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    Na noite seguinte.

    A lua mostrava seu brilho majestosamente no céu levemente nublado, e dividia seu espaço com estrelas cintilantes. 

    O vento frio uivando constantemente enquanto o silêncio humano se erguia intensamente. 

    Um imenso muro separava a cidade das vastas planícies nevadas; tão altos que, ao pôr do sol, projetavam sombras colossais sobre a cidade.

    Além do muro, começavam as terras dos caçadores e pescadores, pessoas com permissão oficial do rei, que partiam regularmente para a caça e a pesca. Mais adiante, além das montanhas inacessíveis ao público, ficava a temida Prisão das Árvores Acentuadas. 

    Acima da muralha, grupos de soldados vigiavam dia e noite, suas armas prontas para neutralizar qualquer ameaça. 

    Devido às leis rígidas do reino, que repudiavam a violência como forma de resolução, incidentes eram raros. 

    Dificilmente havia uma prisão por assassinato, roubo ou terrorismo. Normalmente, a Comissão da Lâmina Fria resolvia a maioria das questões civis entre ambas as partes de forma pacífica. 

    Então por que os guardas estavam tão fortemente armados? E por que havia uma prisão como aquela em primeiro lugar, se o reino era tão calmo? 

    Nevéria foi erguida a partir das bênçãos de Nivorah, e seus habitantes carregavam essas bençãos divididas igualmente — o poder para criar e também para destruir. Ali, cada indivíduo detinha a liberdade e a força para fazer o que bem entendesse. 

    Sendo assim, seria um lugar onde ninguém controlava ninguém, não haveria quem ditasse as regras nem mantivesse o controle. Seria um lugar com potencial para se tornar caótico do dia para a noite e só bastava uma pessoa para fazer isso. 

    E foi exatamente isso  que aconteceu no passado. 

    Portanto, era necessário mostrar quem tinha mais poder dentre eles, assim foi montada a hierarquia daquele reino, e para garantir que ninguém cogitasse quebrar as regras, era necessário mostrar quem possuía o poder de mantê-los na linha e cuidar de situações problemáticas — uma vez que nem todos queriam assumir tal posição. 

    Em suma, era um lugar pacífico, até certo ponto. Mas ainda existiam os tolos corajosos que se inclinaram para o mal e foram contra as leis do reino. Suas penas foram decididas severamente. 

    Sob o muro, os guardas realizavam suas tarefas normalmente e aguardavam mais uma rodada silenciosa e calma naquela noite profunda.

    Mas não foi isso o que aqueles pobres homens tiveram. Houve uma explosão na base da muralha no lado oeste do rio congelado e uma convocação imediata dos guardas aconteceu. 

    “O que é isso?!”

    “Estamos sendo atacados!”

    Diziam em suas próprias línguas. 

    Houve uma segunda explosão e não demorou muito para os responsáveis serem encontrados. 

    Os guardas logo iniciaram o contra-ataque. Eles avistaram cerca de quarenta ou cinquenta indivíduos com mantos brancos e não hesitaram em assumir que eram os responsáveis. 

    “Atirem!”

    A artilharia não perdeu tempo. Os mosquetes rugiam ferozmente, um após o outro, mas não foram capazes de conter os terroristas que avançavam freneticamente.

    Então um grupo de ataque foi enviado pelos responsáveis da prisão. Eram cerca de trinta que se posicionaram estrategicamente com as bestas atrás e os soldados com lâminas na frente. 

    Eles atacaram sem hesitar, mas os agressores  ignoraram os de curta distância e correram para os de longo alcance, conseguindo derrubá-los com movimentos rápidos e calculados, usando poderes de gelo a partir do nheria. 

    “Não os deixem se aproximar!”

    “Segurem eles!”

    O caos estava instaurado e mais soldados vieram, dessa vez em um número maior. Os agressores não tiveram escolha senão recuar, enquanto tomavam uma abordagem defensiva. 

    Vendo-os bater em retirada, os soldados avançaram e os seguiram mesmo para dentro da cidade. 

    Mas era exatamente isso o que os terroristas esperavam. 

    “Ótimo! Eles estão vindo. Vamos mantê-los aqui o máximo de tempo possível”, disse Eldar, um dos principais membros da oposição, para os dois agentes da Strike Down, que corriam atrás dele. 

