Índice de Capítulo

    A sala caiu em silêncio assim que a Braço Esquerdo contou a todos sobre seu projeto secreto.

    O Braço Direito estreitou os olhos.

    O Político olhou para a Braço Esquerdo com desconfiança.

    O Muralha e a Faca não pareciam nada satisfeitos.

    — Eu não fui informado sobre isso — falou o Campeão com sua voz profunda.

    — O projeto mais recente está em andamento há 20 anos. Só precisávamos esperar pelos resultados. Havia coisas mais importantes com que se preocupar — disse a Braço Esquerdo sem sinal de arrependimento.

    — Por quê? — perguntou o Braço Direito. — Isso não faz o menor sentido. Você sempre foi a mais veemente em não confiar em Espectros, não importa o quê.

    — Isso é correto — respondeu a Braço Esquerdo — e ainda não confio em nenhum Espectro. Este Espectro pode ser considerado um aliado, mas não tem a nossa confiança. O Espectro é uma arma.

    O clima na sala piorou ainda mais.

    No início, as pessoas ainda estavam em choque, mas agora, a raiva e o sentimento de traição se manifestavam de fato.

    Unir forças com um Espectro era idiotice!

    Era uma regra inviolável!

    Espectros eram o inimigo natural da humanidade!

    O mais chocante de tudo era que havia sido justamente a Braço Esquerdo quem tinha caído nessa mentalidade absurda.

    A Braço Esquerdo era a mais astuta entre todos.

    Ela era meticulosa, e raramente cometia erros.

    A única razão de não a considerarem uma idiota era o fato de que era excepcional em tudo o mais.

    — A única razão pela qual estou lhe dando a chance de se explicar é que não acredito que cometeria um erro tão estúpido — disse o Campeão. — Sempre me pareceu extremamente cuidadosa e criteriosa.

    A Braço Esquerdo assentiu. — Obrigada, Campeão.

    — Agora, diga do que se trata. Precisamos de mais detalhes — disse o Campeão.

    Os outros olharam para a Braço Esquerdo com ceticismo.

    — Há 29 anos, recebi um relatório de uma das cidades ao norte do Continente Desolado — disse a Braço Esquerdo. — Veio de Simon Francium, um dos Juízes responsáveis por manter a Inveja contida.

    — Ele encontrou um Espectro em uma das cidades para onde havia sido chamado em razão de uma emergência.

    — Surpreendentemente, o Espectro compartilhou voluntariamente sua verdadeira identidade. Em resumo, o Espectro buscava ativamente contato com os altos escalões da Égide.

    Os outros estavam desconfiados.

    Isso não parecia plausível.

    — Este é o relatório de Simon Francium — disse a Braço Esquerdo, transmitindo um relatório a todos.

    Os Escudos leram o relatório rapidamente.

    Naturalmente, a Braço Esquerdo havia falsificado aquele relatório.

    — Pedi que James investigasse o Espectro e tentasse entender suas ações. Foi o que ele fez, e me escreveu este relatório — disse a Braço Esquerdo, enviando outro relatório a todos.

    Esse relatório também era falso, mas havia sido o Técnico quem o forjou.

    Ele havia forjado o próprio relatório.

    O relatório era absurdamente longo e detalhado.

    Felizmente, os Escudos conseguiam lê-lo por completo em questão de segundos.

    — Psique anormal — comentou o Político, olhando para uma página específica do relatório.

    — Sim — acrescentou a Braço Esquerdo. — Esse Espectro tem uma psique anormal. No entanto, sua anormalidade está relacionada a emoções que ele acredita sentir. As emoções são…

    — Surpreendentemente humanas — completou o Braço Direito.

    — Para um Espectro, pode ser considerado insano — disse a Braço Esquerdo. — Mas para um humano, seria apenas levemente insano.

    — Preciso acrescentar — interveio o Técnico — que todos os Extratores poderosos poderiam ser considerados levemente insanos. Isso é um requisito básico para alcançar esse nível de poder.

    Alguns dos Escudos franziram o cenho, mas não podiam argumentar contra aquilo.

    Todos ali tinham suas próprias excentricidades.

    — Se fosse apenas um Espectro aleatório, eu poderia garantir a todos que a humanidade sofreria com qualquer cooperação com ele.

    — Mas não é o caso.

    — Este Espectro na verdade tem objetivos.

    — Objetivos? — perguntou a Faca com um risinho de desdém. — Quer dizer, além de causar o máximo de sofrimento possível?

    A Braço Esquerdo assentiu. — Sim. Ele quer ser o Espectro mais forte.

    As pessoas franziram o cenho.

    Conseguiam perceber que aquilo era diferente dos outros Espectros.

    Os outros Espectros queriam causar cada vez mais sofrimento, o que acabava os levando a se tornarem os mais fortes de forma involuntária.

    Enquanto isso, o objetivo daquele Espectro era diretamente se tornar o mais forte.

    Agora, a pergunta era…

    — Por quê? — perguntou o Campeão.

    — Pelo mesmo motivo de qualquer humano querer ser o mais forte — disse a Braço Esquerdo. — Ganância e ambição.

    — Como um empresário — comentou o Político.

    A Braço Esquerdo assentiu em silêncio.

    — E por que isso faria com que esse Espectro fosse diferente dos outros na nossa dinâmica com ele? — perguntou o Braço Direito.

    — Porque ele não nos vê como presas — explicou a Braço Esquerdo. — Ele nos vê como um negócio que oferece algo que deseja comprar.

    — O motivo pelo qual se deixou capturar foi para chegar a um acordo com a Égide.

