Capítulo 673: Bons Negócios
A sala caiu em silêncio assim que a Braço Esquerdo contou a todos sobre seu projeto secreto.
O Braço Direito estreitou os olhos.
O Político olhou para a Braço Esquerdo com desconfiança.
O Muralha e a Faca não pareciam nada satisfeitos.
— Eu não fui informado sobre isso — falou o Campeão com sua voz profunda.
— O projeto mais recente está em andamento há 20 anos. Só precisávamos esperar pelos resultados. Havia coisas mais importantes com que se preocupar — disse a Braço Esquerdo sem sinal de arrependimento.
— Por quê? — perguntou o Braço Direito. — Isso não faz o menor sentido. Você sempre foi a mais veemente em não confiar em Espectros, não importa o quê.
— Isso é correto — respondeu a Braço Esquerdo — e ainda não confio em nenhum Espectro. Este Espectro pode ser considerado um aliado, mas não tem a nossa confiança. O Espectro é uma arma.
O clima na sala piorou ainda mais.
No início, as pessoas ainda estavam em choque, mas agora, a raiva e o sentimento de traição se manifestavam de fato.
Unir forças com um Espectro era idiotice!
Era uma regra inviolável!
Espectros eram o inimigo natural da humanidade!
O mais chocante de tudo era que havia sido justamente a Braço Esquerdo quem tinha caído nessa mentalidade absurda.
A Braço Esquerdo era a mais astuta entre todos.
Ela era meticulosa, e raramente cometia erros.
A única razão de não a considerarem uma idiota era o fato de que era excepcional em tudo o mais.
— A única razão pela qual estou lhe dando a chance de se explicar é que não acredito que cometeria um erro tão estúpido — disse o Campeão. — Sempre me pareceu extremamente cuidadosa e criteriosa.
A Braço Esquerdo assentiu. — Obrigada, Campeão.
— Agora, diga do que se trata. Precisamos de mais detalhes — disse o Campeão.
Os outros olharam para a Braço Esquerdo com ceticismo.
— Há 29 anos, recebi um relatório de uma das cidades ao norte do Continente Desolado — disse a Braço Esquerdo. — Veio de Simon Francium, um dos Juízes responsáveis por manter a Inveja contida.
— Ele encontrou um Espectro em uma das cidades para onde havia sido chamado em razão de uma emergência.
— Surpreendentemente, o Espectro compartilhou voluntariamente sua verdadeira identidade. Em resumo, o Espectro buscava ativamente contato com os altos escalões da Égide.
Os outros estavam desconfiados.
Isso não parecia plausível.
— Este é o relatório de Simon Francium — disse a Braço Esquerdo, transmitindo um relatório a todos.
Os Escudos leram o relatório rapidamente.
Naturalmente, a Braço Esquerdo havia falsificado aquele relatório.
— Pedi que James investigasse o Espectro e tentasse entender suas ações. Foi o que ele fez, e me escreveu este relatório — disse a Braço Esquerdo, enviando outro relatório a todos.
Esse relatório também era falso, mas havia sido o Técnico quem o forjou.
Ele havia forjado o próprio relatório.
O relatório era absurdamente longo e detalhado.
Felizmente, os Escudos conseguiam lê-lo por completo em questão de segundos.
— Psique anormal — comentou o Político, olhando para uma página específica do relatório.
— Sim — acrescentou a Braço Esquerdo. — Esse Espectro tem uma psique anormal. No entanto, sua anormalidade está relacionada a emoções que ele acredita sentir. As emoções são…
— Surpreendentemente humanas — completou o Braço Direito.
— Para um Espectro, pode ser considerado insano — disse a Braço Esquerdo. — Mas para um humano, seria apenas levemente insano.
— Preciso acrescentar — interveio o Técnico — que todos os Extratores poderosos poderiam ser considerados levemente insanos. Isso é um requisito básico para alcançar esse nível de poder.
Alguns dos Escudos franziram o cenho, mas não podiam argumentar contra aquilo.
Todos ali tinham suas próprias excentricidades.
— Se fosse apenas um Espectro aleatório, eu poderia garantir a todos que a humanidade sofreria com qualquer cooperação com ele.
— Mas não é o caso.
— Este Espectro na verdade tem objetivos.
— Objetivos? — perguntou a Faca com um risinho de desdém. — Quer dizer, além de causar o máximo de sofrimento possível?
A Braço Esquerdo assentiu. — Sim. Ele quer ser o Espectro mais forte.
As pessoas franziram o cenho.
Conseguiam perceber que aquilo era diferente dos outros Espectros.
Os outros Espectros queriam causar cada vez mais sofrimento, o que acabava os levando a se tornarem os mais fortes de forma involuntária.
Enquanto isso, o objetivo daquele Espectro era diretamente se tornar o mais forte.
Agora, a pergunta era…
— Por quê? — perguntou o Campeão.
— Pelo mesmo motivo de qualquer humano querer ser o mais forte — disse a Braço Esquerdo. — Ganância e ambição.
— Como um empresário — comentou o Político.
A Braço Esquerdo assentiu em silêncio.
— E por que isso faria com que esse Espectro fosse diferente dos outros na nossa dinâmica com ele? — perguntou o Braço Direito.
— Porque ele não nos vê como presas — explicou a Braço Esquerdo. — Ele nos vê como um negócio que oferece algo que deseja comprar.
