Capítulo 718: Conversando com o Passado

Essa pergunta fez Nick duvidar se realmente havia entendido o que estava ouvindo.

Será que ele havia interpretado mal a linguagem do Espectro?

“Não, faz sentido. Tenho quase certeza de que ele realmente me perguntou se estou com fome.”

Nick bateu no meio do portão, sinalizando um não.

— Alegre: Ha ha ha! Eu devia ter imaginado! — veio a resposta traduzida das paredes.

Surpreendentemente, o Espectro também havia estabelecido uma forma de comunicar o tom da frase. Aparentemente, isso era importante para ele.

“Isso não é como um Espectro normal se comunica”, pensou Nick. “Ou esse Espectro é extremamente hábil em imitar humanos e acredita que uma abordagem positiva e carismática lhe dá mais chances de ser libertado, ou é um Espectro com um estado mental alterado.”

“Ele nem sequer perguntou se sou humano. Embora, provavelmente, é porque nem considera que eu possa ser um Espectro. Um Espectro não teria motivo para entrar em contato com outro Espectro, a menos que estivesse procurando um servo.”

“Além disso, a maioria dos Espectros não teria interesse em algum Espectro antigo que foi contido. Só humanos seriam curiosos o suficiente para tentar se comunicar com esse Espectro.”

— Há quanto tempo estou aqui? Já se passou mais de cem anos? — perguntou o Espectro por meio dos golpes.

Nick chutou a parte inferior do portão, sinalizando um sim.

— Mais de mil?

Outro sim.

— Mais de dez mil? — perguntou.

Sim.

— Surpreso: Não é à toa que estou com fome! — comentou. — Você tem comida?

Nick franziu a testa e bateu na lateral do portão, o que representava incerteza ou confusão.

— Encorajador: Corpos! Corpos humanos! — respondeu o portão.

Nick não respondeu.

“Então, realmente consome corpos”, pensou Nick. “Se conseguirmos conter esse Espectro adequadamente, podemos treinar todos os Escudos.”

Mais de cinco segundos se passaram sem que Nick respondesse.

— Cuidadoso: Quer que eu mude de assunto?

Nick chutou um sim.

— Exasperado: Entendi que você prefere conversas um pouco mais sérias.

Nick chutou outro sim.

— Acordando: Certo, então vamos falar sobre o que importa. Por que ninguém falou comigo por tanto tempo? Todo mundo morreu? — perguntou.

Nick chutou um sim.

— Antes de continuarmos a conversa, você tem mesmo o poder de me libertar, assumindo que quisesse me libertar? — perguntou.

Nick socou um não.

— Consegue entrar em contato com um Quebrador de Céus? — perguntou o Espectro.¹

Nick ergueu uma sobrancelha e respondeu com um sinal que indicava confusão.

— Alguém forte o bastante para quebrar esta prisão — explicou o Espectro.

“Imagino que Extratores de nível nove eram chamados de Quebradores de Céus naquela época”, pensou Nick.

Nick respondeu com um não.

— Por que não? Você não conhece nenhum? — perguntou o Espectro.

Nick socou o lado esquerdo do portão, sinalizando que nenhuma das opções disponíveis era adequada.

— Chocado: Espera — respondeu o portão, antes de hesitar por um momento. — Não me diga que não existem Quebradores de Céus.

Nick chutou um sim.

— Espera, sim, não? Há algum Quebrador de Céus vivo? — perguntou o Espectro.

Nick respondeu com um não.

Silêncio.

— Transcendentes de nível cinco? — respondeu o Espectro.

Nick respondeu com confusão.

— Um nível abaixo de um Quebrador de Céus de nível um — explicou o Espectro.

“Ele provavelmente está falando de Escudos no Pináculo”, pensou Nick.

Nick respondeu com um não.

— Transcendentes de nível quatro?

Não.

— Transcendentes de nível três?

Nick já havia preparado suas respostas.

Não.

O Campeão da Luz era um Escudo Intermediário, mas Nick decidiu manter sua existência em segredo.

O Campeão era inimigo da humanidade, e esse Espectro poderia ser a chance de a humanidade finalmente se livrar de tudo isso.

Esse Espectro tinha que ser mantido em segredo do Campeão.

— Transcendentes de nível dois? — perguntou o Espectro.

Nick respondeu com um sim.

— Aliviado: Ah, que bom! Pelo menos ainda temos Transcendentes! — respondeu o Espectro. — Você trabalha para um deles?

Nick respondeu com um sim.

— Você é apenas um funcionário distante ou trabalha de forma bem próxima a um deles? Sim para a primeira opção, não para a segunda.

Nick respondeu com um não.

— Ótimo! Então, você pode fazer um deles falar comigo? Você não é forte o suficiente para ter uma conversa apropriada com esse portão entre nós.

Nick respondeu com um não.

— Chocado: Não? Por quê?

Nick deu outro não.

— Você consegue alcançá-los?

Sim.

— Então, o que te impede de contatá-los?

Não.

Nesse ponto, o Espectro começou a adivinhar uma razão atrás da outra, e Nick continuou dando ‘nãos’ para todas as possibilidades.

— Eles não podem vir até aqui?

Sim!

O primeiro sim!

— Pode me dizer por quê?

Não.

— Você não quer me dizer por quê?

Sim.

— Não importa o que eu ofereça?

Sim.

— Irritado: Certo — disse o Espectro. — Então, estou preso com você.

Sim.

— Triste: Tudo bem. Sério: Você não é uma pessoa jovem se é forte o suficiente para fazer a jaula tremer. Então, deveria saber que tenho naturalmente muito interesse em sair desta jaula. Minha única saída são os humanos. Estou explicando tudo isso para deixar claro que não tenho motivo algum para ser hostil com você. Quero te ajudar para que, no fim, você talvez me ajude. Você acredita em mim?