    — Ele está disposto a nos apoiar e trabalhar para nós — disse a Braço Esquerdo.

    Silêncio.

    — Em troca de…? — perguntou o Muralha.

    — Em troca de trabalhar para nós — disse a Braço Esquerdo.

    O Muralha ficou um pouco surpreso, enquanto a Faca ergueu uma sobrancelha.

    Enquanto isso, uma luz surgiu nos olhos do Político. — Entendi — murmurou ele.

    — Ao trabalhar para nós — continuou a Braço Esquerdo — ele nos ajuda, mas também ganha poder.

    — Já está estabelecido que Espectros se fortalecem ao causar sofrimento à humanidade de diferentes formas. É assim que Espectros se tornam mais poderosos.

    — No entanto, um Espectro dentro de uma Unidade de Contenção produz Zephyx e aumenta o poder dos Extratores. Embora isso cause algum sofrimento, os benefícios superam em muito o custo. Caso contrário, não estaríamos trabalhando com eles.

    — Porém, os Espectros não enfraquecem quando ajudam a humanidade. Esse Espectro entende perfeitamente esse fato e está disposto a explorá-lo para colaborar com a Égide.

    — Cerca de 20 anos atrás, enviei o Espectro para se infiltrar na área mais caótica do Grande Continente. Sua missão era infiltrar-se entre as fileiras de um dos Corruptores, trabalhar para ele por vários anos e usar esse conhecimento para dar à Égide uma oportunidade de desferir um golpe devastador contra os Corruptores.

    — 16 cidades.

    — Mais de 200.000 cidadãos.

    — 20 servos Demônio mortos.

    — Isso foi o que ele entregou.

    — Ele se uniu à Ira, conquistou diversas cidades que pertenciam à Gula, Preguiça e Luxúria, e revelou toda a estrutura interna dessas cidades.

    — Conseguimos empurrar a Ira de volta até o Continente da Guerra graças a esse Espectro sozinho.

    — Durante essa missão, ele avançou de Ancião no Pináculo para Fanático Avançado.

    Naquele momento, várias pessoas franziram o cenho.

    Foi rápido.

    Ele devia ter causado muito sofrimento.

    No entanto, quando a Braço Esquerdo entrou em mais detalhes, todos perceberam que o Espectro na verdade teve um impacto positivo na maioria das cidades.

    O sofrimento foi imensamente reduzido, mas o pouco sofrimento que restava foi todo atribuído ao Espectro.

    Ele basicamente roubou 100% do sofrimento da Ira, eliminou de 80% a 90% dele e absorveu os 10% a 20% restantes.

    Reduziu drasticamente o sofrimento e ainda enfraqueceu significativamente a Ira.

    Fazia sentido econômico.

    Era um bom negócio para ambos os lados.

    Enquanto os Escudos analisavam os números, não conseguiam contestar o fato.

    A Égide havia se beneficiado ao trabalhar com o Espectro.

    — E quanto ao futuro? — perguntou o Campeão. — No fim das contas, todo Espectro se beneficia do sofrimento humano. Espectros são inimigos da humanidade. Eu posso ter dito que o Sol é nosso aliado, mas todos sabemos que isso não é verdade.

    — Ele diz que não quer se tornar nosso inimigo — disse a Braço Esquerdo. — Diz que qualidade é muito mais importante do que quantidade.

    — O sofrimento de um Escudo vale mais do que o sofrimento de milhões de pessoas comuns.

    — Ele quer se tornar mais poderoso, e precisa de humanos poderosos para isso. Humanos querem se tornar mais poderosos, e precisam de Espectros para isso.

    — Se algum dia conseguir se tornar um Adversário, está disposto a trabalhar conosco.

    — Nós nos tornaremos mais poderosos e não precisaremos mais depender do Falso Profeta. Ao mesmo tempo, ele também se tornará mais forte.

    — Se conseguirmos torná-lo poderoso o suficiente, podemos aumentar o nível de todos os Escudos.

    — Pode até ser a chave para rivalizar com os Eternos.

    — Ele disse que não é um parasita, mas um simbionte.

    Silêncio.

    Os Escudos não sabiam o que pensar sobre isso.

    Claro, tudo fazia sentido, mas parecia um discurso de venda.

    As coisas realmente seriam assim?

    Parecia bom demais para ser verdade.

    — James, qual é a sua opinião? Você tem trabalhado com o Espectro, certo? — perguntou o Braço Direito enquanto olhava para o Técnico.

    O Técnico deu de ombros. — Não vejo nada de errado nisso. Me parece bom.

    O Braço Direito franziu o cenho. — Você não está preocupado com uma traição no futuro, quando ele se tornar poderoso demais?

    — Não — respondeu o Técnico. — Seu medo é baseado na inatividade. Não é como se essa coisa se tornasse imparável da noite para o dia. Além disso, não estamos confiando nele. Vamos continuar supervisionando, e quando sentirmos que está ficando instável ou poderoso demais, ainda poderemos detê-lo. Quando ele se tornar um Caído, todos nós já estaremos observando-o com preocupação.

    — Ainda poderemos pará-lo até lá. Na minha opinião, matá-lo agora seria desperdiçar uma grande oportunidade.

    Silêncio.

    — Quero conhecê-lo — falou o Campeão.

    Os outros franziram o cenho antes de assentirem em confirmação.

    A Braço Esquerdo assentiu e se virou para o Técnico.

    — Traga-o.

    — Pode deixar — disse o Técnico antes de sair da sala.

    Um pequeno gesto, um grande impacto.

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