    “Droga! Isso é insano!” O garoto riu e então bloqueou um disparo com sua espada. 

    “Ahh!! Meu cabelo ficou todo bagunçado agora”, reclamou a garota.

    Eles correram para o centro, onde havia um grupo de soldados notificados que estavam à espera dos supostos terroristas. 

    “Oh, merda!”

    Seriam pegos tão rápido? Não. 

    De repente ouviram disparos implacáveis que derrubaram os soldados em segundos. Eram os três soldados da Black Room, que portavam armas emprestadas pelo grupo de Elira. 

    Eles acenaram. 

    “Ufaa… Nos salvaram…”

    “Talvez eu deva reconsiderar a minha opinião sobre eles.”

    Então eles se separaram em pequenos grupos e começaram a correr pela cidade e cada vez mais soldados se juntavam à perseguição. 

    ****

    Nesse mesmo momento, após os soldados saírem atrás do primeiro grupo.

    Outro grupo estava à espreita. Liderados por Lyara, eram cerca de dez pessoas, com a inclusão de Rider e Yoshiro. 

    “Eles fizeram um trabalho rápido. Me impressionou bastante”, comentou o garoto de cabelos dourados, enquanto via a tempestade se afastar brevemente. 

    “Bom… Eles cumpriram o papel deles, então…”

    “Muito bem, muito bem”, interrompeu Lyara. “É a nossa vez. Assim que o portão abrir de novo, nós vamos entrar, então fiquem atentos.”

    Todos assentiram e se prepararam. A parte difícil da missão viria agora. 

    Mesmo que tivessem tirado cerca de setenta soldados de dentro da prisão, ainda deveria haver muitos deles protegendo as celas. 

    Foi dito que é um reino pacífico e que raramente havia criminosos indo para a prisão. Isso não era mentira. Porém, ainda havia aqueles que foram chamados de ‘corrompidos pelo coração impuro’, e estes estavam sendo mantidos na prisão de acordo com seu nível de criminalidade, sendo pessoas perigosas para a segurança pública. 

    Lyara revisou o plano mais uma vez com seu grupo e então uma única porta foi aberta; era o sinal. Eles avançaram rapidamente e entraram, então, sem perder tempo, seguiram o informante para os fundos do local. 

    “Por aqui.”

    Ele os guiou. Este era o responsável por fazer os guardas se dispersarem. 

    Infiltrado entre os guardas, ele enviava informações para Elira e também para Kaelric, sendo o intermediador entre ambos para a concretização desse plano. 

    E seu papel dessa vez foi transmitir uma ordem falsa para os guardas da prisão, dizendo que havia algumas pessoas suspeitas vagando do lado leste da muralha. 

    “Nós temos três andares para percorrer. Quando eles perceberem o que a gente tá tentando fazer, vão levantar a guarda por dentro, e isso não vai demorar muito”, disse o homem ao retirar seu capacete. 

    “Você já sabe onde Kaelric está?”

    “Sim. Ele e os companheiros dos forasteiros. Já nos falamos antes e eles têm plena ciência de que seus amigos estão aqui.”

    Ouvir isso foi reconfortante para os dois rapazes da Black Room. 

    “Aliás, por que esse lugar se chama ‘Prisão das Árvores Acentuadas’ se nós estamos dentro de uma montanha?” Rider levantou uma sobrancelha enquanto seguia Lyara. 

    “Fufufu~ Parece estranho, não é? Mas vocês vão entender logo logo.” Ela apontou para um portão de metal reforçado ao final do corredor. 

    Quando chegaram a ele, o informante, com a ajuda de Lyara, abriu o portão após destrancá-lo com a enorme manivela. 

    SCREEECH!

    Com um rangido ensurdecedor, o portão se abriu, deixando o vento congelante entrar. 

    Os invasores cobriram o rosto devido ao frio, mas logo olharam adiante. Do outro lado, eles viram algo surpreendente. 

    Havia uma ponte à frente. Um pequeno lago congelado abaixo e torres colossais mais ao longe. Ao redor, árvores gigantescas com troncos enrugados e escuros balançavam suas copas acentuadas com os ventos gélidos, enquanto suas bases eram cobertas por uma neve alta. 

    O ar congelante preencheu o pulmão do grupo e trouxe mais que uma sensação de frio. Um sentimento obscuro se apossou deles. 

    “Entenderam o nome agora?”