— O motivo pelo qual se deixou capturar foi para chegar a um acordo com a Égide.
— Ele está disposto a nos apoiar e trabalhar para nós — disse a Braço Esquerdo.
Silêncio.
— Em troca de…? — perguntou o Muralha.
— Em troca de trabalhar para nós — disse a Braço Esquerdo.
O Muralha ficou um pouco surpreso, enquanto a Faca ergueu uma sobrancelha.
Enquanto isso, uma luz surgiu nos olhos do Político. — Entendi — murmurou ele.
— Ao trabalhar para nós — continuou a Braço Esquerdo — ele nos ajuda, mas também ganha poder.
— Já está estabelecido que Espectros se fortalecem ao causar sofrimento à humanidade de diferentes formas. É assim que Espectros se tornam mais poderosos.
— No entanto, um Espectro dentro de uma Unidade de Contenção produz Zephyx e aumenta o poder dos Extratores. Embora isso cause algum sofrimento, os benefícios superam em muito o custo. Caso contrário, não estaríamos trabalhando com eles.
— Porém, os Espectros não enfraquecem quando ajudam a humanidade. Esse Espectro entende perfeitamente esse fato e está disposto a explorá-lo para colaborar com a Égide.
— Cerca de 20 anos atrás, enviei o Espectro para se infiltrar na área mais caótica do Grande Continente. Sua missão era infiltrar-se entre as fileiras de um dos Corruptores, trabalhar para ele por vários anos e usar esse conhecimento para dar à Égide uma oportunidade de desferir um golpe devastador contra os Corruptores.
— 16 cidades.
— Mais de 200.000 cidadãos.
— 20 servos Demônio mortos.
— Isso foi o que ele entregou.
— Ele se uniu à Ira, conquistou diversas cidades que pertenciam à Gula, Preguiça e Luxúria, e revelou toda a estrutura interna dessas cidades.
— Conseguimos empurrar a Ira de volta até o Continente da Guerra graças a esse Espectro sozinho.
— Durante essa missão, ele avançou de Ancião no Pináculo para Fanático Avançado.
Naquele momento, várias pessoas franziram o cenho.
Foi rápido.
Ele devia ter causado muito sofrimento.
No entanto, quando a Braço Esquerdo entrou em mais detalhes, todos perceberam que o Espectro na verdade teve um impacto positivo na maioria das cidades.
O sofrimento foi imensamente reduzido, mas o pouco sofrimento que restava foi todo atribuído ao Espectro.
Ele basicamente roubou 100% do sofrimento da Ira, eliminou de 80% a 90% dele e absorveu os 10% a 20% restantes.
Reduziu drasticamente o sofrimento e ainda enfraqueceu significativamente a Ira.
Fazia sentido econômico.
Era um bom negócio para ambos os lados.
Enquanto os Escudos analisavam os números, não conseguiam contestar o fato.
A Égide havia se beneficiado ao trabalhar com o Espectro.
— E quanto ao futuro? — perguntou o Campeão. — No fim das contas, todo Espectro se beneficia do sofrimento humano. Espectros são inimigos da humanidade. Eu posso ter dito que o Sol é nosso aliado, mas todos sabemos que isso não é verdade.
— Ele diz que não quer se tornar nosso inimigo — disse a Braço Esquerdo. — Diz que qualidade é muito mais importante do que quantidade.
— O sofrimento de um Escudo vale mais do que o sofrimento de milhões de pessoas comuns.
— Ele quer se tornar mais poderoso, e precisa de humanos poderosos para isso. Humanos querem se tornar mais poderosos, e precisam de Espectros para isso.
— Se algum dia conseguir se tornar um Adversário, está disposto a trabalhar conosco.
— Nós nos tornaremos mais poderosos e não precisaremos mais depender do Falso Profeta. Ao mesmo tempo, ele também se tornará mais forte.
— Se conseguirmos torná-lo poderoso o suficiente, podemos aumentar o nível de todos os Escudos.
— Pode até ser a chave para rivalizar com os Eternos.
— Ele disse que não é um parasita, mas um simbionte.
Silêncio.
Os Escudos não sabiam o que pensar sobre isso.
Claro, tudo fazia sentido, mas parecia um discurso de venda.
As coisas realmente seriam assim?
Parecia bom demais para ser verdade.
— James, qual é a sua opinião? Você tem trabalhado com o Espectro, certo? — perguntou o Braço Direito enquanto olhava para o Técnico.
O Técnico deu de ombros. — Não vejo nada de errado nisso. Me parece bom.
O Braço Direito franziu o cenho. — Você não está preocupado com uma traição no futuro, quando ele se tornar poderoso demais?
— Não — respondeu o Técnico. — Seu medo é baseado na inatividade. Não é como se essa coisa se tornasse imparável da noite para o dia. Além disso, não estamos confiando nele. Vamos continuar supervisionando, e quando sentirmos que está ficando instável ou poderoso demais, ainda poderemos detê-lo. Quando ele se tornar um Caído, todos nós já estaremos observando-o com preocupação.
— Ainda poderemos pará-lo até lá. Na minha opinião, matá-lo agora seria desperdiçar uma grande oportunidade.
Silêncio.
— Quero conhecê-lo — falou o Campeão.
Os outros franziram o cenho antes de assentirem em confirmação.
A Braço Esquerdo assentiu e se virou para o Técnico.
— Traga-o.
— Pode deixar — disse o Técnico antes de sair da sala.
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