Capítulo 742: Cidade Jardim Celeste

Depois de conversar com o Campeão da Luz, Nick voltou até o Técnico e pediu algumas melhorias em sua Barreira.

O Técnico sempre fora muito cuidadoso com a quantidade de permissões que dava à Barreira de Nick.

Não era que ele não quisesse ajudar Nick, mas dar permissões demais poderia levantar suspeitas no Campeão.

Contudo, com a nova diretriz do Campeão da Luz, o Técnico finalmente tinha uma desculpa para aprimorar as permissões da Barreira de Nick.

Foi exatamente o que ele fez, e Nick deixou a sede.

“Bem, preciso contribuir um pouco mais. Contanto que eu continue contribuindo, o Campeão não vai se importar com o que faço.”

“Embora”, pensou Nick com a testa franzida, “ainda preciso ter cuidado. Ninguém realmente conhece essa pessoa, e deve haver uma razão para os alienígenas o terem escolhido entre milhões de humanos.”

“Ele deve ter algum tipo de talento ou algo que o torna excepcional e perfeito para o cargo.”

“Não devo mais separar tempo livre de tempo de trabalho. Em vez disso, devo trabalhar devagar e apenas incluir alguns momentos de aprendizado discretamente. Vou simplesmente relatar meus resultados mais tarde de propósito.”

“O fato de o Campeão da Luz acreditar que sou um Espectro interessado apenas no próprio ganho é algo positivo. Trabalhar demais pela humanidade levantaria suspeitas.”

“Em vez disso, devo parecer um pouco preguiçoso. Ninguém confia em um Espectro muito entusiasmado.”

“Preguiça… que apropriado”, pensou Nick enquanto continuava voando para noroeste.

O Campeão havia mandado Nick contribuir, mas não havia dito como ele deveria fazer isso.

Então, decidiu libertar algumas cidades da influência dos Corruptores.

Claro, a primeira pergunta era: com qual Corruptor Nick deveria lidar?

Ir atrás da Ira não era uma boa ideia, já que era o último servo da Guerra. Se a Guerra fosse pressionada demais, poderia decidir recrutar mais Caídos para sua causa.

Ir atrás da Gula também não era necessário, já que ela estava em guerra com a Preguiça, a Luxúria e a Ira pelo território no Grande Continente.

Nick não podia ir atrás da Ganância por motivos óbvios.

Também decidiu evitar a Inveja.

Embora as habilidades da Inveja provavelmente não fossem tão poderosas quanto as dos outros Corruptores, ela tinha uma quantidade insana delas.

Provavelmente tinha mais de cem habilidades diferentes, e havia a possibilidade de que uma delas fosse capaz de ver através do disfarce de Nick.

A Inveja era, muito provavelmente, o Espectro mais versátil que existia, e isso era exatamente o que mais causava problemas a Nick.

Nick normalmente vencia confrontos usando sua vasta gama de ferramentas para virar a situação a seu favor, mas contra a Inveja, ele não conseguiria fazer isso.

Restavam então a Luxúria e a Preguiça.

As duas controlavam quase todo o Grande Continente e eram aliadas, o que as tornava os Corruptores mais estáveis.

Nick decidiu ir atrás da Preguiça por causa de sua localização geográfica.

Havia apenas um pequeno trecho de oceano entre o canto nordeste do Grande Continente e o canto noroeste do Grande Triângulo.

Além disso, o Demônio da Escuridão estava na fortaleza no canto noroeste do Grande Triângulo.

A Inveja já estava avançando lentamente em direção ao Grande Triângulo, mas fazia isso pelo sul.

A Preguiça era uma ameaça mais imediata.

Enquanto Nick continuava voando, sua habilidade acabou se reativando.

Ela não havia estado ativa todo esse tempo porque a Morte ainda o observava.

Claro, com o novo avanço de Nick, ele sabia a localização aproximada da Morte.

“Mas de que adianta isso?” pensou Nick ao lançar um olhar para o sudeste.

“O sujeito está dentro do oceano. Mesmo que a humanidade soubesse sua localização exata, os Adversários do oceano aproveitariam essa chance para atacar os Escudos. Para chegar até a Morte, precisamos lidar primeiro com os Adversários oceânicos.”

A testa de Nick se franziu em frustração. “Além disso, duvido que o Campeão esteja sequer interessado em lutar contra a Morte. Pelo que sei, os dois só estão encenando um teatro. Afinal, trabalham para o mesmo mestre.”

“Os únicos que podem realmente matar Adversários são os outros Escudos, já que eles estão realmente do lado da humanidade.”

“Eu espero… Pode haver um segundo traidor.”

Nick passou pela fortaleza no noroeste do Grande Triângulo e chegou ao oceano.

Assim que chegou ao oceano, Nick mudou sua aparência.

Deixou de ser um homem alto e musculoso para se tornar um homem pequeno, mas levemente atlético.

Sua pele também mudou de um tom saudável e espesso para um muito branco e doentio.

Em essência, Nick queria parecer alguém mais pobre, mas muito experiente.

Ele não queria imitar uma pessoa de alto perfil, mas também não queria atrair a atenção de ladrões.

Um momento depois, Nick ativou sua Barreira e acessou algumas cópias locais de entradas do banco de dados principal da Égide.

Naturalmente, essas entradas eram sobre cidades próximas ao canto nordeste do Grande Continente.