    Rider assentiu. Seus olhos varrendo as fileiras de árvores, que pareciam se fechar ao redor do caminho, conduzindo-o como num ritual macabro para terrores desconhecidos. 

    O informante foi na frente, recolocando seu capacete e passou algum tempo até que ele os chamou; antes tinha que dispersar os homens que estavam de olho na entrada do portão. 

    O grupo correu pela ponte coberta por um tapete branco, enquanto o vento frio cortava seus lábios e chacoalhava seus mantos violentamente. 

    De ambos os lados da ponte, havia pequenas torres de vigilância, que agora estavam vazias graças ao informante. Porém, o pior estava prestes a começar. 

    O informante abriu a boca sem parar o ritmo constante. 

    “Por sorte, Kaelric e os forasteiros estão no mesmo andar. Basta descermos até o terceiro e então procurarmos pelas celas que estão no meio do caminho. Só que…” Ele hesitou por um momento. 

    “O que foi?”

    “Os forasteiros disseram que havia duas garotas com eles… Mas eu não consegui encontrá-las. É possível que tenham sido enviadas para um lugar mais fundo… ou então…”

    O informante se calou de repente, evitando pensar na pior possibilidade. Isso deixou Rider e Yoshino curiosos, mas eles não se aprofundaram nisso. 

    De qualquer forma, seguiram em frente e então chegaram no limite do andar em que estavam. Havia um abismo imensurável na frente deles.

    À esquerda, o chão inclinava-se como uma imensa escada giratória, que contornava todos os andares da prisão e ligava todos os blocos. 

    Embora impressionados, eles começaram a descer rapidamente. 

    Os primeiros dois andares foram atravessados sem problemas. Havia poucos guardas devido ao chamado anterior, então foram derrotados facilmente e sem muito barulho. 

    “Terminamos aqui.”

    “Aqui também.”

    Soldados imobilizados estavam espalhados por todos os lados. 

    Todos tinham sido derrubados por um equipamento especial que seguia o mesmo princípio da granada que Lyara usou antes, que usava Nheria para interferir com os equipamentos dos guardas e então atordoá-los até que perdessem a consciência. 

    O processo parecia lento, mas na prática era bem mais rápido. 

    “Muito bem. Vamos prosseguir”, disse Lyara, enquanto olhava para seus companheiros. “Apesar de tudo, não vai demorar até eles perceberem qual o real objetivo.”

    Todos assentiram.

    “Err… Com licença… Lyara…” Rider levantou a mão. 

    “O que foi?”

    “É que eu estive olhando as celas aqui e bem, não parece que dá pra abrir na força. Como nós vamos resgatar Kaelric e os outros?”

    Era uma questão plausível. Só de olhar e tocar as paredes e portas das celas dava para sentir que nenhum esforço seria capaz de fazê-las ceder; como a resistência delas poderia ser tão sobrenatural?

    Lyara soltou um riso leve e olhou para o informante que mostrou uma chave e sorriu. 

    “Fica tranquilo que eu já tenho tudo o que precisamos.”

    “Eles são bem preparados…”, comentou Yoshiro. 

    Rider só conseguiu rir em resposta. 

    Com aquele andar limpo, eles seguiram e desceram o extenso caminho até chegarem ao terceiro, fazendo quase uma volta completa. 

    O abismo era tão grande que eles ainda podiam enxergar o céu e era como se a paisagem não se perdesse mesmo indo mais e mais para o fundo. 

    As árvores tenebrosas também faziam parte da paisagem sem indícios de que acabaria. 

    Além do mais, o silêncio mortal só era quebrado pelo sopro imponente dos ventos. O grupo se esgueirou em silêncio, seus mantos brancos tremulavam como bandeiras.

    Em dado momento, o informante fez sinal e todos pararam atrás dele. 

    “Há mais guardas aqui.”

    Como esperado. 

    “O que devemos fazer, Lyara?”

    A única forma de ir em frente era passando por eles. Claro, podiam tentar a manobra de ir por cima das celas, mas a estrutura irregular delas não os deixaria seguir despercebidos. 

    Não só isso, mas as condições à frente não permitiriam que eles prosseguissem de forma sorrateira como fizeram até aqui. 

    “O caminho à frente vai ser limpo. Só tem celas em ambos os lados, então não tem onde se esconder a partir daqui”, avisou o informante. 

