundo enquanto começava a suar de medo.
Aquele era um dos Corruptores!
Um Caído no Pináculo!
— S-Sim, Lorde Ira — respondeu cuidadosamente, ajoelhando-se sobre um dos joelhos.
Ela não sabia como falar com um Corruptor.
— Meu Assassino lhe dirá como governar a cidade — disse Ira com tom ameaçador. — Quando a cidade estiver madura, enviarei um dos meus Demônios para colher o conflito.
— Como recompensa, poderá absorver parte do Zephyx que eles produzirem.
— O-Obrigada, meu Senhor! — disse a Governadora, cheia de medo.
Ira lançou um olhar penetrante e silencioso para a Governadora.
— Não me desaponte… ou será a última coisa que fará!
Então, o Grande Retransmissor se desativou.
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