Sim.

— Alegre e aliviado: Ótimo! Você tem interesse em aprender como usar a prisão para me libertar? Naturalmente, todo o poder estará em suas mãos. Você só saberá como funciona, mas caberá a você decidir se vai me libertar ou não. Tudo certo?

Sim.

— Incrível! Agora, você consegue reativar a energia da prisão?

Não.

— Você sabe como reativar a energia da prisão?

Não.

— Use sua Semente e interfira com a porta de comando.

Resposta de confusão.

— Você sabe o que é a porta de comando?

Nick conseguia imaginar o que aquilo significava no contexto de Barreiras, mas provavelmente não era disso que o Espectro estava falando.

Então, Nick respondeu com um não.

— Você sabe como acessar a interface da prisão?

Não.

— Você tem uma Semente?

Resposta confusa.

— É uma coisinha redonda que é colocada no seu corpo. Toda máquina e todo tipo de dispositivo só podem ser acessados pela sobreposição virtual criada pela sua Semente. Você tem isso?

Nick respondeu que nenhuma das opções servia como resposta.

— Certo. Não tente interpretar nada nas minhas próximas perguntas. Leve as perguntas no valor mais literal possível. Você já viu uma Semente?

Sim.

— Já usou uma Semente?

Não.

— Já viu alguém usar uma Semente?

Não.

— Você, ou alguém que conheça, conhece alguma forma de possivelmente tornar uma Semente utilizável?

Não.

— Mas você já viu Sementes?

Sim.

— Ok. Então, nem tudo está perdido. Contanto que consiga implantar uma Semente e fazê-la funcionar, podemos partir daí. Você só precisa conseguir uma Semente, restaurar sua fonte de energia, registrá-la e implantá-la.

— Consegue conseguir uma das Sementes?

Sim.

— Ótimo! Vá pegar uma e volte. Brincando: Fica tranquilo, não vou a lugar nenhum.

Sim.

Após dar o sim, Nick se transformou em névoa, percorreu os diferentes corredores e pegou uma Semente aleatória de uma pilha qualquer.

Nick não queria experimentar na Semente do Escudo no Pináculo morto. Podia haver informações nela que seriam extremamente valiosas.

Sim.

— Você está com uma Semente nas mãos agora?

Sim.

— Ótimo! Quão bom você é em forjar no contexto dos seus colegas? Use sim e não como uma escala. Quanto mais próximo do sim, melhor você é.

Nick foi cerca de 70% a 80% em direção ao sim.

Trabalhando com Ghosty e o Técnico por anos, Nick se tornara extremamente bom em Zefologia e engenharia.

— Perfeito! Isso facilita as coisas! Primeiro, precisamos deletar todo o conteúdo da Semente. Sem deletar todos os dados, não dá para torná-la utilizável. Você apaga todos os dados deixando Energia de Espectro passar por ela por cerca de cinco segundos. Faça isso.

Nick sabia que as Sementes podiam absorver e liberar Zephyx, mas ninguém conseguia interagir com a Semente usando Zephyx.

Nick esperava que a Semente exigisse um fluxo complexo de Zephyx para apagar seu conteúdo, mas aparentemente, bastava enfiar Zephyx nela.

“Isso significa que as Sementes provavelmente não funcionam com Zephyx.”

O corpo de Nick era feito de Zephyx, e ele apenas forçou sua energia a passar pela Semente entre seus dois dedos.

Nick sentiu um pouco de resistência quando o Zephyx fluiu por ela, mas depois de alguns segundos, toda a resistência desapareceu.

Sim.

— Terminou?

Sim.

— O fluxo de Energia de Espectro foi diferente entre o início e o fim?

Sim.

— Ótimo! Isso significa que provavelmente funcionou! Agora, você sabe como criar Energia Pura?

Nick ergueu uma sobrancelha e deu uma resposta confusa.

— Energia Pura é algo que você pode criar com Energia de Espectro e Energia Estelar. Você sabe o que é isso?

“Energia Estelar?”

Nick deu uma resposta confusa.

— Ok, você tem acesso à Energia de Espectro, certo? Acabou de usá-la para apagar o conteúdo da Semente.

Sim.

— Consegue transformar Energia de Espectro em matéria?

Sim.

— Consegue transformar Energia de Espectro em luz?

Barreiras funcionavam parcialmente com esse princípio.

Sim.

— Consegue forçar a divisão de átomos com Energia de Espectro?

Nick franziu as sobrancelhas.

Esse era um dos maiores obstáculos quando se tratava de criar materiais de nível sete.

O Técnico conseguia fazer isso, mas exigia um esforço insano, e ele precisava realizar tudo manualmente.

Dividir átomos com Zephyx era, essencialmente, o ápice da tecnologia de ponta do mundo.

Nick bateu no meio entre sim e não.

— Existe algum Transcendente que consegue fazer isso?

Sim.

— Você sabe como fazer isso?

Não.

— Existe algum Transcendente que consiga fundir átomos?

Nick piscou algumas vezes.

Eles já haviam considerado isso e sabiam que, teoricamente, deveria ser possível, mas não faziam ideia de como realizar tal coisa.

Não.

— Decepcionado e resignado: Parece que tenho muito a te ensinar.

1. Nota para leitores das novels prévias do autor: O termo em inglês aqui se refere a romper o céu, literal céu, Sky. Nas novels anteriores, esse termo era usado com Heaven, que também é Céu, mas no sentido de divino, celestial, paraíso.[↩]