    “Então não temos escolha”, respondeu Lyara. “Vamos derrubá-los e chegar até às celas onde eles estão o mais rápido possível. A partir daqui, não importa mais se seremos vistos. Já chegamos longe o suficiente para conseguir tempo.”

    Isso significava que, a partir dali, era só ir com força bruta, derrubar os guardas e resgatar os prisioneiros. 

    O informante assentiu.

    “Certo. Então eu vou na frente e tentarei abrir as celas.”

    “Ótimo. Vamos esperar um pouco antes de seguir.”

    O informante acenou e colocou seu capacete outra vez, então saiu. 

    Lyara olhou para os demais atrás dela e moveu a cabeça, confirmando se todos tinham entendido o objetivo. Todos concordaram. Estavam prontos para isso. Rider e Yoshiro também. 

    Logo, o tempo de espera acabou. 

    Eles saíram do esconderijo como uma tempestade, investindo contra os guardas antes que eles pudessem reagir. 

    “Quem são vocês—!”

    Lyara saltou. Três esferas brilhavam entre seus dedos. Em um movimento rápido, ela as lançou. O ar se incendiou em uma explosão de luz.

    “Gaah!”

    “Ugh!!”

    Os guardas tropeçaram para trás, atordoados. O caminho estava livre. 

    “Vamos!”

    “Sim!”

    Eles continuaram avançando. Sem cautela — apenas com o objetivo de chegar até o terceiro andar. Porém, o estrondo da batalha já tinha ecoado mais abaixo, então mais guardas apareceram. 

    Armaduras tilintavam. Ordens eram gritadas. Os passos aceleravam. 

    O primeiro guarda investiu — um golpe poderoso usando Nheria foi capaz de congelar sua armadura. Uma explosão de luz. Um corte de lâmina pálida. E assim eles foram rapidamente dominados. 

    “São apenas alguns invasores!”

    “Peguem-nos!”

    “O que eles pensam que estão fazendo?!”

    Os mosquetes rugiam ferozmente, tentando parar o avanço, mas pelo contrário, apenas guardas caíam.  Os invasores eram rápidos demais. Precisos demais. 

    Um guarda cortou um dos invasores. Logo um contra ataque em retaliação explodiu em seu peito. 

    Rider e Yoshiro não estavam atrás. A espada de Rider cortava o ar com precisão e derrubava um, dois guardas com movimentos ágeis e certeiros. De longe, Yoshiro disparava suas flechas luminosas, cada tiro abrindo espaço para os demais. 

    “Uau! Eles são muito bons nisso”, Lyara ofegou, desviando de um ataque antes de nocautear outro inimigo. 

    “Parece que fizemos a coisa certa em nos aliarmos a eles.” A garota ao lado bloqueou um ataque e contra atacou outro soldado com um ataque perfurante nas juntas da armadura, congelando-a instantaneamente. “Acha que ainda vão nos ajudar depois disso?”

    Lyara hesitou por um segundo. Ela observou Rider e Yoshiro ao longe. 

    “Bom… eles não são daqui, então talvez queiram ir embora assim que acabar. Não é como se pudéssemos segurá-los aqui.”

    A garota assentiu. 

    “Tem razão… Que desperdício.”

    Vários minutos depois, o chão estava decorado com guardas atordoados, incapazes de continuar lutando. 

    Do lado dos invasores, havia apenas alguns feridos. Nada que os impedisse de continuar. 

    Eles seguiram em frente, pulando por cima dos guardas.

    E então viram o informante. Ele estava parado, diante de uma cela aberta. 

    Mas… não se movia.

    Sua postura estava rígida. Não dava para ver seus olhos, mas algo estava errado. Ele parecia em choque. Ou… em pânico.

    Lyara se aproximou dele com cautela. 

    “Ei, o que foi? Porque Kaelric não saiu ainda?”

    O informante demorou a responder. Ele virou-se para o grupo, hesitante. 

    “Be-bem, como podem ver… essa deveria ser a cela do líder Kaelric…”

    “Como assim deveria?”

    O grupo trocou olhares. Eles ficaram inquietos. Um calafrio percorreu suas espinhas. Algo não estava fazendo sentido. 

    Antes que o informante pudesse responder…

    Uma voz ecoou atrás deles.

    “Isso porque vocês não passam de tolos incompetentes.”

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