As entradas eram antigas e mal continham informações. Afinal, quase todas as informações vinham de Governadores locais que apenas apresentavam suas cidades.

Enquanto Nick lia algumas delas, seus olhos pousaram sobre uma em especial.

“Cidade Jardim Celeste. Uma cidade próspera que produz uma quantidade média de Zephyx. O Governador destaca como o povo é bem tratado e como cuidam de todos.”

“Também possui uma megaestrutura. Nem toda cidade tem uma megaestrutura, e se uma cidade tem fundos para construir uma, provavelmente poderia contribuir mais para a Égide.”

“Devo verificar essa primeiro.”

Nick seguiu as coordenadas na entrada e logo chegou à Cidade Jardim Celeste.

Assim que chegou, entendeu de onde vinha o nome.

Nick viu um gigantesco platô redondo.

Tinha cerca de um quilômetro de altura e três quilômetros de largura.

As paredes do platô eram perfeitamente lisas, sem nenhuma abertura que pudesse ser usada para escalada.

No topo do platô havia uma cidade, e quando Nick a viu, ficou surpreso.

“Tanta vegetação!” pensou Nick.

Nick quase não conseguia acreditar, mas a cidade inteira parecia muito com a Camada Superior da Cidade Carmesim.

Havia grama por toda parte, e Nick viu uma infinidade de árvores.

Havia até alguns lagos pequenos.

Embora houvesse alguns arranha-céus, a maioria dos prédios eram casas que podiam abrigar no máximo cinco famílias.

A megaestrutura era o próprio platô.

O platô não era natural, e havia sido criado com muito metal e pedra.

Enquanto Nick observava a Cidade Jardim Celeste do céu, franziu a testa.

“Isso não pode ser real”, pensou Nick. “Deve haver alguma podridão subterrânea para essas pessoas viverem com tanto luxo.”

Nick fez uma contagem aproximada das casas e estimou o número de habitantes.

“Deve estar entre 4.000 e 8.000 pessoas”, percebeu, chocado.

“Essa cidade consegue permitir que tanta gente viva com tanto luxo?”

“Preciso investigar.”

Nick se aproximou da cidade como uma nuvem de névoa.

Não entrou diretamente, mas foi até a base do platô.

Então, flutuou lentamente para cima, procurando um ponto de entrada.

Embora a megaestrutura fosse quase perfeitamente lisa, ainda havia alguns lugares que haviam se deteriorado um pouco com o tempo.

A suavidade da superfície ainda permanecia, mas a camada de pedra no topo apenas havia se tornado mais fina e menos densa.

Nick entrou por um desses pontos e se viu em um espaço de manutenção para funcionários.

O espaço era completamente escuro, mas isso não era problema.

Ele se moveu rapidamente pelo subsolo da cidade, em busca de algum segredo obscuro.

No entanto, apesar de procurar por vários minutos, Nick não encontrou nada.

Não havia uma cidade subterrânea escondida.

Não havia pessoas vivendo no subsolo.

Nick quase não conseguia acreditar.

“Sério? Todo mundo na cidade vive num ambiente parecido com a Camada Superior da Cidade Carmesim?”

“Isso é insano!”

Nick se sentiu bastante humilhado.

Nem ele conseguiria criar uma utopia assim!

Nick decidiu mudar sua aparência para algo mais saudável e se materializou em um beco vazio aleatório dentro da cidade.

Ao sair, entrou em uma rua movimentada cheia de lojas.

As pessoas andavam por ali, comendo petiscos aleatórios e conversando entre si.

As conversas eram bem leves.

Nick viu pessoas entrando em lojas e pagando com cartões, mas quase ninguém falava sobre dinheiro.

Era como se dinheiro simplesmente não fosse uma preocupação para eles.

O ambiente era bastante animado, e Nick decidiu passar várias horas caminhando pelas ruas.

Era difícil de acreditar, mas ele não encontrou nenhum sinal evidente de sofrimento.

Claro, algumas pessoas tinham tido um dia ruim, mas a ideia delas de um dia ruim seria o dia perfeito para a maioria das pessoas neste mundo.

Eventualmente, Nick decidiu seguir o dinheiro.

Entrou em uma das lanchonetes e examinou os documentos financeiros.

“Isso é muito imposto”, pensou Nick. “Mais de 60% dos lucros estão sendo tributados.”

Nick encontrou a empresa que fornecia os ingredientes da loja e foi visitá-la.

Essa empresa obtinha seus produtos de outra empresa.

Essa outra empresa existia exclusivamente para negociar com caravanas, de onde vinha toda a comida.

Foi então que Nick viu algo interessante.

“Quase nenhuma exportação. Estão praticamente apenas importando.”

“Isso significa que a cidade está gastando uma tonelada de Zephyx com as caravanas.”

“E apesar disso tudo, a cidade ainda produz uma quantidade média de Zephyx?”

Aos poucos, uma imagem começou a se formar na mente de Nick.

“Deve haver um Espectro que produz uma quantidade absurda de Zephyx nesta cidade. Ou os Heróis e Especialistas estão trabalhando além do limite, ou a cidade inteira está alimentando o Espectro.”

Enquanto Nick olhava para a cidade, uma ideia surgiu em sua cabeça.

“Será que viver confortavelmente e sem necessidades pode ser associado ao conceito de preguiça?”

E muito rapidamente, Nick se viu diante de uma escolha.

Se essa cidade realmente estivesse sob o controle da Preguiça…

Ele deveria mesmo mudá-la?